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MANUEL BANDEIRA. PROFESSORA PATRÍCIA. Libertinagem - 1930. É composto por 38 poemas, sendo dois em francês. É nesta obra que Bandeira configura-se como um autor verdadeiramente modernista, quer nos temas, quer na forma.
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MANUEL BANDEIRA PROFESSORA PATRÍCIA
Libertinagem - 1930 • É composto por 38 poemas, sendo dois em francês. É nesta obra que Bandeira configura-se como um autor verdadeiramente modernista, quer nos temas, quer na forma.
Essa obra de Manuel Bandeira é abrangente na temática e no aspecto formal: percorrem-na os assuntos do cotidiano, o prosaico, ao lado dos grandes temas tradicionais da poesia, como o amor, a saudade, a solidão, a infância, a família, a morte
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmoDe resto não é lirismoSerá contabilidade tabela de co-senos secretário do amanteexemplar com cem modelos de cartas e as diferentesmaneiras de agradar às mulheres, etcQuero antes o lirismo dos loucosO lirismo dos bêbedosO lirismo difícil e pungente dos bêbedosO lirismo dos clowns de Shakespeare- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
Pneumotórax Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos. A vida inteira que podia ter sido e que não foi. Tosse, tosse, tosse. Mandou chamar o médico: - Diga trinta e três. - Trinta e três... trinta e três... trinta e três... - Respire. - O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado. - Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax? - Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
Porquinho-da-Índia Quando eu tinha seis anos Ganhei um porquinho-da-índia.Que dor de coração me davaPorque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!Levava ele prá salaPra os lugares mais bonitos mais limpinhosEle não gostava:Queria era estar debaixo do fogão.Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...- O meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada
Teresa A primeira vez que vi Teresa Achei que ela tinha pernas estúpidasAchei também que a cara parecia uma pernaQuando vi Teresa de novoAchei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse)Da terceira vez não vi mais nadaOs céus se misturaram com a terraE o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.
Mulheres Como as mulheres são lindas!Inútil pensar que é do vestido...E depois não há só as bonitas:Há também as simpáticas.E as feias, certas feias em cujos olhos eu vejo isto:Uma menininha que é batida e pisada e nunca sai da cozinha. Como deve ser bom gostar de uma feia!O meu amor porém não tem bondade alguma,É fraco! fraco!Meu Deus, eu amo como as criancinhas... És linda como uma história da carochinha...E eu preciso de ti como precisava de mamãe e papai(No tempo em que pensava que os ladrões moravam no [morro atrás de casa e tinham cara de pau).
Poema Tirado de uma Notícia de Jornal João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem númeroUma noite ele chegou no bar Vinte de NovembroBebeuCantouDançouDepois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
O Último Poema Assim eu quereria o meu último poema Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais limpidos A paixão dos suicidas que se matam sem explicação
O IMPOSSÍVEL CARINHO Escuta, eu não quero contar-te o meu desejoQuero apenas contar-te a minha ternuraAh se em troca de tanta felicidade que me dásEu te pudesse repor - Eu soubesse repor -No coração despedaçadoAs mais puras alegrias de tua infância!
Estrela da Manhã • É composto de 28 poemas, 9 em versos livres, 16 metrificados e 3 poemas em prosa, sendo um deles em francês.
Essa obra marca o ínicio da última fase do poeta, chamada por alguns críticos de pós-modernista. É a fase mais madura de sua obra. • Nela, o autor combina o que de melhor havia na tradição com as conquistas modernas empregadas anteriormente.
A Estrela da Manhã Eu quero a estrela da manhãOnde está a estrela da manhã?Meus amigos meus inimigosProcurem a estrela da manhãEla desapareceu ia nuaDesapareceu com quem?Procurem por toda a parteDigam que sou um homem sem orgulhoUm homem que aceita tudoQue me importa? Eu quero a estrela da manhãTrês dias e três noitesFui assassino e suicidaLadrão, pulha, falsário
Virgem mal-sexuadaAtribuladora dos aflitosGirafa de duas cabeçasPecai por todos pecai com todosPecai com os malandrosPecai com os sargentosPecai com os fuzileiros navaisPecai de todas as maneirasCom os gregos e com os troianosCom o padre e com o sacristãoCom o leproso de Pouso AltoDepois comigoTe esperarei com mafuás novenas cavalhadascomerei terra e direi coisas de uma ternura tão simplesQue tu desfalecerásProcurem por toda partePura ou degradada até a última baixezaeu quero a estrela da manhã
Vou-me Embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Lá sou amigo do reiLá tenho a mulher que eu queroNa cama que escolhereiVou-me embora pra PasárgadaVou-me embora pra PasárgadaAqui eu não sou felizLá a existência é uma aventuraDe tal modo inconseqüenteQue Joana a Louca de EspanhaRainha e falsa dementeVem a ser contraparenteDa nora que eu nunca tiveE como farei ginásticaAndarei de bicicletaMontarei em burro braboSubirei no pau-de-seboTomarei banhos de mar!E quando estiver cansadoDeito na beira do rio
Tragédia Brasileira Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade. Conheceu Maria Elvira na Lapa-prostituta, com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes em petição de miséria. Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou médico, dentista, manicura... Dava tudo quanto ela queria. Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado. Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra,um tiro, uma facada. Não fez nada disso, mudou de casa. Viveram três anos assim.
Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa. Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos, Bonsucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, Encantado, Rua Clapp, outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos... Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e de inteligência, matou-a com seis tiros, a polícia foi encontrá-la caída em decúbio dorsal, vestida de organdi azul.