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Poster Literário

Poster Literário. Poetas do Século XX. Para avançar ou recuar prima as teclas das setas do seu computador. Pedra Filosofal António Gedeão Heitor -José Nadir – Rafaela - Vera. Eles não sabem que o sonho é uma constante da vida tão concreta e definida como outra coisa qualquer,

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Presentation Transcript


  1. Poster Literário Poetas do Século XX Para avançar ou recuar prima as teclas das setas do seu computador

  2. Pedra Filosofal António Gedeão Heitor -José Nadir – Rafaela - Vera Eles não sabem que o sonho é uma constante da vida tão concreta e definida como outra coisa qualquer, como esta pedra cinzenta em que me sento e descanso, como este ribeiro manso em serenos sobressaltos, como estes pinheiros altos que em verde e oiro se agitam, como estas aves que gritam em bebedeiras de azul. eles não sabem que o sonho é vinho, é espuma, é fermento, bichinho álacre e sedento, de focinho pontiagudo, que fossa através de tudo num perpétuo movimento. Eles não sabem que o sonho é tela, é cor, é pincel, base, fuste, capitel, arco em ogiva, vitral, pináculo de catedral, contraponto, sinfonia, máscara grega, magia, que é retorta de alquimista, mapa do mundo distante, rosa-dos-ventos, Infante, caravela quinhentista, que é cabo da Boa Esperança, ouro, canela, marfim, florete de espadachim, bastidor, passo de dança, Colombina e Arlequim, passarola voadora, pára-raios, locomotiva, barco de proa festiva, alto-forno, geradora, cisão do átomo, radar, ultra-som, televisão, desembarque em foguetão na superfície lunar. Eles não sabem, nem sonham, que o sonho comanda a vida, que sempre que um homem sonha o mundo pula e avança como bola colorida entre as mãos de uma criança. • Introdução • No poema, o sujeito de enunciação versa sobre a importância do sonho, descrevendo dois lados que se completam, por um lado, o mundo empírico e racional e, por outro lado, o sonho. Sem os dois, é impossível obtermos a “Pedra filosofal” • . • O poema está dividido em duas partes, uma, em que o eu relata ao «Eles» o quanto o sonho é inerente à vida, e uma última, como conclusão, que recupera a ideia geral do poema. Marcas de Gedeão “Uma das marcas da capacidade inovadora e do sentido da modernidade de António Gedeão, consiste em ter transposto para o domínio da poesia a cultura cientifica, plasmando-a nas formas de expressão tradicionais (populares e «clássicas»), humanizando-a e conseguindo um síntese notável entre sentido do rigor da ciência e harmonização poética.” Análises ideológica e estilística Na 1ª estrofe, o eu defende que «o sonho/é uma constante da vida/tão concreta e definida como outra coisa qualquer». Ao sonho, uma realidade normalmente abstracta e difusa, são dadas qualidades da permanência (constante), e da substância (concreta e definida). A comparação vaga «como outra coisa qualquer» é clarificada na enumeração de comparações, anunciadas pela anáfora «como», que anuncia nomes concretos “pedra, ribeiro, pinheiros, aves”, e ainda, na 2ª estrofe «é vinho, é espuma, é fermento». O elemento natural é essencial à vida, tal o sonho. Na terceira estrofe, o eu argumenta aos que não acreditam no sonho, “Eles”, a razão pela qual o sonho, embora abstracto, é o “comando da vida”, utilizando sempre realidades concretas. Argumenta, assim, com uma enumeração de várias criações artísticas, ao longo dos tempos, como a pintura, “é tela, …”, a arquitectura, “arco em ogiva…”, e outras até às tecnologias actuais, “foguetão”. O eu demonstra, assim, que o sonho é o alimento do homem e está presente em todos os tempos. O uso do Presente do descreve esta realidade sempre actual. A quarta estrofe conclui que o sonho é como um caminho para chegarmos mais longe. O mundo evolui, porque um dia alguém sonhou mais alto. A metáfora da bola apela à criança que há dentro de nós que nunca morra, pois é com a imaginação, a esperança, a curiosidade que se torna possível sonhar e, por isso, avançar. Conclusão Neste poema, o sujeito de enunciação demonstra a necessidade do sonho, aos homens demasiado racionais. Coloca-se assim a questão da natureza humana, um tema actual porque os desejos só se realizam quando o homem sonha, tema já presente em Fernando pessoa no poema “Infante” onde o poeta escreve “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”. «Pedra Filosofal» A pedra filosofal era o principal objectivo dos alquimistas. Com ela o alquimista poderia transmutar qualquer metal inferior em ouro, como também obter o Elixir da Longa Vida, que permitiria prolongar a vida indefinidamente. O trabalho relacionado com a pedra filosofal era chamado pelos alquimistas de "A Grande Obra". • Análises formal e fónica • O poema é irregular: 4 estrofes com 12 versos, uma sextilha, 24 versos e sextilha. • O verso «Eles não sabem que o sonho», no início das três estrofes, funciona como um refrão, é o pressuposto do poema. • A rima é maioritariamente emparelhada em todas as estrofes, é ainda perfeita e rica. • A métrica é irregular, embora predomine a redondilha maior. Referências Sena, Jorge de., António Gedeão, Obra Completa, ed. Relógio D’ Água, p. 65.

  3. Convocação Ana; Ângela; Bruno; João Miguel; Tânia Convocação “Vem ter comigo.Noite escura. Como uma sepultura. Tenho estrelas aos pés para te dar. De mim te vai nascer o luar. Saudade, vem,aperta-me a garganta Com tua garra de carícias. Canta A boca aberta ao ar que já lhe falha, Mas que enchem versos que, mau grado, espalha. Vem, Solidão, fazer-me companhia. Remove do teu peito a laje fria. Tenho vidas a mais, que não consigo Viver se não contigo. Tristeza e Humilhação, que procriais rancores, Vinde, cobrir-vos-ei de flores. Por ínvios descampados Chego aos jardins suspensos enterrados. Traições.Tédio.Amargor.Martírios.Agonias. Enchei as minhas mãos vazias. Liberais vo-las trago a receber-vos: Tiranos que me fostes, sois-me servos. Vem.Desespero! Enche-me o espaço Despoja-me do nada que me abraço. Quero embalar-te ao colo da Esperança Que nada pede-tudo alcança. Depois vem tu, quando te apraza. De ainda tremo ao presentir-te a Asa Já, dada a volta, vou voltando á Origem. Vem buscar o teu noivo outra vez virgem.” Analises ideológica e estilística Uma convocação representa o acto de convocar, chamar para reunir, é um apelo à união, o eu neste caso convoca tudo aquilo que o pode humanizar, para o purificar. Nesta obra, bem como na maioria das suas obras, José Régio, imprime ao poema um tom dramático, teatral, utilizando uma linguagem pessoal e densa revelando a potente vibração do seu espírito, é através dessa língua irreprimível, agitada, grandiosa, redonda e soberana que nós chegamos a sentir todo o drama ou dramatização mental do poema. A primeira convocação começa na 1ª estrofe e termina na 6ª, sendo a última quadra a segunda convocação, estando a segunda dependente da primeira, uma vez que, para regressar à origem, tem que ultrapassar todo o sofrimento, convocando várias entidades. Sucedem-se várias apóstrofes onde se faz a “convocação” através de imperativos contínuos “vem...vinde...fazei-me companhia...dai-me motivos para lutar....para ter esperança” Na primeira convocação, o sujeito poético invoca a Morte, a Saudade, a Solidão, a Tristeza, a Humilhação, as Traições, o Tédio, o Amargor, os Martírios, as Agonias e o Desespero (aparecem no texto com letra maiúscula pois são as entidades invocadas pelo sujeito poético) para que o purifiquem, através da humanização conseguida com o sofrimento libertador. Ajudam á purificação (“Enchei as minhas mãos vazias”...”Quero embalar-te no colo da Esperança”). Nesta primeira convocação o sujeito poético acaba por se purificar ao longo da sua “vida”, ultrapassando os obstáculos a ele colocados. Humaniza-se e deseja poder recomeçar de uma nova forma, isto é, como um novo eu. No início da segunda convocação o eu poético afirma que ainda treme quando sente o sofrimento (pois ainda não conseguiu a purificação), mas que, quando ultrapassado, pode regressar à origem como um novo “eu” (“Já dada a volta, vou voltando à origem”). Apesar de cada um ter a sua “cruz”, pode ultrapassar todo o sofrimento, podendo recomeçar “virgem” (“Vem buscar o teu noivo outra vez virgem”). Acaba, assim, humanizado, purificado pelo sofrimento, regressado à origem, renascido. Marcas do autor José Régio utiliza uma linguagem pessoal e densa. Nele a linguagem poética revela-se uma potente vibração do seu espírito, É por essa língua, irreprimível, agitada, radiosa, redonda e soberana que nós chegamos a sentir todo o drama ou dramatização mental do poeta. Neste poema (“convocação”), José Régio explora a angustia humana apelando à transformação do ser, sua purificação. Introdução A composição poética “ convocação”, Da autoria de José Régio, foi extraído livro “Cântico suspenso”. O sujeito lírico convoca o sofrimento que já conhece para ser de novo “virgem”, para renascer como um novo “eu”. O poema aponta para duas convocações. Conclusão Neste poema, o sujeito da enunciação convoca várias entidades ligadas ao sofrimento para conseguir purificação, uma espécie de conhecimento interior, é uma tentativa de ascensão, dentro de si, a um absoluto (positivo ou negativo, na medida em que o absoluto do mal pode também ser uma via). Este tema prende-se com as preocupações humanísticas do autor, cuja poesia é pessoal e viva, uma vez que a arte de José Régio é a expressão do Humano, as preocupações metafísicas e psicológicas do Homem. Assim sendo, no poema “Convocação”, o sujeito poético explora a angústia humana apelando à transformação do ser, à sua purificação. Analises formal e fónica A composição poética é regular, pois é formada por sete quadras. A musicalidade do poema é conseguida através de várias formas. A rima é consoante emparelhada. A métrica é irregular, no entanto, predominam os versos decassílabos. Referências Historia da língua portuguesa do sec. XII-XVIII

  4. Trabalho realizado por: Rui Augusto Elsa Marina Marta Freitas João Manuel Dinis Falcão, 10º E “ Poema à Mãe “ de Eugénio de Andrade. Poema à mãeNo mais fundo de ti, eu sei que traí, mãe! Tudo porque já não sou o retrato adormecido no fundo dos teus olhos! Tudo porque tu ignoras que há leitos onde o frio não se demora e noites rumorosas de águas matinais! Por isso, às vezes, as palavras que te digo são duras, mãe, e o nosso amor é infeliz. Tudo porque perdi as rosas brancas que apertava junto ao coração no retrato da moldura! Se soubesses como ainda amo as rosas, talvez não enchesses as horas de pesadelos... Mas tu esqueceste muita coisa! Esqueceste que as minhas pernas cresceram, que todo o meu corpo cresceu, e até o meu coração ficou enorme, mãe! Olha - queres ouvir-me? -, às vezes ainda sou o menino que adormeceu nos teus olhos; ainda aperto contra o coração rosas tão brancas como as que tens na moldura; ainda oiço a tua voz: "Era uma vez uma princesa no meio de um laranjal..." Mas - tu sabes! - a noite é enorme e todo o meu corpo cresceu... Eu saí da moldura, dei às aves os meus olhos a beber. Não me esqueci de nada, mãe. Guardo a tua voz dentro de mim. E deixo-te as rosas... Boa noite. Eu vou com as aves! Introdução • Poema, em verso livre, dedicado à mãe • O desfasamento temporal entre o tempo da infância e a idade adulta, o 1º marcado por um amor feliz entre a criança e a mãe e o 2º por um amor infeliz entre o adulto e a mãe • Marcas de Eugénio de Andrade • Ruptura entre a infância e a idade adulta. • Liberdade inocente e primitiva. • Metáforas das partes do corpo tocadas na relação amorosa. • Análises ideológica e • estilística • Título: Dedicatória à mãe 1º momento: amor feliz Relação mãe / eu criança. • Acção realizada no passado, «perdi». • Inocência do eu criança e necessidade de protecção verificado nas metáforas “rosas”, “retrato da moldura” Conclusão Na primeira parte, o filho tenta demonstrar à mãe que cresceu e que, agora, se vai embora para amar. Mas irá sempre continuar a amar a mãe como a amava enquanto criança, pois não foi o amor da mãe que diminuiu para dar espaço ao amor de outra pessoa mas pelo contrário, o que cresceu foi o seu coração, tal como ele. O crescimento dele implica ruptura da relação. As mães tratam os seus filhos como crianças, mesmo quando já são adultos, e transmite um sentimento de culpa por parte do filho por magoar o amor da sua mãe, o que é encarado como uma traição. Ruptura “meu coração ficou enorme, mãe!” Análises formal e fónica • Poema longo constituído por : 3 dísticos, 7 tercetos, 2 quintilhas e 1 monóstico. • Irregularidade métrica com predominância do verso curto. • Rima interna em /i/ na 1ª quadra, rima toante em –oras/ ora. • Repetição de vocábulos: “mas”,”tudo”. 2º momento: amor infeliz Relação eu adulto / mãe. • Acção realizada no presente do indicativo, «traí». • Necessidade de liberdade, de outro amor , ideia presente na metáfora das aves “Boa noite. Eu vou com as aves”. Em suma: Eu / mãe 1ª parte 2ª parte • Passado • Pureza • Amor exclusivo • Eterna criança Ruptura • Presente • Necessidade: • De partir • Amar outra pessoa • Da mãe aceitar que ele cresceu • Referências • ANDRADE, Eugénio, Os Amantes sem dinheiro, Poema á mãe. • Manual 10º ano Musicalidade Amor feliz Amor infeliz

  5. Escola Secundária Carlos Amarante Eu Florbela Espanca Análises ideológica e estilística Na primeira quadra, o eu poético sente-se perdido, desorientado , é “a crucificada”, um sintoma do seu egocentrismo (tal como o título), pois compara-se metaforicamente à figura de Cristo, um mártir, ideia muito recorrente na literatura romântica. Nesta fase, o eu define-se a si própria, recorrendo à anáfora, “Eu sou”. Esta ideia da vítima é retomada na segunda quadra, onde predomina o sentimento de incompreensão por parte dos outros e injustiça e impotência face ao destino, referido com a tripla adjectivação “ (…) amargo, triste e forte”. Os dois últimos tercetos são o culminar das duas primeiras quadras. Todavia, no primeiro terceto há uma conclusão do que realmente o eu sente, sem metáforas, é uma enumeração do porquê da sensação de incompreensão. No segundo terceto, a frustração é o sentimento principal, pois o uso do conector “talvez” marca a dúvida que reina no interior do eu poético. Acredita que todas as pessoas quando nascem já têm uma alma gémea predestinada, sem a qual se sentem incompletos, uma sensação de frustração. Além disso, há ainda uma relação de oposição do Eu em relação ao Mundo que é explicada na relação do EU com “alguém”, pois “não existe” se não é amada. EU Eu sou a que no mundo anda perdida, Eu sou a que na vida não tem norte, Sou a irmã do sonho, e desta sorte Sou a crucificada… a dolorida. Sombra de névoa, ténue e esvaecida E que o destino amargo, triste e forte Impele brutalmente, para a morte! Ama de luto, sempre incompreendida!... Sou aquela que passa e ninguém vê… Sou a que chamam triste sem o ser… Sou a que chora sem saber porquê… Sou talvez a visão que Alguém sonhou, Alguém que veio ao mundo para me ver, E que nunca me encontrou! Mágoas (1919) • Introdução • Poema representativo da obra da autora • Divide-se em duas partes opostas: a relação do eu com o mundo e relação do eu com o outro/o destino. Na primeira parte, situada nas três primeiras estrofes, há uma referência ao desamparo do sujeito poético, na segunda, última estrofe (chave d’ouro), menciona-se a razão do seu desassossego. • Poesia intimista e egocêntrica • Marcas de Florbela Espanca • Revelação do seu estado de espírito; • Musicalidade na sua poesia: uso do soneto; • Pontuação expressiva (exclamação e reticências como sinais da subjectividade). • Conclusão • O sujeito poético é extremamente egocêntrico. • Através da poesia, o Eu poético confronta-se com o seu destino. • Devido ao egocentrismo, o título de toda a sua obra poderia ser «EU»! • Por fim, o Eu poético relata a razão da sua enorme angústia, tristeza e frustração: o amor. • Análises formal e fónica • 2 quadras e 2 tercetos = soneto • a rima é rica e pobre e é toda consoante “Eu sou a que no mundo anda perdida (…) sou a crucificada…a dolorida” • O esquema rimático na 1ª e 2ª estrofes é alternadamente emparelhado e interpolado (abba; abba) e nos 2 últimos tercetos é exclusivamente interpolado (cdc; ede). • Os versos são todos eles decassilábicos heróicos (à maneira clássica). Filipa Quintas nº8 Joana Costa nº13 Rita Vieira nº23 Vanda Lopes nº28 10ºE

  6. “Mãe”, de Miguel Torga André nº3 Daniela nº7 Pamplona nº14 Rui nº25 • Introdução • A composição poética “Mãe” é representativa da poesia moderna • O “Eu” depara-se com a realidade física da morte, com a sua irreversibilidade • O “Eu” faz uma tentativa desesperada de contacto com a Mãe Poema Mãe: Que desgraça na vida aconteceu Que ficaste insensível e gelada? Que todo o teu perfil se endureceu Numa linha severa e desenhada? Como as estátuas que são gente nossa Cansada de palavras e ternura, Assim tu me pareces no teu leito. Presença cinzelada em pedra dura, Que não tem coração dentro do peito. Chamo aos gritos por ti - não me respondes. Beijo-te as mãos e o rosto – sinto frio. Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes Por detrás do terror deste vazio. Mãe: Abre os olhos ao menos, diz que sim! Diz que me vês ainda, que me queres. Que és a eterna mulher entre as mulheres. Que nem a morte te afastou de mim! Miguel Torga Diário I V (1949), S .Martinho de Anta, 1/6/1948 • Análises ideológica e estilística • O título pode ser considerado uma apóstrofe, uma vez que o poeta se dirige à mãe com intenção de lhe fazer em pedido ou uma dedicatória • Na primeira parte, situada na primeira e segunda estrofes, mostra o que aconteceu, a morte, “Que desgraça na vida aconteceu”, do mesmo modo, pode observar-se a cumplicidade e a intimidade entre o “Eu” e o “Tu” (Mãe) através do uso de deícticos pessoais, mas esta intimidade é quebrada pela morte. • A dupla adjectivação, “… sensível e gelada”, “severa e desenhada” e o uso da metáfora, acentuam, em gradação crescente, a perda de vida, das características humanas. O eufemismo,” Que não tem coração dentro do peito”, mostra a dificuldade do “Eu” em aceitar a realidade, a morte da sua mãe. Daqui pode concluir-se que a morte é insuperável, uma vez que é irreversível. • Na segunda parte do poema, situada na terceira e na quarta estrofes, existe uma tentativa de contacto com a mãe. A morte quebra a intimidade, cria um afastamento, uma perda. Na quarta estrofe, repetem-se anaforicamente as orações integrantes, “Que és a eterna mulher entre as mulheres”, “Que nem a morte te afastou de mim”, marcando o pedido desesperado do” Eu” face a uma realidade inalterável e irreversível, que é a morte. Estas duas estrofes pedem uma ressurreição, visível no uso do imperativo “Diz…”, “Abre…”, marca um pedido desesperado. As orações coordenadas denunciam, mais uma vez, a negação da morte, “Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes”. “Que és eterna entre as mulheres”, posiciona a mãe num estatuto elevado, relembrando a Virgem Maria. • Assim concluímos que estas duas estrofes traduzem a tentativa de contacto do” Eu” com a Mãe, mas também a aceitação da sua realidade, “Que nem a morte te afastou de mim”, porém, esta frase final, embora na forma negativa, manifesta a evidência da morte. Marcas do autor “O homem é, por desgraça, uma solidão: Nascemos sós, vivemos sós e morremos sós”. Conclusão O “Eu” depara-se com uma realidade que não pode ser alterada e que o afecta particularmente, tendo em conta que se trata da mãe. Por isso, face a esta morte irremediável, o “Eu” procura uma ligação através do chamamento, uma forma de lutar contra a morte, de preencher o “vazio”. O homem face à morte define a condição humana, um tema recorrente na obra de Miguel Torga, um poeta humanista. • Análises formal e fónica • 3 quintilhas e 1 quadra • Nas três primeiras estrofes, a rima é cruzada, na última, a rima é emparelhada e interpolada • À excepção do verso “Mãe” e do verso solto, “Como as estátuas que são gente nossa”, os versos são todos decassílabos • Referências • Manual de português do 12º ano ( Costa .A, Textos de literatura portuguesa, ed.Asa) • Internet http://nescritas.nletras.com/anobreindece/

  7. Escola Secundária Carlos Amarante Ser Poeta, De Florbela Espanca Ser poeta Ser poeta é ser mais alto, é ser maior Do que os homens! Morder como quem beija! É ser mendigo e dar como quem seja Rei do Reino de Aquém e de Além Dor! É ter de mil desejos o esplendor E não saber sequer que se deseja! É ter cá dentro um astro que flameja, É ter garras e asas de condor! É ter fome, é ter sede de Infinito! Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim... É condensar o mundo num só grito! E é amar-te, assim perdidamente... É seres alma, e sangue, e vida em mim E dizê-lo cantando a toda a gente! Florbela Espanca Introdução No soneto, “Ser poeta” de Florbela Espanca, o eu poético apresenta uma definição do que é ser poeta e conclui quanto à sua função no mundo dos homens. Este poema enquadra-se na obra da autora que «concebe o poeta como um ser único, divinamente inspirado». Marcas de Florbela Espanca A Florbela adapta um modo de expressão, o soneto decassílabo consagrado num uso que vai de Camões até Antero de Quental. O que torna mais excepcional o seu caso, uma vez que ela consegue, de facto, revitalizar esse género poético. • A relação título/poema • O título do poema “Ser Poeta” é já uma tentativa de definição do que é ser poeta que se verifica através do uso da anáfora e da hipérbole. • As anáforas “É ter” e “É ser” completam o título para apresentar uma possível definição. • O discurso hiperbólico demonstra que o poeta é um ser de eleição no meio dos outros, é superior a todos os outros seres, possui: • grandeza, visível no grau comparativo de superioridade ”é ser mais alto, é ser maior”; • Vive, ama e deseja com intensidade, “morder como quem beija”, o verbo morder, neste caso, é retirar algo de alguém. • Sente ansiedade e insatisfação, pois ser poeta é viver num mundo de dor e a sua sede de querer ir mais além é insaciável, ideia patente no uso da hipérbole «É ter de mil desejos o esplendor» e das antíteses “Aquém e de Além dor” e «ser mendigo e dar»; • generosidade para com os homens, visível na comparação «dar como quem seja Rei» • No 2º terceto, chave d’ouro do poema, ser poeta é ser superior aos homens porque é ser capaz de amar intensamente, tal como se ama o seu amor, e querer partilhar com todos, «Cantando a toda a gente! (hipérbole). Análises formal e fónica É um soneto, tem duas quadras e dois tercetos. . O esquema rimático é abba/abba/cdc/ede. A rima é emparelhada e interpolada nas quadras e nos tercetos. Verifica-se que, ao longo do poema, a rima é predominantemente rica e perfeita. É um poema com decassílabos heróicos, pois os versos estão acentuados na 6ª e 10ª sílabas. Conclusão Ser Poeta é ser superior a todos os outros seres humanos, é uma missão. Ser Poeta é querer sempre ir mais além, é nunca estar saciado com o que tem e, apesar das suas necessidades, é capaz de amar perdidamente e de anunciar o seu amor. Ana Pinto Joana Antunes Orlanda Peixoto 10ºN

  8. Escola Secundária Carlos Amarante E tudo era possível, de Ruy Belo Ana Isabel Vasco 10ºN Fábio Ana Filipa E tudo era possível Na minha juventude antes de ter saído de casa dos meus pais disposto a viajar eu conhecia já o rebentar do mar Das páginas dos livros que já tinha lido Chegava o mês de maio era tudo florido o rolo das manhãs punha-se a circular e era só ouvir o sonhador falar da vida como se ela houvesse acontecido E tudo se passava numa outra vida e havia para as coisas sempre uma saída Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer Só sei que tinha o poder duma criança entre as coisas e mim havia vizinhança e tudo era possível era só querer Ruy belo, Obra poética Introdução O sujeito poético recorda a sua infância como um momento de felicidade. Contudo, no presente, não consegue rever-se na criança desse passado, para quem tudo era possível. • Análises ideológica e estilística • Título “E tudo era possível” revela uma nostalgia do passado, uma tristeza, um tempo feliz e irreversível. A infância • É retratada como um tempo distante e contínuo, ideia sugerida pelo uso do pretérito imperfeito com valor durativo ”conhecia, chegava, era”. A metáfora ”rolo das manhãs” também contribui para essa ideia porque nos fala de um tempo sem limites. • A relação que a criança tinha com o mundo era através das leituras “das páginas do livro que já tinha lido” e do sonho “ era só ouvir o sonhador falar”, por isso “tudo era possível” a infância é, assim, um tempo eufórico e idílico. O adulto • É uma idade em que o eu poético tem a consciência do tempo passado, visível no verbo saber “só sei”, das suas limitações “ e tudo era possível era só querer”. O uso do pretérito imperfeito opõem-se aqui ao uso do presente do indicativo “ só sei”, o que significa que este poder já não se verifica no presente de enunciação, na idade adulta. • Na idade adulta, conhece o mundo através das suas viagens e acede ao conhecimento através de experiências, nesta fase ocorre um crescimento do eu e uma ruptura com a infância. • Poema com características da escrita autobiográfica • Marcas de Ruy Belo • Tema voltado para a realidade interior em confronto com a exterior. • Nítida noção de tempo como passagem, logo surge a impossibilidade de recuperar o passado e a infância definitivamente distante. • Musicalidade na sua poesia • Pontuação rara. • Análises formal e fónica • Soneto (2 quadras e 2 tercetos) • Predomina, no poema, a rima emparelhada e interpolada. • Na 1ª e na 2ª estrofes, todos os versos são alexandrinos, à excepção dos primeiros versos de cada terceto. • A rima é rica, consoante, os versos são graves excepto em “viajar”, “mar”, “circular”,”falar”,”dizer” e “querer” que são agudos. • Musicalidade • Conclusão • O poema celebra a magia da infância. • Ruptura com o passado e impossibilidade de o recuperar. • Dualidade: Passado/Presente • Actualidade e universalidade do tema. John Brown

  9. Poema à mãe de Eugénio de Andrade Escola Secundária Carlos Amarante Menino, de Guignard • Introdução • Neste poema, o eu poético dirige-se à mãe para lhe explicar que a criança que foi cresceu. Assim, podemos identificar dois momentos na relação do eu com a mãe: • um amor feliz (passado); • um amor infeliz (presente). • Mas o adulto reconhece que o amor pela mãe ainda está presente . Poema à mãe No mais fundo de ti, Eu sei que traí, mãe. Tudo porque já não sou O retrato adormecido No fundo dos teus olhos. Tudo porque tu ignoras que há leitos rumorosas de águas matinais. onde o frio não se demora E noites Por isso, ás vezes, as palavras que te digo São duras, mãe, E o nosso amor é infeliz. Tudo porque perdi as rosas brancas que apertava junto ao coração No retrato da moldura. Se soubesse como ainda amo as rosas, Talvez não enchesses as horas de pesadelos. Mas tu esqueceste muita coisa: Esqueceste que as minhas pernas cresceram, Que todo o meu corpo cresceu , E até o meu coração Ficou enorme mãe! Olha – queres ouvir-me? As vezes ainda sou o menino Que adormeceu nos teus olhos; Ainda aperto contra o coração Rosas tão brancas Como as que tens na moldura; Ainda ouço a tua voz: Era uma vez uma princesa No meio de um laranjal… Mas - tu sabes - a noite é enorme E todo o meu corpo cresceu. Eu saí da moldura, Dei ás aves os meus olhos a beber. Não me esqueci de nada, mãe. Guardo a tua voz dentro de mim. E deixo-te as rosas. Boa noite. Eu vou com as aves. • Marcas de Eugénio de Andrade • As aves são, para o autor, particularmente importantes pois “aves” simbolizam liberdade e fragilidade. • As rosas brancas significam pureza, algo que precisa de protecção “no retrato da moldura” (como a criança). Oposição de dois amores Compatibilidade possível, «ainda» entre o amor Mãe / Eu / Outro Conclusão O poema é uma dedicatória à mãe Oposição entre o amor feliz (criança) e o amor infeliz (adulto) Crescer implica deixar a criança que já fomos e pode trazer sofrimento. • Analises formal e fónica • Três dísticos, sete tercetos, duas quintilhas, com um monóstico final . • Rima solta e irregularidade métrica • Repetição do vocativo “mãe” no fim de versos, das palavras-chave «esquecer», «crescer» e anáfora «tudo porque» (funcionando como refrão). • assonância em /i/, no início e no fim do poema. • Musicalidade Alexandre Pinheiro nº3 António Correia nº8 Joana Martins nº13 Marisa Fernandes nº17 10ºN

  10. Escola secundária Carlos Amarante Soneto do cativo, De David Mourão Ferreira • Análises ideológica e estilística • A oração subordinada condicional “Se é sem dúvida amor esta explosão / de tantas sensações contraditórias” parte do pressuposto que o amor é um sentimento contraditório, tal como já o definia Luís de Camões e anuncia uma enumeração de hipótesessobre uma definição do amor, até ao último terceto, «chave d’ouro». • Ao longo do soneto encontram-se muitas presenças de antíteses que confirmam esta ideia: «da verdade e da invenção», «dirão ou não dirão», «de encantamento e de desprezo». • Assim, na segunda estrofe, o EU é cúmplice do TU, não dando importância aos outros, mas, simultaneamente, o EU é cúmplice dos outros que não fazem parte da relação, e aí a relação não faz qualquer sentido. É sempre «O espelho deformante» • No primeiro terceto, o eu poético evoca as consequências do amor na sua pessoa através da tripla adjectivação «cego, surdo e sujo» que levam a que o eu se sinta • eternamente preso, condenado a Amar. • Introdução • O eu poético demonstra ao longo do poema que o amor e um sentimento contraditório. • Recupera o tema e a forma do soneto “Amor é fogo que arde sem se ver” de Luís de Camões. Soneto do cativo Se é sem dúvida amor esta explosão de tantas sensações contraditórias; a sórdida mistura das memórias, tão longe da verdade e da invenção; O espelho deformante: a profusão das frases insensatas, incensórias; a cúmplice partilha nas histórias do que os outros dirão ou não dirão; Se é sem dúvida Amor a cobardia de buscar nos lençóis a mais sombria razão de encantamento e de desprezo; Não há dúvida, Amor, que não te fujo e que, por ti, tão cego, surdo e sujo, tenho vivido eternamente preso! • Marcas de David Mourão Ferreira • Poeta romancista, crítico e ensaísta. • Poesia caracterizada pelas presenças constantes da figura da mulher e do Amor. • Poeta do erotismo da literatura portuguesa. • Análises formal e fónica • Com duas quadras e dois tercetos, é um soneto. • Os versos são decassilábicos heróicos , (acentuados nas 6ª e 10ª sílabas). • Refrão: através das anáforas «Se é sem duvida» e «Não há duvida». • Faz deste autor um “Clássico da Modernidade” • Conclusão • O eu poético vive eternamente preso ao Amor • Condenado a Amar Vítor Macedo Abel Abreu André Costa 10º N A sesta, Almada Negreiros, 1939

  11. A Noite Desce, de Florbela Espanca Catarina Alves Cátia Castro Liliana Oliveira Roberta Costa Sílvia Dias, 10º P ESCA Marcas de Florbela Espanca Florbela, poetisa, não pode ser separada da sua condição de mulher, das suas paixões, da sua maneira de ser, da sua vida, das suas contradições, humildade e orgulho, preconceitos, sua presença e ausência, seus amores e desamores. O seu egocentrismo, que não retira beleza à sua poesia, é evidente. A sua única preocupação é ela própria, o amor, a paixão, o querer e o não querer. A sua escrita é notável a intensidade de um transcendido erotismo feminino. A sua escrita situa-se sobre tudo no campo da paixão humana. Há um número de palavras em que insiste incessantemente, o Eu, o amor, a alma e os beijos são as que se encontram neste poema, A Noite Desce Como pálpebras roxas que tombassem Sobre uns olhos cansados, carinhosas, A noite desce… Ah! doces mãos piedosas Que os meus olhos tristíssimos fechassem! Assim mãos de bondade me embalassem! Assim me adormecessem, caridosas, E em braçadas de lírios e mimosas, No crepúsculo que desce me enterrassem! A noite em sombra e fumo se desfaz… Perfume de baunilha ou de lilás, A noite põe-me embriagada, louca! E a noite vai descendo, muda e calma… Meu doce Amor, tu beijas a minh’alma Beijando nesta hora a minha boca! Sonetos Introdução O tema do poema é o amor, simbolizado na relação do EU com a noite, entidade personificada ao longo do poema. O poema pode ser dividido em duas partes, uma primeira parte em que está patente o desejo do eu; e uma segunda parte com a concretização desse desejo. Assim, ao longo do poema, a relação Eu/Noite vai-se intensificando. Análises ideológica e estilística O desejo é visível no uso do Pretérito imperfeito do conjuntivo nos verbos “tombassem”, “fechassem”, “embalassem”, “adormecessem”, “enterrassem” onde se pode verificar uma gradação crescente do efeito da noite sobre o eu, até uma espécie de morte sensual. A noite é criadora de múltiplas sensações, visuais «pálpebra roxa» e tácteis «carinhosas». Assim, a noite, simboliza o outro, a pessoa amada que desperta o desejo do eu, ideia sugerida com a comparação, “Como pálpebras roxas que tombassem”, aí a noite é comparada às partes do corpo humano, com cores, como roxo, cor da paixão; Temos também a anáfora, “Assim mãos…”, “Assim me adormecessem” serve para demonstrar a maneira como o EU gostaria de ser tratado pela noite/outro. Em suma, o desejo é despertado com o cair da noite, confundindo-se mesmo com este momento de intimidade. Na segunda parte, há a concretização deste amor, é evidente a existência de outras sensações, a olfactiva, “Perfume de baunilha ou de lilás”, e a táctil, “Beijando nesta hora a minha boca!”. É um amor tanto a nível espiritual “Meu doce Amor, tu beijas a minh’alma” , como carnal “Beijando nesta hora a minha boca”, e, sendo assim, podemos dizer que é a concretização de um amor total, patente no uso da maiúscula na palavra “Amor” ou de entrega total, materializada no beijo, símbolo de união. Análises formal e fónica Este poema é um soneto clássico (duas quadras e dois tercetos e é decassilábico). Nas duas quadras, a rima é emparelhada e interpolada, é pobre e consoante. Nos dois tercetos, a rima é interpolada e emparelhada, é rica e imperfeita “desfaz” e “lilás”, excepto nos dois primeiros versos do último terceto, onde é pobre e perfeita “calma” e “alma”, e é também toda ela consoante. Conclusão O desejo é acompanhado pela libertação de um amor que perde os seus obstáculos para poder ser vivido. No poema, está patente a ideia de um amor entre um Eu e um Outro que partilha de um amor total. Este poema, de forma clássica, é uma apologia da sensualidade e da paixão romântica. «http://www.zonalibre.org/blog/parafrenia/archives/florbela.jpg» «http://i2.photobucket.com/albums/

  12. Escola Secundária Carlos Amarante «Praia do Encontro», de David Mourão - Ferreira Análises ideológica e estilística Título: “Praia do Encontro” sugere uma dupla união: da terra com o mar - estado sólido com o líquido -, da vida com a morte. Assim simboliza o amor entre duas pessoas. Na 1ª estrofe, o eu poético recorre à sua imaginação para erguer o cenário da praia “esta imaginação de sal e duna, / inquieta e movediça como a areia…”, em que se instalam os elementos marítimos “sal, duna…”. Na 2ª estrofe, o eu poético refere-se essencialmente ao veleiro, como metáfora da viagem, no qual “sem velas”, o seu amor irá prosseguir para além da morte, com a esperança de que a sua amada o irá corresponder, um desejo expresso no uso do pretérito imperfeito do conjuntivo “Quisesses”. O eu lírico destaca o amor como viagem, nas águas da vida e da morte continuamente, sem interrupções, símbolo do amor eterno. Na 3ª estrofe, a sua imaginação situa-o depois da morte, onde ele estará à sua espera, aconteça o que acontecer. Ao longo do poema, os deícticos eu / tu asseguram a proximidade entre os amantes. Na 4ª estrofe, o eu poético jura “não faltar!” ao encontro; (o uso da frase exclamativa, marca a determinação do eu em continuar a amá-la mesmo para além da morte) “ali estarei, à tua espera, morto, / ou vivo…”. Retrata, efectivamente, a existência de um amor espiritual onde o amor dá a vida “renascerei” (no futuro do indicativo). • Marcas de David Mourão – Ferreira • Tema do amor espiritual • O poeta retrata e dá muita relevância ao sentimento do amor. • Na maioria das suas obras explora e desenvolve essencialmente o tema do amor. Praia do Encontro Esta imaginação de sal e duna, Inquieta e movediça como areia, Ergue, isolada, a praia, mais a espuma Que sereia nenhuma Saboreia… Quisesses tomar tu este veleiro, Que em secreto estaleiro construí, Sem velas, sem cordame, sem madeira, -Mas branco!, é todo inteiro para ti… Brilha uma luz de morte sobre o porto Saído mesmo agora da memória… Ali estarei à tua espera, morto, Ou vivo em minha morte Transitória… Combinado. Que eu juro não faltar! Contrário de Tristão, renascerei, Se pressentir, aérea, sobre o Mar, A sombra singular Do barco que te dei. David Mourão -Ferreira • Introdução • A ideia fundamental do poema está baseado no Amor para além da morte (o veleiro depois da morte – Amor espiritual). • O poema versa sobre o Amor que, por ser poderoso, seria capaz de existir ainda depois da morte, é, assim, a promessa de um amor eterno exprimido através da metáfora da viagem marítima. Conclusão O eu poético, com base na sua imaginação, constrói o cenário da praia onde situa o veleiro como símbolo de vida e de amor. Assim, é a correspondência do amor como vida íntima e secreta, que a memória não apagará, com a pretensão de um encontro depois da morte, na esperança de um amor eterno. O poeta só existe com a presença do amor dela, independentemente da vida humana. Análises formal e fónica A composição poética é constituída por 4 quintilhas com rimas emparelhadas e ricas; rimas cruzadas, toantes, rimas cruzadas consoantes e ricas; rimas interpoladas; versos brancos. Os 3 primeiros versos de cada estrofe são decassilábicos; o 4º e o 5º versos, no seu conjunto, também têm 10 sílabas métricas, o que dá ao poema um ritmo regular de 4 versos decassilábicos. Todos os versos decassilábicos são heróicos, à excepção do verso 13, (que é sáfico). Os dois últimos versos são hexassilábicos e são acentuadas na 2ª e 6ª sílabas. Imagem Ângela Silva Cidália Oliveira 10º P Joana Cunha Marta Lopes

  13. “O Retrato”, de Eugénio de Andrade Bruno Pereira nº 4 Filipe Faíscas nº 10 João Duarte nº 14 Nordine Benbelaïd nº 20 Diogo Carvalho nº 2, 10º P9 Retrato No teu rosto começa a madrugada. Luz abrindo, De rosa em rosa, Transparente e molhada. Melodia distante mas segura; Irrompendo da terra, Quente, redonda, madura. Mar imenso, Praia deserta, horizontal e calma. Sabor agreste. Rosto da minha alma. Eugénio de Andrade, Os Amantes sem Dinheiro • Introdução • Poema representativo da obra “Os Amantes sem Dinheiro” • Retrato concentrado no rosto • Rosto como fonte de várias sensações Marcasde Eugénio de Andrade Estilo individual numa direcção oposta à poética pessoana, naquilo em que esta se mostra distanciada da exaltação do sensualismo, da afirmação da corporalidade . • Análises ideológica e estilística • O poema inicia com uma frase completa «No teu rosto começa a madrugada…» , mas a partir da referência ao rosto da amada, predomina o assíndeto, revelador de um conjunto de fragmentos, visíveis na justaposição de frases nominais, cada uma iniciada por uma sensação diferente «Luz, Melodia, Mar e Sabor». • A dupla adjectivação contribui para criar as mais diversas sensações «Transparente e molhada», «distante mas segura», assim como a tripla adjectivação «Quente, redonda, madura», «Praia deserta, horizontal e calma». • Assim o retrato é produtor de: • Sensações visuais (Luz, Mar, Praia), auditivas (Melodia), gustativas (sabor). Todas estas sensações são despertadas no autor pelo rosto da pessoa retratada. • Sinestesia • O rosto remete para os elementos Terra e Água e também para uma paisagem infantil. Este poema retrata o amor e também a fertilidade proveniente deste amor. Há uma percepção disso com o uso sucessivo de descrições de paisagens, pois existe um constante uso de adjectivação para caracterizar a Terra «Quente, redonda, madura», semelhante a um ventre grávido. • No fim do poema concretiza-se a união como símbolo do amor: “No teu rosto” → “Rosto da minha Alma”. • Análises formal e fónica • Poema constituído por 3 quadras, em que predominam rimas ricas, consuante interpolada que confere musicalidade ao poema. • Esquema rimático: 1º-AA 2º-BB 3º-CC O título Retrato: da representação à sugestão Os retratos clássicos tinham como função representar alguém quer na exposição dos seus traços físicos, quer na apresentação do carácter da personagem. Mas, com o aparecimento da fotografia, no séc. XIX, o retrato deixou de procurar representar a personagem, para dar sensações a partir da impressão criada no EU, ao ver ou ao recordar o rosto da amada. Esta mudança verificou-se na pintura e na literatura. Conclusão Podemosconcluir que este poema reflete algumas das marcas de Eugenio de Andrade, nomeadamente a exaltação do sensualismo e da afirmação da corporalidade. Ele usa o rosto como fonte de várias sensações e o retrato e baseado no mesmo. Modigliani, Retrato de Mulher

  14. E Tudo Era Possível Ruy Belo Inês Chelo; Patrícia Monteiro; Sara Vieira; Sofia Oliveira 10ºP ESCA *3 • Introdução • Recuperação das formas • Descrição do tempo da infância • Espécie de autobiografia • Ruptura entre infância e idade adulta E Tudo era Possível Na minha juventude antes de ter saído De casa dos meus pais disposto a viajar Eu conhecia já o rebentar do mar As paginas dos livros que já tinha lido Chegava ao mês de Maio era tudo florido O rolo das manhãs punha-se a circular E era só ouvir o sonhador falar Da vida como ela houvesse acontecido E tudo se passava numa outra vida E havia para as coisas sempre uma saída Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer Só sei que tinha o poder duma criança Entre as coisas e mim havia vizinhança E tudo era possível era só querer Marcas de Ruy Belo «E, finalmente, a palavra poética é universal porque abstracta (…) Despida de circunstâncias que rodearam o seu nascimento, existe como mensagem de uma experiência não só do poeta mas de todos os homens. Por isso estes podem reconhecer nessa palavra a sua própria palavra» *1 • Análises ideológica e estilística • Título: demonstra, através do uso do pronome indefinido ‘’Tudo’’ que, na infância, todos os sonhos se podem concretizar. • Na primeiraparte, retrata-se a infância. • A criança vive o presente, não pensando no futuro, nem tendo consciência do tempo passar. Esta ideia é reforçada pela metáfora «o rolo das manhãs punha-se a circular». Não há início nem fim, ideia reforçada com o uso do pretérito imperfeito com valor durativo. • Quando refere «casa dos meus pais» associa a infância à protecção. • Através da leitura, a criança relaciona-se com o mundo, adquirindo uma experiência interior: «eu conhecia já o rebentar do mar das páginas dos livros que já tinha lido». • Na segundaparte, é revelado o facto de ele ter viajado. Isto marca a ruptura entre a infância e a idade adulta, pois «viajar» simboliza o contacto com o exterior, demonstrando insegurança, incerteza mas também experiência e crescimento. • Verifica-se uma anáfora e pollissíndeto «E tudo se passava numa outra vida e havia para as coisas sempre uma saída». A memória vai recuperando fragmentos do passado e através do conector neutro ‘’e’’ liga as imagens que lhe surgem. Por outro lado, o presente marca o tempo de consciência. Conclusão A primeira parte retrata a alegria de ser criança e a segunda, a dor de crescer. O autor exprime a saudade da segurança, da irresponsabilidade, da ingenuidade e da alegria que caracterizam a infância e revela a saudade face ao crescimento que não pôde impedir. Ruy Belo, ao longo da sua obra, retrata bastante o tema já aqui referido pois acha que a poesia é uma forma de “vencer o tempo” tornando a sua infância imortal. A transição da criança para a idade adulta é sempre um tema actual. É, de igual modo, um tema universal. • Análises formal e fónica • 2 quadras e 2 tercetos = soneto • Métrica e ritmo regulares: todos alexandrinos excepto o primeiro verso de cada terceto • Rima predominantemente pobre «saída/lido» mas com algumas ricas «viajar/mar» • Predominância de 2 sons ao longo do poema: • Assonância em i- tempo eufórico da infância • Aliteração em r- continuidade - tempo que se expande, se dilata no som e no verso longo Referências *1- Obra Poética de Ruy Belo, Vol.3, Editorial Presença, pp.69-70 *2- amata.weblog.com.pt *3- www.iplb.pt *2

  15. Carta da Infância, de Carlos de Oliveira ESCA Análises ideológica e estilística A primeira parte tem como tema a opressão, aquela que é vivida no momento de enunciação, ao qual se associam as expressões: “aqui”, “quarto escuro”, “noites”, e, “porta de ferro”; elementos caracterizadores da solitária em que o eu se encontra preso. Os tempos verbais estão predominantemente no presente do indicativo: “tenho”, “é”, “tenho chorado”, “tenho perdido”, as quais prolongam indefinidamente a angústia. O eu poético sente-se uma criança, associa o seu estado de opressão aos castigos “no quarto escuro”,provocando sentimentos de injustiça, solidão, angústia, medo; tal como o eu poético, na sua cela. A assonância em «a»: “fechado”, “quarto”, “orvalho”, “chorado”, reforça o estado físico de opressão, sendo que o «a» exprime o lamento. Em contraponto à ideia de opressão, surge a liberdade, situada “lá fora”, e associada aos elementos eufóricos: “orvalho”, “flores”, “estrelas”, “manhã” e “luz”. Nesta parte, o eu poético recorda aventuras vividas em liberdade, nomeadamente, com o luar, com o qual o se relaciona afavelmente, visto que lhe chama “amigo”; ao contrário da sua relação com “eles”, os opressores que são corporizados, neste pronome pessoal sem referente, como o desconhecido, ou seja, uma ameaça assustadora, aplicável a toda a forma de opressão gratuita. A personificação do luar: “amigo luar”, “vem agora, / no bico dos pés (…), brincar comigo”, procura a fraternidade/intimidade do eu com o luar, pois o luar é a ponte para a libertação, para o sonho e evidencia o contacto através da voz e da presença na cela, pois “a luz diz: / bons dias amigo”. Carta da Infância Amigo luar: Estou fechado no quarto escuro e tenho chorado muito. Quando choro lá fora Ainda posso ver as lágrimas caírem na palma das minhas mãos e brincar com elas ao orvalho nas flores pela manhã. Mas aqui é tudo por demais escuro E eu nem sequer tenho duas estrelas nos olhos Lembro-me das noites em que me fazem deitar tão cedo e te oiço bater, chamar e bater, na fresta da minha janela Pelo muito que tenho perdido enquanto durmo vem agora, no bico dos pés para que eles te não sintam lá dentro, brincar comigo dos presos no segredo quando se abre a porta de ferro e a luz diz : bons dias, amigo. Introdução O poema “Carta da infância”, da autoria de Carlos de Oliveira, pertence à obra “Terra de Harmonia”. A estrutura do poema é a de uma carta, (não tem composição poética específica), é direccionada ao luar. Ao longo do poema, podemos distinguir duas fases simultâneas: a opressão e o encarceramento físico e, por outro lado, a liberdade mental conseguida pelo devaneio, pelo sonho. Esta divisão justifica-se, primeiramente, pelo uso da pontuação, visto que cada vez que o autor muda de um assunto para outro utiliza um ponto final, à excepção do primeiro verso, (saudação inicial) e dos dois últimos, (referentes à liberdade mental). Em segundo, pelo recurso a analepses, uma vez que para expressar a liberdade precisa, não só, de sonhar, mas também, de a recordar. • Marcas de Carlos de Oliveira • Tema da liberdade mental e opressão física. • O poeta tem consciência de que por mais que lhe tirem a liberdade física, nunca lhe podem tirar a mental. • Pontuação rara. Conclusão A liberdade de espírito nunca pode ser retirada por mais “porta de ferro” que se coloque à volta do eu, pois, há sempre formas de ele se libertar da opressão, a poesia, neste caso, como a concretização de um sonho. Carlos de Oliveira foi preso político, o que coincide com a data em que o poema foi escrito, 1950. Precisamente, enquanto decorria o Estado Novo. Análises formal e fónica A rima é predominantemente solta, encadeada em b e l; é pobre e consoantes; o verso é irregular, uma vez que é escassa a repetição, ao longo do poema, do mesmo número de sílabas métricas. Poesia livre. Arminda Fernandes nº2 Bruna Costa nº3 Diana Costa nº9 Armanda Oliveira nº18 Sara Silva nº24 10ºP

  16. Claro-escuro Miguel Torga Cristiana Cunha João Quaresma Lino Magalhães 10ºP • Análises ideológica e estilística • Título – «Claro-escuro» engloba e anuncia todas as oposições referidas no poema, pois dá logo conta da dualidade humana. • 1ª parte – O binómio vida / morte, é exemplificado nas antíteses: • Claro / escurodia / noitevida / morteverso / reversocrença / descrença • O eu poético define assim a condição humana, ou seja, para estar vivo é preciso morrer, a morte é tão presente quanto a vida e o homem nada pode fazer para compreender esta realidade, daí o uso da negação simples e da tripla negação « não (...) nem (...) nem (...) nem». • 2ª parte - O eu lírico contrapõe ao vazio da morte uma realidade eterna, ou seja, «Juventude/Beleza/ Poesia e Amor», constituindo cada uma um verso por si só. São criações humanas sobre as quais a morte não tem poder, pois é sobretudo por elas que a vida vale a pena ser vivida. • A metáfora “amargo fruto na sepultura, em vez de apodrecer, ganha doçura”, traduz como o amor, como certos frutos, resiste à corrupção do tempo porque cristaliza no próprio açúcar. Claro-escuro Dia da vidanoite da morteO versoE o reverso Da medalha E não há desespero que nos valhanem crença Nem descrença Nem filosofia Esta brutalidade e nada mais Sol e sombra - o binómio dos mortais Só que o sol vem primeiro E a sombra depois ... E á luz do sol é tudo o que sabemos Juventude Beleza Poesia E amor Amargo fruto que na sepultura Em vez de apodrecer, ganha doçura Introdução A composição poética, Claro-escuro, realça a presença da morte na condição humana. Assim, este poema, num primeiro momento, situado na 1ª estrofe, apresenta a dualidade da existência humana, a vida ligada à morte, e, na 2ª estrofe, enuncia formas que ultrapassam a lei da morte. • Marcas de Miguel Torga • “ intensa consciência individual aliou-se, no entanto, uma profunda afirmação da sua pertença à natureza humana, com que se solidariza na oposição a todas as forças que oprimam a energia viva e a dignidade do homem.” • “animam o instinto humano na sua luta dramática contra as leis que o aprisionam. “ Análises formal e fónica No poema a métrica é irregular, e há predominância de versos soltos. Na 1ª estrofe, predominam rimas emparelhadas, os restantes versos são soltos e terminam com as palavras chaves do poema, «vida, morte, filosofia», pois o poema é uma reflexão sobre a vida e a morte. Há também uma alternância entre a rima rica, e a rima pobre, mas predomina a pobre. Conclusão A composição poética, Claro-escuro, de Miguel Torga reflecte sobre a condição humana, uma tentativa recorrente na obra do autor. São características na linguagem e estilo da poesia de Miguel Torga, uma intensa consciência individual, aliada a uma profunda afirmação da sua pertença à natureza humana, com que se solidariza na oposição a todas as forcas que oprimam a energia viva e a dignidade do homem. Animam também o instinto humano na sua luta dramática contra as leis, (neste caso a morte) que o aprisionam. Imagem- http://luzdaminhaalma.zip.net/images/espiritujpg.JPG Fótografia de Miguel Torga http://viladoconde1.blogs.sapo.pt/arquivo/torga1.gif

  17. Um Carnaval, de Alexandre O´Neill Introdução O poema “Um Carnaval” escrito por Alexandre O’Neill baseia-se na época do Carnaval, pois sendo uma época festiva, de divertimentos e folias apela a um processo de purificação do “eu”, o que remete para uma das simbologias do Carnaval. O eu poético, apela, como no Carnaval, a que nos revelemos verdadeiramente, deixando cair a máscara que usamos diariamente. • Título: O leitor associa o título à época festiva do Carnaval com as suas características. • Mas o determinante artigo indefinido “Um (Carnaval)”, especifica um Carnaval, neste caso, é um Carnaval que o eu poético imagina e cria. Por isso, Carnaval» deve ser entendido no seu sentido simbólico. • As várias fases de um Carnaval • Convite com insistência com as anáforas «Vem…», «Deixa…» (imperativo dirigido a um TU); • Promessa «vais ver» (presente com valor futuro) e «verás» (no futuro do indicativo); • Esquecimento do eu comum, da «tristeza», do «desespero,», e de «a verdade e o erro»; • Confrontação do eu com as suas várias máscaras, «perde-te nos espelhos»; • Libertação pela «loucura» • Purificação «desfazer-te do corpo» • «A tua alma é mais pura» • No fim do poema, retoma do refrão inicial, novo convite (será para o leitor?), «vem ao baile, vem ao baile». • Este poema apresenta, de forma simbólica, a transformação interior que consiste em desfazer-sedo velho, dos hábitos e dos constrangimentos do quotidiano, para renascer como novo, sem máscara, ou sem mau estar. Um Carnaval Vem ao baile vem ao baile Pelo braço ou pelo nariz Vem ao baile vem ao baile E vais ver como te ris Deixa a tristeza doer As unhas de desespero Deixa a verdade e o erro Deixa tudo vem beber Vem ao baile das palavras Que se beijam desenlaçam Palavras que ficam passam Como a chuva das vidraças Vem ao baile oh tens de vir E perde-te nos espelhos Há outros muito mais velhos Que ainda sabem sorrir Vem ao baile da loucura Vem desfazer-te do corpo E quando caíres de borco A tua alma é mais pura Vem ao baile vem ao baile Pelo chão ou pelo ar Vem ao baile vem ao baile E verás o que é bailar. Alexandre O’neil No Reino da Dinamarca • Marcas de Alexandre O´Neill • Recusa de uma sociedade racional: no dia de Carnaval, as pessoas revelam-se por oposição ao quotidiano, sem humor e sem imaginação; • Musicalidade na sua poesia; • Pontuação quase inexistente. Conclusão O poema representa uma época em que nos podemos revelar, ou seja, o Carnaval. Este pode estar a retratar o “momento” da vida onde realmente mostramos quem somos, pois no dia a dia é que estamos realmente mascarados. No entanto só nos apercebemos disto na época do Carnaval! Mas os Surrealistas portugueses procuram uma coincidência entre as dicotomias real/imaginário, consciente/ inconsciente. • Análises formal e fónica • O poema é constituído por 6 quadras (uma medida popular, própria de uma época de festa como o Carnaval) • Inicia e fecha com rima cruzada na 1ª e última quadra e, nas restantes, a rima é emparelhada e interpolada (BCCB;DEED; FGGF). • Os versos são todos heptassilábicos (medida popular) e repete-se o verso “Vem ao baile vem ao baile”,como uma espécie de refrão. Elisa Pereira-nº16 João Paulo Pereira-nº14 Mariana Coelho-nº17 Sara Rocha-nº25 Elsa Silva-nº11 10ºZ

  18. Escola Secundária Carlos Amarante Lágrimade preta, De António Gedeão Ana Leite, Ana Lima, Ana Gonçalves, Sara Gonçalves, João Pinto Lágrima de Preta Encontrei uma preta Que estava a chorar Pedi-lhe uma lágrima Para a analisar. Recolhi a lágrima Com todo o cuidado Num tubo de ensaio Bem esterilizado. Olhei-a de um lado, Do outro e de frente: Tinha um ar de gota Muito transparente. Mandei vir os ácidos, As bases e os sais, As drogas usadas Em casos que tais. Ensaiei a frio, Experimentei ao lume, De todas as vezes Deu-me o que é costume: Nem sinais de negro, Nem vestígios de ódio. Água (quase tudo) E cloreto de sódio. António Gedeão, Máquina de Fogo (1961) • Introdução • A composição poética “Lágrima de preta”, da autoria de António Gedeão, é representativa da obra do autor. Este utiliza a ciência para tentar provar a fundamentação científica do racismo, ou seja, se existe ou não diferença entre “brancos” e pessoas de cor. • Para demonstrar a existência ou não desta diferença, o poema privilegia os passos que o método científico utiliza. • Análises ideológica e estilística • Título: sugestão de uma realidade concreta. Anuncia um discurso claro e científico • Método Científico • Pressuposto: Existe diferença entre pretos e brancos. • Experiência: • Busca de um corpos (lágrima de uma preta). • Recolha desse corpos “Recolhi a lágrima”. • Observação “Olhei-a de um lado,/ Do outro e de frente”. (advérbios) • Análise e experimentação “Ensaiei a frio,/ Experimentei ao lume”. • Conclusão: «Nem sinais de negro / Nem sinas de ódio» (dupla negação – do preconceito -). • Sintomas do rigor científico: • Verbos de acção objectiva: encontrei, recolhi, mandei, ensaiei. • Nomes concretos, do campo lexical da ciência: ácidos, bases, sais, tubo de ensaio, água, cloreto de sódio. • A objectividade e a imparcialidade da ciência evidenciam a acientifcidade do preconceito e denunciam assim a crueldade do racismo. África, de Lívio Morais • Conclusão • Neste poema, tenta-se fazer uma desconstrução do preconceito das raças superiores. • Coloca-se, assim, a questão da intolerância, cuja manifestação máxima é o racismo. • Uma das marcas da capacidade inovadora e do seu sentido de modernidade de António Gedeão consiste em ter transposto para o domínio da poesia a cultura científica, plasmando-a nas formas de expressão tradicionais (populares e “clássicas”), humanizando-a e conseguindo uma síntese notável entre sentido do rigor da ciência e harmonização poética. • Análises formal e fónica • 6 quadras (expressão popular) com versos em redondilha menor. • Rima pobre do segundo verso com o quarto. Contextualização do poema Este poema foi escrito em 1961, ano em que iniciou a guerra colonial. É então avivado o preconceito segundo o qual o negro é inferior ao branco, devendo, por isso, permanecer sob a tutela de Portugal. Os negros sofrem agressões físicas e psicológicas gratuitas, são vítimas de racismo.

  19. Viagem, de Miguel Torga Ana Isabel Marques, Diana Rita Coelho, Nuno Miguel Silva, Bruno Vilas Boas, Ana Rita Ribeiro • Análises ideológica e estilística • Título • Vago, sem determinantes nem caracterização; • Identifica-se com o tema; • Permite várias interpretações: a viagem marítima (real) e a viagem da vida (simbólica). • Nomes • Verbos • Pretérito perfeito (acção concluída) • Pretérito imperfeito (valor durativo, realidade prolongada no passado); • Presente do indicativo (realidade permanente). • Coordenação •  • Carácter dinâmico, narrativo. • Estrofe a estrofe • Preparação (espiritual) para a viagem: • - sonhos, ilusões; • - consciência das dificuldades; • - motivos: a procura da felicidade. • Realização da viagem: • - partida; solidão; depara-se com obstáculos; • - contudo, não desiste, persevera; • - ”O que importa é partir, não é chegar” Viagem Aparelhei o barco da ilusão E reforcei a fé de marinheiro. Era longe o meu sonho, e traiçoeiro O mar… (Só nos é concedida Esta vida Que temos; E é nela que é preciso Procurar O velho paraíso Que perdemos). Prestes larguei a vela E disse adeus ao cais, à paz tolhida. Desmedida, A revolta imensidão Transforma dia a dia a embarcação Numa errante e alada sepultura… Mas corto as ondas sem desanimar. Em qualquer aventura, O que importa é partir, não é chegar. Miguel Torga, Câmara Ardente • Introdução • O tema é a vida (a procura da felicidade ou do sentido da vida). • Existe um carácter alegórico em todo o poema: viagem – vida. • O poema está dividido em dois momentos: a preparação e a realização da viagem. • É característico da poesia moderna e da obra do autor. • Marcas de Torga • “É então um individualista, um escritor isolado, colocado no centro de uma dupla exclusão a dos censores salazaristas e a do regime literário vigente.” • “Torga é simultaneamente poeta de angústia e o poeta de esperança (…). Angústia provocada (…) pelas mortes em vida, pela morte final.” • Conclusão • Relata o decorrer da vida: as esperanças e as dificuldades; • Explora a condição humana; • abarca o leitor, pois todos estamos sujeitos à viagem. • Transmite uma mensagem de alento (embora a morte seja um fim inevitável, devemos seguir sempre os nossos sonhos mesmo com dificuldades que surjam) • Tema actual e universal • Influências da História e literatura portuguesas: o recurso à viagem marítima • Análises formal e fónica • 2 estrofes: 11 e 9 versos (novena) • Irregularidade na escansão dos versos (longos e curtos) • Recurso ao encavalgamento •  • contribuem para o ritmo • Rima consoante • Rima no interior dos versos (repetição de sons: • na primeira estrofe – ei ; • na segunda estrofe – i, m) •  • contribuem para a musicalidade.

  20. Rita Pontes, Elodie, Rafael, Alexandra e Marina “E tudo era possível” de Ruy Belo «E tudo era possível» Na minha juventude antes de ter saído De casa dos meus pais disposto a viajar Eu conhecia já o rebentar do mar Das páginas dos livros que já tinha lido Chegava o mês de Maio era tudo florido O rolo das manhãs punha-se a circular E era só ouvir o sonhador falar Da vida como se ela houvesse acontecido E tudo se passava numa outra vida E havia para as coisas sempre uma saída Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer. Só sei que tinha o poder duma criança Entre as coisas e mim havia vizinhança E tudo era possível era só querer Ruy Belo, Obra Poética Introdução O soneto “E tudo era possível” de Ruy Belo é representativo de um tipo de poesia revolucionária não pelo significado dos enunciados, mas pela estrutura das enunciações, ou seja, tudo o que fosse um tipo de discursivismo “barato” era rejeitado. O sujeito de enunciação, neste poema versa sobre a sua infância, onde descreve um eu criança, distanciado pelo tempo, mas ao mesmo tempo preso a uma realidade que são as lembranças de um tempo que não sendo muito distante, atingiu impossibilidade de retorno, não sendo mais possível aquilo que outrora teria vivido. Análises ideológica e estilística Poema autobiográfico, o título “E tudo era possível” marca a divisão do tempo em dois momentos, ao longo do poema. O primeiro momento está presente nas duas quadras e nos dois primeiros versos do primeiro terceto. Aí, o eu poético exprime a saudade do tempo em que não havia responsabilidades, ou seja, um tempo perfeito, pois uma criança não tem noção do tempo, logo existe sempre uma sensação de felicidade. A metáfora “O rolo das manhãs punha-se a circular”, e o uso do pretérito imperfeito sugerem a continuidade do tempo, uma espécie de “Carpe Diem”. Por outro lado, a protecção, ideia patente no espaço da casa e da presença dos pais “Na minha juventude (…) casa dos meus pais” também privilegiam o tempo d infância. O eu poético refere ainda o modo como o seu contacto com o mundo se fez através da leitura “Das páginas dos livros que já tinha lido”, e do sonho produtivo de mundos extraordinários “E era só ouvir o sonhador falar/da vida como se ela houvesse acontecido”. Assim a infância é marcada pelo poder da imaginação. O segundo momento está situado na terceira estrofe, onde o eu poético se questiona, criando, assim, uma ruptura no tempo “Quando foi isso?”, onde ele acorda e se dá conta que essa realidade terminou e que é irrecuperável, restando-lhe apenas a lembrança, não no tempo, ideia patente no uso da negação “eu próprio não o sei dizer”. Na última estrofe, o sujeito de enunciação toma consciência de que agora não tem “o poder duma criança” mas apenas uma mera recordação. No segundo verso da primeira quadra, depois de viajar “(…) disposto a viajar”, o eu poético toma consciência de que cresceu e que esse crescimento trouxe consigo o cargo das responsabilidades, preocupações, afastando-o da infância. • Marcas de Ruy Belo • Lembrança do passado, da infância e deambulação pelo tempo • Versos longos • Discursivismo “barato” rejeitado Conclusão O sujeito de enunciação toma consciência da passagem do tempo e da impossibilidade de recuperar o passado, a infância. Encontra-se definitivamente distante, colocando-se assim uma questão “Quando foi isso?”, mas para qual não tem resposta “Eu próprio não dizer”. Tal como Ruy Belo, existem outros escritores, como Sophia de Mello Breyner, Eugénio de Andrade, que escrevem também sobre a infância. O crescimento traz consigo a noção de responsabilidades e das prioridades, afastando-nos cada vez mais da infância. Análises formal e fónica O soneto é constituído por duas quadras e dois tercetos. A rima é emparelhada e interpolada.Na primeira quadra, no segundo e terceiro verso, temos rima rica (viajar e mar). No resto do poema verifica-se rima pobre. A rima é consoante por todo o soneto Relativamente á métrica temos uma unidade de versos alexandrinos que vai de encontro com dois versos de onze sílabas (o 1º de cada terceto). Referências Belo, Ruy. Obra Poética

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