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Sen to Chihiro no kamikakushi. Um sonho do autor ou do personagem? Klaus Bruno Tiedemann. A identidade de Chihiro. Miyazaki apresenta Chihiro como uma menina comum de 10 anos de idade. A identidade de Chihiro. Na revista original são dados alguns detalhes a mais:
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Sen to Chihiro no kamikakushi Um sonho do autor ou do personagem? Klaus Bruno Tiedemann
A identidade de Chihiro • Miyazaki apresenta Chihiro como uma menina comum de 10 anos de idade.
A identidade de Chihiro • Na revista original são dados alguns detalhes a mais: • Chihiro é uma menina de 10 anos, absolutamente normal, que está de mudança para uma outra cidade com seus pais. Ela está triste e com medo, pois ela está sendo separada de suas amigas e de sua antiga casa.
Mudança de casa • Chihiro está contrariada com a mudança: tem medo da escola nova, não tem amigos, não sabe o que encontrar, mudança dá trabalho. • Ela quer chegar logo para se ambientar na casa nova. • Sente raiva dos pais, o que é absolutamente normal numa situação destas • Os pais permitem que fique deitada no carro.
Mudança de casa • A história Hamtaro de Ritsuko Kawai também é de uma família, pai, mãe e uma filha de 10 anos, Laura, e estão de mudança. • Tudo é perfeito, a ponto de ser inverossímil • A casa, o caminhão de mudanças, Laura ajudando e feliz. • O capítulo da mudança chama “Novos amigos, nova sorte!”
Hamtaro: perfeito demais • Depois de arrumarem tudo, o pai está cansado. Mãe e filha trazem chá. • O pai, no dia da mudança ainda tem tempo de sair com Laura. • No primeiro dia já faz amizade com outra menina (Kana) que estuda na mesma escola. • A vida não é tão cor de rosa!
No dia da mudança • Chihiro está com muita raiva dos pais, quer chegar logo na casa nova, se ambientar. • O pai, autoconfiante, aproveita o desvio no caminho para conhecer os arredores da casa nova. (Em Hamtaro o pai utiliza o tempo para sair com a filha). • Encontra uma construção estranha, se interessa pois é arquiteto. • Chihiro não tem vontade de ver nada, e tem medo pois tudo é desconhecido. • A raiva contra os pais aumenta nesta situação
Seguindo os pais • O pai, arquiteto, identifica que se trata de um parque temático abandonado e explica à família, que nos anos 90 muitos deles faliram com a “bubble economy” • É tudo plausível e real. • A realidade para Chihiro seria agora fugir de lá, bater nos pais, expressar sua raiva… • Ela fica para trás, por causa de seu medo e de seu desinteresse.
Começa a história • O que acontece agora com Chihiro? • Ela entra num mundo fantástico, mágico, mas real? • Ou ela cai num devaneio típico para a idade pré-adolescente, no qual ela se vinga dos pais punindo-os, pune-se a si própria por causa dos sentimentos de raiva e sai como heroina? • As duas opções são fundamentalmente diferentes para o personagem.
As duas opções • Vivendo uma aventura real, Chihiro vai ter que lidar com seus medos, terá que mostrar coragem, tomar decisões, e no final poderá ter se transformado numa nova pessoa, com a mesma autoconfiança do pai e da mãe. • Se for um devaneio, Chihiro apenas vai resolver seu medo instantâneo, lidar com a raiva que sente no momento, vai suportar a situação, mas continuará a mesma.
A história de Chihiro • Na contracapa do livro, por autor não especificado, o enredo é descrito da seguinte forma: • ... sua procura pelo caminho de volta para seu mundo, se torna uma aventura fabulosa e perigosa, durante a qual a menina amedrontada se transforma numa jovem personalidade autoconfiante... • A mesma interpretação foi usada na descrição do filme • Será que isto realmente ocorre?
Medo • Página do primeiro livro, onde Chihiro e seus pais entram pelo túnel • Chihiro se agarra à mãe, que reclama: • Não se agarre tanto a mim, Chihiro. Eu quase não consigo caminhar • No último quadro, o medo e a contrariedade estão escritos na face de Chihiro
Medo • No último livro, na página onde Chihiro e seus pais saem pelo túnel, a cena é idêntica • A mesma face amedrontada • Chihiro se agarra à mãe, que reclama com as mesmas palavras • Chihiro realmente se tornou autoconfiante? Perdeu seu medo? • Não! Chihirosai exatamente como entrou!
Devaneio • Enquanto os pais exploram o parque temático abandonado, Chihiro fica para trás e entra num devaneio típico da idade • Pune aqueles que a incomodam • Pune a si próprio pelos sentimentos de raiva • Salva a todos e se torna heroina • Ela sofre para que todos tenham piedade dela • Ela se torna heroína para que todos a respeitem
Devaneio • O texto de Miyazaki traz todos estes elementos, tornando provável tratar-se de devaneio • Mas existem outros elementos que sugerem o devaneio • Mudanças bruscas na história • Coincidências não explicadas • A magia • O papel duplo de alguns personagens (como de Yubaba que reaparece com outro papel no personagem de Zeniba)
O amor por Haku • Uma menina de 10 anos (hoje em dia) mostra seus primeiros sinais de amor por um homem • Haku (12 anos, amigo de infância) ajuda no início • Depois é só Chihiro que ajuda Haku (remédio, pedir perdão a Zeniba, reencontrar o nome) • Até Haku é mau: rouba o amuleto de Zeniba • Mas Chihiro não sabe o que fazer com o amor por Haku: ela é muito jovem para dar ou receber carinho
Elementos de realidade • Num devaneio sempre há elementos da realidade do pré-adolecente • O avô Kamaji, que como todo avô é compreensivo com a neta • A amiga Lin (14 anos), amiga, confidente se torna sua chefe no devaneio • No final, os gritos de incentivo, como num programa de televisão (uma menina de 10 anos no Japão com certeza vê televisão) • A preocupação com a poluição dos rios (hoje em dia um tema de escola em qualquer lugar no mundo para crianças por volta de 10 anos de idade)
Fim do devaneio • No final o carro sujo, o pai admite que pode ser “uma brincadeira de mal gosto” – uma boa desculpa para um pai autoconfiante que esqueceu o carro aberto numa floresta num dia de muito vento
A razão do devaneio • O devaneio ajuda a suportar a situação, o momento • Mas impede a ação (o que faz sentido numa menina de 10 anos que ainda não se pode rebelar contra os pais – mas num adulto espera-se a ação e não a fuga através de um devaneio • Sigmund Freud em sua obra clássica “A interpretação do Sonhos”, enfatiza muito a função do devaneio na criança como uma maneira de lidar com a realidade. A mesma estratégia é classificada como “neurótica” no adulto
O devaneio no pré-adolescente • Arminda Aberasturi descrevendo o adolescente, enfatiza os constantes devaneios para os quais o adolescente “foge”, uma vez que ainda é impotente em lidar de forma madura com a realidade. • Armando Ferrari num capítulo específico sobre sonhos e devaneios em crianças, mostra o jogo entre sofrer (ser injustiçado) e se sair como herói (salvar o mundo).
Outros devaneios • Um devaneio semelhante ao descrito por Miyazaki em Chihiro, encontra-se também no personagem de Harry Potter • A história de Harry Potter é uma constante autopunição para que todos tenham compaixão • Se segue de atos de heroísmo onde ele salva a todos • Também estão os outros elementos do devaneio: elementos de realidade, situações de coincidência, seqüência fantástica.
Literatura e devaneio • Os autores, ao descreverem como realidade o devaneio de seus personagens, se mantêm no mundo real, mas produzem histórias cheias de ação que fascinam os leitores. • O leitor, ao identificar-se com o personagem (e seu devaneio) sofre a mesma catarse e consegue lidar internamente com um mundo que não consegue resolver na realidade. • Esta identificação com o personagem e o devaneio, e sua conseqüência para o leitor, deve ser um dos grandes motivos de sucesso de “Chihiro” e “Harry Potter”.