410 likes | 618 Views
O IMAGINÁRIO SATÍRICO (1). T R O V A D O R I S M O. GUILLAUME IX (1071-1127), O TROVADOR. Palavra. Música. Emoção. Trovadorismo galego-português. (séculos XII, XIII e XIV). Cancioneiros: • da Ajuda • da Vaticana • da Biblioteca Nacional. Dom Dinis (1261-1325).
E N D
Palavra Música Emoção
Trovadorismo galego-português (séculos XII, XIII e XIV) Cancioneiros: • da Ajuda • da Vaticana • da Biblioteca Nacional Dom Dinis (1261-1325)
Cantigas de Escárnio Sátira indireta (encoberta) Humor e ironia Ambiguidade Subentendidos
Vej' eu as gentes andar revolvendo e mudando aginha os corações do que põen antre si as nações; e já m'eu aquesto vou aprendendo e ora cedo mais aprenderei: a quen poser preito, mentir-lho-ei, e assi irei melhor guarecendo. Ca vej' eu ir melhor ao mentireiro c'ao que diz verdade ao seu amigo; e por aquesto o jur' e o digo que já mais nunca seja verdadeiro; mais mentirei e firmarei log'al: a quen quer'oje ben, querrei-lhe mal, e assi guarrei come cavaleiro. Pois que meu prez nen mia onra non crece, por que me quígi teer à verdade, vede-lo que farei, par car(i)dade, pois que vej' o que m' assi acaece: mentirei ao amigo e ao senhor, e poiará meu prez e meu valor con mentira, pois con verdade dece. Pero Mafaldo
Ũa dona, non digu' eu qual, non agùirou ogano mal polas oitavas de Natal: ia por sa missa oir, e (ouv') un corvo carnaçal, e non quis da casa sair. A dona, mui de coraçon, oira sa missa, enton, e foi por oir o sarmon, e vedes que lho foi partir: ouve sig' un corv' acaron, e non quis da casa sair. A dona disse:—Que será? E i o clérigu' está já revestid' e maldizer-m'-á, se me na igreja non vir. E diss' o corvo: quá, (a)cá, e non quis da casa sair. Nunca taes agoiros vi, dês aquel dia que naci; com' aquest' ano ouv' aqui; e ela quis provar de s'ir, e ouv' un corvo sobre si, e non quis da casa sair. João Airas de Santiago
Cantigas de Maldizer Sátira direta (aberta) Humor e ironia Temática escabrosa Linguagem obscena
Luzia Sánchez, jazedes en gran falha comigo, que non fodo mais nemigalha dua vez; e, pois fodo, se Deus mi valha, fiqu'end'afrontado ben por tecer dia. Par Deus, Luzia Sánchez, Dona Luzia, se eu foder-vos podesse, foder-vos-ia. [...] D. João Soares Coelho
H U M A N I S M O Transição da Idade Média ao Renascimento Crise do Feudalismo Crise da Igreja católica Crise da Escolástica Início do Absolutismo Prosperidade da burguesia Início do Mercantilismo
H U M A N I S M O Revalorização da Antiguidade greco-latina Estudos de grego e de latim • Valorização da natureza • Valorização do homem • Consciência crítica • Consciência histórica
Grandes Humanistas Dante Alighieri (1265-1321)
Grandes Humanistas Francesco Petrarca (1304-1374)
Grandes Humanistas Erasmo de Roterdam (1467-1536)
Grandes Humanistas Thomas More (1478-1535)
Grandes Humanistas Nicolau Maquiavel (1469-1527)
Grandes Humanistas Gil Vicente (1465?-1537?)
AUTO DA BARCA DO INFERNO (1517)
O Inferno, c. 1520. Anônimo. Museu Nacional de Arte Antiga. Lisboa
Cena 1: Diabo e Companheiro Cena 2: Fidalgo
Cena 3: Onzeneiro Cena 4: Joane, o parvo Cena 5: Sapateiro
Cena 6: Frade Cena 7: Brísida Vaz, a alcoviteira Cena 8: Judeu
Cena 9: Corregedor Cena 10: Procurador Cena 11: Enforcado
GÊNERO: Auto de moralidade Sátira alegórica Mescla de elementos sacros e profanos CENÁRIO: unidade de espaço Cais da vida eterna Duas embarcações ancoradas TEMPO: unidade de tempo Intervalo entre marés PERSONAGENS Alegóricas (personificação de idéias) Típicas (representação de tipos sociais)
ESTRUTURA GÓTICA 12 cenas justapostas Não há unidade de ação TEMÁTICA: a morte e o juízo final LÍNGUA E LINGUAGEM • Português quinhentista • Castelhano • Saiguês • Latim macarrônico • Variantes linguísticas adequadas aos tipos sociais • Teatro poético: • Versos redondilhos maiores • Estrofes rimadas • Ritmo fluente
FIDALGO — Porém, a que terra passais? DIABO — Pera o inferno, senhor. FIDALGO — Terra é bem sem sabor. DIABO — Quê! E também cá zombais? FIDALGO — E passageiros achais pera tal habitação? DIABO — Vejo-vos eu em feição pera ir ao nosso cais. FIDALGO — Parece-te a ti assi. DIABO — Em que esperas ter guarida? FIDALGO — Que leixo na outra vida quem reze sempre por mi. DIABO — Quem reze sempre por ti? Hi hi hi hi hi hi hi! E tu viveste a teu prazer, cuidando cá guarecer, porque rezam lá por ti?
Embarca, ou embarcai, que haveis d’ ir à derradeira. Mandai meter a cadeira, que assi passou vosso pai. FIDALGO — Quê, quê, quê! E assi lhe vai? DIABO — Vai ou vem, embarcai prestes: segundo lá escolhestes, assi cá vos contentai. Pois que a morte já passastes, haveis de passar o rio. FIDALGO — Não há aqui outro navio? DIABO — Não, senhor, que este fretastes, e já quando expirastes, me tínheis dado sinal. FIDALGO — Que sinal foi esse tal? DIABO — Do que vós vos contentastes.
FIDALGO — A est’ outra barca me vou. Ó da barca! Pera onde is? Ah, barqueiros, não m’ ouvis? Respondei-me! Oulá, ou! Pardeus, aviado estou: quant’ a isto é já pior. Que gericocins, salvanor! Cuidam cá que sou eu grou! ANJO — Que mandais? FIDALGO — Que me digais, pois parti tão sem aviso, se a barca do Paraíso é esta em que navegais. ANJO — Esta é; que demandais? FIDALGO — Que me leixeis embarcar: sou fidalgo de solar, é bem que me recolhais.
ANJO — Não se embarca tirania neste batel divinal. FIDALGO — Não sei porque haveis por mal que entre minha senhoria. ANJO — Pera vossa fantesia mui estreita é esta barca. FIDALGO — Pera senhor de tal marca não há aqui mais cortesia? Venha prancha e atavio: levai-me desta ribeira. ANJO — Não vindes vós de maneira pera ir neste navio. Ess’ outro vai mais vazio, a cadeira entrará, e o rabo caberá, e todo vosso senhorio.
Vós ireis mais espaçoso, com fumosa senhoria, cuidando na tirania, do pobre povo queixoso e porque de generoso desprezastes os pequenos achar-vos-eis tanto menos quanto mais fostes fumoso.
AUTO DE INÊS PEREIRA (1523)
FARSA DE INÊS PEREIRA (1523) “Mais quero asno que me leve que cavalo que me derrube” TEMPO Em torno de 1523 Cena 1 a 18: entardecer de um dia qualquer Cena 19: salto temporal. Após o casamento, o Escudeiro parte para a guerra Cena 22: salto de três meses. Inês fica viúva do Escudeiro e aceita Pero Marques ESPAÇO Cidade de Tomar, ao norte do Ribatejo Casa de Inês Pereira (do lado de fora e na sala) Caminho para a ermida do Ermitão, em que se atravessa um rio
FARSA DE INÊS PEREIRA (1523) “Mais quero asno que me leve que cavalo que me derrube” PERSONAGENS TÍPICAS (representam os grupos sociais a que pertencem) Inês Pereira (jovem pequeno-burguesa) Mãe (de Inês) Lianor Vaz (casamenteira) Pero Marques (2º marido: o “asno”) Latão e Vidal (judeus casamenteiros) Escudeiro Brás da Mata (1º marido: o “cavalo”) Moço (Fernando, criado do Escudeiro) Ermitão (falso monge) Vizinhos GÊNERO: Farsa (peça humorística) LÍNGUA Português quinhentista coloquial e popular (exceto as falas do Ermitão) Castelhano (falas do Ermitão) TEMÁTICA O casamento por interesse A dissolução moral da sociedade: “os fins justificam os meios” AÇÃO: um ato com 30 cenas enredadas (começo, meio e fim) LINGUAGEM Teatro poético: Versos redondilhos maiores Estrofes rimadas Ritmo fluente Falas moduladas conforme os padrões linguisticos sociais Realismo Espírito crítico
[Pero Marques chega à casa de Inês e diz:] Pero: Folguei ora de vir cá. Eu vos escrevi de lá Uma cartinha, senhora Mãe: Tomais aquela cadeira. Pero: E que vai aqui uma destas? Inês: Ó Jesu! Que João das bestas! Olhai aquela canseira! [Assentou-se com as costas para elas e diz:] Pero: Eu cuido que não estou bem... Mãe: Como vos chamais, amigo? Pero: Eu Pero Marques me digo, Como meu pai que Deus tem: Faleceu – perdoe-lhe Deus! – Que fora bem escusado, E ficamos dois eréus, Porém meu é o morgado.
Mãe: De morgado é vosso estado! Isso viria dos céus! Pero: Mais gado tenho eu já quanto, E o maior de todo o gado, Digo maior algum tanto. E desejo ser casado, Prouvesse ao Espírito Santo, Com Inês; que eu me espanto Quem me fez seu namorado. Parece moça de bem, E eu de bem er também, Ora vós er ide vendo Se lhe vem melhor ninguém, E segundo o que entendo. Cuido que lhe trago aqui Pêras de minha pereira – hão de estar na derradeira – Tende ora, Inês, per i.
Inês: Hei isso de ter na mão? Pero: Deitai as peias no chão. Inês: As perlas para enfiar Três chocalhos e um novelo, E as peias do capelo: E as pêras onde estão? Pero: Nunca tal me aconteceu: Algum rapaz mas comeu; Que as meti no capelo, E ficou aqui o novelo, E o pente não se perdeu: Pois trazia-as de boa mente. Inês: Fresco vinha aí o presente Com folhinhas borrifadas!
Pero: Não, que elas vinham chantadas Cá em fundo, no mais quente. Vossa mãe foi-se? Ora bem! Só nos deixou ela assi? Cant’eu quero me ir daqui, Não diga algum demo alguém... Inês: Vós que me havíeis de fazer Nem ninguém que há de dizer? Oh galante despejado! Pero: Se eu fora já casado, Doutra arte havia de ser, Como homem de bom recado. Inês: Quão desviado este está! Todos andam por caçar Suas damas sem casar, E este, tomade-o lá!
Pero: Vossa mãe é lá no muro? Inês: Minha mãe, a vós seguro, Que ela venha cá dormir. Pero: Pois, senhora, que quero-me ir Antes que venha o escuro. Inês: E não cureis mais de vir. Pero: Virá cá Lianor Vaz. Veremos que lhe dizeis. Inês: Homem, não aporfieis, Que não quero nem me praz; Ide casar a Cascais! Pero: Não voz anojarei mais, Ainda que saiba estalar; E prometo não casar Até que vós não queirais.