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DÉJÀ VU. Ju Armos. Não sei exatamente há quanto tempo ele existiu em minhas manhãs de sol nascente ou quantas vezes a lua escalou sua copa para me espiar pela sacada. Eu o chamava 'meu pinheiro alemão' com toda a displicência e impropriedade que só uma longa e amorosa convivência dá direito.
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DÉJÀ VU Ju Armos
Não sei exatamente há quanto tempo ele existiu em minhas manhãs de sol nascente ou quantas vezes a lua escalou sua copa para me espiar pela sacada. Eu o chamava 'meu pinheiro alemão' com toda a displicência e impropriedade que só uma longa e amorosa convivência dá direito.
À noitinha, via seus hóspedes chegando, um a um, e magicamente, cada um sabia o seu lugar. Se algum intruso se atrevesse, me chamavam à janela com estridente chilrear e os via se ‘acotovelando’... até que o intruso fosse expulso. Ou... se muito doce e persistente, alguém lhe dava um lugarzinho e era mais um a cantar e me encantar.
Ele dominava a paisagem. Desde sempre. Como se prá sempre. E me descuidei!Porque acostumada a vê-lo enfrentar com galhardia todos os minuanos gaúchos, borrascas, vendavais achei que a tudo resistiria.E estava longe, muito longe quando finalmente os ventos fortes o inclinaram e foi decretado o seu corte para segurança dos humanos.
Quando, soube, por telefone, silenciei e senti o coração se apequenar com uma dor compatível a perda de um amigo. E, pelo resto da viagem, o relembrei em todas as araucárias e ciprestes.O tempo passou...Hoje foi como se um clarão iluminasse a manhã nascente... percebi finalmente o que a falta dele me fez ver.
Ao lado dele existiu sempre uma pequena, delicada e gentil palmeira... que passava desapercebida porque o 'meu' pinheiro dominava a cena. Com o vazio criado, o sol, a chuva, os pássaros e o meu olhar para ela se voltaram. E ela cresceu e quase alcança a minha sacada como que me convidando a repensar tudo outra vez!!!
Quando alguém uma vez me disse que se afastar é dar chance para que as coisas se resolvam ou para que boas coisas aconteçam, nada retruquei. Mas pensei que talvez fosse uma forma de abandono deixar sós as coisas e pessoas que amamos.O 'meu' pinheiro, por não pensar, precisou cumprir seu ciclo, e a própria lei natural o obrigou a renunciar.
Nós, seres humanos, temos que aprender a reconhecer a hora de sair de cena para que nossos amores cresçam e brilhem.Em tempo, precisou de um atestado de óbito para descobrir que o 'meu' pinheiro tinha nome e sobrenome: pinus norfolk. Para sempre na minha memória, coração e lição de vida.
Créditos: Texto: Ju Armos Imagens: Internet Música: Zamphir – Back for god Formatação: Beth Norling E-mail: bethnorling@globo.com GRUPO SINTONIA ELEVADA Clique aqui para receber novas mensagens gratuitamente