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Poesia De Cesário Verde

Poesia De Cesário Verde. A Débil. “A Débil”.

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Poesia De Cesário Verde

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Presentation Transcript


  1. Poesia De Cesário Verde A Débil

  2. “A Débil” Eu, que sou feio, sólido, leal, A ti, que és bela, frágil, assustada, Quero estimar-te sempre, recatada Numa existência honesta, de cristal. Sentado à mesa dum café devasso, Ao avistar-te, há pouco, fraca e loura, Nesta Babel tão velha e corruptora, Tive tenções de oferecer-te o braço. E, quando socorreste um miserável, Eu, que bebia cálices de absinto, Mandei ir a garrafa, porque sinto Que me tornas prestante, bom, saudável.  Ia passando, a quatro, o patriarca. Triste eu saí. Doía-me a cabeça. Uma turba ruidosa, negra, espessa, Voltava das exéquias dum monarca.  "Mas se a atropela o povo turbulento! Se fosse, por acaso, ali pisada!" De repente, paraste embaraçada Ao pé dum numeroso ajuntamento.  Adorável! Tu, muito natural, Seguias a pensar no teu bordado; Avultava, num largo arborizado, Uma estátua de rei num pedestal. E eu, que urdia estes fáceis esbocetos, Julguei ver, com a vista de poeta, Uma pombinha tímida e quieta Num bando ameaçador de corvos pretos. E foi, então, que eu, homem varonil, Quis dedicar-te a minha pobre vida, A ti, que és tênue, dócil, recolhida, Eu, que sou hábil, prático, viril.  Sorriam, nos seus trens, os titulares; E ao claro sol, guardava-te, no entanto, A tua boa mãe, que te ama tanto, Que não te morrerá sem te casares!  "Ela aí vem!" disse eu para os demais; E pus-me a olhar, vexado e suspirando, O teu corpo que pulsa, alegre e brando, Na frescura dos linhos matinais.  Soberbo dia! Impunha-me respeito A limpidez do teu semblante grego; E uma família, um ninho de sossego, Desejava beijar sobre o teu peito.  Via-te pela porta envidraçada; E invejava, — talvez que não o suspeites! - Esse vestido simples, sem enfeites, Nessa cintura tenra, imaculada.  Com elegância e sem ostentação, Atravessavas branca, esbelta e fina, Uma chusma de padres de batina, E de altos funcionários da nação. 

  3. Cesário Verde

  4. Quem é Cesário Verde? José Joaquim Cesário Verde (Lisboa, 25 de Fevereiro de 1855 — Lumiar, 19 de Julho de 1886) foi um poeta português, sendo considerado um dos precursores da poesia que seria feita em Portugal no século XX. Filho do lavrador e comerciante José Anastácio Verde e de Maria da Piedade dos Santos Verde, Cesário matriculou-se no Curso Superior de Letras em 1873, mas apenas o frequentou alguns meses. Ali conheceu Silva Pinto, que ficou seu amigo para o resto da vida. Dividia-se entre a produção de poesias (publicadas em jornais) e as atividades de comerciante herdadas do pai. Em 1877 começou a ter sintomas de tuberculose, doença que já lhe tirara o irmão e a irmã. Estas mortes inspiraram contudo um de seus principais poemas, Nós (1884). Tenta curar-se da tuberculose, mas sem sucesso, vem a falecer no dia 19 de Julho de 1886. No ano seguinte Silva Pinto organiza O Livro de Cesário Verde, compilação da sua poesia publicada em 1901. No seu estilo delicado, Cesário empregou técnicas impressionistas, com extrema sensibilidade ao retratar a Cidade e o Campo, que são os seus cenários prediletos. Evitou o lirismo tradicional, expressando-se de uma forma mais natural. Deambulando pelos dois espaços, depara com dois tipos de mulher, que estão articulados com os locais.

  5. Quem é Cesário Verde? A cidade maldita surge associada à mulher fatal, frívola, calculista, madura, destrutiva, dominadora, sem sentimentos. Em contraste com esta mulher predadora, surge um tipo feminino, por exemplo em "A Débil", que é o oposto complementar das esplêndidas aristocráticas, presentes em poemas como "Deslumbramentos" e "Vaidosa". Essa mulher é frágil, terna, ingénua e despretensiosa. A mulher (desfavorecida) do campo é-nos mostrada numa perspetiva diferente. A vendedora em "Num Bairro Moderno", ou a engomadeira em "Contrariedades" mostram as características da mulher do povo no campo. Sempre feias, pobres e por vezes doentes, ou em esforço físico, as mulheres trabalhadoras são objeto da admiração de Cesário. "Depois de referir o cenário geral da ação em "Num Bairro Moderno", os olhos do sujeito poético retêm, como uma objetiva, um elemento novo - a vendedeira. A sua caracterização é de uma duplicidade contrastante: ela é pobre, anémica, feia, veste mal e tem de trabalhar para sobreviver, mas aparece envolvida numa força quase épica, de "peito erguido" e "pulsos nas ilhargas", encarnando, pela sua castidade, a força genuína do povo trabalhador, que Cesário tão bem defende."

  6. Tema e assunto do poema (análise formal): Tema: “A Débil” Neste poema, o amor é uma projeção num tempo condicional, um projeto para o futuro, o desejo de uma vida diferente radicado na observação presente da cidade corrupta. O narrador parece ter já sucumbido completamente à influência corruptora da cidade. Análise formal . • Expressividade da linguagemMétrica: • versos decassílabos; • Rima: emparelhada e interpolada (ABBA); • Ritmo: ternário; • Sonoridades: aliterações, ecos rimáticos, etc.; • Adjetivações: triplas e duplas • Tipos de frases: declarativas; • Antíteses: feio/bela; • Metáforas.

  7. Estrutura interna: • “A Débil” A visão da inocente «débil» faz com que reconheça a cedência moral à moderna «Babel» em que tinha caído. A mera presença dela recorda-lhe até que ponto se esquecera de si mesmo: Ela é como um mensageiro do «outro mundo» de valores opostos aos valores corruptos da cidade, uma passante . • “A Débil” A «débil» representa valores opostos aos da cidade, o que nos é confirmado pelas correspondências simétricas entre as associações que ela evoca e o contrastante conjunto de associações evocado pelo tipo de mulher citadina. Enquanto a típica mulher depredatória anda sozinha, a débil anda acompanhada pela mãe

  8. Caracterização de elementos significativos do poema: A caracterização desta mulher organiza-se em torno dos campos semânticos de:- Beleza;- Fragilidade;- Simplicidade;- Pureza /brancura;- Bondade;- Alegria/vida. Personagens:

  9. Caracterização de elementos significativos do poema: Momentos espaciais e temporais: Quando ela surge, está sentado num «café devasso», bebendo absinto, como qualquer decadentista bem integrado na vida da cidade Fada Verde. “A Débil” A mulher citadina evoca o frio e o artifício: a «lucidez das joias», a «majestade austera dos invernos», «gestos de neve e de metal», a «altivez magnética das cortes depravadas» A débil é associada com o calor, o sol, a alegria, a manhã: “O teu corpo que pulsa, alegre e brando, / Na frescura dos linhos matinais” . Elementos simbólicos: A Débil” Representa um tipo feminino que é o oposto complementar das esplêndidas, frígidas, fulgurantes e desdenhosas aristocratas emblemáticas do síndroma erótico de humilhação.

  10. Linguagem e estilo: Algumas das características estilísticas e linguísticas: vocabulário objetivo; imagens extremamente visuais de modo a dar uma dimensão realista do mundo, por isso chamam-lhe poeta-pintor-calceteiro-condutor de metro; pormenor descritivo; mistura o físico e o moral; combina sensações; usa sinestesias, metáforas, comparações, hipálage; emprega dois ou mais adjetivos a qualificar o mesmo substantivo. Utiliza também quadras em versos decassilábicos. Quanto á Débil, o poeta usa: • Fealdade; • Força; • Corrupção; • Tristeza/doença; Além disso, outros elementos individualizadores surgem na sua autocaracterizarão,como a lealdade e a condição de poeta.

  11. Síntese conclusiva da análise do poema: Análise do Poema “A débil” de Cesário Verde Este poema, redigido em 1875, aborda um dos elementos mais recorrentes nas obras da curta carreira de Cesário, a figura feminina. Porém, neste poema em particular, a figura feminina retratada contrasta com a típica mulher provocante e deslumbrante que Cesário tão comummente enquadra nas suas descrições citadinas. Assim, pegando na dicotomia campo/cidade presente nas obras do autor, encontramos em “A débil” uma mulher que sobressai no meio citadino não pela sua excentricidade mas sim pela sua pureza e simplicidade, sendo então um ser vulnerável à “Babel velha e corruptora” citando Cesário.  O sujeito poético admira então a mulher referida e faz da sua presença um fator de alegria que enche o seu coração de amor, relegando para segundo plano o sombrio e degradante quotidiano. Contudo, o sujeito poético considera-se pouco merecedor e digno de tão elegante e humilde figura (“Eu que sou feio, sólido, leal”), reconhecendo um estilo de vida corrompido pelos cafés devassos onde perpetua as suas mágoas nos cálices de absinto.

  12. Síntese conclusiva da análise do poema: Deseja então mudar, mudar de atitude e de vida inspirado naquela figura que lhe torna os dias menos obscuros e lhe recorda a perfeição helénica, disposto a ser “hábil, prático, viril” para a proteger da mediocridade do meio urbano que ameaça consumi-la. Essa ameaça toma forma sobretudo nos elementos da sociedade cujos hábitos e comportamentos se desviam da simplicidade e das boas maneiras. Tomam-se por exemplo os padres, retratados pelo sujeito poético como um “bando ameaçador de corvos pretos”, os “titulares”, homens de riqueza e nobreza marcados pela arrogância e exibicionismo, e o povo comum que apesar de humilde é desajeitado e não se comporta em sociedade da maneira que o sujeito poético idealiza correta. A fragilidade e o medo que o sujeito poético possui de ver a pureza daquela mulher contaminada são bastante evidentes no evento socia descrito neste poema, um enterro. Aí, as ameaças sociais previa mente referidas amontoam-se e tornam o espaço onde se processa a ação numa envolvência constrangedora e embaraçosa para ela, reforçando-se então o desejo de mudança do sujeito poético para que tenha coragem de lhe declarar o seu amor e protegê-la da urbe e seus vícios.

  13. Trabalho realizado por: • Bárbara Carvalho; • Filipa Vanessa; • Joana Alonso; • Márcia Lopes; • Luís Magalhães.

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