E N D
Círio de Nazaré O espelho da fé católica
Todas as manifestações religiosas do homem, quaisquer sejam suas origens, merecem a devida atenção e respeito, por serem o reflexo da história e da cultura da sociedade através dos séculos. A religião cristã Católica Romana, predominante no Brasil e grande motor do país no período Colonial, se materializa nas diversas Igrejas e monumentos religiosos que compõem a arquitetura das cidades mais antigas do país. Na capital paraense, Belém, além da presença física, a religiosidade habita o imaginário popular, e uma das manifestações mais famosas da fé paraense, nacional e mundialmente, é o Círio de Nazaré, realizado no segundo domingo do mês de Outubro.
A tradição de devoção à imagem se iniciou com o milagre ocorrido em 1700 com o paraense Plácido José de Souza. Ele, morador nativo dos arredores de Belém, achou a imagem da santa próxima a um igarapé e, não importando para onde ele a levasse, ela voltava ao seu posto, às margens do mesmo. Após autoridades locais e civis presenciarem os misteriosos retornos da santa, decidiu-se erguer uma Igreja no local, em sua homenagem. Assim também surgiu a Basílica de Nossa Senhora de Nazaré – hoje elevada à posição de Santuário. • A primeira procissão veio a ocorrer com a edificação da Basílica, e, desde então, a tradição se repete a cada ano, tendo recebido um número cada vez maior de fiéis, até chegar à marca de 2 milhões, no Círio realizado no ano de 2005. Ela consiste de uma caminhada de quatro quilômetros, entre a Catedral e a Basílica de Nossa Senhora de Nazaré, na qual fiéis formam uma verdadeira corrente humana que carrega a santa até seu local de repouso, diante da Basílica, na Praça do Can.
Penitência, agradecimento, devoção. Carros temáticos, correntes humanas, miniaturas de casas, carros, partes do corpo carregadas nas costas e nas cabeças de jovens e idosos, homens e mulheres, agradecidos por suas graças alcançadas. Fiéis de joelhos... a corda que puxa a berlinda, verdadeiro ápice do sacrifício e penitência em nome da fé. Várias motivações se mesclam no mar de gente que preenche as ruas da cidade, e, entre horas de agonia e de esperança de ver de perto a imagem da santa milagrosa (e levá-la com segurança ao seu receptáculo), o Círio se transforma no grande espelho da fé católica.
Além da procissão, outros eventos marcam o período do Círio. Na véspera da procissão, a Trasladação leva a imagem até o ponto de partida da mesma, tornando-se uma espécie de romaria noturna, quase tão aclamada quanto a principal, onde se destacam os belíssimos espetáculos pirotécnicos em homenagem à santa que são dispostos no caminho. • Na manhã da véspera, os ribeirinhos também prestam sua reverência à santa na Romaria Fluvial, existente desde 1986 e uma das mais emocionantes comemorações do período, na qual lanchas, barcos de pesca e pequenos iates repletos de fiéis homenageiam a Virgem no chamado “Círio das Águas”. Várias procissões menores, como o Círio das Crianças, a Romaria Rodoviária e a Motoromaria, também marcam presença e representam a diversidade de um povo em suas homenagens, unidos em nome da fé e da religiosidade...
E o Círio é tudo isso. Mais do que um mero período festivo, é uma festa que supera diferenças sociais e une extremos. Em nome da imortalidade da cultura, em nome da beleza de um povo unido pela fé... em nome da Virgem, Nossa Senhora de Nazaré. José Augusto Mendes Lobato