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MODERNISMO – 2º GERAÇÃO – POESIA DE 30. Professora Vivian Trombini.
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MODERNISMO – 2º GERAÇÃO – POESIA DE 30 Professora Vivian Trombini
Exposto ao horror de duas grandes guerras, o ser humano vive tempos sombrios em meados do século XX. O que significa estar no mundo? A esperança deve ser depositada nos indivíduos ou projetada na espiritualidade? Confrontada com questões como essas, a literatura precisa encontrar novos caminhos, abandonando a relativa leveza que a marcou no inicio do século XX.
CONTEXTO HISTÓRICO • A quebra da bolsa de Nova York, em 1929; • A Revolução de 1930; • Estado Novo; • Quebra da bolsa de Nova York; • Segunda Guerra ;
Estava criado o contexto para que a arte assumisse uma perspectiva mais intimista e procurasse respostas para as muitas dúvidas existenciais desencadeadas por todo esse cenário de horror e de destruição.
Em 1930, a vitória da primeira geração modernista na luta travada contra o academicismo já estava consolidada. Muitas de suas propostas, como o verso livre, a afirmação de uma língua brasileira, a priorização de uma paisagem nacional e a abordagem de temas ligados ao cotidiano, estavam definitivamente consolidados em nossa literatura.
A segunda geração, livre do compromisso de combater o passado, manteve muitas das conquistas da geração anterior, mas também se sentia inteiramente à vontade para voltar a cultivar certos recursos poéticos que o radicalismo da primeira geração tornara objeto de desprezo, tais como os versos regulares (metrificados), a estrofação criteriosa e as formas fixas, como o soneto, a balada, o rondó e o madrigal.
A publicação, em 1930, do livro Alguma poesia, de Carlos Drummond de Andrade, é considerada a referencia do inicio da poesia da segunda geração modernista. Os críticos adotam o ano de 1945 como data para o fim da poesia dessa geração, embora os escritores pertencentes a ela continuem a produzir.
PROJETO LITERÁRIO • Diferentes modos de interpretar a realidade e de responder às grandes questões humanas; • Refletir sobre o sentido de estar no mundo; • Resgatar a crença de que a nossa espécie pode ser realmente “humana”; • A análise do ser humano e de suas angustias, o desejo de compreender a relação entre o individuo e a sociedade; • Produção com forte dimensão social.
PROJETO LITERÁRIO DA SEGUNDA GERAÇAO MODERNISTA * Reflexão sobre o sentido de estar no mundo *Renovação da linguagem *Foco no contexto sociopolítico *Versos com estruturas sintáticas mais elaboradas
1. VINICIUS DE MORAES (1913-1980) “Escritor da modernidade amorosa” “Celebrou a sensualidade”
SONETO DE FIDELIDADE – VINICIUS DE MORAES De tudo ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure.
CARACTERÍSTICAS DA OBRA • Poesia: • Temática: • - da transcendência espiritual ao amor sensual • - canto ao amor e à mulher • o amor em suas múltiplas manifestações: saudade, carência, desejo, paixão, espanto • 1ª fase transcendental e mística; • angústia existencial (solicitação da alma e do corpo – até 1936). • 2ª fase concepção mais realista da vida e do amor (mundo material, impressões • sensoriais, erotismo); • inovações de forma e conteúdo.
Prosa: • crônica do cotidiano; • - literatura extraída do cotidiano e das experiências concretas da vida.
2. CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (1902-1987) “Verdadeiro mito da poesia brasileira de todos os tempos”
MÃOS DADAS – CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro. Estou preso à vida e olho meus companheiros. Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. Entre eles, considero a enorme realidade. O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. Não serei o cantor de uma mulher, de uma história, não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela, não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida, não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins. O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.
CARACTERÍSTICAS DA OBRA Vasta obra em poesia e prosa a) Estilo - linguagem seca, exata, direta, precisa; - poesia artesanal: trabalhada, elaborada e não fruto apenas da inspiração momentânea; - Anti-lirismo intencional (poemas isentos de sentimentalismo ou expressões enfáticas); - predomínio de versos livres; - valorização de aspectos sonoros e visuais (a partir do movimento concretista); - humor e poema-piada (mais no início da carreira); - acentuada ironia.
b) Temas 1. Temática do Eu (autobiografia): - o passado (lembranças da infância, da família, da terra natal, de fatos marcantes em sua existência); - o amor (questionamento, desencontro, dúvida). 2. Temática do Mundo: - visão pessimista, desencantada do mundo; - a solidariedade, o compromisso com a humanidade sofredora; - a destruição (indagação metafísica, a solidão humana, a perda, o nada). 3. Temática da Metapoesia (a metalinguagem): - Indagação sobre a função da poesia, ou mesmo de como fazê-la.
4. Temática do questionamento existencial: - a angústia do poeta e do homem; - a tentativa de entender o mundo, integrar-se nele. 5. Temática da retratação da realidade: - compromisso com o presente; - retrato da realidade brasileira de diferentes épocas. 6. Temática do tempo: - o compromisso de não afastar-se do presente; - o passado que o persegue
c) Fases 1. “Gauche” (anos 30) – Dimensão humana: - ser às avessas, o deslocado, o torto, o que não consegue estabelecer comunicação com a realidade circundante; - o pessimismo, o individualismo, a reflexão existencial. 2. Poesia Social (1940-1945): - sentimento de solidariedade; - consciência da debilidade do mundo; - poesia engajada a uma causa política. Obras: Alguma Poesia (1930); Brejo das Almas (1934) Obras: Sentimento do Mundo (1940); José (1942), A Rosa do Povo (1945).
3. O Signo do Não (anos 50-60): - poesia reflexiva, filosófica e metafísica; - emprego de recursos visuais e gráficos. 4. Fase da Memória (anos 70-80): - temas universais, a infância, a família, a terra natal (Itabira); - síntese de vários aspectos de fases diferentes (humor, pessimismo, existencialismo). Obras: Claro Enigma (1951); Viola de Bolso (1952); Fazendeiro do Ar e Poesia até Agora (1953) etc. Obras: Boitempo (1968); Menino Antigo (1973); As Impurezas do Branco (1973); Discurso da Primavera (1978); A Paixão Medida (1980); Corpo (1984); Amar se Aprende Amando (1985), Amor Natural (1992) e outros.
3. JORGE DE LIMA (1893-1953) “Príncipe dos poetas alagoanos” “O católico engajado”
O ACENDEDOR DE LAMPIÕES – JORGE DE LIMA Lá vem o acendedor de lampiões da rua! Este mesmo que vem, infatigavelmente, Parodiar o sol e associar-se à lua Quando a sombra da noite enegrece o poente! Um, dois, três lampiões, acende e continua Outros mais a acender imperturbavelmente, À medida que a noite, aos poucos, se acentua E a palidez da lua apenas se pressente. Triste ironia atroz que o senso humano irrita: Ele, que doira a noite e ilumina a cidade, Talvez não tenha luz na choupana em que habita. Tanta gente também nos outros insinua Crenças, religiões, amor, felicidade Como este acendedor de lampiões da rua!
CARACTERÍSTICAS DA OBRA • Poesia • 1. Fase Nordestina (Regionalismo): • - caráter memorialista; • - reencontro com a infância (recordações da infância de menino de engenho); • - o folclore africano; • - a miséria do povo, a consciência social; • - presença marcante do negro. • 2. Fase Mística e Católica: • - conversão do poeta ao catolicismo; • - simbologia bíblica; • - pessimismo frente ao destino do mundo; • - sentimento de fraternidade; • - visão paradisíaca e painéis apocalípticos; • - Neo-barroquismo (conciliação dos contrários).
3. Poesia Surrealista (Obra: Invenção de Orfeu – 1952): - biografia épica do próprio homem, em busca de sua plenitude espiritual; - misto de invenção e memória, passado e presente, sonho e realidade, história e futuro; - virtuosismo técnico e hermetismo. b) Prosa - cristianismo, surrealismo, regionalismo, urbanidade, crítica social, reflexão filosófica Obras: Salomão e as Mulheres (1927); Calunga (1935); A Mulher Obscura (1939); Guerra Dentro do Beco (1950); O Anjo (novela - 1934).
4. CECÍLIA MEIRELES (1901-1964) “O efêmero e o eterno”
RETRATO – CECÍLIA MEIRELES Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil: - Em que espelho ficou perdida a minha face?
CARACTERÍSTICAS DA OBRA - poesia delicada, intimista, subjetiva, compassiva, reflexiva, filosófica; - imagens naturais (mar, ar, areia, espuma, lua, vento); - forte herança simbolista (neo simbolismo); - estados de ânimo vagos e quase incorpóreos; - atmosfera de dor existencial; - caráter passadista e pouco inovador; - linguagem limpa e bem comportada; - versos curtos; - tom melancólico e sereno.
Temáticas: - a precariedade da existência humana; - a fugacidade do tempo e dos bens materiais; - a falta de sentido da vida; - a solidão a que o indivíduo está condenado; - a distância, a perda, a falta; - a criação artística; - a natureza.
5. MURILO MENDES (1901-1975) “O católico visionário”
O RENEGADO – MURILO MENDES Cortina que vela a face de Deus, O céu fecha-se violentamente sobre mim [...] Que tenho eu com a sociedade dos meus irmãos? Acaso serei responsável pela sua vida? Sou o membro destacado de um vasto corpo. Sou um na confusão da massa insaciável: Entretanto vejo por todos, penso por todos, sofro por todos. [...]
CARACTERÍSTICAS DA OBRA - retrato da realidade sem artificialismo; - crítica à sociedade massacrada pela técnica e pela mecanização; - paródia; - influência surrealista (exploração do inconsciente); - temática voltada para desmistificação do cotidiano; - sensualidade na figura da mulher, projetada através de suas formas amplificadas, simbolizando a seiva da vida, o lugar do encontro com o mistério da existência; - o senso de humanidade e a consciência social associados à dimensão espiritual; - metalinguagem.