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Evolução da hemodinâmica e desfecho do choque séptico refratário a flúido em crianças Evolution of Haemodynamics and outcome of fluid-refractory septic shock in children. Akash Deep, Chulananda D. A. Goonasekera, Yanzhong Wang, Joe Brierley Intensive Care Med (2013) 39:1602-1609
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Evolução da hemodinâmica e desfecho do choque séptico refratário a flúido em criançasEvolution of Haemodynamicsandoutcome of fluid-refractory septicshock in children Akash Deep, Chulananda D. A. Goonasekera, Yanzhong Wang, Joe Brierley Intensive Care Med (2013) 39:1602-1609 Artigo Apresentado na Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica do Hospital Regional da Asa Sul/ Hospital Materno Infantil de Brasília www.paulomargotto.com.br Brasília, 2 de novembro de 2013
Introdução • A recomendação do American College of Critical Care Medicine para o suporte hemodinâmico do choque séptico pediátrico e neonatal1,2: • Ressuscitação fluídica precoce e agressiva • Antibióticos • Drogas vasoativas • Sugere ainda que quando a baixa resistência vascular sistêmica contribuir para a manutenção do choque, terapia vasopressora deve ser instituída1 • Já a alta resistência vascular sistêmica deve ser tratada com vasodilatadores para facilitar o débito cardíaco
Introdução • Anormalidades hemodinâmicas persistentes são preditoras de mortalidade3. • Quanto mais tempo a criança fica em choque, maior é a mortalidade4.
Introdução O choque séptico é classificado em: • Frio: com baixo índice cardíaco e alta resistência vascular sistêmica (RVS) • Quente: com alto índice cardíaco e baixa RVS Infecção5,6 • Adquirido na comunidade • Adquirido no hospital Há relato (Ceneviva et al, 1998) de que estados de choque nos pacientes pediátricos pode durar maior tempo, improvável nos adultos
Então, a pergunta: "Será que o estado hemodinâmico no choque séptico refratário a fluidos (na apresentação) fica em um estado constante ao longo do curso ou ele muda com o tempo?"
Por que é importante? Implicaria na escolha/otimização das terapias cardiovasculares
Introdução • No choque, quando o oxigênio oferecido é insuficiente para atender à demanda metabólica, um aumento na extração de O2 pelos tecidos resultará em decréscimo do conteúdo de O2 do sangue venoso7. Por isso, a saturação venosa central é um marcador indireto do estado hemodinâmico e tem sido usada como marcador da resposta à ressuscitação, tanto em adultos8. como em crianças9. • Com a introdução de métodos minimamente invasivos, a monitorização do débito cardíaco foi simplificada. • Estudos demostraram que a otimização do débito cardíaco e da resistência vascular sistêmica associa-se com melhor resultados nos choques refratários a flúidos, tanto em crianças6como em adultos 10. • Embora aspectos hemodinâmicos sejam recomendados como parâmetros para a ressuscitação, a literatura é limitada no que diz respeito à sua quantificação e evolução durante a admissão da criança criticamente doente com choque séptico refratário a fluidos11.
Métodos • A evolução do índice cardíaco e da resistência vascular sistêmica das crianças com choque séptico refratário a fluidos na UTIP do King´s College Hospital, no período de 36 meses (janeiro de 2009 a dezembro de 2011) • Inclusão: crianças admitidas em choque séptico refratário a fluidos • Exclusão: readmissões, neonatos, transplantados hepáticos e pacientes que permaneceram em choque séptico por mais de 6h
Métodos • Choque refratário a fluidos: quando o total de fluidos requeridos durante a ressuscitação ultrapassou 60mL/kg12. • A severidade da doença foi determinada pelo uso do Paediatric Index of Mortality score (PIM 2)13.
Métodos • Divididos em 2 grupos: • Adquiridos na comunidade • Adquiridos no hospital
Métodos • Todas as crianças tiveram o débito cardíaco monitorado através de ultrassom (US) na admissão, antes e após intervenções terapêuticas e posteriormente a cada 4-6h. O índice cardíaco, a RVS e a saturação venosa central foram medidas. • O ultrassom: sensor transcutâneo localizado na região supraesternal direcionado para a valva aórtica • Monitoradas ainda: pressão arterial invasiva e pressão venosa central (jugular interna)
Nota: Mas o que é mesmo índice cardíaco? • Débito Cardíaco: Frequência Cardíaca x Volume Sistólico • Índice Cardíaco (IC): Débito Cardíaco / Massa Corpórea
Nota: E como se mede a RVS? • Resistência Vascular Sistêmica: (Pressão Arterial Media – Pressão Venosa Central) x 80 / Debito Cardíaco
Métodos Como definido3: • Choque quente: resistência vascular sistêmica <800 dyne s/cm e Choque frio: índice cardíaco < 3,3 l/min/m
Métodos • As drogas vasoativas iniciadas antes da admissão foram dopamina ou adrenalina • As crianças com baixa RVS foram tratadas com noradrenalina, enquanto que as com baixo índice IC foram tratadas com adrenalina • Se permaneciam em choque a despeito da terapia, eram classificadas como choque refratário a catecolaminas • Foram reavaliadas e iniciada milrinona (choque frio), vasopressores e inotrópicos conforme necessários
Analise Estatística • O teste t de Student e Wilcoxon foram usados para testar a diferença entre as variáveis contínuas • Quiquadrado e Fisher (variáveis categóricas) • As mudanças nos parâmetros fisiológicos foram analisados por ANOVA (análise de variância) • Usado o software SPSS 17 • Testes bicaudais • Significativo quando p<0,05
Preceitos Éticos • Aprovado pelo Comitê de Ética do King’s College Hospital
Resultados • 1775 admissões na UTIP • 36 incluídas no estudo • 18 (9 meninos, idade media 5,9) tinham infecção hospitalar e choque quente) • 18 (10 meninos, idade media 7,6) tinham infecção adquirida na comunidade). Dessas, 15 tinham choque frio e 3 choque quente (figura 1) • Todos os pacientes tiveram foco séptico comprovado e 34 tiveram hemocultura positiva
Resultados A maioria do grupo com infecção adquirida na comunidade tendo baixo IC e a maioria do grupo com infecção hospitalar apresentando baixa resistência vascular sistêmica
Resultados • As crianças com baixo IC receberam adrenalina • As crianças com baixa RVS receberam noradrenalina • 2/3 de 21 crianças com choque quente necessitaram associação de adrenalina a noradrenalina, devido a queda do IC com 12h. Outra necessitou adrenalina e milrinona • 4 pacientes com choque quente tornaram-se refratários a noradrenalina que teve de ser substituída por adrenalina, por queda do IC • Das 15 crianças com choque frio tradadas com adrenalina, 2 necessitaram de substituição para noradrenalina após 8h por queda na pressão arterial, aumento do IC e baixa RVS. Outras 6 necessitaram adição de vasopressor com 12h. Outras 5 necessitaram milrinona
Resultados • Todos os grupos obtiveram normalização do IC (figura 2) e da RVS (figura 3) após 42h, embora ainda estivessem em uso de drogas vasoativas. • A saturação venosa central foi significativamente menor no grupo de infecção adquirida na comunidade. Embora tenha havido melhora durante a terapia, manteve-se sempre entre 5-8% menor nesse grupo (figura 4). • A saturação venosa central foi significativamente correlacionada ao IC (figura 5), mas não a RVS. • Organismos gram-positivos foram os agentes mais frequentes nas hemoculturas (61% nos grupos com infecção adquirida no hospital e 56%, nos grupos com infecção adquirida na comunidade). Em 3 cresceram gram-negativos e em um, Candida albicans • Dos 4 óbitos, 2 tinham choque frio e 2 tinham choque quente
Resultados • As 2 crianças que morreram com choque frio (mediana de 26h), tinham IC e SVC muito baixas comparadas as que sobreviveram • As 2 crianças que morreram com choque quente, tinham RVS muito baixas
Resultados Evolução do Índice cardíaco (IC)
Resultados Evolução da Resistência vascular Sistêmica entre os grupos com infecção hospitalar (marcador vermelho) e infecção adquirida na comunidade
Resultados Pressão venosa central dos grupos Com infecção hospitalar (marcador vermelho) e infecção na comunidade
Resultados Correlação entre IC e Saturação Venosa central de oxigênio
Discussão • Observou-se que o status hemodinâmico das crianças chocadas não permanece estático após a ressuscitação inicial, mas muda com o tempo. A evolução e imprevisível, de forma que reavaliações devem ser frequentes, devendo ser considerados os 3 componentes circulatórios ao tratar o choque séptico: fluxo, pressão e resistência23. • Baixo IC esta associado com baixa saturação venosa central (IC ótimo: entre 4-6L/min/m2) • Metade dos pacientes apresentaram sepse adquirida na comunidade e hospitalar • O choque quente esteve presente em quase todos os pacientes com infecção hospitalar, mas somente em com infecção adquirida na comunidade, como relatado por outros autores5. • Quais são as possíveis razões deste fato? • Etiologia bacteriana • Acesso bacteriano diretamente pelo acesso central afetando a vasculatura • Reconhecimento/ressuscitação precoces nas crianças internadas
Discussão -A taxa de sobrevivência na sepse pediátrica e neonatal tem aumentado em 90% desde os anos 9028.- No Reino Unido, Inwald et al tem relatado taxa de mortalidade por severa sepse na UTI Pediátrica de 17%. A aderência aos protocolos recomendados tem sido relatada como um fator responsável25.-Os presentes autores relataram uma taxa de sobrevivência de 89% nos pacientes com choque refratário a fluido (a aderência aos protocolos recomendados tem sido importante componente) -As 4 crianças que faleceram apresentaram parâmetros hemodinâmicos e Pressão venosa central refratárias à ressuscitação: 2 crianças com persistente baixo índice cardíaco, um preditor conhecido de mortalidade6; os dois outros apresentaram extremamente baixa resistência vascular sistêmica, consistente com dados de adulto que demonstraram diminuição da sobrevivência com menor resistência vascular sistêmica4. Veja na tabela a seguir as características das 4 crianças que faleceram.
Características das 4 crianças que faleceram: CI: Índice cardíaco; SVRI:Índice de resistência vascular sistêmica PICU: Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica; warm shock:choque quente; cold shock: choque frio; CA: infecção adquirida na comunidade; HA: infecção hospitalar
Limitações • Falta de grupo-controle • População heterogênea: previamente hígidos x comorbidades • Falta de evidência sobre os alvos ótimos de IC e RVS • Falta de evidência sobre as melhores drogas vasoativas para cada caso
Nota do Editor do site:Dr. Paulo R. Margotto Consultem também! Como medir o Débito Cardíaco? Talvez o que há de mais prático para medir o DC, é a utilização de aparelhos como o NCOM, que existe no mercado norte-americano. Inicialmente lançado para medir DC de adultos, foi adaptada para o RN. Está baseado na biorreactance; são colocados vários eletrodos ao redor do tórax e do pescoço das crianças. Este estudo feito em Toronto havia uma relação constante entre o DC medido pelo eco funcional e o DC medido por este tipo de instrumento. Acredito que a melhora deste tipo de equipamento vai levar à possibilidade de se fazer o seguimento de um RN com quadro clínico critico através do DC e não com a PA ((Non-invasive cardiac output monitoring in neonates using bioreactance: a comparison with echocardiography. Weisz DE, Jain A, McNamara PJ, EL-Khuffash A. Neonatology. 2012; 102(1): 61-7). Artigo Integral. Figura 2 (A e B)
Figura . Em A, correlação entre o débito cardíaco (DC) medido pelo eco e pelo NICOM (r=0,95 – p<0,001). Em B, diagrama esquemático do posicionamento dos eletrodos durante o estudo. O par de eletrodos superior (setas brancas) é colocado no meio da clavícula. O par de d eletrodos inferior (setas pretas) é colocado sobre a linha axilar anterior. A colocação de cabo é igual também realizada no lado esquerdo do lactente. O objetivo é “encaixar o coração com os 4 pares de eletrodos. Leituras do débito cardíaco esquerdo pelo NICOM foram em média, 31 ±8% inferior ao débito cardíaco esquerdo. (observem o R2 linear (0,938), ou seja o DC obtido pelo eco explica o DC obtido pelo NICOM em 93,8%!) Weisz DE et al, 2012
Quais são as formas indiretas de se avaliar o DC? Acredito que esta é a nossa realidade, mesmo nos EUA. Suspeita-se que o DC está baixo quando a frequência cardíaca está aumentada, a perfusão periférica está diminuída, o volume de urina está diminuído, a PA está baixa e há evidência de acidose metabólica com o aumento de lactato sanguíneo. • Cuidado ao interpretar o lactado: se dosarmos o lactato em todos os RN, mesmo em RN normais, vai estar aumentado nas primeiras horas de vida e isto está associado à liberação de catecolaminas durante o trabalho de parto. Se a criança nasceu de parto normal o lactato mais provavelmente vai estar elevado. Isto não significa acidose metabólica, não significa deficiência tecidual de O2. • A outra maneira indireta de se avaliar o DC é a saturação venosa de oxigênio: Aqui se mostra a relação entre saturação venosa de O2 e DC. À medida que o DC cai, a saturação venosa de oxigênio cai (Monitoring cardiacfunction in intensive care. Tibby SM, Murdoch IA. Arch Dis Child. 2003 Jan; 88(1):46-52. Review). Artigo
Clicar Aqui! Cálculo da PVC de forma não invasiva • Foram aferidos os diâmetros mínimo (DS) e máximo (DL) no nível do ramo esquerdo da VP na região subcostal; • S/L foi definido como a razão entre DS e DL. Neste estudo, foi demonstrado que a relação S/L apresentou correlação significativa com a PVC em neonatos doentes sob ventilação mecânica e correlação menor com IG e peso corporal em neonatos clinicamente estáveis.