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FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL

FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL. Magda Sarat (organizadora). APRESENTAÇÃO DO LIVRO.

Jimmy
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FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL

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Presentation Transcript


  1. FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL Magda Sarat (organizadora)

  2. APRESENTAÇÃO DO LIVRO No livro que estamos apresentando, diferentes “decifradores” debruçaram-se sobre a História e a Filosofia, procurando compreender como as concepções sobre educação e infância se constituíram. A investigação articulou-se entre treze pessoas, ou seja, foi um trabalho a vinte e seis mãos. Os autores entregaram-se à tarefa com dedicação e afinco, procurando inquirir o significado da infância e da educação em pensadores clássicos e contemporâneos. O resultado está sendo apresentado em dez capítulos, os quais são expressões das perspectivas e das trajetórias de cada autor.

  3. SUMÁRIO CAPÍTULO 1 O SURGIMENTO DO CONCEITO DE INFÂNCIA: DO RENASCIMENTO À MODERNIDADE Magda Sarat CAPÍTULO 2 INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NAS OBRAS DE ERASMO DE ROTERDÃ E NORBERT ELIAS Ademir Gebara e Magda Sarat CAPÍTULO 3 INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE MONTAIGNE Carlos Harold CAPÍTULO 4 EDUCAÇÃO NA REFORMA PROTESTANTE: AS CONTRIBUIÇÕES DE MARTINHO LUTERO Lílian Sarat de Oliveira CAPÍTULO 5 INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE COMENIUS Rita Luiz da Rocha

  4. SUMÁRIO CAPÍTULO 6 INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE ROUSSEAU Adnilson José da Silva CAPÍTULO 7 INFÂNCIA E EDUCAÇÃO: A PEDAGOGIA DE KANT Paulo Guilhermeti CAPÍTULO 8 INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE FRIEDRICH FROEBEL Thaisa Neiverth e Giselle Martins Gartner CAPÍTULO 9 INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE FREINET Esméria Saveli, Maiza Taques Margraf Althaus e Maria Odete Tenreiro CAPÍTULO 10 EDUCAÇÃO E FILOSOFIA PARA A INFÂNCIA: UMA DISCUSSÃO CONCEITUAL Claúdio César de Andrade

  5. O SURGIMENTO DO CONCEITO DE INFÂNCIA: DO RENASCIMENTO À MODERNIDADEMagda Sarat Podemos dizer que a infância, mais do que um período definido biologicamente, é uma categoria que surge ao longo das transformações da sociedade e se torna uma referência histórica, cultural e social. Assim, a infância caracteriza-se tanto por períodos em que parece estar ausente ou não receber nenhuma valorização como por aquele em que se torna parte da história, da sociedade e adquire espaço e importância na vida dos indivíduos adultos.

  6. O SURGIMENTO DO CONCEITO DE INFÂNCIA: DO RENASCIMENTO À MODERNIDADEMagda Sarat É preciso considerar a infância como uma condição da criança. O conjunto de experiências vividas por elas em diferentes lugares históricos, geográficos e sociais é muito mais do que uma representação feita por adultos sobre essa fase da vida. É preciso conhecer as representações da infância e considerar as crianças concretas, localizá-las nas relações sociais, etc., reconhecê-las como produtoras de história (KUHLMANN JÚNIOR, 1998, p. 31).

  7. PROPOSTA DE ATIVIDADES 1 - Historicamente, como se vai constituindo o conceito de infância? 2 - Indique evidências no texto que demonstram que a infância, como conceito, apareceu antes da modernidade. 3 - Na sua opinião, as concepções sobre a infância podem determinar os relacionamentos estabelecidos entre adultos e crianças? 4 - Na sua opinião, como a sociedade concebe a infância atualmente?

  8. INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE ERASMO E NORBERT ELIASAdemir Gebara e Magda Sarat Erasmo situa-se no interior de uma corrente de pensamento denominada de HUMANISMO e foi o autor mais universalmente lido e divulgado no início do século XVI. Em seu escrito mais conhecido, Elogio à loucura, ele retrata, por meio de uma crítica ácida a tipos religiosos, “a falência – do ponto de vista dele - da antiga grande civilização cristã, que se havia tornado, por volta do fim do século XV, algo feito de formas vazias, cerimônias, dogmas e rituais, tendo sua vida desaparecido” (NISBET, 1982, p. 201).

  9. INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE ERASMO E NORBERT ELIASAdemir Gebara e Magda Sarat Entre suas obras sobre educação, o livro A Civilidade Pueril refere-se basicamente a um conjunto de comportamentos que deveriam ser incentivados no processo de instrução, ensino e educação das crianças, tendo em vista uma sociedade em que a postura, os gestos, o vestuário, as expressões faciais denotavam o ser dos homens. Erasmo busca construir um discurso que coloca politicamente a questão da educação como procedimento indispensável aos processos de integração social. Ao dar forma escrita às suas idéias, ele explicita que sua finalidade é ampliar a adoção dos comportamentos dos setores mais proeminentes da sociedade de corte e colocar seu ensino ao alcance de “todos os outros meninos [...]”.

  10. INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE ERASMO E NORBERT ELIASAdemir Gebara e Magda Sarat Assim, quando trata das questões referentes à convivência social, Erasmo dá expressão à universalidade e à historicidade do problema e propõe que as regras de civilidade sejam extensivas a todas as classes: “os pobres orgulhar-se-ão de receberem uma educação semelhante à dos príncipes” (ERASMO apud FIGUEIRA, 1995-1996). Essa igualdade ou aproximação de todas as classes sociais é uma necessidade que começa a se desenhar no início da modernidade, e Erasmo, produzindo suas obras nesse contexto de efervescência e de transformações sociais, culturais e políticas, é um autor que lhe confere voz.

  11. INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE ERASMO E NORBERT ELIASAdemir Gebara e Magda Sarat A Civilidade Pueril é um texto que, com suas lições de civilidade e de educação, pode ser considerado um documento atual, uma vez que, com o objetivo de normatizar o convívio social, Erasmo defende uma educação que inclui todos os indivíduos. Conforme aponta Figueira (1995-1996, p. 4), “cada nova época histórica precisa ensinar aos seus membros as regras da sua convivência social”.

  12. INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE ERASMO E NORBERT ELIASAdemir Gebara e Magda Sarat Nesse texto, que foi dedicado ao filho de um príncipe, mas que era extensivo a todos os meninos, ele defende que a educação das crianças deveria ser desenvolvida em etapas, respeitando algumas particularidades de suas faixas etárias. Assim, Erasmo ensina que “a arte de instruir criança consta de diversas etapas. A primeira, e a principal, consiste em fazer com que o espírito ainda tenro receba as sementes da piedade; a segunda, que tome amor pelas belas artes e as aprenda bem; a terceira, que seja iniciada nos deveres da vida; a quarta, que se habitue, desde cedo com as regras da civilidade” (ERASMO apud FERACINE, 1995-1996, p. 5).

  13. INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE ERASMO E NORBERT ELIASAdemir Gebara e Magda Sarat Esta perspectiva de aprendizagem dos comportamentos sociais que levaram os indivíduos à civilização e provocaram não somente um melhor convívio social, mas a reorganização da sociedade de corte européia, no tocante à história dos costumes e comportamentos, e que hoje nos parecem básicos, é fundamental na obra de Norbert Elias (O Processo Civilizador - volumes I e II). É esse o autor que será abordado neste trabalho, juntamente com Erasmo

  14. INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE ERASMO E NORBERT ELIASAdemir Gebara e Magda Sarat Elias valeu-se dos manuais de civilidade de Erasmo para escrever a teoria dos processos civilizadores. Seu objetivo foi expor o modo como a sociedade passou a ser civilizada e aprendeu comportamentos que, embora hoje nos pareçam naturais, foram construídos no curso de um processo extenso e de longa duração, como nos mostra a história. Esse processo, no qual, de alguma forma, todos os indivíduos estão imersos, também pode ser chamado de educação.

  15. INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE ERASMO E NORBERT ELIASAdemir Gebara e Magda Sarat Os manuais de civilidade que foram pesquisados por Elias apontam para uma nova forma de comportamento, que se firma mais amplamente a partir do século XV, com as publicações que o advento da imprensa e do livro tornou possíveis. Assim, o processo de civilização dos costumes, que foi construído e preconizado pelos manuais, permitiu a internalização de comportamentos desde a infância, tornando-se parte da estrutura psicológica dos homens do século XVI.

  16. INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE ERASMO E NORBERT ELIASAdemir Gebara e Magda Sarat Nesse contexto, pode-se dizer que o livro e o humanismo são dois aspectos fundamentais para que Elias se fundamente nos escritos de Erasmo: “O livro de Erasmo trata de um assunto muito simples: o comportamento de pessoas em sociedade – e acima de tudo, embora não exclusivamente ‘do decoro corporal’ externo” (ELIAS, 1994a, p. 69). Segundo ele, esse decoro do qual fala Erasmo foi construído e ensinado pelos manuais de civilidade, buscando uma mudança de comportamentos nas relações estabelecidas entre seus componentes, a fim de tornar a sociedade mais educada dentro dos padrões propostos pelas novas exigências do período que se inaugurava na Europa.

  17. INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE ERASMO E NORBERT ELIASAdemir Gebara e Magda Sarat A forma e a composição do tratado de Erasmo, segundo Elias (1994a), é determinada por uma grande preocupação social com sua época. A linguagem clara, polida, irônica às vezes, mas de uma absoluta precisão, destaca o que deveria ser verificado e o que poderia constituir-se num comportamento aprendido. Além disso, apesar das críticas que o texto sofreu posteriormente, Elias (1994a) chama a atenção para o fato de ele ter sido escrito num período de transição, quando esse novo homem se achava em formação.

  18. INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE ERASMO E NORBERT ELIASAdemir Gebara e Magda Sarat É possível dizer que, em seu manual, Erasmo preocupou-se com o processo educativo e de formação desse novo homem, procurando incluir as crianças. De fato, ele estabelecia regras claras para elas, considerando os níveis de seu envolvimento com as instituições sociais e apontando a necessidade de prepará-las para uma vida em sociedade. Além disso, ele acreditava na educação como um processo de desenvolvimento que permitia ao ser humano potencializar todas as capacidades que o diferenciavam dos animais. A educação faria a diferença no sentido de que “ninguém de fato, pode escolher seus pais ou pátria, mas todos podem esculpir a própria personalidade pela educação” (ERASMO apud, FERACINE, 1995-1996).

  19. INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE ERASMO E NORBERT ELIASAdemir Gebara e Magda Sarat Nesse sentido, o processo de civilização ou de impressão de regras e valores, que foi incutido na sociedade ao longo de períodos mais extensos, começa a ser pensado também para as crianças por meio de um processo educativo voltado para elas. A infância passa a ser vista como período de preparação para a vida adulta. Nesse período, ela deveria aprender de acordo com as normas do seu grupo, adquirindo e ampliando o conhecimento necessário para viver com seus pares. É possível perceber que todo o conhecimento aprendido e acumulado ao longo dos séculos e que se tornou uma referência internalizada na sociedade, sendo parte da natureza humana, precisava ser repassado às crianças como garantia de continuidade das gerações.

  20. INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE ERASMO E NORBERT ELIASAdemir Gebara e Magda Sarat A contribuição fundamental do pensamento de Erasmo, nessa tentativa de humanizar as relações e formar um novo homem de acordo com o momento histórico em que ele estava vivendo, ultrapassa seu tempo. Sua concepção vai inspirar Elias a pensar também no homem, no modo como este se civiliza e se afasta de suas características mais animalescas, buscando um processo de convivência social caracterizado pelo diálogo, pela polidez, pela capacidade de controle e autocontrole das suas emoções. Tal processo pode fazer com que este homem se torne uma pessoa mais sociável, mais tolerante e mais capaz de conviver com as outras pessoas.

  21. INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE ERASMO E NORBERT ELIASAdemir Gebara e Magda Sarat Percebe-se que o intuito dos dois teóricos foi refletir e teorizar sobre as relações sociais e o modo como estas são estabelecidas pelos indivíduos, os quais buscam sempre se aproximar de qualidades que os tornem seres sociais aceitos não somente por si mesmos, mas também pelos seus pares. Assim, é possível perceber que as contribuições tanto de Erasmo quanto de Elias nos remetem a uma profunda crença no homem e na sua capacidade de buscar relacionamentos que construam uma sociedade mais humana.

  22. PROPOSTA DE ATIVIDADES 1 - Erasmo é considerado uma referência do pensamento renascentista por ter vivido um período de efervescência e de mudanças. Considerando as leituras anteriores caracterize este período de transição. 2 - Disserte sobre os conceitos de educação e infância encontrados nas obras de Erasmo e Elias. 3 - Na sua opinião, como o uso de manuais de civilidade, boas maneiras e regras de conduta puderam ser considerados materiais fundamentais na formação do homem da nova sociedade? 4 - Relacionando o texto com a atualidade, quais as aproximações que poderíamos fazer entre educação formal e “boa educação”, proposta evidenciada por Erasmo na Civilidade Pueril? 5 - Na sua opinião, atualmente, a formação de professores pode dar conta do tipo de educação preconizada pelos autores em questão?

  23. INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE MONTAIGNECarlos Harold Filosoficamente, Montaigne inseriu-se em um contexto de transição, questionando radicalmente as pretensões do pensamento humano de apreender "a verdade" sobre todo e qualquer assunto. Ao fazer isso, o filósofo trouxe para a modernidade o Ceticismo, escola filosófica sistematizada por Pirro de Elis (360-270 a.C.), mas cujas raízes são encontradas nos sofistas do século V a.C. É com essa defesa da incapacidade humana para conhecer e da dúvida sobre tudo o que era dito, que o autor dos Ensaios desferiu um dos golpes mais duros contra a tradição filosófica de seu tempo. Dessa forma, ele aprofundou as angústias do homem renascentista, que já questionava aquela que detinha a autoridade para determinar o que era o conhecimento correto e justo: a Igreja.

  24. INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE MONTAIGNECarlos Harold Montaigne elaborou uma obra que, conseqüentemente, não possui a sistematização encontrada em grandes sistemas filosóficos. No isolamento de sua torre, seus textos oscilaram entre os mais variados assuntos, a tal ponto que, às vezes, ele colocava título em ensaios que tratavam de outro tema. A firmeza filosófica, entretanto, permanecia e pode ser observada na intenção do autor de sempre questionar as convenções, a arrogância daqueles que pretendiam defender suas idéias como se fossem inquestionáveis, transmitindo-as como se fossem deuses. Pode-se verificar, nessa postura montaigneana, o sofrimento de viver em um contexto em que as questões religiosas, violentamente defendidas por grupos antagônicos, só produziam ignorância e muitas mortes.

  25. INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE MONTAIGNECarlos Harold A torre, na qual Montaigne se refugiou, era o lugar de silêncio absoluto na qual sua auto-análise poderia ocorrer sem que ele fosse atrapalhado por ninguém. Foi lá que Montaigne entregou-se com todo afinco ao entendimento de seus sentimentos, de suas virtudes, de suas fraquezas e buscou a melhor maneira de se comportar para conseguir ser feliz em uma sociedade em que os exemplos não deviam ser seguidos. Cada homem deveria encontrar o melhor caminho para si, um caminho que fosse totalmente adequado a ele próprio, pois, em uma sociedade cambaleante, que passava por uma transição que se acelerava, somente assim seria possível viver sem produzir ignorância e violência.

  26. INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE MONTAIGNECarlos Harold Nessas reflexões sobre ele mesmo, a temática educacional é reiterativa. Afinal, sabendo o objetivo a ser alcançado e os procedimentos necessários para se ter uma vida plena de felicidade, o filósofo sentiu a necessidade de pensar o processo que formaria o homem capaz de viver nesse momento, assumindo que não há verdades a serem buscadas e, conseqüentemente, transmitidas e/ou ensinadas.

  27. INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE MONTAIGNECarlos Harold Montaigne defendia o estudo sistemático das mais variadas ciências, mas de uma forma diferente do que se fazia até então: o conhecimento deveria assumir um valor prático, concreto, que possibilitasse ao aluno elaborar e discutir suas idéias da melhor maneira. Neste caso, vale a pena salientar, a utilidade do conhecimento, defendida por Montaigne, apresentava-se como um dos pontos revolucionários da nova concepção de ciência que começava a ser pensada e defendida por Bacon, Bruno, Galileu, Descartes, entre outros.

  28. INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE MONTAIGNECarlos Harold Atribuindo, então, à prática educativa uma relevância inegável, Montaigne não valorizava somente as questões técnico-pedagógicas relativas ao método e ao conteúdo, mas, sobretudo, detinha-se cuidadosamente na análise das necessidades e características da criança. Na educação montaigneana está explícita a consideração de que a criança se utiliza de formas qualitativamente diferentes de entendimento e possui interesses específicos, todos de grande valor para a autoformação intelectual, moral e corporal. O professor, ao reconhecer isso, deveria agir de forma a deixar que a criança escolhesse o caminho a seguir.

  29. INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE MONTAIGNECarlos Harold A incapacidade da velha educação para instrumentalizar o indivíduo que de tudo duvidava e de nada tinha certeza, a não ser de suas opiniões, era, dessa forma, duramente criticada. O cerne da crítica sobre essa educação era a ausência de condições para conduzir a criança a fazer algo por si mesma. Ele questionava o fato de o indivíduo estar sempre submetido a conhecimentos e atitudes estranhos à sua condição e que não o ajudavam a se transformar em um homem capaz de viver naquele contexto.

  30. INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE MONTAIGNECarlos Harold Vivendo e buscando amenizar o sofrimento existencial em uma época de incertezas, duvidando de tudo e de todos, a já citada "firmeza filosófica" de Montaigne pode também ser visualizada na sua crença na possibilidade de um mundo mais tolerante, em que os homens soubessem conviver com o diferente e com as transformações aceleradas, por exemplo, o respeito dado à infância. O raciocínio de que não havia "verdades absolutas", mas apenas opiniões, a necessidade de formar pessoas que soubessem formar e respeitar opiniões diferentes, para construir uma sociedade melhor, tinha, nas especificidades infantis, seu ponto de apoio e, na atuação do professor - livre da autoridade e das pretensões escolásticas -, a garantia de sua efetivação prática.

  31. INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE MONTAIGNECarlos Harold Pensar a educação e a infância em uma época de incertezas é também uma tarefa urgente da atualidade. Ler Montaigne é, ao mesmo tempo, apropriar-se das condições para realizar tal pensamento, sem abrir mão da ação que é exigida cotidianamente; é conhecer uma das partes mais valiosas do pensamento educacional moderno, e, principalmente, familiarizar-se com um dos autores que fundou o pensamento de que devemos educar e tratar a infância tendo como norte a construção de uma sociedade diferente da nossa.

  32. PROPOSTA DE ATIVIDADES 1 - Retomando a leitura do texto e das passagens extraídas do ensaio Da educação das crianças, Capítulo XXVI dos Ensaios de Montaigne(1984), verifique como o autor, baseado em novos valores, concebe o relacionamento entre pais e filhos 2 - De que forma o fato de Montaigne escrever no século XVI marcou seu pensamento? 3 - Com base nas análises feitas nas questões precedentes e na leitura das passagens do texto de Montaigne, elabore uma dissertação sobre o seguinte tema: "Educação e transformação social: a importância do pensamento sobre a infância, elaborado por Montaigne.”

  33. EDUCAÇÃO NA REFORMA PROTESTANTE: AS CONTRIBUIÇÕES DE MARTINHO LUTEROLílian Sarat de Oliveira Na sua caminhada como reformador, ele atacou violentamente as escolas, as matérias ensinadas e os textos utilizados. Chamou as escolas de infernos e purgatórios, nas quais um menino era eternamente atormentado com casos e tempos e aprendia, devido a um contínuo açoitamento, temor, dor e angústia. (EBY,1976, p. 54) Evidentemente, o tema da educação não poderia deixar de se fazer presente na Reforma Protestante, e Lutero, ao mesmo tempo em que sistematizou severas críticas às escolas de sua época, fez propostas inovadoras que deram frutos no decorrer da História da Educação.

  34. EDUCAÇÃO NA REFORMA PROTESTANTE: AS CONTRIBUIÇÕES DE MARTINHO LUTEROLílian Sarat de Oliveira Lutero reivindicava a inserção da criança na escola. Manifesta-se sua preocupação com o tema da infância: “Nenhum pecado merece castigo maior do que justamente aquele que cometemos contra as crianças, quando não as educamos”. Uma vez que Lutero propunha diversas mudanças para a educação de sua época, a preocupação com a boa educação dos jovens permeou todos os seus discursos. Ele acreditava que, formando bem meninos e meninas, a sociedade iria ganhar, pois teria bons cidadãos, fiéis a Deus e às leis civis.

  35. EDUCAÇÃO NA REFORMA PROTESTANTE: AS CONTRIBUIÇÕES DE MARTINHO LUTEROLílian Sarat de Oliveira Uma inovação que pode ser apontada no pensamento de Lutero era a sua preocupação com a co-educação, por meio da qual meninos e meninas deveriam ter acesso ao ensino. A punição também foi um aspecto fundamental sobre o qual incidiu a crítica de Lutero; por isso, ele chamou as escolas de purgatórios e infernos. O reformador era contra o sistema punitivo para educar as crianças: “Não aprendemos simplesmente nada por causa de tantas palmadas, medo, pavor e sofrimentos”

  36. EDUCAÇÃO NA REFORMA PROTESTANTE: AS CONTRIBUIÇÕES DE MARTINHO LUTEROLílian Sarat de Oliveira Uma das mais significativas propostas de Lutero foi a de que tanto as escolas como a Igreja estivessem sob o controle do Estado, o qual deveria manter as autoridades civis como responsáveis pelo seu estabelecimento e manutenção. Nas palavras de Lutero encontramos indícios de uma gênese da laicização do ensino e de sua transformação em uma atividade que deveria ficar sob a tutela do Estado. Um outro aspecto de suas contribuições foi a defesa da educação obrigatória. Segundo ele, pessoas educadas resultariam melhores servidores civis, juízes, médicos, pastores e súditos obedientes.

  37. EDUCAÇÃO NA REFORMA PROTESTANTE: AS CONTRIBUIÇÕES DE MARTINHO LUTEROLílian Sarat de Oliveira Além de propor que as autoridades assumissem o controle e a manutenção da educação escolar, Martinho Lutero recomendava que, caso as autoridades descobrissem um menino capacitado, deveriam mandá-lo à escola e, se ele fosse de família pobre, deveria ser custeado pela Igreja. Recomendava ainda que os ricos reservassem valores para essa finalidade, ou seja, para ajudar aquele que era mais pobre. Nota-se que tanto o investimento do Estado e da Igreja quanto o dos homens mais abastados deveriam ser direcionados para a criança que demonstrasse capacitação para os estudos. Assim Lutero fazia uma distinção entre capacitados e não capacitados, privilegiando os que considerava mais inteligentes.

  38. EDUCAÇÃO NA REFORMA PROTESTANTE: AS CONTRIBUIÇÕES DE MARTINHO LUTEROLílian Sarat de Oliveira São inúmeras as contribuições de Lutero à educação de seu tempo. Ele dedicou-se ardorosamente a este assunto, pois acreditava que, por meio da educação secular e religiosa, o ser humano poderia se aperfeiçoar e assim tornar-se também um reformador. Uma das frases de Lutero que marcou a Reforma foi: “Igreja reformada sempre reformando”. È possível pensar que este reformador tinha em mente que fazia parte de um processo, tal como nós pensamos fazer hoje. A educação, a Igreja e todos os indivíduos estão sempre em reforma, sempre em transformação, podendo mudar os rumos da História a partir de si mesmos, conscientes de que fazem parte de um processo muito mais amplo de aprendizagem.

  39. PROPOSTA DE ATIVIDADES 1 - Explicite a relação entre educação e religião. 2 - Qual a importância da Reforma Protestante para a História da Educação? 3 - Os discursos de Lutero sobre a educação eram carregados de críticas à Igreja de Roma. É possível pensar que Lutero usou a educação para propagar suas idéias religiosas? 4 - Comente esta frase de Lutero: “Se as autoridades podem obrigar os súditos capazes a carregarem lanças e armas de fogo, escalarem muros e outras coisas que devem ser feitas numa guerra, também podem e devem obrigar os súditos a mandarem seus filhos à escola”.

  40. INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE COMENIUSRita Luiz da Rocha COMENIUS E O CONHECIMENTO UNIVERSAL: ARTE DE ENSINAR TUDO A TODOS O século XVII caracteriza-se pela efervescência epistemológica provocada pelos intelectuais em suas discussões sobre os esforços educativos. Suas preocupações centraram-se no método e nos procedimentos para a apreensão do conhecimento.

  41. INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE COMENIUSRita Luiz da Rocha No interior dessas discussões, como contraponto ao modelo teológico vigente, emergiram propostas educacionais para crianças e jovens, as quais se baseavam em uma tendência mais humanista e racional. Surgiram, assim, projetos de civilidade, roteiros, manuais, enfim, iniciativas inovadoras de ações para orientar famílias e educadores sobre melhores maneiras de educar as crianças e as gerações posteriores. A pedagogia assumiu uma dimensão nova, um caráter de continuidade na busca de soluções para o ensino e a aprendizagem. Essa nova dimensão foi referendada na proposta de Joan Amos Komensky, que concebeu a chamada Pedagogia Moderna.

  42. INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE COMENIUSRita Luiz da Rocha Em seus discursos, ele enfatizava necessidade de reforma do conhecimento humano e da educação.Como aponta Giles (1987, p. 152), ele considerava que “a sociedade é podre e corrupta, sendo que a causa dessa lamentável situação encontra-se na corrupção do processo educativo. A educação é uma preparação para a vida terrestre e para vida futura, por isso a importância de um ensino voltado a objetivos morais e religiosos”.

  43. INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE COMENIUSRita Luiz da Rocha Concebeu, assim, uma teoria humanista e espiritualista, cujo "locus" essencial da formação do homem era a escola. Suas idéias deram origem a concepções modernas e a muitas propostas pedagógicas atualmente consideradas como progressistas.

  44. INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE COMENIUSRita Luiz da Rocha Entre suas idéias constavam: a união da família/escola na educação da infância e da juventude; uma proposta de educação coletiva; o respeito ao estágio de desenvolvimento da criança no processo de aprendizagem; a necessidade de as classes serem ministradas conforme os diferentes níveis de escolaridade; a construção do conhecimento através da experiência, da observação e da ação; a organização do tempo escolar; ensinar o que era significativo para aplicação prática; a interdisciplinaridade dos conteúdos; o ensino com afetividade, suavidade e rapidez; um ambiente adequado para aprender.

  45. INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE COMENIUSRita Luiz da Rocha Tal pensamento inovador, pressupondo o melhoramento do ensino, está contido em sua principal obra, A Didáctica Magna. Esse clássico moderno, que se constitui num paradigma do saber sobre a educação da infância e da juventude, contém a proposta de Comenius sobre a ordem nos trabalhos relacionados ao ensinar e ao aprender. Para ele, ensinar implicava uma habilidosa e criteriosa divisão do tempo, das matérias e do método.

  46. INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE COMENIUSRita Luiz da Rocha Seu princípio era de que a educação do homem deveria ser sistematizada, ordenada, coletiva, universal; de que o saber deveria atingir todas as pessoas e, para isso, precisar-se-ia de um recurso/método homogêneo para o conhecimento. [...] a possibilidade de chegar ao conhecimento adequado dependeria da experiência pessoal e da exploração dos sentidos.

  47. INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE COMENIUSRita Luiz da Rocha Ele preconizava que as experiências deveriam ocorrer a partir da infância, pois a criança era dotada de potencialidades que se modificavam desde o seu nascimento até a maturidade, de acordo com as seguintes etapas: a primeira infância, a criança, o jovem e o adulto. Todas elas apresentavam padrões de aprendizagem e comportamento e, para ensiná-las, bastava seguir as leis do seu desenvolvimento interior. Assim, apesar da imaturidade das experiências da criança, a infância apresentava-se como um período pertinente para o desenvolvimento de aprendizagens, pois era por meio destas que o homem se tornaria completo e complexo.

  48. INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE COMENIUSRita Luiz da Rocha O ensino, como já indicamos, deveria iniciar cedo, sem nenhuma distinção de pessoa; assim, as mulheres, os inteligentes, lentos, preguiçosos, dóceis, débeis, teimosos, entre outros, todos seriam capazes de aprender se fossem bem conduzidos. Segundo ele, todos eram dotados da mesma natureza humana, apesar de terem inteligências diversas.

  49. INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE COMENIUSRita Luiz da Rocha Com base nesse fundamento, ele entendia que todo o ser humano era capaz de aprender. Esse princípio norteador da sua proposta pedagógica significa que o homem poderia se colocar no mundo não apenas como espectador, mas, acima de tudo, como agente de mudanças. Se considerarmos o contexto histórico do século XVII, podemos afirmar que popularizar o acesso das pessoas à escola era uma idéia inovadora e ao mesmo tempo revolucionária, pois significava romper com o sistema político e religioso que dirigia o ensino até então.

  50. INFÂNCIA E EDUCAÇÃO NA OBRA DE COMENIUSRita Luiz da Rocha Comenius julgava que o sistema religioso criava obstáculos para a aprendizagem dos alunos e apontava: o dualismo educacional entre pobres e ricos; o ensino do professor em separado com um ou poucos alunos e de vários professores para a mesma classe; punições para os erros; livros que não estavam integrados e a falta de harmonização das instituições. Por isso, ele propunha a reforma e a harmonização da educação. Sugeria que todos atuassem em prol da melhor instrução, tentando assim chegar ao funcionamento homogêneo e harmônico da escola

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