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MINISTÉRIO DA SAÚDE FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca. Exposições a substâncias químicas e câncer de cérebro em adultos. Gina Torres Rego Monteiro. Introdução.
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MINISTÉRIO DA SAÚDE FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca Exposições a substâncias químicas e câncer de cérebro em adultos Gina Torres Rego Monteiro
Introdução • Incidência e mortalidade por câncer de cérebro têm aumentado nos países desenvolvidos • em países da Europa as taxas de incidência e mortalidade cresceram entre 1950 e 1990, principalmente nos grupos mais idosos (Inskip et al., 1995) • No Brasil, a mortalidade aumentou 50% entre 1980 e 1998 (Monteiro & Koifman, 2003): • de 2,24 para 3,35 óbitos por cem mil habitantes (ajustadas pela população mundial) • aumento foi maior em: idosos = 6% ao ano (174% no período) e em mulheres (56%)
Coeficiente de incidência ajustado por idade pela população mundial, segundo estimativa da IARC, para o ano 2000: • 5,85/100.000 homens 4,06/100.000 mulheres Países mais desenvolvidos Países menos desenvolvidos • 2,83/100.000 homens 2,03/100.000 mulheres • 6,00/100.000 homens 4,64/100.000 mulheres Brasil
Dados do Brasil – RCBP Taxas de incidência de tumores SNC, ajustadas pela população mundial, por cem mil habitantes
Possíveis explicações • Aumento real: • exposição a novo carcinógeno • diminuição da exposição a um fator de proteção • reação tardia à exposição crescente em tenra idade a carcinógeno com latência prolongada • Artificial: • melhoria dos meios diagnósticos: TCC, RM, histologia mais precisa • mudança na CID • mudança de atitude no cuidado à saúde dos idosos
Mais provável: • Que o aumento seja em parte real e em parte artificial • efeito combinado da disponibilidade de • meios diagnósticos mais sofisticados e não invasivos e • mudança de atitude para com os idosos • e da exposição mais intensa a um conjunto de fatores ambientais que interagem entre si, implicados no processo de iniciação e na promoção dos tumores cerebrais • mesmo porque, a tendência ao aumento da incidência já era observada antes da maior disponibilidade desses meios diagnósticos
Fatores de risco apontados na literatura • Agregação familiar e fatores genéticos: • história familiar de câncer e síndromes hereditárias • Fatores hormonais e reprodutivos • Exposições ambientais: • pessoais: radiação ionizante e eletromagnética, dieta (compostos N-nitrosos), traumatismo craniano, epilepsia, viroses e outras infecções, exposição domiciliar a pesticidas e inseticidas, contato com animais e agrotóxicos, cosméticos para cabelos (tintura, henê) • ocupacionais: campos eletromagnéticos, agroquímicos, produção de borracha, derivados do petróleo, produção de vidros, solda, pintura, indústria de cosméticos, indústria de alimentos, bebidas e tabaco, profissionais de saúde
Na literatura: exposição ambiental a produtos químicos • exposição domiciliar a pesticidas e inseticidas • contato com animais e agrotóxicos • exposições ocupacionais: • produção de borracha • derivados do petróleo • produção de vidros • solda • pintura • indústria de cosméticos • indústria de alimentos, bebidas e tabaco • profissionais de saúde cosméticos para cabelos (tintura, henê)
Residência em Fazenda e Exposição a Animais - crianças * estatisticamente significativo
Exposição a Pesticidas ou Inseticidas - crianças * estatisticamente significativo
Trabalho em Agricultura - adultos * estatisticamente significativo
Trabalho em Agricultura – adultos (continuação) * estatisticamente significativo
Trabalhadores da Indústria de Borracha * estatisticamente significativo
Trabalhadores em Petroquímica * estatisticamente significativo
Soldadores e Trabalhadores de Eletrônica * estatisticamente significativo
Profissionais de Saúde * estatisticamente significativo
Tintura e Spray para Cabelos * estatisticamente significativo
Objetivos do estudo desenvolvido no Rio de Janeiro • Geral:Descrever o padrão da associação entre exposições selecionadas e o desenvolvimento de neoplasias intracranianas na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. • Objetivo específico: estimar a magnitude da associação entre a exposição a produtos químicos selecionados (solventes, derivados do petróleo, pesticidas de uso doméstico, cosméticos) e os tumores de cérebro em adultos
Variáveis analisadas • exposição a produtos químicos: • armazenagem domiciliar de tintas, solventes, inseticidas, etc. (F1) • hábito de dedetização da casa (G1) • exposição ocupacional a tintas, cosméticos, solventes (H2, H3) • contato com agrotóxicos (J1) • uso de tinturas de cabelo e demais cosméticos: início, freqüência, duração (T2, T4)
Metodologia • Estudo caso-controle de base hospitalar • casos incidentes de tumores primários intracranianos: • com idade ao diagnóstico entre 30 e 65 anos • residentes na Região Metropolitana do Rio de Janeiro • internados em hospitais selecionados • controles: • pareados por freqüência de sexo e idade (± 3 anos) • internados nos mesmos hospitais • portadores de nosologias selecionadas
Coleta dos dados: de abril de 1999 a dezembro de 2002 • tamanho amostral: • previsto: 225 casos e 225 controles • realizado: 240 casos e 268 controles • instrumento: entrevista estruturada utilizando protocolo de investigação desenvolvido pela IARC, adaptado à nossa realidade • análise estatística: univariada, bivariada e multivariada • razão de chances brutas e ajustadas e os respectivos intervalos de confiança, utilizando regressão logística não condicional
Variáveis estudadas • Dados sociodemográficos • características do local de residência • história ocupacional • história de exposição a poluentes ambientais no local de trabalho e à radiação ionizante • hábitos de vida em geral: uso de cosméticos, tabaco e álcool, além de práticas de lazer, contato com animais • história médica: uso de medicamentos selecionados, história familiar de câncer, antecedentes de traumatismo craniano
Exposição a pesticidas • Desinsetização • relatado em 10,4% da amostra, sendo de 7,9% nos casos (n = 19) e 12,7% nos controles (n = 34): OR = 0,60 [95% IC: 0,33 – 1,08] • Pesticidas de uso domiciliar • referido por 70,3% da amostra, sendo 163 casos (67,5%) e 192 controles (71,6%): OR = 0,86 [95% IC: 0,59 – 1,26] • 2 casos relataram ter guardado inseticida na residência, mas nenhum controle • todos negaram o armazenamento de agrotóxicos ou outros pesticidas dentro de casa
Exposição peridomiciliar • A derivados do petróleo • estimada por relato de residir em rua de tráfego intenso, próximo a posto de gasolina, a refinaria de petróleo, ou a qualquer uma dessas três variáveis, não revelou associação estatisticamente significativa aos tumores intracranianos • A indústrias • residência próxima a uma indústria foi mencionada por 18,7% da amostra analisada, sendo 49 casos e 46 controles (OR = 1,25 [95% IC: 0,80 – 1,96]) • foram relacionadas fábricas de diversos produtos, sendo mais citadas: • ramo farmacêutico (6 casos e 4 controles) e • têxtil (4 casos e 10 controles)
Distribuição de freqüências de produtos selecionados armazenados no domicílio, casos de neoplasias intracranianas e controles, Rio de Janeiro, 1999-2002 * OR ajustada por sexo e idade
Armazenamento domiciliar de produtos selecionados • a amostra analisada apresentou percentuais bastante reduzidos de contato com outros produtos químicos, sendo o uso estimado por armazenamento domiciliar: • tintas (4,3%), solventes (2,9%), tecidos (2,4%), pneus (1,8%), metais (1,4%), plásticos (1,2%) e baterias de automóveis (0,8%) • armazenamento de solventes (querosene, gasolina, outros) associação positiva e significativa : OR = 7,62 [95% IC: 1,70 – 34,11] • os outros produtos: razão de chances elevadas, sem significância estatística • Restringindo a análise aos gliomas: • aumento da associação com solventes (n = 7 casos e 2 controles; OR = 15,52 [95% IC: 3,14 – 76,57]) • e com tintas (n = 7 casos e 7 controles; OR = 4,42 [95% IC: 1,50 – 13,09]) que se tornou estatisticamente significante
Exposição a tinturas e alisantes de cabelos • relato de ter usado algum produto para pintar os cabelos: 47,8% da amostra • freqüência do uso desigual entre os sexos: • H: 26 casos (25,5%) e 20 controles (18,9%) • M: 109 casos (79,0%) e 140 controles (86,4%) • análise por produtos químicos presentes nas fórmulas: • associação positiva entre derivados de cobre (cloreto e sulfato cúpricos) e neoplasias intracranianas, estatisticamente significativa ao ser ajustada por idade (OR = 1,88 [95% IC: 1,01 – 3,51]) • erva hené e o peróxido de hidrogênio também apresentaram associação direta, embora sem significância estatística • cabe notar que os derivados de cobre estão presentes apenas em fórmulas de alisantes e henés, não nas tinturas de cabelo
Exposição a solventes • Associação positiva de maior magnitude: • OR = 7,35 (95% IC: 1,62 – 33,25)ajustada pela exposição à luminosidade noturna e à história familiar de câncer • a associação mostrou-se restrita aos gliomas: • OR bruta = 15,52 (95% IC: 3,14 – 76,57) • dificuldade nos estudos epidemiológicos: geralmente os indivíduos estiveram expostos a produtos com misturas de solventes, não sendo possível incriminar um agente específico
A literatura revela resultados controversos: • estudos em trabalhadores nos EUA, Suécia e China apresentaram riscos aproximadamente duas vezes maiores em expostos (Brownson et al., 1990; Heineman et al., 1994; Rodvall et al., 1996; Heineman et al., 1995) • metanálise com 55 estudos de coorte relativos à mortalidade de trabalhadores expostos a solventes orgânicos, não revelou excesso de risco para esses tumores (Chen & Seaton, 1996)
O benzeno é largamente utilizado como matéria-prima em indústrias químicas e como solvente, embora seja classificado como carcinogênico para seres humanos, estando associado a vários tipos de leucemias(IARC, 1990) • vários solventes freqüentemente utilizados contêm pequenas quantidades de benzeno como impureza, não sendo desprezível a exposição a este agente(Rêgo, 1998) • a exposição ocupacional é mais importante do que a associada a lazer (pintura de vidros, porcelana, etc) • mas esta pode ser elevada se executada em ambientes fechados com diferentes tintas e solventes(Rêgo, 1998)
Tinturas para cabelos • As tinturas para cabelos foram incluídas no estudo devido a: • presença de substâncias mutagênicas em sua composição • disseminação do hábito de pintar os cabelos em idade cada vez mais precoce • observação de aumento da mortalidade por tumores cerebrais no Brasil, notadamente no sexo feminino • embora não existam evidências suficientes de carcinogenicidade no uso pessoal das tinturas para cabelos, ela é considerada uma exposição de risco ocupacional para cabeleireiros e barbeiros (IARC, 1993; Holly et al., 2002)
preocupação com o potencial carcinogênico das tinturas para cabelos remonta à década de 70 quando o produto 2,4-diamino-tolueno foi retirado de sua fórmula por ser carcinógeno para ratos (Ames et al., 1975; Bracher et al., 1990) • a exposição atual difere da passada, pois muitas substâncias consideradas mutagênicas ou carcinogênicas foram tiradas de uso nos Estados Unidos e Europa • mas algumas tinturas disponíveis no comércio ainda contem diversos compostos potencialmente carcinogênicos, como os compostos N-nitrosos (especialmente aminas aromáticas), as soluções com base de amônia, o peróxido de hidrogênio e o acetato de chumbo (Lamba e colaboradores, 2001; Holly et al., 2002)
47,8% dos participantes utilizaram algum tipo de tintura de cabelo • homens: 25,5% dos casos e 18,9% dos controles • mulheres: 79,0% dos casos e 86,4% dos controles • A análise dos produtos presentes nas fórmulas das tinturas e alisantes revelou: • associação positiva entre produtos que continham erva hené (OR = 1,55) e derivados de cobre (OR = 1,79) • a última, estatisticamente significativa ao ser ajustada por idade (OR = 1,88 [95% IC: 1,01 – 3,51]) • essas associações foram mais fortes para meningiomas: • erva hené (OR = 2,51 [95% IC: 1,14 – 5,51]) e • derivados de cobre (OR = 3,14 [95% IC: 1,49 – 6,61])
Análise multivariada • O modelo acima foi o que melhor demonstrou o efeito da exposição a fatores ambientais selecionados no desenvolvimento de tumores intracranianos • o antecedente de traumatismos cranianos apresentou uma associação positiva, com significância estatística limítrofe
Limites do estudo • O estudo apresenta algumas limitações: • tamanho da amostra: reduzido número para análises estratificadas (sexo, idade, histologia) • problemas potenciais na acurácia da resposta de pacientes com doença grave ou de seus familiares • potencial viés de memória (delineamento caso-controle) • não terem sido coletados dados primários das exposições • realização de comparações múltiplas • são similares às apontadas em outros estudos caso-controle de tumores cerebrais
Pontos fortes do estudo • Elevado percentual de participação (94,4%) • confirmação histopatológica de 80% dos casos • segunda leitura em 90% destas • utilização de instrumento validado e empregado em outros estudos, permitindo comparações • treinamento cuidadoso das entrevistadoras e revisão dos questionários
Conclusão • A análise da associação entre variáveis ambientais diversas e neoplasias intracranianas permitiu observar que os fatores mais fortemente associados às referidas neoplasias foram: • a exposição a solventes e a luminosidade noturna • a história familiar de câncer • os antecedentes de traumatismos cranianos • o tratamento com anticonvulsivantes e • o uso de produtos para cabelos que incluíam cobre em sua composição
Segundo tipo histológico, essas variáveis foram mais importante para: • Meningiomas: dormir com luz acesa e o uso de alisantes nos cabelos • Gliomas: exposição a solventes, uso de drogas anticonvulsivantes • Ambos: história familiar de câncer e os antecedentes de traumatismos cranianos • os resultados permitem sugerir novos estudos que avaliem com mais profundidade algumas das associações observadas