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Capítulo 2 Linguagem figurada Pensamento
Além de modificar os planos sonoro, lexical e sintático, é possível também alterar intencionalmente o campo semântico ou de significado. Quando procedemos dessa forma, estamos fazendo uso das figuras de pensamento. Em outras palavras, dizemos uma coisa querendo dizer outra.
Hipérbole • Transmite-se com a hipérbole a idéia do exagero, de forma a enfatizar os sentimentos e as reações expressas no texto. • Quando engrandecemos ou diminuímos exageradamente a verdade das coisas, estamos utilizando a hipérbole.
Exemplos • “Rios te correrão dos olhos, se chorares (…)” Olavo Bilac • “Brota esta lágrima e cai (…)Mas é rio mais profundoSem começo e nem fimQue atravessando por este mundoPassa por dentro de mim”. Cecília Meireles • Vai passar um ônibus pro Inferno, mas não passa o do Novo Juazeiro. • A roupa dela está tão curta que daqui a pouco ela está andando pelada na rua. • Chorei rios de lágrimas.
Eufemismo • É a utilização de uma linguagem mais amena com a intenção de abrandar uma palavra ou expressão que possa chocar o interlocutor em determinado contexto. • Determinadas palavras e expressões, quando empregadas em certos contextos, são consideradas desagradáveis, ou por apresentarem uma idéia muito negativa ou por chocarem quem ouve. Por isso, é muito comum os falantes substituírem essas expressões por outras mais suaves, mais delicadas, que, mesmo tendo o mesmo sentido, causam menor impacto em quem as ouve.
Exemplos • Existem várias expressões que suavizam a palavra morte, como “entregar a alma a Deus”, “partir desta para a melhor”, “bater as botas”, “encurtar os anos”, entre outras. • “E fizeste isto durante vinte e três anos (…) até que um dia deste o grande mergulho nas trevas (…)” “Diante de tanta tristeza, ela preferir faltar com a verdade”. Machado de Assis • É possível que haja redução na oferta dos postos de trabalho.
Ironia • É um enunciado que pretende dizer algo contrário àquilo que sua expressão revela. Para compreendê-lo, torna-se fundamental levar em consideração o contexto. • Existem três tipos de ironia:- asteísmo: quando louva;- sarcasmo: quando zomba;- antífrase: quando engrandece idéias funestas, erradas, fora de propósito e quando se faz uso carinhoso de termos ofensivos.
Exemplos • “Moça linda bem tratada,três séculos de família,burra como uma porta:um amor!Mário de Andrade • “A excelente dona Inácia era mestra na arte de judiar crianças”.Monteiro Lobato • “Quem foi o inteligente que usou o computador e apagou tudo o que estava gravado?” • “Essa cômoda está tão limpinha que dá para escrever com o dedo.” • “João é tão esperto que travou o carro com a chave dentro.”
Exemplos • O contexto é de fundamental importância para a compreensão da ironia, pois, inserindo a situação onde a fala foi produzida e a entonação do falante, determinamos em que sentido as palavras estão empregadas. Veja estes exemplos: “Olá, Carlos. Como você está em forma!” “Meus parabéns pelo seu belo serviço!”
Antítese e Paradoxo • São figuras de linguagem caracterizadas por declarações que trazem consigo idéias opostas. • A diferença é que as oposições presentes na antítese são conciliáveis, ou seja, elas podem coexistir (existirem juntas); já as oposições presentes no paradoxo são inconciliáveis, ou seja, não podem coexistir. • A antítese consiste em construir um sentido através do confronto de idéias opostas. • O paradoxo consiste em empregar palavras que, mesmo opostas quanto ao sentido, se fundem num mesmo enunciado. No paradoxo, a oposição se funde num mesmo referente, criando um efeito de contradição.
Exemplos Antítese • “O sonho de um céu e de um marE de uma vida perigosaTrocando o amargo pelo melE as cinzas pelas rosasTe faz bem tanto quanto malFaz odiar tanto quanto querer.” Charly Garcia • “Estou acordado e todos dormem, todos dormem, todos dormem”. Renato Russo • “Te ver e não te querer É improvável, é impossível Te ter e ter que esquecer É insuportável É dor incrível...” Skank
Exemplos Paradoxo • “Amor é fogo que arde sem se verÉ ferida que dói e não se senteÉ um contentamento descontenteÉ dor que desatina sem doer”.Camões • “Eu fujo ou não sei não, mas é tão duro este infinito espaço ultra fechado”. “A explosiva descobertaAinda me atordoa.Estou cego e vejo.Arranco os olhos e vejo”.Carlos Drummond de Andrade • “É como mergulhar no rio E não se molhar É como não morrer de frio No gelo polar.” Skank
Prosopopéia • É a atribuição de características ou ações humanas e seres inanimados ou irracionais. • Consiste em atribuir vida e sentimentos humanos às coisas inanimadas e fazer falar a ausentes e mortos. Existem dois casos de prosopopéia: - Personificação: reconhece traços e reações físicas de pessoas em coisas. Ex: “Os prédios são altos e se espreitam traiçoeiramente com binóculos na sombra”. (Rubem Braga)- Animismo: reconhece reações espirituais nas coisas. Ex: “Naquela noite serena”.
Exemplos • “As casas espiam os homensQue correm atrás das mulheres.” Carlos Drummond de Andrade • “O cipreste inclina-se em fina reverênciae as margaridas estremecem, sobressaltadas.” Cecília Meireles • “A ventania às vezes surpreendiaas janelas abertas do meu lare então as doces sombras se moviamtrêmulas, trêmulas a bailar”.Jorge de Lima • “Bailando no ar, gemia inquieto vagalume:- Quem me dera que fosse aquela loura estrela,Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!”Machado de Assis
Gradação • É a maneira ascendente ou descendente como as idéias podem ser organizadas na frase. • Quando o encadeamento das idéias se faz na ordem crescente, temos o “clímax”, ou seja, o encadeamento caminha em direção ao “clímax”; quando em ordem decrescente, ao “anticlímax”. • Consiste em organizar uma seqüência de palavras ou frases no sentido de intensificar progressivamente uma determinada idéia.
Exemplos • "O primeiro milhão possuído excita, acirra, assanha a gula do milionário." Olavo Bilac • “Mais dez, mais cem, mais mil e mais um bilhão, uns cingidos de luz, outros ensangüentados (…)”. Machado de Assis • “Eu era pobre. Era subalterno. Era nada.” Monteiro Lobato • “Ninguém deve aproximar-se da jaula, o felino poderá enfurecer-se, quebrar as grades, despedaçar meio mundo”. Murilo Mendes • José conquistou o bairro, a cidade e o país. • Ele foi um tímido, um frouxo, um covarde. • Um ser limitado, uma ínfima criatura, um grão de pó perdido no cosmos, eis o que o homem é.
Apóstrofe • Consiste no chamamento ou na interpelação a uma pessoa ou coisa que pode ser real ou imaginária, que pode estar presente ou ausente. • Consiste em interromper a narração para dirigir a palavra a pessoas ausentes ou ao leitor. Sintaticamente, a apóstrofe exerce a função de vocativo dentro de uma sentença. • É usada para dar ênfase.
Exemplos • “Tende piedade de mim, Senhor, de todas as mulheresQue ninguém mais merece tanto amor e amizade”.Vinícius de Moraes • “Ó mar salgado, quanto do teu salSão lágrimas de Portugal.”Fernando Pessoa • “Deus! Deus! Onde estás que não respondes?” Castro Alves