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Era uma vez uma história de uma filha. E de um Pai. E um imenso abismo cortando bem ao meio da história. Tão grande e profundo que separava o pai da filha e a filha, do pai. Ninguém nunca soube quando e por que o abismo cortou ao meio esta história. Mas isso não importa.
E N D
E um imenso abismo cortando bem ao meio da história. Tão grande e profundo que separava o pai da filha e a filha, do pai.
Ninguém nunca soube quando e por que o abismo cortou ao meio esta história.
Mas isso não importa. Como eu já disse, essa é a história de uma filha e de um pai. O abismo apenas cortou ao meio a história.
Apesar de separados há muito tempo, tanto o pai como a filha queriam se ver.
Mas seus olhos não alcançavam um ao outro. Só restava então, para eles, enxergar com os olhos da imaginação.
O pai imaginava a filha já crescida, sorrindo linda. A filha imaginava o pai forte, sorrindo de braços abertos
O pai e a filha sonhavam separados como seria estarem juntos novamente: O abraço que dariam, a música que dançariam e todas as coisas guardadas que iriam dizer um ao outro. Coisas guardadas em todo esse tempo de abismo.
O pai sempre gritava. A filha sempre repetia.
Era um tal de um chamar pelo outro... Mas eles nunca conseguiam se ouvir. O abismo impedia.
Tudo terminava sempre igual. E sem conseguirem se entender, eles choravam, lágrimas de amor perdido.
O pai passava a maior parte do tempo construindo pontes que, no final, caiam no abismo.
A filha passava a maior parte do tempo treinando saltos à distância para saltar o abismo, mas o máximo que conseguia era tropeçar, cair e se machucar.
O pai tinha medo do abismo. A filha tinha medo do abismo também.
O pai e a filha passavam dias seguidos, noites inteiras, olhando para o fundo do abismo,
imaginando os monstros terríveis e fantasmas assustadores que podiam morar lá em baixo. Talvez alguns crocodilos, cobras e lagartos.
Com o passar do tempo, o pai desistiu de construir pontes que caiam e a filha desistiu de treinar saltos que mais eram pulinhos.
O pai e a filha agora suspiravam, desanimados, à beira do abismo. Vencidos por ele. Era de dar dó...
Uma história desta terminar cortada bem no meio. Ah, que dó... Que tristeza... Que abismo!!!
Mas espera aí! Filha e pai separados, abismo à parte, esta é a história de uma filha e de um pai.
Então, o suspiro de desânimo se fez inspiração e coragem para enfrentar todos os perigos do fundo do abismo.
Pai e filha saltaram sorrindo, mergulhando de braços abertos nas profundezas do abismo.
E lá no fundo, finalmente, se encontraram sem monstros nem lagartos.
Encontraram sim, meia dúzia de histórias perdidas, outras dez não terminadas, quatro lembranças que pareciam esquecidas, cinco palavras engasgadas.
E um pedido. Um único pedido. Um pedido de amor.
E juntando estas coisas, fizeram um longo fio dourado do passado, presente e futuro que os ajudou a escalar o abismo.
Enfim, pronta esta história, costurada na medida certa, ficou assim:
Era uma vez uma filha e um pai. O pai da filha, a filha do pai. Alfaiates de suas próprias vidas.
Fim. FIM?