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Por Antônio Schimeneck. Nasceu no dia 9 de março de 1865 em Pelotas. Filho de Catão Bonifácio Simões Lopes e de Teresa de Freitas Ramos. VIDA E OBRA DE SIMÕES LOPES NETO. Era neto do Visconde da Graça, nasceu na estância situada nos arredores de Pelotas;
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Por • Antônio Schimeneck
Nasceu no dia 9 de março de 1865 em Pelotas. Filho de Catão Bonifácio Simões Lopes e de Teresa de Freitas Ramos. VIDA E OBRA DE SIMÕES LOPES NETO
Era neto do Visconde da Graça, nasceu na estância situada nos arredores de Pelotas; • Aos onze anos encontra-se no núcleo urbano de Pelotas, cidade avançada, graças à prosperidade econômica assegurada pela exploração do charque e por uma indústria nascente;
A formação escolar de Simões Lopes completou-se no Rio de Janeiro, onde esteve matriculado, a partir de 1878;
Envolveu –se em uma série de iniciativas de negócios, chegou a ser dono de uma fábrica de vidros e de uma destilaria, mas todos fracassaram; No dia 5 de maio de 1892 casou-se com Francisca de Paula Meireles Leite. Ele com 27 anos de idade e ela com 19. Não tiveram filhos.
Cancioneiro Guasca ( 1910) Contos Gauchescos (1912) Lendas do Sul (1913) Casos do Romualdo (1914) Obras Publicadas
Sua literatura teatral, quase toda dedicada ao gênero cômico, teve pouquíssimos textos editados à época, embora haja indicações de que foi bem acolhida no gosto do público. • Alguns livros anunciados por Simões Lopes Neto não foram publicados e os originais permanecem ainda hoje desconhecidos: Peona e dona (romance regional), Jango Jorge (romance regional), Prata do Taió (notas de uma comitiva exploradora) e Palavras viajantes (conferências).
Em certa fase de sua vida, já empobrecido, sobreviveu como jornalista em Pelotas; • Morreu aos 52 anos de uma Úlcera perfurada em 1926.
Contos Gauchescos • Seleção de contos lançados em 1912, aniversário de 100 anos de Pelotas, a maior parte deles já lançados em jornais naquele ano. • Publicação autônoma de 1913, Lendas do Sul, a partir da morte do autor, passa a integrar o mesmo volume de Contos Gauchescos. • Referências para nova edição: obra original e textos do autor Ausência de comentários Desorganização do autor
Com o lançamento de Cancioneiro Guasca (cultura popular e oral), em 1910, inicia-se a fase que desencadearia em suas obras máximas: Contos Gauchescos (1912) e Lendas do Sul (1913) • Inovação de Contos Gauchescos: Um narrador em 1ª pessoa que dava voz ao povo local (Blau Nunes). • Na literatura, até então, havia apenas representação da voz do povo. “Não vou? oce sabi? pois mió. Da cá mais uma derrubada ai modi u friu, genti. Um dos vaqueiros passou-lhe o copo e Mandovi bebeu com gosto, esticando a língua para lamber os bigodes. Te aminhã, genti”. Do conto: Mandovi de Coelho Neto.
Guimarães Rosa leu Contos Gauchescos, fato que provavelmente influencia a escrita regional de Grande sertão veredas (Lopes Neto, 2012, p. 53). • Conquista literária de Simões: uniu a fala rudimentar do povo gaúcho com uma sintaxe exemplar (Lopes Neto, 2012, p. 53). • A que escola literária poderíamos encaixar Contos Gauchescos? • Pontuação e efeitos de suspense com forte tendência teatral: “Quando houve a carreira grande, do picaço do major Terêncio e o tordilho do Nadico (filho do Antunes gordo, um que era rengo), quando houve a carreira, digo, foi que o negro mostrou mesmo pra o que prestava...; mas foi caipora. Escuite.” (Lopes Neto, 2012, p. 90).
Dois questionamentos: • O caso dos travessões (Lopes Neto, 2012, p. 54). “- Eu tropeava, nesse tempo. Duma feita que viajava de escoteiro, com a guaiaca empanzinada de onças...” (excerto de: Trezentas onças) “O velho Lessa era um homem assinzinho...” (excerto de: Deve um queijo!...) • O narrador presente na apresentação (Lopes Neto, 2012, p. 54). • Narrador apresenta Blau Nunes; • Nos 5 parágrafos seguintes há uma tomada de palavra iniciada por travessão, que aponta para um outro narrador: Blau Nunes; • Depois desta fala de Blau, o narrador do primeiro parágrafo retoma a fala;
Estrutura da obra: • Apresentação; • 18 contos (13 haviam sido publicados em jornais e revistas antes de saírem no livro); • Somente a partir da 3ª edição (Editora Globo), em 1949, aparece o 19º conto: “ O ‘menininho’ do presépio”;
Trezentas onças Aspectos que chamam a atenção: Fato acontecido com o próprio Blau Nunes; Descrição da paisagem; Amor e confiança nos animais; Proteção divina; Heroísmo do gaúcho; Imbuído da missão de comprar rezes para o patrão, o personagem acaba parando para descansar e esquece o dinheiro na beira da sanga. Cachorro tenta chamar a atenção para o fato. Ao voltar em busca das onças de ouro, encontra um grupo de cavaleiros. Não encontra a guaiaca e pensa em se matar. Faz o caminho de volta e alivia-se ao ver que lhe pregaram uma peça.
Negro Bonifácio Blau Nunes conta a história do Negro Bonifácio, que apareceu para umas carreiras; Tudinha, moça muito bonita, foi com a mãe, Dona Fermina; A china possuía muitos pretendentes, entre eles estava Nadico, de quem ela gostava; O negro aposta carreira com Nadico e perde, ao tentar pagar 1 libra de doces à moça, acontece o desentendimento. Inicia uma briga feia, e é preciso um povoado inteiro para conter a ira do “muçum”; Bonifácio mata Nadico e Fermina; Tudinha vinga-se do negro preso por boleadeiras e atingido por um tiro na cabeça; Mais tarde, Blau descobre que o negro fora o primeiro homem de Tudinha; Negro Bonifácio configura-se como um dos contos mais violentos da literatura gaúcha (Lopes Neto, 2008). Elementos da natureza para descrever Tudinha: “Face cor de pêssego maduro; os dentes brancos e lustrosos como dente de cachorro novo” (Lopes Neto, 2012, p. 91) O conto possui muitas marcas de oralidade e diálogo com o interlocutor, por ex: “Escuite”, “Vancê compreende?” Tragédia que tem como pano de fundo a disputa pelo amor de uma mulher; O feminino apresenta-se com uma força muito grande, num universo tremendamente machista;
No manantial Maria Altina é moça muito bonita, de bom caráter, que pretende casar-se com um jovem militar chamado André; Chicão, filho de Chico Triste, também se apaixona por ela. Ao saber do noivado, invade a casa de Mariano, mata a avó da moça, e investe contra ela, que foge a cavalo; Os dois acabam caindo no manantial dos fundos da casa; Mariano é avisado, mas não consegue salvar a filha, avista apenas a rosa vermelha boiando no lodo. Num acesso de raiva entra no sumidouro e luta com Chicão; A avó de Maria Altina é sepultada ao lado do manantial; No meio do barro brota uma roseira e o local fica mal assombrado; Um dos contos mais dramáticos da obra: Tragédia envolvendo o amor de uma mulher; Blau Nunes foi testemunha dos acontecimentos; Novamente a obstinação das mulheres personificada em Maria Altina; O comportamento de Chicão aponta para a competitividade masculina e a predisposição para a batalha em busca de seus interesses; Os animais mutilados mostram o desequilíbrio de Chicão; Presença do elemento sobrenatural;
O mate do João Cardoso O quarto conto de Contos Gauchescos dá um descanso para o leitor, depois das fortes emoções presentes nos contos anteriores; Enquanto esperam uma fritada que demora cerca de três horas para ser servida, Blau Nunes lembra de um tal João Cardoso que ficou famoso por seus mates demorados; Na ânsia por saber notícias, quem passasse desavisado e parava para um mate, logo percebia que algo não ia bem. A todo momento João Caetano gritava para dentro de casa: “crioulo?!...” Horas depois, o vivente montava em seu cavalo e saía desesperado, enquanto o velho dizia: “Quando passar, apeie-se!” Blau Nunes utiliza o anedotário local para ilustrar o atraso da comida que pediram, sempre numa atitude dialogal com seu interlocutor; “Luís Augusto Fischer nos lembra que na edição da Globo, de 1949, Aurélio Buarque de Hollanda sugere que existam outras versões de histórias semelhantes, abrindo a possibilidade de ela ter cunho amplamente folclórico.” (Lopes Neto, 2008, p. 55)
Deve um queijo!... O anedotário local ganha novamente espaço neste conto; O velho Lessa era um homem tranquilo e bondoso, mas não menos corajoso; Andava de escoteiro certa feita, quando seu caminho cruza com o de um castelhano provocador que lhe cobra um queijo; Lessa manda vir o maior, o castelhano se regozija, mas ao agradecer é obrigado a comer todo o queijo abaixo de facão; Ausência de travessão, indicador de que Blau Nunes não estava presente quando o fato aconteceu, apenas é mais caso que ele ouviu contar. Descrição das características do gaúcho: bonachão, sério, mas ao ser desafiado ou desrespeitado lava sua honra pela força; Indicação de local onde o fato aconteceu: Passo do Centurião (Rio Jaguarão limite entre Brasil e Uruguai) Comparação entre o gaúcho e o castelhano, sendo que este, apresenta um temperamento leviano, fanfarrão e debochado.
O boi velho Blau Nunes relembra o caso da família Silva na estância do Lagoões; Possuíam dois bois mansos: Cabiúna e Dourado; Com o tempo, os bois foram ficando velhos, um deles morre e o outro foi deixado de lado; Tempos depois, Cabiúna aparece no terreiro e é recebido pela criançada; Blau utiliza a interjeição: cuê-pucha, que significa espanto, indignação diante da maldade humana; A interação entre animais e humanos é perfeita, até que aqueles não “sirvam” mais; A inocência das crianças contrasta com a falta de sentimento dos adultos que matam o boi, que lhes serviu tanto, por causa de um simples couro;
Correr eguada Blau Nunes descreve o esporte de correr eguada, animais que viviam soltos e chucros pelos campos do Rio Grande do Sul; Blau lembra com saudade dos tempos em que estas atividades aconteciam; Através do diálogo com seu interlocutor, Blau revela que o “patrãozinho” é bem mais jovem que ele e não conhece quase nada da vida;
Chasque do Imperador O conto possui vários elementos da história do RS, a visita do Imperador realmente aconteceu. Durante o cerco de Uruguaina, em 1865, Blau Nunes torna-se ajudante de D. Pedro II; Ao ser apresentado a Caxias, este fica apreensivo e Blau faz uma retrospectiva até 1845, quando esteve ao lado dele durante o tratado de paz dos farroupilhas em Poncho Verde; Acaba ouvindo muitas histórias junto do Imperador que se tornam anedotas e presencia o famoso caso dos docinhos: Hospedado em uma residência, o imperador acaba comendo durante dias apenas doces finos e chá, pois o dono da casa pensava que essa era a comida que se servia na corte; Blau Nunes é personagem nesta narrativa, tendo convivido com os altos escalões da política nacional; Diferentemente da maioria dos contos, este não tem sangue nem disputas amorosas; Duas características do gaúcho aparecem aqui: uma rudeza no falar, e uma delicadeza no trato com o Imperador, deixando entrever até um certo servilismo do povo mais simples: “Seu imperador, na volta, venha pousar no rancho da nhã Tuca; é de gente pobre, mas tudo é limpo com a graça de Deus... e sempre há de haver uma terneira gorda pra um costilharl... Passar bem! Boa viagem... Deus os leve, Deus os traga!... O imperador — esse era meio maricas, era! — abraçou a velha, prometendo voltar, por ali, e quando ela saiu, disse: — Como é agradável esta rudeza tão franca!”
Os cabelos da china Blau Nunes revela ao seu interlocutor que possuiu um buçal e um cabresto de cabelos de mulher; Foi amigo de Juca Picumã, gaúcho competente em seu trabalho mas muito maltrapilho, tudo que recebia mandava para a filha Rosa; Certa feita acabam lutando lado a lado na Revolução Farroupilha e são escolhidos para uma missão: infiltrar-se no acampamento imperialista a fim de distraí-los; O interesse do capitão era dar uma lição no comandante inimigo que havia lhe roubado a china; Picumã esconde o rosto ao ver a moça; inicia-se o ataque; o legalista foge, mas Picumã prende a mulher pelo braço, que o reconhece; O capitão farrapo tenta degolar Rosa, mas é impedido por Picumã que lhe desfere um golpe de facão, ficando apenas com a longa trança de cabelos apertada na mão; A trança é cortada por Picumã, Rosa foge; Picumã dá um cabresto e um buçal feitos de cabelos a Blau; Ao morrer, Picumã revela que os cabelos eram da filha Rosa; Blau Nunes coloca as peças junto ao caixão de Rosa, muito tempo depois. Tragédia tendo como pano de fundo o amor de uma mulher Narrativa recheada de elementos históricos, com características documentais de como era a rotina dos acampamentos de guerra, os ataques, as estratégias; Novamente a figura do gaúcho como andarilho, agregado nas estâncias, entregue às lides campeiras, pronto para pegar em armas; Blau Nunes é participante ativo da história, contando fatos acontecidos durante a infância, a adolescência e a fase adulta; Embora com a honra afrontada, Picumã tem uma postura de pai diferente, por ex, de Miguelão do conto: O “menininho” do presépio;
Melancia - Coco verde Blau Nunes encontra-se com o índio Reduzo, ao voltar a falar com seu interlocutor, conta-lhe o causo; Reduzo é criado na casa dos Costas; fiel amigo de Costinha, que na sua juventude vira Cadete e apresenta-se para lutar contra os castelhanos; Blau não estava no casamento, mas conhece bem o caso, nota-se atitude dialogal com o interlocutor durante o relato; Costinha é apaixonado por Talapa, filha do velho Severo, e é correspondido. O pai dela a promete em casamento para um sobrinho. História de amor em tempos de guerra: conflito entre gaúchos e uruguaios; Talapa e Costinha fazem uma combinação em segredo, apelidam-se de melancia e coco verde; ele vai para a guerra; Noivo é descrito como tudo aquilo que o gaúcho não pode ser: “um ilhéu, mui comedor de verduras” (Lopes Neto, 2012, p. 155); O velho Severo aproveita para fazer o casamento com o primo ilhéu, para desgosto da moça; Costinha fica sabendo e tenta desertar, mas explode o conflito, Reduzo é incumbido de dar recado para Talapa não casar; Na fala de Blau apresenta-se o sentimento antilusitano e de forte identidade local, muito comum à época; Há registros de outras vertentes deste conto na literatura nacional;
O anjo da vitória Conto elaborado com profundo conhecimento histórico, nesta batalha morreram em torno de 1,6 mil homens; O narrador apresenta o motivo da mal sucedida investida: a indisciplina“o meu padrinho dizia que nós estávamos mal acampados, e estransilhados, (...) não havia bombeiros nem ordem, que o exército vinha num berzabum” (Lopes Neto, 2012, p.167); Blau Nunes relata um acontecimento que ele presenciou ainda menino, ao acompanhar um padrinho; É a batalha do Ituzaingó, no Passo do Rosário onde os brasileiros foram derrotados e o valente gaúcho General José de Abreu, pereceu aos ser atingidos pelos aliados por engano em 20 de fevereiro de 1827; Há uma elevação do caráter e da coragem dos comandantes (Abreu e Gonçalves); Adjetivos remetem a elementos da natureza: “dormia como quero-quero, farejava como cervo e rastreava como índio” (Lopes Neto, 2012, p.169); Presente ao grupo estava o jovem Bento Gonçalves; Passagem de Blau Nunes da infância para um ambiente adulto, sob forte pressão psicológica, diante da morte do padrinho é obrigado a sair campo a fora sozinho, como o gaúcho; Elemento sobrenatural: Abreu, depois de morto, fala: “Viva o Imperador! Carrega!”; Carchear: Roubar despojos de guerra: Filme – Anahy de las Misiones;
Contrabandista Jango Jorge foi contrabandista nas bandas do Ibirocai (Uruguaiana), era muito valente, insolente e mão aberta; gostava de jogar moedas no ar para a gurizada pegar; dava laçaços nos cachorros; puxava as toalhas dos jantares que patrocinava; Blau o reencontra às vésperas do casamento da filha e acaba ficando para a festa; Jango Jorge demora para chegar com o vestido; A filha já está inconsolável quando é anunciada a chegada do contrabandista; Fora atacado pela polícia, mas antes de morrer amarrara um embrulho no peito embaixo do pala; Ao examinarem-no encontraram o vestido branco da filha manchado com plastras de sangue; Elementos da natureza e o uso dos sentidos marcam o conhecimento do personagem: “conhecia as querências pelo faro” (Lopes Neto, 2012, )p. 174 Em determinado momento da narrativa, Blau faz um corte na história e retoma a história do contrabando no RS, bem como das divisões das sesmarias, do funcionamento do governo e de algumas guerras locais; Comportamento de Jango possuía algo de reprovável na ética gaúcha: batia em cachorros; Duas características fortes em Jango: Fora da lei, mas sociável e inofensivo na vida social;
Jogo do osso A vendola do Arranhão, um pouco retirada da vila, era onde se davam jogos, carreiras e danças; Arranhão era tido como espertalhão, negociante, rezador e levava vantagem em tudo; O jogo: “O jogo é só de culo ou suerte. Culo é quando a taba cai com o lado arredondado pra baixo: quem atira assim perde logo a parada. Suerte é quando o lado chato fica embaixo: ganha logo e sempre” (Lopes Neto, 2012, p. 184); Osoro e Chico Ruivo começam a jogar taba no lado de fora da venda. Chico começa a perder e acaba apostando Lalica; Perdendo a mulher no jogo, entregou a china que, durante três rodadas de dança, provocou-lhe ciúmes; Não aguentando vê-la aos beijos com o outro, puxou do facão e matou os dois no meio do salão; Fugiu sem pagar a conta; Tragédia tendo a mulher como pivô; Lalica, mesmo humilhada por servir como moeda de troca, mostra o poder de sedução e a força que possuía ao provocar ciúmes em Chico Ruivo; O conto é bem ilustrativo ao mostrar como se davam as festas, jogos e costumes campeiros; O homem apresenta-se como um ser dual, de um lado cheio de camaradagens, para no instante seguinte, cego de ódio, matar a facão a mulher e o amigo; Arranhão está mais preocupado com a conta do que com o acontecido;
Duelo de farrapos O narrador apresenta vários fatos comprovadamente históricos, revelando uma certa intenção documental; Blau Nunes foi testemunha de um duelo entre dois comandantes farroupilhas, de um lado Bento Gonçalves, de outro Onofre Pires; Vários foram os motivos de desentendimentos entre os comandantes, entre eles está a visita de uma mulher, certo dia, ao acampamento certamente a mando de Oribe ou Rivera (inimigos políticos da Banda Oriental; Onofre Pires responsabiliza Bento pela morte de Paulino Fontoura, esse foi o motivo do duelo; O duelo entre Bento e Onofre realmente aconteceu, mas por outros motivos, sendo que a historiografia registra a morte deste; Blau Nunes omitindo a morte de Onofre eleva a honra e o heroísmo dos farrapos, fato este que se apresenta outras vezes, quando os duelistas tiveram oportunidade de abater o oponente desarmado e não o fizeram: “Prá um que quisesse aproveitar... Mas qual... aqueles não eram gente disso, não!” (Lopes Neto, 2012, p. 195) Em pleno duelo, Blau ouve um sabiá cantar acima de sua cabeça e relata: “fiquei, sem saber como, com os olhos nos peleadores, os ouvidos no sabiá, mas o pensamento andejando... nos pagos, no meu padrinho, no Jesu-Cristo do oratório da minha mãe” (Lopes Neto, 2012, p. 195) Elementos da natureza que reportam o gaúcho para um sentimentalismo e a religiosidade;
Penar de velhos Binga Cruz, garoto de 12 anos, sai para catar ovos de passarinho e vê um bando de avestruzes; Volta para casa, os pais estão sesteando, encilha o cavalo, toma um laço e vai em busca de suas presas; O cavalo acaba morrendo durante a noite; Ao saber que Binga foi o responsável, resolve punir o piá, que sai campo a fora e nunca mais aparece; Os pais acabam morrendo de tristeza; A herança ficou para a Igreja; Forte tom melancólico; Pela segunda vez Blau utiliza a interjeição: cuê-pucha, que significa espanto, indignação, ao saber que a herança de Binga ficou com o padre local; Características do gaúcho no pequeno Binga: ousadia, destemido e sem lar “tudo era várzea lisa para aquela alminha de gaúcho” (Lopes Neto, 2012, p. 199);
Juca Guerra Tandão Lopes era o nome do pai de Simões, que tinha problemas numa perna em caso semelhante ao relatado no conto; Blau Nunes conta que um sujeito joga-se ao mar para salvar outro que se afogava e acaba sendo condecorado; Mais valentia tem Juca Guerra, que num rodeio de touros bravos, na estância do Pavão, joga-se a cavalo em frente a um animal que iria esmagar Tandão Lopes; Acabam tendo de sacrificar o cavalo; Blau Nunes faz um questionamento: Quem tem mais valor: o homem da beira da praia ou Juca Guerra? Heroísmo do gaúcho apresenta-se à toda prova; Sacrificar o cavalo, para o gaúcho, é o mesmo que sacrificar uma parte de si mesmo; Como deve ser a morte de um gaúcho? Na cama ou na coxilha? “Vancê leu ontem no jornal” este excerto aponta para certa intimidade entre Blau e seu interlocutor e companheiro de viagem, que em alguns momentos é designado como “patrãozinho”;
Artigos de fé do gaúcho Série de ditos de Blau Nunes que descrevem como deve ser um gaúcho; Tudo está presente nos seus provérbios: gente, animais, mulheres e coisas pessoais; Blau dialoga com seu interlocutor no início e no final do conto, de certa forma ironizando os doutores e letrados; Recurso diferente utilizado até agora pelo autor;
Batendo orelha!... A trajetória de um menino e um cavalo desde o nascimento; Em dado momento, no exército, seus destinos acabam se cruzando, e ao separarem-se seguem caminhos parecidos; O conto apresenta uma intercalação que justifica o título: Batendo orelha ou, como o termo é utilizado nas corridas de cavalo: disputando lado a lado;
O “menininho” do presépio Situação de diálogo entre Blau e o “patrãozinho”; Blau conta a história do Major Vieira que, quando moço, era cadete e vivia pelos rincões da estância; Apaixonou-se pela filha de Miguelão (peão do pai) que fora obrigada a casar com um homem mais velho; Na noite de Natal houve festa na estância e Nha Velinda e Vieira acabaram se beijando; Miguelão vê a cena e avisa o genro, que fica de olho nos dois; Na hora do terço, o cadete não tira os olhos de Velinda, o marido desta, num acesso de loucura, entra com o facão porta adentro; O menino Jesus cai do presépio justamente entre os seios da moça; O esposo vira as costas e vai embora; Publicado em jornal em 1913, somente foi inserido na coletânea de contos em 1949; Descrição do que acontecia nos ranchos de agregados das estâncias; Comparação com elementos da natureza: “Assim era aquele casal: ele como o jerivá velho, ela como um cacho de flor”.(Lopes Neto, 2012, p. 219) Presença do fantástico: o milagre do menino Jesus; Mais um caso de amor que quase termina em tragédia;
Bibliografia: • Lopes Neto, João Simões. Contos gauchescos e Lendas do Sul. Porto Alegre: L&PM, 2012. • Lopes Neto, João Simões. Contos gauchescos e Lendas do Sul. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2008.