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Leitura e seus segredos II. Professor Coordenador do Núcleo Pedagógico . Luciane Idalgo Gonçalves Gobbatto. 1. O conto: brevidade e complexidade.
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Professor Coordenador do Núcleo Pedagógico • Luciane Idalgo Gonçalves Gobbatto
(O conto)É gênero difícil, a despeito da sua aparente facilidade (...) e creio que essa mesma aparência lhe faz mal, afastando-se dele os escritores e não lhe dando, penso eu, o público toda a atenção de que ele é muitas vezes credor. Machado de Assis
Vladimir Propp: Morfologia do conto maravilhoso. As narrativas, principalmente as tradicionais, são norteadas pelo desencadeamento de ações, que obedecem a uma sequênciaformada por sete personagens-função e 31 ações:
0 – situação inicial: bem-estar particular; • 1 – afastamento; • 2 – impõe-se ao herói uma proibição; • 3 – proibição é transgredida; • 4 – interrogatório contra a vítima; • 5 – o antagonista recebe informações sobre a vítima; • 6 – sedução; • 7 – vítima se deixa enganar; • 8 – dano;
Até aqui, foram apresentadas as ações desequilibradoras. A partir da nona função, dá-se início à reação do herói. • 9 – introdução do herói, mediação; • 10 – herói decide reagir; • 11 – partida do herói; • 12 – prova; • 13 – reação do herói perante a prova; • 14 – fornecimento; • 15 – deslocamento do herói; • 16 – herói e antagonista se defrontam em combate direto; • 17 – herói estigmatizado;
18 – antagonista é vencido; • 19 – dano inicial ou carência são reparados; • 20 – regresso do herói; • 21 – o herói sofre perseguição do vilão; • 22 – o herói é salvo da perseguição; • 23 – o herói chega incógnito a sua casa ou a outro país; • 24 – falso herói apresenta pretensões infundadas; • 25 – é proposta ao herói uma tarefa difícil; • 26 – a tarefa é realizada; • 27 – o herói é reconhecido; • 28 – falso herói é desmascarado; • 29 – o herói recebe nova aparência; • 30 – o inimigo é castigado, leva um tiro, suicida-se; • 31- herói se casa e sobe ao trono
Personagem-ação De acordo com Propp, os personagens das narrativas tradicionais estão classificados em sete esferas de ação: • A esfera de ação do ANTAGONISTA, que compreende: o dano, o combate e as outras formas de luta contra o herói, e a perseguição;
2. A esfera de ação do DOADOR, que compreende: a preparação da transmissão do objeto mágico e o fornecimento do objeto mágico ao herói;
3. A esfera do AUXILIAR, que compreende: o deslocamento do herói no espaço, a reparação do dano ou da carência, o salvamento, durante a perseguição, a resolução de tarefas difíceis, a transfiguração do herói;
4. A esfera de ação da PRINCESA e SEU PAI, que compreende: a proposição de tarefas difíceis, a imposição de um estigma, o desmascaramento,o reconhecimento, o castigo do segundo malfeitor e casamento;
5. a esfera de ação do MANDANTE. Inclui somente o envio do herói;
6. a esfera de ação do HERÓI. Compreende: a partida para realizar a procura, a reação perante as exigências do doador, o casamento. A primeira função caracteriza o herói-buscador, e o herói-vítima preenche as demais;
7. a esfera de ação do FALSO-HERÓI, compreendendo também a partida para realizar a procura, a reação perante as exigências do doador, sempre negativa, e como função específica, as pretensões enganosas.
Dessacralização Muitas narrativas contemporâneas fazem referência no modelo proppiano, mas para subvertê-lo. É o caso de textos como “Chapeuzinho amarelo”, de Chico Buarque, e “Fita verde no cabelo”, de Guimarães Rosa.
Edgar Allan Poe, em sua Filosofia da Composição, faz algumas considerações a respeito do conto, relacionando a extensão do conto e o efeito da leitura. Um dos princípios, conforme Poe, que define o conto é a leitura de uma assentada, isto é, sua brevidade faz com que a tensão da leitura seja mantida até o fim do texto. Como o texto deve ser breve, para se conseguir a unidade de efeito é essencial a preocupação com a condensação. Portanto, o poeta conclui que o conto está mais próximo do poema do que do romance.
2. A crônica: algumas leituras Gilberto Pinheiro Passos, ao fazer a apresentação do livro Balas de estalo, com crônicas publicadas por Machado de Assis, afirma que a crônica é gênero ingrato, pois obriga o autor a prestar atenção constante à realidade, o que pode lançar a obra, por isso mesmo, em rápido olvido. Para ultrapassar seu momento, é necessário que o articulista tenha noção clara do acontecimento propício ao vôo imaginativo, o que permite extrapolar o simples fato e aliar à matéria jornalística a fatura literária – resultado de tintas leves, ironia delicada e agilidade estilística.
Textos escolhidos • Leitura e discussão sobre atividades a serem desenvolvidas.
Etapas: • Preparando a Leitura; • Aquecendo para a leitura; • Saboreando o texto; • Entrelaçando leituras coletivas; • Desdobramentos.
Algumas considerações • A leitura das obras literárias nos obriga a um exercício de fidelidade e de respeito na liberdade de interpretação. Há uma perigosa heresia crítica, típica de nossos dias, para a qual de uma obra literária pode-se fazer o que se queira, nelas lendo aquilo que nossos mais incontroláveis impulsos nos sugerirem. Não é verdade. As obras literárias nos convidam à liberdade da interpretação, pois propõem um discurso com muitos planos de leitura e nos colocam diante das ambiguidades e da linguagem da vida. Mas para poder seguir neste jogo, no qual cada geração lê as obras literárias de modo diverso, é preciso ser movido por um profundo respeito para com aquela que eu, alhures, chamei de intenção do texto. (ECO 2003:12)
Entendo aqui por humanização (...) o processo que confirma no homem aqueles traços que reputamos essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso da beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor. A literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante (CANDIDO, 1995:249).