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“ MURIALDO : QUANDO DEUS CHAMA”. 1: Corria o ano de 1836. Em casa do banqueiro Leonardo Murialdo, os filhos, sete irmãos e um irmão, preparam a festa onomástica da mãe, Tereza Rhó.
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“MURIALDO: QUANDO DEUS CHAMA”
1: Corria o ano de 1836. Em casa do banqueiro Leonardo Murialdo, os filhos, sete irmãos e um irmão, preparam a festa onomástica da mãe, Tereza Rhó. Olímpia, a irmã maior, ensina a Nadino como apresentar-se à mãe para dar-lhe os parabéns: “Farás a inclinação... assim...”.
2: Arredio às insistências das irmãs que se esforçam por fazer-lhe aprender a poesia por elas preparada, Nadino exclama: “Eu quero muito bem à mamãe! Prefiro exprimir-lhe os augúrios com palavras minhas...”
3: O entusiasmo dos pequenos artistas, porém, é interrompido pelo soar da campainha. “Quem será a estas horas? Ficai quietos aqui! Vou ver quem é!” – diz Olímpia.
4: É o feitor do pai que muito agitado pede para falar com a Srª Tereza. “A mãe não está em casa” – responde Olímpia. “Mas... o que sucedeu?” – “Vosso pai está mal. Teve há pouco um ataque...”.
5: “... É grave” – pergunta Olímpia. – “Não! Talvez se trate de mal passageiro. Mas quer ver-vos. Uma carruagem está a vossa espera junto ao portão”.– “Vamos já!”
6: Com a respiração afanosa jaz o pai sobre um divã do estabelecimento bancário. Olímpia precipita-se sobre ele chamando com angústia: “Papai! Papai!...”
7: O médico chamado com urgência é lacônico: “Ataque cardíaco! Urge transportá-lo para casa. Máxima precaução. – “Mas há ainda esperança?...” – “Está nas mãos de Deus”.
8: A senhora Tereza, tendo acorrido, em seguida, à cabeceira do enfermo e constatando a gravidade da enfermidade, chama imediatamente um sacerdote. Este administra ao enfermo os últimos sacramentos que produzem no doente calma e resignação.
9: “Vosso marido, diz o sacerdote, é uma alma eleita. Peçamos ao Senhor que o assista. Tornarei amanhã de manhã. Se durante a noite, porém, o doente se agravar chamai-me...”. – “Sim, Reverendo, e obrigada...” responde a senhora com um fio de voz e enxugando-se as lágrimas.
10: O doente, como que sacudindo o torpor, chama ao redor de si os familiares. “Tereza, filhos meus... devo deixar-vos... sempre vos quis bem... amar-vos-ei ainda mais lá do céu... Amai-vos sempre e rezai por mim... E tu, Nadino, se o conforto de mamãe... Quereria abraçar também a Ernesto...”
11: Um mensageiro com o recado da mãe parte imediatamente direto à Savona, ao Colégio dos Padres Escolópios, onde estuda Ernesto. Não se concede repouso. Cada minuto perdido pode ser para o filho uma esperança a menos de rever vivo o pai.
12: A meio caminho substitui o cavalo já fatigado pela desenfreada corrida e prossegue imediatamente. Participa também ele à dor e à ânsia de uma família que está para perder o pai.
13: Em menos de vinte horas chega a Savona. Ernesto com o coração ansioso, parte em seguida, na esperança de poder abraçar o pai pela última vez. A viagem para Turim se efetua com a mesma rapidez e fadiga.
14: Chegando, porém, encontra a família já em luto. “Teu pai desejou poder ver-te... As suas últimas palavras foram para ti e para Nadino”. – disse-lhe a mãe, abraçando-o . “Queria-te tanto bem...” – E as lágrimas da mãe confundem-se com as do filho.
15: Viúva agora a mãe, ótima cristã, preocupa-se da educação dos filhos, especialmente do menor, Nadino, que conta apenas 8 anos. Chama-o a si e com o pranto no coração diz-lhe: “Ernesto é-me motivo de grandes satisfações no Colégio... pensei mandar-te também... Irias de boa vontade?”.
16: “Sim, mamãe, se assim é do teu agrado!” – responde o pequeno. Mamãe Tereza comove-se à pronta resposta do filho: “Bravo, Nadino; estou certa de que te sentirás bem no Colégio em companhia de Ernesto. Eu serei feliz sabendo-vos juntos, bons e estudiosos”.
17: Mamãe Tereza, antes de Nadino partir para o Colégio, leva-o diante da imagem da “Consolata” à qual ofertava todas as suas jóias, depois da morte do marido, e a ela oferece também esta última jóia, a mais preciosa: Nadino.
18: É a primeira vez que Nadino deixa a casa paterna. Que angustia para o seu coraçãozinho!... Saúda as irmãs e detêm-se longamente com a mãe em um afetuoso abraço, ouvindo atento as últimas recomendações maternas.
19: Junto à janela da carruagem, abanando seu lenço branco, continua a saudá-los enquanto os cavalos, fustigados pelo relho, iniciam a corrida roubando-o do meio de seus familiares.
20: A viagem é longa e fatigosa. Transcorre, porém através de colinas ridentes e viçosas lavouras. A vista do pequeno repousa na contemplação de tantas belezas criadas por Deus, enquanto o ânimo, sentindo ainda a dor da separação vai aos poucos serenando.
21: Na primeira etapa da viagem chamou a atenção de Nadino uma dolorosa cena. Vê dois pobres apoiados ao ângulo de uma casa. Ninguém parece interessar-se por eles: “Talvez tenham fome...”. – pensa Nadino. E com a espontaneidade de sua alma inocente e compassiva, toma da sacola das provisões e dirige-se a eles...
22: Gentilmente oferece-lhes tudo o que a mãe lhe preparara. Era o primeiro ato de caridade, o primeiro de uma longa série em favor da pobreza e do sofrimento, em favor dos pobres e dos desamparados.
23: Naquela noite, em seu quarto, já não recebe o afetuoso beijo e as últimas carícias maternas. Sente-se quase perdido na solidão do pequeno quarto. A recordação, porém, do generoso ato praticado àqueles dois pobrezinhos trazem ao seu coração grande conforto e alegria.
24: Dois dias após, Nadino entra no Colégio de Savona, e é recebido paternalmente pelos Padres e com grande júbilo pelo irmão Ernesto. “Como vais?... Conta-me algo da mamãe e das irmãs!”. – “Estão muito bem e lembram-te com afeto. A mamãe está satisfeita com teu aproveitamento e boa conduta. Eu também procurarei ser digno da sua confiança e do seu amor”.
25: Começa então uma nova vida para Nadino. A disciplina do Colégio não o aborrece; cumpre de boa vontade e escrupulosamente seu dever. – Prima entre seus companheiros, e os superiores o apontam a todos como exemplo, tanto na conduta como na aplicação.
26: E é precisamente isso que suscita no ânimo de alguns companheiros a inveja e o desprezo: “Nadino é por demais bom. Humilha-nos até na Escola. Que esperamos para dar-lhe uma boa lição?” – assim falavam os mal intencionados nas horas de recreio.
27: Começa então a perseguição e com insistência maligna difamam-no aos demais colegas, para abalar-lhe a boa vontade e a conduta irrepreensível. É uma perseguição íntima, sistemática, entrecortada de expressões mordazes.
28: Um dos mais perversos rosnava: “Quero acabar com Murialdo. Ainda hoje na aula de latim mostrou-se um galo e que tamanha crista exibiu!” – “E que pensar fazer dele?” – “Estudarei o caso. Ajuda-me!... Do resto cuidarei eu!”.
29: No alegre intervalo das aulas, o invejoso atira-se de encontro à Nadino. Uma ágil manobra e um violento empurrão fazem Nadino perder o equilíbrio.
30: Um grito de dor escapa dos lábios do jovem. Na queda bate fortemente contra o duro chão, ferindo-se a perna esquerda. Um fio de sangue escorre da ferida. Acorrem os amigos. Um deles pergunta: “Quem foi, Nadino? Diz-me e haveremos de vingar-te”.
31: Nadino conhece o culpado, mas não o revela. Apenas limita-se a dizer com animo sereno: “Desculpa-o! Assim compreenderá a maldade da sua ação “. Ao que o amiguinho conclue: “És bom demais, Nadino!”.
32: Humilhado pelo gesto de perdão de Nadino, o culpado é incapaz de vencer o próprio orgulho: “Em vez de reagir, como esperava, ele suporta os insultos e as afrontas com essa brandura!... Isso irrita-me sempre mais; porém, não acabará assim!”
33: Depois deste incidente os perseguidores de Nadino permanecem calmos por algum tempo. O menino aproveita da relativa calma para compor alguns versos latinos que dedica à mãe por ocasião do seu onomástico e lhos envia acompanhados destas delicadas frases: “Com estes versos envio-te o meu coração. Faz-lhe boa recepção e quer-me sempre bem”.
34: Mamãe ao receber do filho a carta repleta de tão belas expressões poéticas, chora de contentamento. Nem sequer imagina a cruel angustia em que se debate o seu querido Nadino. No entanto, ele confia ao irmão: “Ernesto, já não posso mais! Alguns companheiros perseguem-me com intenções perversas. Querem fazer-me desistir do bem”.
35: E o irmão responde-lhe: “Coragem! São dificuldades que passam”. Nadino, porém, insiste: “Sinto-me não poder continuar assim; não permitirei que a minha fé esmoreça... Não quero cair em pecado.Escreve à mãe. Eu quero voltar para casa”. - “Falemos antes com o Diretor. Ele nos aconselhará”.
36: Interrogado, Nadino depois de ter exposto candidamente quanto tinha lutado antes de tomar tal decisão, acrescenta: “Não posso, não quero mentir à minha consciência. Quero manter-me fiel a Deus!”. O diretor compreende: “Escreve à tua mãe e eu acrescentarei o motivo de tua decisão”.
37: Apenas um ano falta-lhe para concluir brilhantemente o curso de retórica. Sacrifica, todavia também a esta possibilidade em defesa de sua consciência. Assim que, no ano de 1843, após 7 anos de permanência no Colégio de Savona, Leonardo Murialdo regressa em família junto com o irmão, e com renovado fervor continuam freqüentando os cursos de filosofia.
38: A mãe vigia-o amorosamente. Preocupa-se da saúde do filho e mais ainda da sua alma. Um dia, enquanto Nadino estuda, achega-se-lhe e, acariciando-o, docemente, diz-lhe: “Amo-te tanto que temo de fazer pecado amando-te demais”.
39: Nadino fixando-a comovido: “Mamãe, és um verdadeiro anjo de bondade! Sou-te grato porque me compreendeste”. – “Vem... Vamos juntos agradecer ao Senhor as muitas graças que ele nos tem concedido e rogar-lhe que te dê forças para continuares no caminho do bem”.
40: Todas as manhãs, na vizinha Igreja de S. Dalmácio, mãe e filho achegam-se juntos à mesa da sagrada comunhão. Nestes encontros, Jesus prepara Nadino para uma grande resolução.
41: Certo dia de Quaresma o pregador fala sobre o Inferno. “O inferno é a absoluta privação de Deus. Quem rejeita a sua graça e abusa de sua misericórdia, encontra o justo e severo castigo num inferno eterno”.
42: E conclui: “Recordemos que depois da morte não teremos mais tempo para pedir e implorar o seu perdão. Não deixemos portanto no esquecimento esta advertência. Pode ser a última para nós”. Nadino ao ouvir tais palavras treme e empalidece...
43: Ajoelha-se e com generosidade fixando intensamente o Crucifixo, exclama: “Senhor, ofereço-te a vida para impedir que a minha e muitas outras almas caiam no inferno...”.
44: No recolhimento do seu quarto, durante as orações da noite, Nadino, renova a sua decidida promessa ante a imagem da Virgem:: “Abandonarei o mundo para entrar na Ordem dos Capuchinhos. Com a oração, a penitência e o apostolado, salvarei a minha alma e as de muitos outros meus irmãos”.
45: Mons. Lourenço Renaldi, seu diretor espiritual, admira a generosa proposta de Nadino, mas consideradas as suas condições de saúde, responde-lhe: “Não, filho. Deus chama-se por outra via; por ora entra no Seminário”.
46: A calma e a serenidade voltam na alma de Nadino. Aceita o conselho do piedoso sacerdote como vindo de Deus. Com a mais intensa alegria volta ao lar e precipita-se ao colo da mãe para confiar-lhe: “Mamãe, serei sacerdote”.
47: A mãe, intensamente emocionada, manda ao pequeno sentar-se ao seu lado. Com a mão na sua mão, com os ternos olhos fixos no rosto de seu filho: “Nadino meu, que o Senhor me conceda tamanha graça. Tenho sempre desejado um filho sacerdote”.
48: Mas alguns parentes, julgando a decisão demasiado apressada, aconselham Nadino de empreender uma longa viagem para distrair-se. O jovem compreende o objetivo do conselho. Ainda que a contragosto submete-se, decidido todavia a manter fidelidade ao seu propósito.
49: A idéia de que Nadino pudesse ser mais útil à sociedade, abraçando uma brilhante carreira, instigou o parente a mostrar-lhe as mais atraentes profissões: “Não te atrai a idéia de poder construir pontes, estradas, casas, ferrovias, a benefício da humanidade inteira?... Poderias tornar-te engenheiro.”