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CAPÍTULO VII. O CAMPO SEMIÓTICO DE UMBERTO ECO. INTRODUÇÃO Umberto Eco ( nascido em 1932) contribuiu em várias áreas da semiótica teórica e aplicada.
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CAPÍTULO VII O CAMPO SEMIÓTICO DE UMBERTO ECO
INTRODUÇÃO Umberto Eco ( nascido em 1932) contribuiu em várias áreas da semiótica teórica e aplicada. Este capítulo mostra o desenvolvimento da obra de Eco no percurso do estruturalismo à semiótica textual, na sua definição de semiótica como uma teoria da cultura, na “teoria dos códigos” e na sua visão do campo semiótico.
Teoria e prática semiótica Os estudos de Eco vão da filosofia medieval à cultura popular, começando com estudos de filosofia e estética medieval. Da arte medieval, Eco passou à estética da literatura, música e arte da vanguarda com Opera aperta. A obra aberta é o protótipo da arte e da literatura moderna, que permitem uma pluralidade de interpretações ou, no caso da arte aleatória, até uma pluralidade de formas materiais na sua textualidade. A teoria semiótica geral de Eco se desenvolveu a partir da sua Estrutura ausente. Nesta obra, a semiótica de Eco estava ainda sob a influência das teorias da informação, da comunicação, da cibernética e da semiologia estruturalista.
A semiótica da literatura é mais uma área principal da obra de Eco. A obra literária, conforme Eco, não é uma obra aberta a qualquer interpretação. A sua semiótica literária exige um equilíbrio entre os dois extremos de uma teoria literária que quer admitir uma infinidade de interpretações para qualquer texto, de um lado, e uma hermenêutica normativa, que só quer admitir interpretações conforme as intenções do autor, do outro. Segundo Eco, o caminho interpretativo do leitor através de uma obra literária, é implícito na obra mesma, que propõe, na sua estrutura, um leitor modelo, que segue e explora um potencial interpretativo da obra justificado pelas evidências que o texto contém.
O leitor modelo segue um caminho interpretativo baseado em vários princípios da semiótica peirceana: • A sua interpretação é baseada em abduções e inferências com base nos signos do texto e progride, num processo de semiose ilimitada (mas não descontrolada), conforme o ideal de uma “progressão perfeitiva” para resultados determinados conforme hábitos comuns e acordos interpretativos da comunidade literária. A crítica de Eco ao estruturalismo Em seu trabalho, publicado em 1968 com o título La estrutura ausente, Eco anuncia um ataque aos fundamentos do estruturalismo.
Eco ataca estruturalistas como Lévi Strauss pela sua tentativa de descobrir estruturas e por atribuir a elas o status de uma realidade objetiva. Um tal “estruturalismo ontológico”, de acordo com Eco, “só pode resultar em uma auto-destruição ontológica da estrutura”. A definição da semiótica segundo Eco Eco definiu a semiótica como um programa de pesquisa que estuda todos os processos culturais como processos de comunicação. Para ele, a cultura pode ser estudada sob uma perspectiva semiótica , mas as entidades culturais podem ser consideradas de pontos de vista não-semióticos. Segundo Eco, a semiótica se preocupa com tudo o que pode ser tomado como signo. Um signo é tudo aquilo que pode ser tomado como substituindo significativamente outra coisa.
Esta outra coisa não precisa necessariamente existir ou estar realmente em algum lugar no momento em que um signo o representa. Assim, a semiótica é, em princípio, a disciplina que estuda tudo que pode ser usado com o objetivo de mentir. Eco, apesar de suas reservas contra o estruturalismo, em sua conclusão, ele utiliza de argumentos estruturalistas quando diz que se algo não pode ser usado para se mentir, ele não possui oposição semântica, não possui estrutura, e, portanto, significação. Sem uma possível mentira, não há uma possível verdade. Eco descreveu os limites da semiótica baseado em três critérios : • Conforme o critério cultural: uma semiótica natural, que estudo os signos na natureza, não deveria existir.
Conforme os critérios do potencial mentiroso: a semiótica só devia tratar de mensagens intencionais, pois a essência da mentira é ser intencional. • O critério do comunicativo: pressupõe uma mensagem codificada em um código convencionado entre os participantes de uma dada cultura. Código e cultura A semiótica à Eco é o estudo de códigos e um código tem sua base em uma convenção cultural: semiótica é, portanto, o estudo sígnico da cultura. Para Eco não há diferença entre a semiótica e uma semiótica da cultura, pois os fenômenos estudados por Eco (da arquitetura, da arte, da poesia, da literatura trivial, da língua e até da publicidade) são todos fenômenos culturais.
Convenções e sistemas sígnicos O critério de um código é a sua convencionalidade. Eco define código como qualquer sistema de símbolos que, por consenso prévio entre o destinador e o destinatário, é usado para representar e transmitir qualquer informação. É um sistema de unidades significantes, com regras de combinação e transformação. Em suma é “um sistema de regras dadas por uma cultura”. Na semiótica, o termo código é freqüentemente usado como sinônimo de sistema sígnico. Eco, porém, faz uma distinção entre os dois termos: para ele, cada código contém dois sistemas de estruturas paradigmáticas em correlação, um sistema do plano de expressão e um sistema do plano do conteúdo. O código do semáforo consiste de um sistema de elementos visuais no plano da expressão com um sistema de elementos do plano do conteúdo.
A teoria da codificação Na sua teoria da codificação cultural, Eco introduziu uma dimensão diacrônica nos estudos semióticos: A mobilidade do espaço semântico faz com que os códigos mudem transitoriamente e processualmente”. A interpretação de mensagens, portanto, sempre exige o que ele chamou de extra-codificação, um processo de contestação e de modificação hipotética de códigos existentes. Eco distinguiu dois modos de extra-codificação: super-codificação e sub-codificação: • Super-codificação: é o processo interpretativo de modificar um código estabelecido propondo uma nova regra que determina a aplicação menos comum de uma regra prévia. • Sub-codificação: é uma espécie de codificação crua, imprecisa e hipotética, um movimento de textos desconhecidos para códigos”.
A teoria da produção dos signos O primeiro processo na produção de signos, é a escolha de signos do código com o fim de produzir uma mensagem. Eco distingue cinco modos de produção do signo: • Trabalho físico: esforço necessário para a produção do signo; • Recognição do fenômeno como a expressão do conteúdo de um signo ( no caso de marcas, sintomas ou indícios); • Ostensão: um objeto ou uma ação é indicado a ser o exemplar de uma classe de objetos ou ações; • Réplicas são os exemplares de um tipo de signo de um código, pertencendo, portanto, ao caso da ratio facilis; e • Invenções: signos inventados imprevisíveis pelo código. São o modo mais típico de produção por ratio difficilis.
Os limiares do campo semiótico Eco delimitou o campo semiótico por um limiar inferior e um limiar superior. • O limiar inferior da semiótica é aquilo que separa os signos das coisas e os signos artificiais de signos naturais. Estímulos fisiológicos, os “códigos” neurológicos e genéticos encontram-se abaixo deste limiar porque tais fenômenos não se baseiam em convenções sociais. • O limiar superior de Eco está na distinção entre o ponto de vista semiótico do mundo e várias outras perspectivas não-semióticas dos fenômenos que, vistos do ponto de vista da biologia (corpo humano), antropologia (as mulheres e os homens como elementos de intercâmbio antropológico), mecânica (as ferramentas) e da economia (objetos de mercadoria).
Estes objetos não pertencem ao estudo semiótico e ficam, portanto, além do limiar superior da semiótica, podendo ser estudados como signos. Apesar dos fenômenos da semiose natural encontrarem-se abaixo do limiar inferior da semiótica, Eco não incluiu a interpretação de sintomas médicos no domínio da semiótica justificando que estes sistemas são codificados pela tradução médica. Ele argumenta que há um signo sempre que um grupo humano decide usar e reconhecer alguma coisa alguma coisa como veículo de outra coisa. O que Eco reconheceu na sintomatologia médica não é a interpretação de um processo natural, mas a transformação cultural deste mesmo processo por meio de uma codificação pela tradição médica.
Segundo Eco, o código da doutrina médica garante a semiotização de um processo que, de outra forma, não poderia ser reconhecido como semiótico. Da maneira como Eco entendeu, com a intervenção de um código, um elemento de convencionalidade penetra a semiótica médica, pois os modelos de interpretação de doenças têm mudado com a tradição científica e com as culturas que interpretam as doenças. Desta forma, Eco pode até sustentar a tese de que a interpretação científica do mundo pelos físicos ou químicos é semiótica, na medida em que se constitui uma interpretação cultural e que há evidência deste aspecto cultural nas mudanças dos modelos de explicação científica do mundo.