E N D
Para responder a essapergunta, primeiramenteprecisamossaber o quesignifica “castigo”. Segundo o dicionário, “castigo é umapenaque se inflige a um culpado; punição.” Quando se dizque Deus castiga, a ideia é sempre de que Deus se sentiuofendido (ressentido) e, porissopuniuaqueleque o ofendeu. O queequivaleria a dizerque “Deus se vingou”.
O curioso é que Jesus, o Sublime Emissário de Deus na Terra, orientouaoshomens a “amarosinimigos e perdoarosseusagressores”. Seria Jesus melhor do que Deus? Lembremo-nos de que o Mestre não aceitou sequer ser chamado de “bom”, dizendo que bom somente é o Pai Celeste. Mas, na cruz, afirmou que os seus agressores não sabiam o que estavam fazendo (eram ignorantes), e pediu a Deus que os perdoasse.
Quando a dor nos visita, não é Deus que castiga, é a Lei, criada por Ele e que está dentro de nós, promovendo a “reação” equivalente ao ato praticado, o efeito contrário à nossa ação, objetivando sempre a nossa reeducação...
O castigo gera revolta e alimenta o sentimento de culpa. A educação em bases morais esclarece e conduz ao arrependimento e à reparação das faltas... e consequentemente, ao equilíbrio interior, resultante sempre de uma consciência tranquila.
É claro que nossa ideia de Deus está sempre atrelada à nossa evolução moral. Se indagarmos a um justiceiro “que é Deus?, ele provavelmente responderá que “Deus é justo e se vinga dos maus”. Mas se pudéssemos fazer a mesma pergunta a São Francisco de Assis, certamente a resposta seria: “Deus é amor”. E como disse o Apóstolo Paulo, “o amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, NÃO RESSENTE DO MAL... (1 Coríntios, 13:4,5).
Acreditar em um Deus que castiga nos conduz sempre a um terrível sentimento de culpa. E, naturalmente, todo culpado nada mais espera além do castigo e da punição. Por isso, é importante que abandonemos a condição perniciosa de “culpados”, prontos para sermos “castigados”, assumindo a nova posição de seres “responsáveis”, abertos à reeducação e à harmonia interior.
Definitivamente precisamos registrar em nossa realidade profunda que “não somos culpados”, somos responsáveis! Tal mudança pode parecer uma simples alteração de palavras, mas é algo que vai muito além da forma verbal.
O sentimento de culpa nos impede de sermos felizes, mesmo quando todos os elementos que estruturam nossa vida familiar, profissional e social se apresentam em perfeita harmonia. Quem carrega, mesmo inconscientemente, qualquer sentimento de culpa não se permite usufruir das bençãos que a vida lhe oferece diariamente, como estímulos para o crescimento permanente. Acredita-se eternamente indigno da felicidade que o visita, tornando-se, assim, o pior e mais poderoso inimigo de si mesmo.
Quando somos infelizes porque os outros não nos amam, o problema pode ser superado com relativa facilidade, mas quando nós mesmos não nos amamos, a situação se torna bem mais difícil. É como um paciente que não deseja ser curado da própria doença, porque não se acredita merecedor. E aí a cura – que é sempre de dentro para fora – jamais se processará, mesmo que o “mundo de fora” conspire a favor.
Já quem se compreende como ser responsável por aquilo que constrói em si mesmo e no universo externo, abre-se às novas possibilidades de acerto, mesmo após os insucessos. Não se autopune, autoeduca-se, perdoando a si mesmo. E, quando a vida lhe oferta as doces alegrias de viver e conviver, recebe-as sem constrangimento e inquietação, mesmo sabendo que ainda tem muito o que aperfeiçoar em sua realidade íntima.
A ideia de castigo está sempre vinculada ao sentimento de culpa. Já a proposta da educação não reconhece culpados, mas admite que todos somos aprendizes na Escola Terra, sujeitos a equívocos, erros e quedas, episódios naturais em qualquer processo de aprendizagem.
Por isso, Deus-Educador-Pai/Mãe jamais pune, mas permite ao homem-aprendiz-filho/filha receber o retorno de suas próprias ações e atitudes, desenvolvendo a verdadeira responsabilidade perante si mesmo e perante todo o universo que o circunda.
Muitas vezes somos vítimas de nós mesmos. Desenvolvemos uma postura perfeccionista, porém frágil, diante da vida, que pode se tornar uma porta aberta a profundas frustrações. Somos seres, sim, perfectíveis, mas não podemos nos perturbar diante dos erros e insucessos. Nesse Universo de aperfeiçoamento, devemos sempre evitar os extremos: o comodismo e o perfeccionismo irrefletido.
O comodismo nos amarra às próprias imperfeições. É uma espécie de preguiça psicológica ou espiritual. O comodista é aquele que acredita que “tudo está perdido”, “nada tem jeito”, “o mundo vai de mal a pior”. É uma forma terrível de justificar nossa preguiça mental e atitudinal perante a vida.
Diante dos desafios naturais da vida, optemos pela observação consciente e pela ação edificante, despertando nossas potencialidades internas positivas como o raciocínio, a inteligência emocional fundamentada no autoconhecimento, a habilidade da comunicação, o senso ético-moral, a intuição, a sensibilidade, a capacidade de nos relacionarmos afetiva e respeitosamente com o outro e suas diferenças (alteridade), enfim, o aperfeiçoamento de todas as nossas múltiplas inteligências.
O autoaperfeiçoamento é um processo e não uma conquista imediata. Compreender isso é muito importante para não nos acomodarmos perante os desafios, nem nos frustrarmos ou nos sentirmos culpados ante os erros e fracassos.
Dessa forma, vamos tecendo a imensa teia de nossa construção íntima, ao longo de cada reencarnação, refazendo percursos, revitalizando ideiasm, recomeçando sempre, compreendendo que Deus kjamais castiga, mas oportuniza a todos o caminho da autoeducação, pelas vias do amor ou da dor, a depender da escolha de cada um de nós.
Extraído do livro: Qualidade de Vida e Autoconhecimento, Rossano Sobrinho Formatação: The Spiritist Psychological Society www.spiritistps.org