280 likes | 807 Views
FILOSOFIA E O EXERCÍCIO DO PENSAMENTO CONCEITUAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA. Sílvio Gallo Faculdade de Educação Unicamp. 3 modalidades do pensamento:.
E N D
FILOSOFIA E O EXERCÍCIO DO PENSAMENTO CONCEITUAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA Sílvio Gallo Faculdade de Educação Unicamp
3 modalidades do pensamento: • A ponte não é de concreto, não é de ferroNão é de cimentoA ponte é até onde vai o meu pensamentoA ponte não é para ir nem pra voltarA ponte é somente pra atravessarCaminhar sobre as águas desse momento (Lenine – A Ponte – CD O dia em que faremos contato, 1997)
3 modalidades do pensamento: • “A ponte é até onde vai meu pensamento ”. • A cultura do pensamento é a construção de pontes, de conexões, que não são feitas de concreto, ferro ou cimento, mas conexões elétricas e efêmeras como as sinapses, sempre em transição. Pensar é conectar. Pensar é construir pontes. Para utilizar uma expressão de Deleuze e Guattari, pensar por conceitos é uma atitude sintagmática, de estabelecer relações e conexões.
3 modalidades do pensamento: • Pierre Lévy, conceito de tecnologias da inteligência: Os seres humanos criam tecnologias, ferramentas que nos permitem pensar e elaborar nossos conhecimentos; o pensamento muda, quando mudam as tecnologias de inteligência que utilizamos.
3 modalidades do pensamento: Segundo Lévy, temos, ao longo da história, três pólos do espírito, com três tecnologias de inteligência distintas: • Pólo da oralidade primaria → conhecimentos mitológico e religioso • Pólo da escrita →conhecimentos filosófico e científico • Pólo informático-midiático →novo impacto ainda a descobrir...
3 modalidades do pensamento: • A oralidade engendra um saber de tipo narrativo, fundado na ritualidade; • A escrita apresenta um saber teórico fundado na interpretação; • A informática possibilita um saber operacional fundado na simulação (através de modelos ou previsões)
3 modalidades do pensamento: • Pensamento por figuras ou imagens; • Pensamento por palavras; • Pensamento por conceitos.
Pensamento por imagens • Presente desde os primórdios da humanidade: observação espacial, usada na caça e nas atividades de sobrevivência; • Base do mito e das religiões; • Presente ainda hoje, quando operamos de maneira “automática” ou mesmo “inconsciente”.
Pensamento por imagens • Este tipo de pensamento também se utiliza da palavra, mas como uma espécie de ferramenta. • Exemplos do uso da palavra pelo pensamento por imagens são as metáforas e as parábolas, presentes nos discursos religiosos (orais o escritos).
Pensamento por palavras • Aristóteles: definição do ser humano como zoon logon echon, o animal portador de linguagem, o “animal racional”. • Logos como palavra e como razão, pensamento. • Hoje, identificado como o “senso comum” ou “bom senso”. • Base do conhecimento científico.
Pensamento por conceitos • Invenção dos gregos, à qual deram o nome de Filosofia. • Difere do pensamento por imagens, que tende a ser transcendental e paradigmático; • Difere do pensamento por palavras, que tende a ser objetivo e paradigmático.
Pensamento por conceitos • Fazendo uma aproximação com o quadro proposto por Lévy, podemos relacionar o pensamento por imagens com a oralidade, produzindo narrativas, e o pensamento por palavras com a escrita, produzindo teorias. O pensamento por conceitos é que escaparia deste quadro, uma vez que identificá-lo com a escrita seria relacioná-lo também com a teoria e com sua característica paradigmática, que o conceito não apresenta.
Pensamento por conceitos • Também não poderíamos aproximar o pensamento por conceitos da informática, uma vez que ele foi inventado na antiguidade. • O pensamento por conceitos é esta diferença em relação ao pensamento projetivo que colonizou nossas mentes com a oralidade e a escrita. • A tecnologia informática não abre espaço para o pensamento por conceitos, mas ele permanece, mesmo que à margem dos modos hegemônicos de pensar.
Conceito não é: • Uma representação universal (como pensou Kant); • Uma definição (como usualmente pensamos).
Noção de conceito O conceito é uma forma racional de tornar inteligível um problema ou conjunto de problemas, exprimindo uma visão coerente do vivido e possibilitando a busca de soluciones.
Noção de conceito O conceito não é abstrato nem transcendente, mas imanente, una vez que parte, necessariamente, de problemas experimentados, vividos, sentidos.
Noção de conceito Se a figura é paradigmática, projetiva, hierárquica e referencial, “o conceito não é paradigmático, mas sintagmático; não é projetivo, mas conectivo; não é hierárquico, mas vicinal; não é referente, mas consistente” (Deleuze e Guattari, O que é a Filosofia?).
O conceito na aula Quando pensamos o exercício da filosofia na aula, uma pergunta se impõe: estamos investindo em experiências de pensamento ou fazendo a imposição de uma recognição? Estamos ensinando a filosofia como atitude crítica e criativa ou estamos disseminando uma imagem dogmática do pensamento?
O conceito na aula Tomando a Filosofia como atividade de criação de conceitos, a aula de Filosofia pode ser pensada como uma oficina de conceitos, na qual eles são experimentados, criados, testados...
O conceito na aula Trata-se de deslocar o foco do ensino como treinamento para uma educação como experiência, em que cada estudante seja convidado a colocar seus problemas, adentrar no campo problemático e experimentar os conceitos, experimentar o pensamento por conceitos, seja manejando e deslocando conceitos criados por filósofos ao longo da história do pensamento, seja criando seus próprios conceitos.
O conceito na aula Quatro passos didáticos: • Sensibilização • Problematização • Investigação • Conceitualização
O conceito na aula Oficina de conceitos é experimentação: “pensar é experimentar, mas a experimentação é sempre o que se está fazendo – o novo, o notável, o interessante, que substituem a aparência de verdade e que são mais exigentes que ela.” (Deleuze e Guattari, O que é a Filosofia?).
Referências das citações • DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O que é a Filosofia? Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992. • DELEUZE, Gilles. Diferença e Repetição. 2ª ed. Rio de Janeiro: Graal, 2006. • KANT. Manual dos cursos de Lógica Geral. 2ª ed. Campinas/Uberlândia: Ed. Unicamp/Edufu, 2003. • LÉVY, Pierre. As Tecnologias da Inteligência. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993.