1 / 25

A DOR DE PENSAR

A DOR DE PENSAR. “Ela canta, pobre ceifeira” “Leve breve suave” “Não sei se é sonho,…” “Liberdade”. A DOR DE PENSAR. Ela canta, pobre ceifeira, Julgando-se feliz talvez; Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia De alegre e anónima viuvez, Ondula como um canto de ave

ova
Download Presentation

A DOR DE PENSAR

An Image/Link below is provided (as is) to download presentation Download Policy: Content on the Website is provided to you AS IS for your information and personal use and may not be sold / licensed / shared on other websites without getting consent from its author. Content is provided to you AS IS for your information and personal use only. Download presentation by click this link. While downloading, if for some reason you are not able to download a presentation, the publisher may have deleted the file from their server. During download, if you can't get a presentation, the file might be deleted by the publisher.

E N D

Presentation Transcript


  1. A DOR DE PENSAR “Ela canta, pobre ceifeira” “Leve breve suave” “Não sei se é sonho,…” “Liberdade”

  2. A DOR DE PENSAR Ela canta, pobre ceifeira, Julgando-se feliz talvez; Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia De alegre e anónima viuvez, Ondula como um canto de ave No ar limpo como um limiar, E há curvas no enredo suave Do som que ela tem a cantar. Ouvi-la alegra e entristece, Na sua voz há o canto e a lida, E canta como se tivesse Mais razões p’ra cantar que a vida Ah, canta, canta, sem razão! O que em mim sente ‘stá pensando. Derrama no meu coração A tua incerta voz ondeando! Ah, poder ser tu, sendo eu! Ter a tua alegre inconsciência E a consciência disso! Ó céu! Ó campo! Ó canção! A ciência Pesa tanto e a vida é tão breve! Entrai por mim dentro! Tornai Minha alma a vossa sombra leve! Depois, levando-me, passai!

  3. A DOR DE PENSAR • - ceifeira: instintivamente alegre • Descrição objectiva se… • “talvez” • “pobre” • “anónima viuvez” • - Inconsciência da ceifeira é a única razão da sua alegria Ela canta, pobre ceifeira, Julgando-se feliz talvez; Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia De alegre e anónima viuvez, Ondula como um canto de ave No ar limpo como um limiar, E há curvas no enredo suave Do som que ela tem a cantar. Ouvi-la alegra e entristece, Na sua voz há o canto e a lida, E canta como se tivesse Mais razões p’ra cantar que a vida Ah, canta, canta, sem razão! O que em mim sente ‘stá pensando. Derrama no meu coração A tua incerta voz ondeando! Ah, poder ser tu, sendo eu! Ter a tua alegre inconsciência E a consciência disso! Ó céu! Ó campo! Ó canção! A ciência Pesa tanto e a vida é tão breve! Entrai por mim dentro! Tornai Minha alma a vossa sombra leve! Depois, levando-me, passai! F. Pessoa 1º momento - objecto de análise: a ceifeira 2º momento - Objecto de análise: o sujeito poético • Análise mais subjectiva • Emoção do sujeito • face à canção inconscientemente alegre da ceifeira

  4. A DOR DE PENSAR • Estrutura Interna – divisão • O poeta sente a “dor de pensar” e deseja libertar-se dela Paradoxoaquele que mais se serviu da inteligência sentiu-se sempre um ser torturado por ser um ser pensante. Daí a sua aspiração pela alegre inconsciência da ceifeira

  5. A DOR DE PENSAR • CARACTERIZAÇÃO DAS PERSONAGENS: • O poema tem duas linhas estruturadoras:

  6. A DA DOR DA DE PENSAR • O canto da ceifeira seduz porque é perfeito. ELEMENTOS QUE TRADUZEM ESSA PERFEIÇÃO • Qual é o verso que melhor caracteriza o sujeito poético? v. 14 “O que em mim sente ‘stá pensando” o poeta é incapaz de permanecer ao nível das sensações, transforma-as de imediato em ideias. • De que é símbolo a ceifeira? R.: Ela é símbolo de harmonia, inconsciência e tranquilidade.

  7. A DOR DE PENSAR Intertextualidade: 1- compara o pedido contido na composição de F. Pessoa com o que é feito pelo sujeito poético do poema de Florbela Espanca. RÚSTICA Ser a moça mais linda do povoado, Pisar, sempre contente, o mesmo trilho, Ver descer sobre o ninho aconchegado A bênção do Senhor em cada filho. Um vestido de chita bem lavado, Cheirando a alfazema e a tomilho… Com o luar matar a sede ao gado, Dar às pombas o sol num grão de milho… Ser pura como a água da cisterna, Ter confiança na vida eterna Quando descer à “terra da verdade”… Meu Deus, dai-me esta calma, esta pobreza! Dou por elas meu trono de Princesa, E todos os meus reinos de Ansiedade. Florbela Espanca, Sonetos R.: Os pedidos são semelhantes: Pessoa deseja a inconsciência da ceifeira , e Florbela pede a felicidade rural.

  8. A DOR DE PENSAR • Foi depois de ler “Folhas Caídas” de A. Garrett que Pessoa começou a escrever poesia em português. • Garrett e Pessoa aproximam-se: • pela grácil delicadeza dos motivos; • o desenho estrófico; • a melodia do verso de 2 a 7 sílabas a sugerir a própria leveza e fluidez da alma; • a linguagem simples, íntima, sóbria, nobre. No Pessoa ortónimo, o ritmo alicia, as próprias vivências são muitas vezes de essência musical; instintiva ou calculadamente, de qualquer modo apoiado à nossa melhor tradição lírica, Pessoa tira das combinações de sons efeitos muito felizes. Jacinto do prado Coelho, Diversidade e Unidade em F. Pessoa

  9. A DOR DE PENSAR O processo é característico de Pessoa: primeiro a imagem-símbolo, depois a reflexão que lhe extrai o sentido. Vejamos um exemplo em “Leve, breve, suave”: Leve, breve, suave, Um canto de ave Sobe no ar com que principia O dia. Escuto, e passou… Parece que foi só porque escutei Que parou. Nunca, nunca, em nada, Raie a madrugada, Ou ‘splenda o dia, ou doire no declive, Tive Prazer a durar Mais do que o nada, a perda, antes de eu o ir Gozar. O 1º verso, só constituído por adjectivos (sugestivo de um som esguio e doce pelas duas pausas entre os 3 dissílabos, rigorosamente monossílabos, terminados em fricativa, e ainda pela rima interior), contém o que mais importa: a ideia da leveza, da brevidade, da suavidade do momento psicológico simbolizado pelo canto, cujas curvas descritas no ar parecem ser reproduzidas pelo desenho estrófico, com versos de tamanho muito desigual e rimas suaves em –ave e –ia. O súbito desaparecimento do canto (v. 5) O eu consciente do poeta intervém e quebra o encanto do momento inefável. A sintaxe de coordenação e a linguagem viva e espontânea, descrevem melhor a rapidez com que o canto se esvaiu.

  10. A DOR DE PENSAR Gato que brincas na rua Como se fosse na cama, Invejo a sorte que é tua Porque nem sorte se chama. Bom servo das leis fatais Que regem pedras e gentes, Que tens instintos gerais E sentes só o que sentes. És feliz porque és assim, Todo o nada que és é teu. Eu vejo-me e estou sem mim, Conheço-me e não sou eu.

  11. A DOR DE PENSAR • A ilustração de Rinoceronte remete para o tópico pessoano da “dor de pensar”: • não a coisa que invade a sua mente e o impede de viver plenamente a vida (a intelectualização de emoções, a perturbação que motiva o desejo da fuga); • mas a maneira como Pessoa observa as coisas fúteis da vida. introdução • Na poesia do ortónimo, há: • a investigação solene, a análise e a exaltação das coisas simples (gato), • a busca da inocência, da alegria, da bruteza do gato (aspiração impossível; • a aspiração à felicidade esbarra na sua condição de ser um ser pensante. • A imagem mostra um ser em mutação: • cabeça (poeta) – o ser que pensa; • corpo (gato) – o ser que sente; • Elo de ligação: • a caneta (símbolo da actividade artística) desenvolvimento • pela palavra… • - o poeta reconstrói-se; • - busca o auto-conhecimento; • evade-se no imaginário; • deseja e inveja a felicidade alheia Assim, a ilustração sugere que - a falta de preocupação do ser "bruto“ (o gato) espanta Pessoa e intriga-o fazendo nascer nele um misto de admiração e inveja. - Pessoa não tem só os "instintos gerais“, que regem o gato - que sente "só o que sente" e nada mais. Tem a consciência que o impede de ser plenamente gato. conclusão

  12. A DOR DE PENSAR • "Gato que brincas na rua” - análise do poema: Podemos imaginar Fernando Pessoa do alto da sua janela, num qualquer dos seus quartos alugados, vendo o rebuliço normal da cidade e, sobretudo, o pormenor indecifrável das pequenas coisas. Entre elas estaria o pequeno gato a brincar na rua que dava para a sua casa. Se, por um lado, a "dor de pensar" é uma coisa que invade a mente de Pessoa e o impede de viver plenamente a vida, não parece que este poema aborde essa dor, mas antes a maneira como Pessoa observava as coisas fúteis da vida: é nos pormenores ínfimos que a análise filosófica de Pessoa se extrema e encontra os maiores significados. Ao ponto de ele mesmo se exaltar enquanto "investigador solene das coisas fúteis" (Álvaro de Campos, no poema "Passagem das Horas").

  13. A DOR DE PENSAR análise do poema (cont.) Este poema lembra “Tabacaria”, quando o sujeito poético direcciona a sua atenção para a rapariga que come chocolates, absorta do resto do mundo. É esta falta de preocupação (o ser "bruto", que aparece, por exemplo, em Ricardo Reis) que espanta Pessoa e o intriga - sendo que também faz nascer nele a inveja. Gato que brincas na rua Como se fosse na cama Invejo a sorte que é tua Por que nem sorte se chama

  14. A DOR DE PENSAR análise do poema (cont.) Pessoa inveja realmente "a sorte" do gato, que é a sorte de ser inconsciente e poder brincar sem pensar em mais nada - brinca na rua "como se fosse na cama". Bom servo das leis fatais Que regem pedras e gentes, Que tens instintos gerais E sentes só o que sentes.

  15. A DOR DE PENSAR análise do poema (cont.) O gato é "bom servo das leis fatais", ou seja, cumpre o seu destino sem se opor minimamente a ele - cumpre o desejo mais alto de Reis, que é o de sentir o destino como coisa inevitável enquanto se cumpre. O assumir deste destino universal, que rege "pedras e gentes" é um motivo de alta nobreza. Mas o homem é incapaz (a menos que seja "bruto") de ter esta atitude, porque alguns homens (como Pessoa), não têm apenas os "instintos gerais", que regem o gato - que sente "só o que sente" e nada mais. És feliz porque és assim, Todo o nada que és é teu. Eu vejo-me e estou sem mim, Conheço-me e não sou eu

  16. A DOR DE PENSAR análise do poema (cont.) A razão da inveja de Pessoa, mais do que inveja pela falta de preocupação, é inveja pela simples felicidade que existe quando se vive plenamente as coisas sem pensar. "És feliz porque és assim" é uma expressão de profunda miséria, de quem observa e tem a consciência plena que é infeliz. Embora o gato seja apenas "o nada", ele é-o plenamente, enquanto Pessoa sente que se conhece e conhece a sua situação, mas não consegue ser feliz assim.

  17. A DOR DE PENSAR análise do poema (cont.) O paradoxopensar/viver parece aqui encontrar novo poiso privilegiado. Pessoa inveja a felicidade alheia, seja de pessoas ou animais, porque a felicidade alheia é inatingível e baseada em princípios que ele sente nunca poder alcançar. Sobretudo aqueles princípios de simplicidade, acessíveis apenas aos "brutos", ou aos animais, como o pequeno gato que brinca tranquilo na rua. Pessoa sabe que nunca poderá ser apenas um "bruto", muito menos um animal - é este peso enorme que esmaga a sua esperança em ser feliz. Eu vejo-me e estou sem mim, Conheço-me e não sou eu.

  18. A DOR DE PENSAR sedução “Não vale mais o bem-estar físico do gato que brinca, obedecendo às leis universais do instinto? Para quê esta trituração mental que não conduz a nada?” Jacinto do Prado Coelho, Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa, Verbo

  19. A DOR DE PENSAR - continuação “Pouco a pouco… tenho vindo erguendo os meus propósitos e as minhas ambições cada vez mais à altura daquelas qualidades que recebi. Ter uma acção sobre a humanidade, contribuir com todo o poder do meu esforço para a civilização vêm-se-me tornando os graves e pesados fins da minha vida. E, assim, fazer arte parece-me cada vez mais importante coisa, maus terrível missão – dever a cumprir arduamente, monasticamente, sem desviar os olhos do fim criador-de-civilização de toda a obra artística. E por isso o meu próprio conceito puramente estético da arte subiu e dificultou-se; exijo agora de mim muito mais perfeição e elaboração cuidada.” Fernando Pessoa, in António Quadros- Fernando Pessoa: Vida, Personalidade e Génio

  20. A DOR DE PENSAR - continuação • “O mistério da vida dói-nos e apavora-nos de muitos modos. (…) Mas este horror que hoje me anula é menos nobre e mais roedor. É uma vontade de não querer ter pensamentos, um desejo de nunca ter sido nada, um desespero consciente de todas as células do corpo e alma. É o sentimento súbito de se estar enclausurado numa cela infinita. Para onde pensar em fugir, se só a cela é tudo?” Fernando Pessoa – Bernardo Soares, Livro de Desassossego

  21. O ESPELHO DOS PENSAMENTOS Um dos malefícios de pensar é ver quando se está pensando. Os que pensam com o raciocínio estão distraídos. Os que pensam com a emoção estão dormindo. Os que pensam com a vontade estão mortos Eu, porém, penso com a imaginação, e tudo quanto deveria ser em mim ou razão, ou mágoa, ou impulso, se reduz a qualquer coisa indiferente e distante, como este lago morto entre rochedos… Fernando Pessoa – Bernardo Soares, Livro de Desassossego Bóiam leves, desatentos, Meus pensamentos de mágoa, Como, no sono dos ventos, As algas, cabelos lentos Do corpo morto das águas. Bóiam como folhas mortas À tona de águas paradas. São coisas vestindo nadas, Pós redemoinhando nas portas Das casas abandonadas. Sono de ser, sem remédio, Vestígio do que não foi, Leve mágoa, breve tédio, Não sei se pára, se flui; Não sei se existe, ou se dói.

  22. O ESPELHO DOS PENSAMENTOS Tudo o que faço ou medito Fica sempre na metade. Querendo , quero o infinito Fazendo, nada é verdade. Que nojo de mim me fica Ao olhar para o que faço! Minha alma é lúcida e rica, E eu sou um mar de sargaço Um mar onde bóiam lentos Fragmentos de um mar de além… Vontades ou pensamentos? Não o sei e sei-o bem. Fernando Pessoa, Cancioneiro

  23. O ESPELHO DOS PENSAMENTOS “Não sei se é sonho, se realidade” • Tensão entre o apelo do sonho e o peso da realidade; • Caracterização do sonho – símbolos: • “terra de suavidade” • “ilha extrema do sul” • “palmares” • “áleas longínquas”; • A realidade impõe-se com o seu peso e impede a materialização do sonho; • Tristeza do poeta (semelhante à do poema da ceifeira); • A «dor de pensar» possui completamente o poeta.

  24. A DOR DE PENSAR • Tópico Temático: a «dor de pensar» • Texto diferente, na construção e na leveza. • Humor e ironia na apresentação do tema. • Irregularidade estrófica e métrica de acordo com o título. • 1º momento: poeta contrapõe a obrigação dos deveres à naturalidade das coisas. • 4ª estrofe: faz a transição e, ironicamente, denuncia uma das características dos portugueses: esperar pelo «messias» salvador. • 2 últimas estrofes: a subjectividade do poeta enumera realidades de forma eufórica. • crianças, flores, música, luar, sol, Jesus Cristo são palavras portadoras de carga simbólica. • Última estrofe: ironia muito expressiva (crítica aos poderosos que impõem os seus caprichos). • Para a realização do tema são importantes: • os transportes; a rima; as sonoridades vocálicas… • Liberdade Ai que prazerNão cumprir um dever,Ter um livro para lerE não o fazer!Ler é maçada,Estudar é nada.O sol doiraSem literatura.O rio corre, bem ou mal,Sem edição original.E a brisa, essa,De tão naturalmente matinal,Como tem tempo não tem pressa...Livros são papéis pintados com tinta.Estudar é uma coisa em que está indistintaA distinção entre nada e coisa nenhuma.Quanto é melhor, quando há bruma,Esperar por D. Sebastião,Quer venha ou não!Grande é a poesia, a bondade e as danças...Mas o melhor do mundo são as crianças,Flores, música, o luar, e o sol, que pecaSó quando, em vez de criar, seca. O mais do que istoÉ Jesus Cristo,Que não sabia nada de finançasNem consta que tivesse biblioteca...Fernando Pessoa

  25. O TEMPO – factor de desagregação O tempo pessoano: elemento constituído por uma série de momentos que não se excluem, que aparecem em simultâneo, na sua memória – a saudade traz o passado, que se torna presente. “Vivo sempre no presente. O futuro não o conheço. O passado, já o não tenho. Pesa-me um como a possibilidade de tudo, o outro como a realidade de nada. Não tenho esperanças nem saudades. (…) O meu passado é tudo quanto não consegui ser. Nem as sensações de momentos idos me são saudosas: o que se sente exige o momento; passado este, há um virar de página e a história continua mas não o texto.” FernadoPessoa-Bernardo Soares, Livro do Desassossego • Já não me importo Já não me importoAté com o que amo ou creio amar.Sou um navio que chegou a um portoE cujo movimento é ali estar.Nada me restaDo que quis ou achei.Cheguei da festaComo fui para lá ou ainda ireiIndiferenteA quem sou ou suponho que mal sou,Fito a genteQue me rodeia e sempre rodeou,Com um olharQue, sem o poder ver,Sei que é sem arDe olhar a valer.E só me não cansaO que a brisa me trazDe súbita mudançaNo que nada me faz. Fernando Pessoa Não sou nada.Nunca serei nada.Não posso querer ser nada.à parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. Álvaro de Campos - Tabacaria

More Related