Projeto Literatura no Vestibular

1. Projeto Literatura no Vestibular Campus Catalão Departamento de Letras Alexander Meireles da Silva Professor Adjunto do Departamento de Letras do CAC/UFG MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS

2. Pontos abordados • Sobre o autor • Romantismo • Romantismo no Brasil • A obra • Enredo • Personagens • Além do romance

3. MANUEL ANTÔNIO DE ALMEIDA • Nasceu em 1831. • Apesar da origem humilde, conseguiu se formar em Medicina, mas nunca atuou na área, preferindo a Literatura; • Assim como outros escritores traduzia folhetins franceses, escrevia crônicas e críticas. Esses trabalhos eram publicados no jornal Correio Mercantil; • Morreu em 1861 devido a um naufrágio na Baía de Guanabara, quando fazia campanha a deputado.

4. ROMANTISMO • O Romantismo nasceu das transformações e inquietações decorrentes da Revolução Americana, da Revolução Francesa e da Revolução Industrial; • Seu contexto histórico é o das duas últimas décadas do século XVIII até a metade do XIX; • O principal personagem deste cenário é o homem da classe média e da burguesia; • Ele sonha com ideais de igualdade e justiça em um mundo no qual ele pode ascender socialmente.

5. ROMANTISMO NO BRASIL • A chegada da família real portuguesa em 1808 e a posterior independência do Brasil em 1822 ajudaram a construir a consciência da necessidade de se criar uma cultura brasileira identificada com suas próprias raízes históricas, lingüísticas e culturais. • Portanto, um dos traços marcantes do Romantismo no Brasil é o Nacionalismo.

6. ROMANTISMO NO BRASIL • As gerações românticas: • Primeira geração – Nacionalista, indianista e religiosa (Gonçalves Dias, Gonçalves de Magalhães); • Segunda geração – “Mal do século”, byronismo, satanismo (Álvares de Azevedo e Casimiro de Abreu); • Terceira geração – Condoreirismo (Castro Alves)

7. ROMANTISMO NO BRASIL • O romance prosperou durante o Romantismo pela identificação do público leitor com o gênero; • Romance X Novel • Assim como a novela televisiva hoje, os romances eram apresentados em capítulos como folhetins; • A prosa se ligava aos três espaços nacionais: a selva, o campo e a cidade.

8. ROMANTISMO NO BRASIL • O romance urbano: • Esta vertente do romance retratava o dia-a-dia do leitor, pondo em discussão certos problemas e valores do público das cidades. Geralmente membros da classe média e alta da população; • Ele se coloca como a mais popular representação do romance romântico.

9. A OBRA • Memórias foi publicado na forma de folhetim, ou seja, em capítulos publicados no jornal Correio Mercantil durante os anos de 1852-1853; • Em livro ele foi publicado em dois volumes nos anos de 1854 e 1855; • Os capítulos não tinham autoria e eram assinados com o pseudônimo “Um Brasileiro”; • A segunda edição só saiu em 1862, um anos depois de sua morte; • Apesar do título, o narrador é onisciente (terceira pessoa).

10. ENREDO • A obra narra as aventuras de Leonardo ou Leonardinho, filho ilegítimo* dos portugueses Leonardo Pataca e Maria da Hortaliça. Como os pais não desejavam criá-lo, Leonardo fica por conta de seu padrinho (um barbeiro) e de sua madrinha (uma parteira), após a separação dos seus progenitores. Sempre metido em travessuras, desde cedo Leonardo mostra-se um grande malandro. Já moço, apaixona-se por Luisinha, mas põe o romance a perder quando se envolve com a mulata Vidinha. A primeira decide, então, casar-se com outro. Tempos depois, Leonardo é preso pelo Major Vidigal, enfrenta diversos problemas, mas acaba sargento de milícias. Após a viuvez de Luisinha, reaproxima-se da moça. Os dois casam-se e Leonardo é reabilitado. Fonte: Stockler Vestibulares

11. ENREDO • Aqui temos um ponto interessante pois a obra menciona que Leonardinho nasceu de sete meses grande e forte, o que poderia indicar que sua mãe – Maria da Hortaliça já estava grávida quando se envolveu com Leonardo Pataca a caminho do Brasil. Esse fato se reforça ao final da obra quando Vidigal faz um favor a Leonardinho devido ao fato que seu filho deflorou Maria da Hortaliça em Portugal. A ilegitimidade, portanto, é uma possibilidade.

12. PERSONAGENS • Leonardo ou Leonardinho - O anti-herói; • Luisinha - Moça com a qual Leonardo se casa; • Vidinha – Mulata jovem e bonita que cativa Leonardo; • O Compadre - Barbeiro de profissão que cria e protege Leonardo; • A Madrinha- Defende e acompanha o afilhado Leonardo; • D. Maria – Responsável pela guarda de Luisinha quando ela perde os pais; • José Manuel - Calculista, casa-se com Luisinha por dinheiro e morre. • Major Vidigal - Militar que persegue Leonardo; • Leonardo Pataca - Pai de Leonardo, acaba casado com Chiquinha; • Maria da Hortaliça - Mãe do protagonista. Trai Pataca e foge com outro; • Chiquinha - Casa-se com Leonardo Pataca. É filha da Madrinha.

13. ALÉM DO ROMANCE • A única obra de Manuel Antônio de Almeida já foi chamada de “pré-realista” ou “anti-romântico”, “documentário”, “picaresco”, “de malandragem”. Tantos termos se deve ao fato que ela se destaca dos seus pares literários da época por diversos motivos, tais como:

14. ALÉM DO ROMANCE • Memórias é um romance “pré-realista” ou “anti-romântico”? • Embora romântica, a obra mantém o equilíbrio racional criticando qualquer excesso ou transbordamento sentimental ultra-romântico: “...mas o homem era romântico, como se diz hoje, e babão, como se dizia naquele tempo; não podia passar sem uma paixãozinha”.

15. ALÉM DO ROMANCE b) Não existe a idealização da figura feminina. Algo notado na descrição de Vidinha, que viria a se tornar a namorada de Leonardo: “Vidinha era uma rapariga que tinha tanto de bonita como de movediça e leve: [...] isto quer dizer, em linguagem chã e despida dos trejeitos da retórica, que ela era uma formidável namoradeira”

16. ALÉM DO ROMANCE c) Ordem e Desordem são duas forças que movem os personagens do romance. No entanto essas forças mudam de pólo, ou seja, não existe alguém que esteja totalmente na ordem ou na desordem. Portanto, não há uma caracterização maniqueísta.

17. ALÉM DO ROMANCE d) Não há o predomínio da linearidade, pois acontecem digressões e a quebra do enredo para comentários e explicações.

18. ALÉM DO ROMANCE e) Aparecem diversas explicações sobre a obra na própria obra, o que demonstra uso da metalinguagem.

19. ALÉM DO ROMANCE • Memórias é um “Romance documentário” ao apresentar um panorama da sociedade da sua época? • Esta leitura apresenta alguns problemas pelos seguintes pontos: • A ação transcorre apenas nas áreas centrais da cidade do Rio; • Socialmente também a ação se centra ao redor de gente livre de vida modesta, uma pequena burguesia. A classe alta e as massas não são contempladas.

20. ALÉM DO ROMANCE • Memórias é um “Romance picaresco” ao apresentar Leonardinho como um pícaro? • Oriunda da Espanha a origem da palavra “Pícaro” pode ser uma derivação do vocábulo “picar”, por analogia com os ofícios exercidos por ajudantes de cozinha, picadores de touro, moços de estrebaria, etc; • Outras interpretações associam-no ao sentido de ralé, de posição baixa na sociedade; • No contexto literário, como adjetivo, tem o sentido de astuto, patife, falho de honra e de vergonha, de vida vagabunda. • Problemas nesta leitura

21. ALÉM DO ROMANCE • Memórias é um “Romance de malandragem” ao apresentar Leonardinho como um Trickster? • Derivado da palavra inglesa “trick” (trapaça), o Trickster (Trapaceiro) é um personagem presente em quase todas as culturas; • Ele costuma ser representado em duas formas: • O desafiador dos deuses; • O brincalhão desrespeitador das leis dos homens;

22. ALÉM DO ROMANCE • O brincalhão: • O Trickster também pode ser um personagem atrapalhado, azarado, glutão e lascivo. • No entanto, ainda que suas histórias sejam divertidas, elas também possuem um ensinamento; • No Brasil a criatura folclórica saci e o orixá Exu são Tricksters irreverentes presentes na cultura brasileira

23. ALÉM DO ROMANCE • Macunaíma(1928), de Mario de Andrade se constitui no maior exemplo da presença do Trickster em nossa literatura. • No entanto, é na cultura popular contemporânea que ele aparece de forma direta através de personagens como Pernalonga ePica-Pau.

24. ALÉM DO ROMANCE • Outra dimensão folclórica desta interpretação está na ligação do romance com os contos de fada; • “Em no tempo do Rei”; • Ao mesmo universo pertenceria a constelação de fadas boas (Padrinho e Madrinha) e a espécie de fada agourenta que é a Vizinha, todos cercando o berço do menino e servindo aos desígnios da sorte, a "sina" invocada mais de uma vez no curso da narrativa. • O anonimato de vários personagens, importantes e secundários, designados pela profissão ou a posição no grupo, o que de um • lado os dissolve em categorias sociais típicas, mas de outro os aproxima de paradigmas lendários e da indeterminação da fábula, onde há sempre "um rei", "um homem", "um lenhador", "a mulher do soldado" etc. • Pertenceria a este universo, ainda, o major Vidigal, que por baixo da farda historicamente documentada é uma espécie de bicho-papão, devorador da gente alegre.

25. REFERÊNCIAS • ALMEIDA, Manuel Antônio. Memórias de um sargento de milícias. Santiago, Chile: O Globo/Klick Editora, 1997. • CANDIDO, Antônio. Dialética da Malandragem: caracterização das Memórias de um sargento de milícias. in: REVISTA do instituto de estudos brasileiros, nº 8. São Paulo: USP, 1970, pp. 67-89. • ROBERTS, John W. The African American Animal Trickster as Hero. In: RUOFF, A. La Vonne Brown, WARD JR, Jerry W. Redefining American Literary History. New York: Voice of America Forum Series, 1990, p. 97-114. • SILVA, Alexander Meireles da.Literatura inglesa para brasileiros: curso completo de cultura e literatura inglesa para estudantes brasileiros. Rio de Janeiro: Editora Ciência Moderna, 2005.

26. Esta apresentação está disponível no endereço: www.ensinosuper.com