230 likes | 1.27k Views
LINGUÍSTICA TEXTUAL Anna Christina Bentes. Disciplina: Teoria da Linguagem Juliana Regina Dias. Estruturação do texto:. Percurso histórico; Conceito de texto; A construção dos sentidos no texto: Coerência textual Coesão textual. Um breve percurso histórico.
E N D
LINGUÍSTICA TEXTUALAnna Christina Bentes Disciplina: Teoria da Linguagem Juliana Regina Dias
Estruturação do texto: • Percurso histórico; • Conceito de texto; • A construção dos sentidos no texto: • Coerência textual • Coesão textual
Um breve percurso histórico • O termo “Linguística de Texto” foi empregado pela primeira vez por Harald Weinrich. • Surgimento dos estudos sobre o texto – constituição de um campo que procura ir além dos limites da frase, que procura reintroduzir o sujeito e a situação de comunicação.
Década de 60: esforço teórico de construir uma Linguística para além dos limites da frase, a chamada “Linguística do Discurso” • Segundo Marcuschi (1998a) “seu surgimento deu-se de forma independente, em vários países de dentro e de fora da Europa Continental, simultaneamente, e com propostas teóricas diversas”. • Houve não só uma gradual ampliação do objeto de análise da Linguística Textual, mas também um progressivo afastamento da influência teórico-metodológica da Linguística Estrutural saussureana.
Análise transfrástica: o interesse voltava-se para fenômenos que não conseguiam ser explicados pelas teorias sintáticas e/ou pelas teorias semânticas que ficassem limitadas no nível da frase; • Construção de gramáticas textuais: descrição da competência textual do falante; • Teoria do texto: o texto passa a ser estudado dentro de seu contexto de produção e a ser compreendido não como um produto acabado, mas como um processo.
Análise transfrástica • Parte-se da frase para o texto Texto: • “uma sequência pronominal ininterrupta” (Harweg,1968) • “sequência coerente de enunciados” (Isenberg, 1970) Pedro foi ao cinema. Ele não gostou do filme • Não há uma simples substituição do nome pelo pronome. • Uso do pronome – instruções de conexão • Outros fenômenos “transfrásticos”: a pronominalização, a seleção dos artigos (definido e indefinido), a concordância dos tempos verbais, a relação tópico-comentário e outros.
Relação entre uma sequência e outra sem a presença de um conector (1) Não fui à festa de seu aniversário: passei-lhe um telegrama. (2) Não fui à festa de seu aniversário: estive doente. (3) Não fui à festa de seu aniversário: não posso dizer quem estava lá. Elaboração de gramáticas textuais: não considerar o texto apenas como uma simples soma ou lista dos significados das frases que o constituem.
Gramáticas textuais • Representaram um projeto de reconstrução do texto como um sistema uniforme, estável e abstrato. • Postulava-se o texto como unidade teórica formalmente construída, em oposição ao discurso, unidade funcional, comunicativa e intersubjetivamente construída. • As propostas de elaboração de gramáticas textuais de diferentes autores, tais como Lang, Dressler, Dijk e Petöfi surgiram com a finalidade de refletir sobre fenômenos linguísticos inexplicáveis por meio de uma gramática do enunciado. Esses autores consideram que: • não há uma continuidade entre frase e texto porque há, entre eles, uma diferença de ordem qualitativa e não quantitativa, já que a significação de um texto constitui um todo que é diferente da soma das partes. • O texto é a unidade linguística mais elevada, a partir da qual seria possível chegar, por meio da segmentação, a unidades menores a serem classificadas. • Todo falante nativo possui um conhecimento acerca do que seja um texto.
Segundo Charolles (1989), todo falante possuiria três capacidades textuais básicas: • capacidade formativa; • capacidade transformativa; • capacidade qualificativa Segundo Fávero & Koch (1983), se todos os usuários da língua possuem essas habilidades, que podem ser nomeadas genericamente como competência textual, poderia justificar-se, então, a elaboração de uma gramática textual. • Verificação do que faz com que um texto seja um texto; • Levantamento de critérios para a delimitação de textos; • Diferenciação de várias espécies de textos.
Projeto de elaboração de gramáticas textuais – influenciado pela perspectiva gerativista. Essa gramática seria, semelhante à gramática de frases proposta por Chomsky, um sistema finito de regras, comum a todos os usuários da língua, que lhes permitiria dizer se uma sequência linguística é ou não um texto bem formado. Esse conjunto de regras internalizadas pelo falante constitui, então, a sua competência textual.
Teoria do Texto • Ao contrário das gramáticas textuais, preocupadas em descrever a competência textual de falantes/ouvintes idealizados, propõe-se a investigar a constituição, o funcionamento, a produção e a compreensão dos textos em uso. • Tratamento dos textos no seu contexto pragmático • No final da década de 70, a palavra de ordem não era mais, segundo Marcuschi (1998), a gramática de texto, mas a noção de textualidade. • LT (atualmente): “uma disciplina de caráter multidisciplinar, dinâmica, funcional e processual, considerando a língua como não-autônoma nem sob seu aspecto formal” (Marcuschi, 1998)
Conceito de texto Período da análise transfrástica e da elaboração de gramáticas textuais: • acreditava-se que as propriedades definidoras de um texto estariam expressas na forma de organização do material linguístico(textos/não-textos) • Segundo Koch (1997), os conceitos de texto variaram desde “unidade linguística superior à frase” até “complexo de proposições semânticas.” Período da elaboração de uma teoria do texto: • São consideradas as condições de produção e de recepção de textos • A definição de texto deve levar em conta que: a produção textual é uma atividade verbal (atos de fala), é uma atividade verbal consciente e é uma atividade interacional.
A construção dos sentidos no texto Texto: resultado de uma atividade verbal, que revela determinadas operações linguísticas e cognitivas, efetuadas tanto no campo de sua produção, como no de sua recepção. Segundo Koch (1997): • Coerência: “diz respeito ao modo como os elementos subjacentes à superfície textual vêm a constituir, na mente dos interlocutores, uma configuração veiculadora de sentidos” • Coesão: “O fenômeno que diz respeito ao modo como os elementos linguísticos presentes na superfície textual encontram-se interligados, por meio de recursos também linguísticos, formando sequências veiculadoras de sentido”
A coerência textual • A discussão sobre as relações entre texto e coerência começa a ocorrer a partir do momento em que se percebe que o(s) sentido(s) do texto não está/estão no texto em si, mas depende(m) de fatores de diversas ordens: linguísticos, cognitivos, socioculturais, interacionais. • Os estudos sobre o texto centram-se na busca de “critérios de textualidade”. • Para Koch e Travaglia (1989), “a textualidade ou a textura é aquilo que faz de uma sequência lingüística um texto e não um amontoado aleatório de palavras”. • Existe o não-texto? • Charolles (1989) afirma que não há textos incoerentes em si. Tudo vai depender muito dos usuários do texto e da situação. • A partir da década de 80, Charolles defende que a coerência de um texto é um “principio de interpretabilidade”: todos os textos seriam, em princípio, aceitáveis. No entanto, admite-se que o texto será incoerente para determinada situação comunicativa.
Segundo Koch e Travaglia (1990), a situação comunicativa tanto pode ser entendida em seu sentido estrito – contexto imediato da interação-, como pode ser entendida em seu sentido mais amplo – o contexto sócio-político-cultural. • O conhecimento da situação comunicativa mais ampla contribui para a focalização, que pode ser entendida como a(s) perspectiva(s) ou ponto(s) de vista pelo(s) qual(is) as entidades evocadas no texto passam a ser vistas, perspectivas estas que afetam não só aquilo que o produtor diz, mas também o que o leitor ou destinatário interpreta. • A situação comunicativa pode contribuir fortemente para a construção de um ou mais de um sentido global para o texto.
O papel das inferências na compreensão global do texto: Segundo Koch & Travaglia, “quase todos os textos que lemos ou ouvimos exigem que façamos uma série de inferências para podermos compreendê-lo integralmente. Se assim não fosse, nossos textos teriam que ser excessivamente longos para poderem explicitar tudo o que queremos comunicar.” • Intertextualidade: outro fator importante para a compreensão do sentido global de um texto. • Intencionalidade: “refere-se ao modo como os emissores usam textos para perseguir e realizar suas intenções, produzindo, para tanto, textos adequados à obtenção dos efeitos desejados” (Koch &Travaglia, 1990) • Fator informatividade: diz respeito ao grau de previsibilidade das informações que estarão presentes no texto, se essas são esperadas ou não, se são previsíveis ou não.
A coesão textual Quem são eles “1. Nas mãos deles, 169 milhões de vidas, o destino de um país gigante e uma crise brutal, com risco até de congestões capazes de ferimentos profundos no regime constitucional e na tranqüilidade relativa dos brasileiros. 2. Tudo foi dado a eles: o sacrifício de direitos, o sacrifício de milhões de empregos, o sacrifício de incontáveis empresas brasileiras, o sacrifício da legitimidade do Congresso, o sacrifício do patrimônio nacional, o sacrifício da Constituição. E eles quebraram o país. 3. Quem são eles? Um presidente abúlico, alheio a todas as realidades desprovidas de pompas e reverencias e que só reconhece um ser humano, por acaso ele próprio; avesso a administrar, por desconhecimento agravado pela indecisão, e que se ocupa tanto de bater papo quanto não se ocupa de trabalhar. [...]” (Folha de S. Paulo, 17/02/98)
Considerações finais: • Produção do texto falado: há uma vasta produção acadêmica que discute as principais estratégias de processamento textual nesta modalidade. Também têm sido publicados estudos voltados para as relações entre análises do texto/discurso e o desenvolvimento da competência textual e/ou discursiva na escola. • Recentemente houve uma retomada do interesse pela questão da tipologia e dos gêneros textuais.
Referência bibliográfica: BENTES, A. C. Linguística textual. In: MUSSALIN, F.; BENTES, A.C. Introdução à linguística. Domínios e fronteiras. V.2. São Paulo: Cortez, 2001, p.245-288