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Aplicação de um Programa Baseado no Mindfulness para a Infertilidade: Dados Preliminares Ana Galhardo *, ** Marina Cunha*,** José Pinto Gouveia ** anagalhardo@ismt.pt marina_cunha@ismt.pt jpgouveia@fpce.uc.pt
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Aplicação de um Programa Baseado no Mindfulness para a Infertilidade: Dados Preliminares Ana Galhardo*, ** Marina Cunha*,** José Pinto Gouveia** anagalhardo@ismt.pt marina_cunha@ismt.pt jpgouveia@fpce.uc.pt *Instituto Superior Miguel Torga**Faculdade de Psicologia e de CiênciasdaEducaçãodaUniversidade de Coimbra – CINEICC INTRODUÇÃO • A infertilidade constitui um momento de crise e um acontecimento indutor de stresse psicológico, quer individualmente, quer ao nível da díade conjugal. Alguns autores têm vindo a sugerir que uma das consequências da infertilidade é precisamente a de se tornar um elemento nuclear na vida dos indivíduos, desencadeando sofrimento e, ao mesmo tempo, fazendo com que estes negligenciem outros aspectos importantes das suas vidas (Cousineau & Domar, 2007). • Os programas de intervenção baseados no Mindfulnessconstituem-se como abordagens sistemáticas que promovem o aumento da atenção consciente à experiência no momento presente (Williams, Teasdale, Segal, & Kabat-Zinn, 2007). Nas últimas duas décadas têm vindo a ser aplicados numa vasta gama de situações como a dor crónica, fibromialgia, cancro, perturbações de ansiedade, depressão e stresse (Baer, 2003). Neste contexto, tendo como referência o Programa Mente-Corpo para a Infertilidade (Domar & Benson, 1990), bem como Programas Baseados no Mindfulness para a redução do Stresse (Grossman, Niemann,, Schmidt, & Walach, 2004), foi desenvolvido o Programa Baseado no Mindfulness para a Infertilidade (PBMI). Este programa constitui-se como uma intervenção psicossocial estruturada, grupal, que visa, fundamentalmente, a aprendizagem e prática de competências de regulação emocional, nomeadamente, de mindfulness, flexibilidade psicológica, aceitação e auto-compaixão, sendo igualmente abordados aspectos relacionados com a comunicação interpessoal e o auto-cuidado emocional. O PBMI é composto por 10 sessões semanais, com a duração de duas horas cada (o elemento masculino é convidado a estar em três das sessões). Cada grupo integra entre10 a 15 casais participantes. Objectivos • O objectivo do presente trabalho é o de apresentar dados preliminares da aplicação do PBMI a uma amostra de mulheres portuguesas com um diagnóstico de infertilidade, os quais fazem parte integrante de um estudo de eficácia mais alargado ainda a decorrer. MATERIAIS E MÉTODO SUJEITOS: O PBMI foi aplicado em quatro grupos (2 em Lisboa e 2 no Porto), totalizando 45 participantes do sexo feminino, recrutadas através de divulgação no sítio da Internet da Associação Portuguesa de Fertilidade. O grupo de controlo foi constituído por 25 participantes que responderam à referida divulgação, mas não residiam na área da grande Lisboa ou do grande Porto, constituindo-se, assim, como lista de espera. INSTRUMENTOS:Antes e após a realização do PBMI (intervalo de tempo de 10 semanas) foram administrados os seguintes instrumentos de auto-resposta em ambos os grupos: BeckDepressionInventory(BDI; Beck, Ward, Mendelson, Mock, & Erbaugh, 1961; versão portuguesa de Vaz Serra, & Abreu, 1973); StateAnxietyInventoryform Y (STAI-Y; Spielberger, 1983, versão portuguesa de Ponciano-Lopes, 2004); Others As Shamer(OAS; Goss, Gilbert, & Allan, 1994, versão portuguesa de Lopes, Pinto-Gouveia, & Castilho, 2005); ExperienceofShameScale(ESS; Andrews, Qian, & Valentine, 2002, versão portuguesa de Lopes, & Pinto-Gouveia, 2005); EntrapmentScale(EE; Gilbert, & Allan, 1998; versão portuguesa de Carvalho, Pinto-Gouveia, & Castilho, 2006); DefeatScale(ED; Gilbert, & Allan, 1998; versão portuguesa de Carvalho, Pinto Gouveia, & Castilho, 2006); AcceptanceandActionQuestionnaire II (AAQ II; Bond, Hayes, Baer, Carpenter, Orcutt, Waltz, & Zettle, 2007, versão portuguesa de Pinto-Gouveia, & Gregório, 2007); Self-CompassionScale(SELFCS; Neff, 2003, versão portuguesa de Pinto-Gouveia, & Castilho, 2006); DyadicAdjustmentScale(DAS; Spanier, 1976, versão portuguesa de Nobre, 2003); InfertilitySelf-EfficacyScale (ISE; Cousineau, Green, Corsini, Barnard, Seibring, & Domar, 2006, versão portuguesa de Galhardo, Cunha, & Pinto-Gouveia, 2008). • Quadro 1. Características da Amostra Apesar das diferenças estatisticamente significativas entre os grupos relativamente à idade e anos de escolaridade, não se verificaram correlações entre estas e as demais variáveis em estudo. RESULTADOS Como se pode verificar nos Quadros 2 e 3, as participantes no PBMI apresentam uma redução estatisticamente significativa em termos de sintomatologia depressiva e ansiosa, de vergonha externa e interna , bem como de entrapment e derrota. Por sua vez , em termos de aceitação/flexibilidade psicológica e auto-eficácia para lidar com a infertilidade existe um aumento estatisticamente significativo nas pontuações. Neste grupo verifica-se também um aumento ao nível do ajustamento diádico e da auto-compaixão, ainda que não atinja a significância estatística. No Grupo de Controlo não foram encontradas diferenças significativas em nenhuma das variáveis em estudo. Quadro 2. Teste T para amostras emparelhadas antes e após a realização do PBMI no grupo experimental Quadro 3. Teste T para amostras emparelhadas no grupo de controlo DISCUSSÃO E CONCLUSÃO • As mulheresqueparticiparam no PBMI revelaramumadiminuiçãosignificativaaoníveldasintomatologiadepressiva, ansiosa, bemcomoemtermosdavergonhainterna, externa, entrapment e derrota: • Os sintomasdepressivosrelacionam-se com pensamentosdistorcidosacerca do self e temascomoosdafalta de valor pessoal e de auto-criticismosãofrequentementeencontrados. A desfusãoemrelaçãoaospensamentos é uma das competênciastreinadas no PBMI e estepoderá ser um factor importantepara a reduçãodasintomatologiadepressiva (Williams, Teasdale, Segal, & Kabat-Zinn, 2007) e ansiosa (Hayes, 2005). A depressão encontra-se também relacionada com o entrapment e a derrota sendo que os nossos resultados mostram também uma diminuição nestas variáveis. • Ao serem aprendidas e treinadas competências de mindfulness no PBMI, as participantes passaram a estar mais conscientes da sua experiência no momento presente com uma atitude de abertura e curiosidade. Assim, pensamentos e sentimentos dolorosos relacionados com o passado ou com o futuro, são reconhecidos sem que haja a tentativa de os eliminar ou modificar, o que poderá conduzir à diminuição do impacto destes na depressão e na ansiedade. • No que diz respeito à vergonha interna e externa, as participantes no PBMI parecem, após a realização deste, perceber-se a si mesmas de uma forma menos negativa, menos desadequada, como menos diferentes, mais dignas de serem amadas/aceites. Parecemtambémver-se comoexistindonamente dos outroscomoalguém com menoscaracterísticasnegativas (poucoatraentes, sem valor, comotendoalgumdefeitooucomosendoinferiores), (Gilbert, 1998; Gilbert, 2002). • De notaraindaquedesenvolveramcompetências de aceitação e um sentimento de auto-eficáciaparalidar com a infertilidade: • Parecem ser maiscapazes de aceitarosseusestadosmentaisinternos (ex. pensamentos, sentimentos) e apresentamumamaiorflexibilidadepsicológica (Bond, Hayes, Baer, Carpenter, Orcutt, Waltz, & Zettle, 2007; Hayes, 2005), o que as capacitapara a acçãoconsciente e deliberada, guiadapelosseusvaloresnucleares, de um modoflexível e adaptávelàsexigências das situações (Harris, 2009). • Porsuavez, as mulheres do grupo de controlonãoapresentaramalteraçõessignificativasemnenhuma das variáveispsicológicasestudadas. • Assim, os dados preliminaressugeremque o PBMI poderáconstituir-se comoumaintervençãopsicológicaeficazdirigida a casais com infertilidade. A utilidadedesteprogramanapopulaçãoportuguesa com infertilidadeparecepromissora e é necessário o desenvolvimento de maisinvestigaçãoparaavaliar a suaeficácia. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Baer, R. (2003). Mindfulness training as a clinical intervention: A conceptual and empirical review. Clinical Psychology:Science and Pratice, 10, 2, 125-143. Bond F., Hayes S., Baer R., Carpenter K., Orcutt H., Waltz T., & Zettle R. (2007). Preliminary psychometric properties of the Acceptance Action Questionnaire-II: a revised measure of psychological flexibility and acceptance (submitted for publication). Cousineau, T. M., & Domar, A. D. (2007). Psychological impact of infertility. Best Practice & Research Clinical Obstetrics and Gynaecology, 21, 2, 293-308. Domar, A. D., Seibel, M. M., & Benson, H. (1990). The Mind/Body Program for Infertility: a new behavioural treatment approach for women with infertility.Fertility and Sterility, 53, 2, 246-249. Gilbert P. Body shame: a biopsychosocial conceptualisation and overview, with treatment implications. In Gilbert P and Miles J (eds.) Body shame: conceptualisation, research and treatment. 2002. Brunner, London, UK, pp. 3-54. Gilbert, P., & Allan, S. (1998). The role of defeat and entrapment (arrested flight) in depression: an exploration of an evolutionary view. Psychological Medicine, 28, 585-598. Grossman, P., Niemann, L., Schmidt, S., & Walach, H. (2004). Mindfulness-based stress reduction and health benefits: A meta-analysis. Journal of Psychosomatic Research, 57, 35-43. Hayes SC and Smith S. Get out of your mind and into your life – the new acceptance and commitment therapy. 2005. New Harbinger Publications, Oakland, USA. Harris, R. (2009). ACT with love. Oakland:New Harbinger Publications, Inc. Kabat-Zinn, J., Massion, A.O., Kristeller, J., Peterson, L.G., Fletcher, K., Pbert, L., Linderking, W., Santorelli, S. F. Effectivenessof a meditation-based stress reductionprograminthetreatmentofanxietydisorders. AmericanJournalofPsychiatry, 149, 936-943. Williams, M., Teasdale, J., Segal, Z., & Kabat-Zinn, J. (2007). Themindfulwaythroughdepression. New York: TheGuilfordPress. Projecto de Doutoramento financiado pela FCT com a referência SFRH/BD/68392/2010.