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O que é isso, companheiro?. Fernando Gabeira. O QUE É ISSO, COMPANHEIRO ?. DADOS BIBLIOGRÁFICOS Autor : Fernando Gabeira Escola Literária: Lit. Contemporânea Ano de Publicação: 1979 Gênero : Texto memorialístico Narração: 1.ª pessoa Divisão da Obra: 16 capítulos
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O que é isso, companheiro? Fernando Gabeira
O QUE É ISSO, COMPANHEIRO? DADOS BIBLIOGRÁFICOS • Autor: Fernando Gabeira • Escola Literária: Lit. Contemporânea • Ano de Publicação: 1979 • Gênero: Texto memorialístico • Narração: 1.ª pessoa • Divisão da Obra: 16 capítulos • Local: Rio de Janeiro/ São Paulo
O AUTOR Fernando Gabeira (1941) Fernando Paulo Nagle Gabeira nasceu em Juiz de Fora - MG em 1941. Escritor, jornalista e político. Muda-se para o Rio de Janeiro em 1963 e no ano seguinte começa a trabalhar como redator no Jornal do Brasil, onde permanece até 1968. Nesse ano, entra para a clandestinidade e ingressa na luta armada contra a ditadura militar, como integrante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro - MR-8.
O AUTOR • Em 1969, participa do sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick - na operação é baleado e preso, sendo mais tarde exilado, numa troca de presos políticos pela liberdade do embaixador alemão Ehrenfried Von Holleben, também sequestrado pela guerrilha. • Em 10 anos de exílio, mora no Chile, Suécia e Itália. Com a Lei de Anistia, volta ao Brasil, em 1979, e publica O que é isso, Companheiro?, relato de seus anos de clandestinidade e guerrilha. • Militando em causas ecológicas e pacifistas, funda, com artistas e intelectuais, o Partido Verde - PV e candidata-se, sem sucesso, a governador do Rio de Janeiro, em 1986, e àPresidênciada República, em 1989. Cinco anos depois, elege-se deputado federal, reeleito sucessivamente desde então. Sua obra, de engajamento político, constrói as primeiras análises críticas da luta armada e discute temas como as liberdades individuais e ecologia.
O AUTOR • Em 10 anos de exílio, mora no Chile, Suécia e Itália. Com a Lei de Anistia, volta ao Brasil, em 1979, e publica O que é isso, Companheiro?, relato de seus anos de clandestinidade e guerrilha.
O AUTOR • Militando em causas ecológicas e pacifistas, funda, com artistas e intelectuais, o Partido Verde - PV e candidata-se, sem sucesso, a governador do Rio de Janeiro, em 1986, e à Presidência da República, em 1989. Cinco anos depois, elege-se deputado federal, reeleito sucessivamente desde então. Sua obra, de engajamento político, constrói as primeiras análises críticas da luta armada e discute temas como as liberdades individuais e ecologia.
Bibliografia • O que é isso, companheiro? (1979); • O crepúsculo do macho (1980); • Entradas e bandeiras (1981); • Hóspede da Utopia (1981); • Sinais de Vida no Planeta Minas (1982); • Nós que amávamos tanto a Revolução (1985); • Vida Alternativa - Uma revolução do dia a dia (1985); • Diário da Salvação do Mundo (1987); • Goiânia, rua 57 - o nuclear na terra do sol (1987); • Crônicas de Fim de Século (1994); A Maconha (2000); • Navegação na Neblina (2006); • Está tudo aquilo agora (2012).
A ESCOLA LITERÁRIA: LITERATURA CONTEMPORÂNEA • (http://www.mundovestibular.com.br/articles/4452/1/LITERATURA-CONTEMPORANEA/Paacutegina1.html) • Tratando-se especificamente da Literatura, o Professor Proença aponta as seguintes características dessa arte, neste período:
A ESCOLA LITERÁRIA a) Ludismona criação da obra, desembocando frequentemente na paródia ou pastiche(cópia ou colagem, montagem a partir de um original). Ex: as sucessivas imitações do famoso poema de Gonçalves Dias, "Canção do Exílio" ("Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá...").
Literatura Contemporânea - a partir da década de 60 b) Intertextualidade, característica da qual os textos de Drummond como "A um bruxo com amor" (retomando M. de Assis); "Todo Mundo e Ninguém" (retomando o auto da Lusitânia, de Gil Vicente) são belos exemplos.
Literatura Contemporânea - a partir da década de 60 c) Fragmentação textual: "associação de fragmentos de textos colocados em sequência, sem qualquer relacionamento explícito entre a significação de ambos", como em uma montagem cinematográfica.
Literatura Contemporânea - a partir da década de 60: POESIA • Nesta há duas constantes:a) Uma reflexão cada vez mais acurada e crítica sobre a realidade e a busca de novas formas de expressão; mantêm nomes consagrados como João Cabral, Mário Quintana, Drummond no painel da literatura.
Literatura Contemporânea - a partir da década de 60: POESIA • b) Afirmação de grupos que usavam técnicas inovadoras como: sonoridade das palavras, recursos gráficos, aproveitamento visual da página em branco, recortes, montagens e colagens. • As principais vanguardas poéticas prendem-se aos grupos: Concretismo, Poema-Processo, Poesia-Social, Tropicalismo; Poesia-Social e Poesia-Marginal.
Literatura Contemporânea - a partir da década de 60: Romance urbano - social • Documenta os grandes centros urbanos com seus problemas específicos : a burguesia e o proletariado em constante luta pela ascensão social, luta de classes, violência urbana, solidão, angústia e marginalização. • Exs: José Condé (Um Ramo para Luísa),Carlos Heitor Cony (O ventre), Antônio Olavo Pereira (Marcoré), Marcos Rey, Luís Vilela, Ricardo Ramos, Dalton Trevisan e Rubem Fonseca.
Literatura Contemporânea - a partir da década de 60: Romance político • A censura calou, durante um tempo, as vozes dos meios de comunicação de massa fazendo com que o romance passasse a suprir essa lacuna, registrando o dia-a-dia da história, fazendo surgir novas modalidades de prosa: • a) paródia histórica; • b) o romance reportagem; • c) o romance policial; e • d) o romance histórico.
Literatura Contemporânea - a partir da década de 60: Romance político • a) paródia histórica. • Ex: Márcio de Sousa (Galvez, o Imperador do Acre), Ariano Suassuna (A Pedra do Reino), João Ubaldo Ribeiro (Sargento Getúlio). • b) o romance reportagem, com emprego de linguagem jornalística e enredos com relatos de torturas, como veículo de denúncia e protesto contra a opressão.Ex: Ignácio de Loyola Brandão (Zero, não Verás País Nenhum), Antônio Callado (Quarup, Reflexos do baile), Roberto Drummond (Sangue de Coca- Cola) e Rubem Fonseca (O Caso Morel).
Literatura Contemporânea - a partir da década de 60: Romance político • c) o romance policial, com aspectos urbanos e políticos aparece na ficção de Marcelo Rubens Paiva (Bala na Agulha) e de Rubem Fonseca. Este último, considerado o melhor nesse gênero, escreveu "A Grande Arte", "Bufo & Spallanzani" ,"Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos“ dentre outros.
Literatura Contemporânea - a partir da década de 60: Romance político • d) o romance histórico, que consegue fundir narrativa policial, fatos políticos e abordagem histórica tem grandes representantes como a obra "Agosto" de Rubem Fonseca, que retrata os acontecimento políticos que levaram Getúlio Vargas ao suicídio; "Boca do Inferno" de Ana Miranda que retrata a Bahia do século XVII e os envolvimentos políticos e amorosos de Gregório de Matos; Fernando Morais seguindo esta linha escreve "Olga", a história da esposa de Luís Carlos Prestes, entregue aos alemães nazistas pelo governo de Getúlio.
Literatura Contemporânea - a partir da década de 60: • No Realismo Fantástico e no Surrealismo alguns escritores constroem metáforas que representam a situação do Brasil utilizando situações absurdas e assustadoras.
O que é isso, companheiro?OS PERSONAGENS • Gabeira- Militante do Movimento Revolucionário 08 de Outubro (MR-8), o qual buscava instaurar o socialismo no Brasil. • Trabalhava no Jornal do Brasil e em outro jornal clandestino, denominado Panfleto. • Participa do sequestro do embaixador estadunidense, Charles Elbrick, em 1969. • É preso, torturado e exilado. • Em 1970, é libertado, junto com 39 presos políticos (fora trocado pela libertação do embaixador alemão Ehrenfried von Hoileben, sequestrado pelos militantes) e é exilado na Argélia.
CICLOS POLÍTICOS DO REGIME DITATORIAL-MILITARhttp://br.monografias.com/trabalhos914/golpe-regime-variaveis/golpe-regime-variaveis2.shtml
Vários são os nomes citados pelo narrador, dentre eles, podemos lembrar: • Dominguinho (militante com menos de 16 anos de idade); • Zé Roberto, • Vera (tornou-se sua companheira); • Edson Luiz; • Marighela; • Márcia, a loura dos assaltos; • Elias; • dona Luíza (empregada de Gabeira); • Toledo; • Helena (moça que servira de avalista); • Ana (dona da casa em que Gabeira ficara após o sequestro do embaixador dos EUA); • Paulo; • frei Tito; • Mário Alves e tantos outros militantes; • Capitão Albernaz; • Cabo Mariani; e • Charles Burke Elbrick(embaixador dos EUA).
O QUE É ISSO, COMPANHEIRO?, Fernando Gabeira • Em 1979, Fernando Gabeira lançou o livro O que é isso, companheiro?, em que buscou compreender o sentido de suas experiências - a luta armada, a militância numa organização clandestina, a prisão, a tortura, o exílio - e no qual elaborou, para a sua e para as gerações seguintes, um retrato autêntico e vertiginoso do Brasil dos anos 60 e 70. • Como um relato lúcido, irônico, comovente, o livro se transformou num verdadeiro clássico do romance-depoimento brasileiro e foi filmado pelo diretor Bruno Barreto. • A obra é a versão de Fernando Gabeira sobre o sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick, em 4 de setembro de 1969, alguns meses após a declaração do Ato Institucional nº 5, que suspendeu todos os direitos civis dos brasileiros em 1968, em uma época em que o país se encontrava governado por militares.
OBRAhttp://www.passeiweb.com/estudos/livros/o_que_e_isso_companheiroOBRAhttp://www.passeiweb.com/estudos/livros/o_que_e_isso_companheiro • O texto é narrado em primeira pessoa para explicitar que aquelas vivências pertenciam a um eu real, sendo que a elaboração do eu discursivo permaneceu bastante rasa. • A opção pelo uso do "eu" garantiu uma visão mais pessoal dos fatos, mas limitou a narrativa politicamente engajada às aventuras de um indivíduo politicamente engajado. • A obra é centrada na figura do próprio Gabeira, que optou por uma perspectiva mais próxima da experiência do narrador, ainda que pensasse que essa experiência fora comum a um grupo de pessoas. • A partir da visão de um personagem, o livro se propôs a informar sobre o golpe e os anos de ditadura. • A subjetividade do narrador foi posta em destaque e relativiza os fatos, deixando claro que essa era sua visão e não uma visão absoluta.
OBRA • O livro conta como o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) conseguiu realizar talvez a maior façanha de uma organização tida como de esquerda, para se contrapor ao período militar vigente. • O sequestro, segundo o MR-8, foi a saída encontrada pelos guerrilheiros para pressionar o governo a liberar 15 esquerdistas que estavam presos por motivos políticos.
OBRA • Não é uma obra que defende irrestritamente as ações tomadas pelo MR-8 e, sim, uma profunda reflexão não apenas sobre o regime militar, mas também os movimentos sociais que existiam, e a postura da população perante as denúncias de tortura, perseguição política e a censura dos meios de comunicação.
OBRA • No livro, Fernando Gabeira está sempre questionando sua ação dentro do movimento, ele fez críticas e mostrou clareza ao questionar o que estava errado no movimento de esquerda brasileira. • Isso não ocorreu porque ele apresentou superioridade em relação aos outros , mas porque o livro foi escrito dez anos depois dos acontecimentos narrados. Nos anos de chumbo, Gabeira pensava igual aos outros companheiros, que desejavam fazer a sonhada “Revolução”.
OBRA • A anistia do Governo do General João Baptista de Figueiredo, trouxera muitos ex-guerrilheiros de volta ao país, entre eles, o escritor Fernando Gabeira. • Com a anistia, os exilados em outro país: jornalistas, ex-militantes de esquerda, escritores, tiveram a chance de fazer com que suas vozes, silenciadas por um longo período, fossem ouvidas novamente. • Com a liberdade de expressão, produzindo literatura, o escritor Fernando Gabeira deu evidentes sinais de resistência ao regime militar implantado na época em que foi obrigado a se exilar em outro país. • As imposições políticas, os desagrados de como esse regime impunha a cultura brasileira à censura; a violência contra o povo que se manifestava nas ruas contra toda uma sociedade desigual, tudo isso é relatado na obra.
Trecho: “No instante em que Aragão saía no seu carro preto, possivelmente Gregório Bezerra, o líder camponês pernambucano estava sendo atado ao jipe do coronel Ibiapina e seria arrastado pelas ruas. O sapateiro Chicão estava tentando escapar, às pressas, de Governador Valadares, onde os fazendeiros fuzilavam sem vacilar.”(p.23).
OBRA • Não trecho anterior, pode-se perceber que o escritor optou por traduzir os problemas da sociedade, substituiu a voz do sujeito (ele, o escritor e jornalista), pela do oprimido (o líder camponês e o sapateiro), o povo, a massa que sempre esteve em desvantagem, excluído pela sociedade dominante. • Nessa perspectiva, a literatura produzida por Fernando Gabeira alia-se aos sujeitos (ele, o escritor e o povo) que manifestavam suas inquietações e necessidade de ganhar visibilidade numa sociedade que lhes era injusta.
Trecho: • Numa outra passagem do texto, transcrita abaixo, é possível detectar a subjetividade do escritor: “Tudo era mágoa de quem não se conformava com o desfecho. O melhor talvez fosse tentar o que se passava. Goulart compreendeu que estava perdido e resolveu ir para o Uruguai, certo de que o golpe era temporário, que mais tarde, seria chamado para ocupar seu papel na vida política do país. Quem era eu para entender as coisas profundamente? Estava desarmado teoricamente, ressentido, e não outro caminho na nossa frente, exceto prosperar e esquecer o baque que o país estava sofrendo.” (p.27)
OBRA • Na passagem anterior, o escritor relativizou os fatos, ele expressou a sua visão, não passou para o leitor que é uma visão absoluta quando diz “Quem era eu...”. A linguagem do escritor costurou todo um tecido que nos levou a refletir sobre os caminhos e descaminhos da história recente do país.
Trecho: • O escritor optou em fazer sua narrativa em primeira pessoa, para ir reconstituindo a memória daquilo que experimentou, que viveu dentro da história política do país até 1968. “(...) As pessoas estão seguras de si, estão tranquilas, mas quando partem para o exílio estão tristes também. Bastava surpreender qualquer um deles distraídos para captar um olhar vazio, uma cabeça que se abaixa... Mas aquilo era o Brasil, eu não era um personagem e havia muito o que fazer para estar à altura dos amigos que partiam.”(p.39)
OBRA • Na afirmativa anterior, temos a recordação individual do escritor. Um homem narrando sua história, a história de um grupo em que também ele se inscrevia na grande história dos exilados, por causa do autoritarismo da época. • Com o passar dos anos, foi possível detectar a experiência pela qual havia passado o escritor, que foi nos situando em suas lembranças dentro do movimento histórico. Era o indivíduo que constatou naquele momento que na pirâmide social daquele período, estava em posição inferior e que acabou sendo “expulso” de seu próprio país.
OBRA • Ao fazer a leitura da obra ‘O que é isso, companheiro?’é possível compreender alguns aspectos da constituição da memória coletiva de um grupo e de do indivíduo. • Trata-se de uma narrativa de cunho memorialista, realista de uma história recente do país. • A escrita de Fernando Gabeira permitiu a ocupação de vários lugares – ‘auto’, protagonista, narrador – o escritor dentro da obra objetiva traçar relações entre memória, narração e escritura/literatura. Ao mesmo tempo em que narra, o narrador se dobra sobre o ato de recordar, enquanto recorda e escreve, vai passando a limpo os fatos que viveu.
OBRA • Na obra destaca-se o uso abundante do condicional. Minimizando assim o caráter fatual do texto e jogando com o potencial, com aquilo que poderia acontecer. • Nas cenas de tortura para não descrevê-las diretamente, evita o excesso de minúcia que nos romances-reportagem promovem uma verdadeira retórica do horror. • Outra característica do estilo de Gabeira são as frases curtas e o tom informal, que devem muito ao discurso jornalístico, além do uso frequente da segunda pessoa para aproximar o leitor. Essa última opção está relacionada à necessidade didática de informar uma geração que não vivenciou a ditadura.
Trecho: • No seguinte trecho, Gabeira dirige-se a seu provável leitor: “O amigo (a) talvez fosse muito jovem em 64. Eu mesmo achei a morte de Getúlio um barato só porque nos deram um dia livre na escola. Um golpe de Estado, entretanto, mexe com a vida de milhares de pessoas. Gente sendo presa, gente fugindo, gente perdendo o emprego, gente aparecendo para ajudar, novas amizades, ressentimentos...”
OBRA • O relato de Gabeira dá margem a que tomemos o personagem-narrador como herói, uma vez que a história gira sobre um acontecimento real. O heroísmo só foi amenizado, porque a narrativa contou o fracasso de uma empreitada política e tendeu a relativizar as convicções que guiavam o narrador naquela época. • Evidenciou-se com frequência as fraquezas do projeto, ‘as rachaduras’ nos grupos, a ingenuidade dos militantes. Em ‘O que é isso, companheiro?’, a perspectiva do narrador é a de um indivíduo com vivências, ideias, sentimentos particulares e, principalmente, com críticas a respeito de seu papel na história.
Trecho: “Como é que um intelectual pode se negar tão profundamente? Passava os dias lendo jornais, fazendo planos para matar Eduardo e limpando ad nauseam meu revólver Taurus 38 que jamais disparei contra ninguém, mas que mantinha em um estado impecável, como se me esperassem, a cada manhã, fantásticas batalhas campais, ali naquele apartamento de Ana, onde o único vestígio de luta eram as camas desarrumadas com a agitação dos nossos sonhos.” • A prosa de Gabeira distancia-se do neonaturalismo dos romances-reportagem por não aderir a uma versão unificada da situação política dos anos 70. • O livro não segue a tendência principal do romance-reportagem que seria o de produzir ficcionalmente identidades lá onde dominavam as divisões, criando uma utopia de nação e outra de sujeito, capazes de atenuar a experiência cotidiana da contradição. Por sua vez, o risco de uma visão mais centrada no personagem-narrador era o de que se anulasse a pluralidade de vozes, reduzindo tudo à perspectiva de um único indivíduo.
OBRA • O livro de Gabeira não é uma exceção no que diz respeito ao caráter monológico dos textos autobiográficos de ex-exilados ou militantes políticos, em que se destaca, por exemplo, o fato de que os outros personagens não terem nenhuma profundidade subjetiva, nenhuma independência em relação à figura central do narrador. • A própria subjetividade do narrador não é explorada muito além de suas implicações referenciais.
OBRA • O narrador autobiográfico centrou seu relato nas experiências vividas por ele próprio em um período do passado que a distância temporal lhe permitiu abordar com olhar crítico, mas não colocou em questão a possibilidade de narrar tais experiências. • Se, por um lado, a narrativa autobiográfica ao estilo de ‘O que é isso, companheiro?’consegue expor o caráter contraditório dos acontecimentos, por outro, evita o problema de como representar, nos limites da linguagem, uma experiência traumática. • Diante de determinadas situações traumáticas – como foram as grandes guerras ou as ditaduras nos países latino-americanos – é comum os escritores se confrontarem com o silêncio, desconfiados da linguagem como meio de comunicar a experiência. • O narrador autobiográfico, pelo contrário, acredita na possibilidade de comunicar uma experiência que sirva de lição para gerações futuras, mas seu relato acaba transmitindo ao leitor uma redução do trauma à vivência privada do narrador.
ANÁLISE DA OBRA • O livro ‘O que é isso, companheiro?’ é considerado um livro de memórias e foi escrito quando seu autor, Fernando Gabeira, ainda estava no exílio, em 1979. • O livro venceu o Prêmio Jabuti de Literatura, na categoria biografia/memórias em 1980 e, mais tarde, em 1997, foi transformado em filme pelo cineasta Bruno Barreto. • A obra relata a história do próprio autor e de outras pessoas que estiveram envolvidas em movimentos contra a ditadura durante o Regime Militar por que passou o Brasil. • Gabeira narra suas experiências com a luta armada, a prisão, a tortura, o exílio e a militância em uma organização clandestina denominada MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de outubro).
ANÁLISE DA OBRA • A história tem início quando ele está correndo da polícia após o golpe de estado de Pinochet, no Chile. • É nesse momento que ele decide escrever um livro relatando suas experiências. No começo de sua trajetória como militante, participou do movimento estudantil e filiou-se à Dissidência Comunista da Guanabara (uma espécie de "racha" do Partido Comunista Brasileiro) que, posteriormente viria se constituir o MR-8. • O autor contextualiza, ainda, o golpe de 64 e narra a repressão sofrida por aqueles que faziam oposição ao governo.
ANÁLISE DA OBRA • Gabeira trabalhava como repórter em um jornal conservador, o JB (Jornal do Brasil), e isso cerceava muito suas ideias (nem sempre conseguia escrever aquilo que queria). • Mesmo assim, junto a outros colegas, organizou a Passeata dos Cem Mil e seu grande feito, que foi o sequestro do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Burke Elbrick, em troca da libertação de 15 presos políticos. • O sequestro ocorre como um desafio ao regime militar, na semana da Pátria (04 de setembro de 1969), meses depois do Ato Institucional n° 5 (Al-5), o qual suspendia todos os direitos civis dos brasileiros em 1968.
ANÁLISE DA OBRA • Percebe-se que Gabeira tinha uma postura libertária (movimento que se iniciava no Brasil) e fazia críticas e reflexões tanto ao regime militar, com sua repressão e violência, como também aos movimentos de esquerda e às suas próprias ações. • O livro foi escrito dez anos depois do ocorrido, portanto, por um Gabeira mais experiente e capaz de enxergar com serenidade os fatos - se o livro tivesse sido escrito no momento dos acontecimentos, ou, "nos anos de chumbo", a história seria bem diferente, pois ele partilhava com outros companheiros o desejo da "Revolução“, isto é, apenas uma perspectiva dos fatos.
ANÁLISE DA OBRA • O narrador deixa muito claro que o relato dos acontecimentos se dá por meio da visão pessoal, não há absolutismo da verdade. • Esse confronto entre o que aconteceu no passado e o que se diz no presente é o que caracteriza o texto memorialístico. • ‘O que é isso, companheiro?’ foi criado de acordo com a tendência da escrita dos anos 70: uma representação verossímil da realidade histórica que alguém viveu, uma espécie de realismo crítico que não se volta apenas para a descrição fotográfica, mas para a construção do real estabelecendo mediações entre o particular e o universal.
A estrutura da obra • A obra apresenta-se dividida em 16 partes, todas elas com títulos que remetem à história narrada por Gabeira.
A temática • A temática principal da obra refere-se à ditadura e a seus reflexos na sociedade (consequentemente, fala-se de tortura, regime militar, prisão, ignorância, política etc.).
O tempo e o espaço • O tempo que compreende a narrativa dá-se entre o período de 1964 e meados da década de 1970 e ocorre, principalmente, em São Paulo e no Rio de Janeiro.
O título • O título, ‘O que é isso, companheiro?’ é uma pergunta repleta de indignação. • Na realidade, é um questionamento que reprova atitudes anti-revolucionárias. • Esse questionamento do título nos remete a duas situações em que a frase é repetida: • na primeira delas, o narrador, impressionado com a pouca idade de Dominguinho, pergunta-lhe por que não coleciona figurinhas e não arranja uma namorada para acariciá-la num banco de jardim. Ele recebe como resposta a frase do título (num misto de indignação e até mesmo de inocência); • a segunda situação remete ao momento em que o narrador, ao distribuir o jornal clandestino, sente-se atraído por uma mulher que passa por ali e lhe propõe uma carona. Ouve de um deles a pergunta repleta de incredulidade: o que é isso, companheiro?