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V. – O Génesis – História das origens. Escola de Dirigentes do MCC Formação Básica na Fé V. Formação básica na Fé V - 5ª sessão – O Génesis – História das Origens. Sumário: 1 – UMA INTRODUÇÃO AO GÉNESIS 2 – OS ONZE PRIMEIROS CAPÍTULOS DO GÉNESIS 3 – A CRIAÇÃO 4 – A ORIGEM DO MAL
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V. – O Génesis – História das origens Escola de Dirigentes do MCC Formação Básica na Fé V
Formação básica na Fé V - 5ª sessão – O Génesis – História das Origens Sumário: 1 – UMA INTRODUÇÃO AO GÉNESIS 2 – OS ONZE PRIMEIROS CAPÍTULOS DO GÉNESIS 3 – A CRIAÇÃO 4 – A ORIGEM DO MAL 5 – CAIM MATA O SEU IRMÃO ABEL 6 – OS DESCENDENTES DE ADÃO ATÉ NOÉ 7– OS «FILHOS DE DEUS» E AS «FILHAS DOS HOMENS» 8 – A CORRUPÇÃO DA HUMANIDADE E DILÚVIO 9 – OS DESCENDENTES DE NOÉ 10 – A TORRE DE BABEL 11 – GENEALOGIA OU ASCENDÊNCIA DE ABRAÃO 12 – EM JEITO DE CONCLUSÃO… 13 – Bibliografia recomendada
1 • QUAL A ORDEM CANÓNICA DO GÉNESIS? É o primeiro livro da Bíblia – e portanto do Pentateuco (os cinco primeiros livros da Bíblia: Génesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronómio). 2 • COMO SURGIU O NOME «GÉNESIS»? • Na Bíblia hebraica, os livros não tinham títulos; eram denominados conforme a primeira palavra ou expressão do livro (segundo o costume mesopotâmico): este chamava-se de Bereshit. 1. UMA INTRODUÇÃO AO GÉNESIS • Na Bíblia cristã (tradução do hebraico para o grego), os nomes foram dados conforme o conteúdo do livro; como este livro trata do princípio de tudo, chamaram-lhe «Génesis», isto é, Livro das Origens. «GÉNESIS» «NASCIMENTO», «ORIGEM».
3 • QUAL FOI O AUTOR DO GÉNESIS? E QUANDO FOI ESCRITO? • O autor tradicional do Génesis (assim, como de todo o Pentateuco) é Moisés. Contudo, hoje sabe-se que não tem um só autor sagrado, mas é fruto de várias tradições orais, populares e da recompilação de três fontes ou tradições: javista, eloísta e sacerdotal; estas são de diferentes épocas, que se juntaram mais tarde (por volta do séc. IV a.C.), possivelmente por Esdras. 1. UMA INTRODUÇÃO AO GÉNESIS
4 • QUAIS SÃO AS CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS DO GÉNESIS? • No Génesis encontram-se três tradições: Javista, Eloísta e Sacerdotal. • As formas literárias que usa são relatos míticos, lendas e genealogias. Mito não significa mentira ou invenção: a sua origem está na capacidade do homem se admirar perante as grandes coisas do mundo, da busca da realidade profunda; é uma expressão, um aproximação ao mistério. 1. UMA INTRODUÇÃO AO GÉNESIS • As narrações dos 11 primeiros capítulos do Génesis não são de todo originais; na literatura dos povos vizinhos, existem relatos semelhantes que falam das origens do mundo; por exemplo: a epopeia de Gilgamesh, o poema Enuma-Elish, a epopeia de Atra-hasis; neles há muitas semelhanças, mas apenas aparentes. Há diferenças fundamentais com o relato bíblico: o Monoteísmo (contra o mundo povoado de deuses na Babilónia); o Deus-amor (contra os deuses caprichosos e vingativos, que vêem no homem um brinquedo nas suas mãos); a purificação de todos elementos fantásticos, concentrando-se na reflexão teológica. O Génesis é original e único, não na forma literária, mas na mensagem sobre Deus e o homem.
5 • QUAL O CONTEÚDO TEMÁTICO DO GÉNESIS (OU ESTRUTURA)? Divide-se em duas grandes partes: 1. UMA INTRODUÇÃO AO GÉNESIS Gn 1-11: ORIGENS DA HUMANIDADE. História ou Ciclo das Origens; História Primitiva; «Pré-História Bíblica»; Proto-história. Gn 12-50: ORIGENS DO POVO DE ISRAEL. História Patriarcal
6 • QUAIS SÃO OS TEMAS DOMINANTES DO GÉNESIS? • São cinco temas dominantes no livro do Génesis: • O Universo com os seus astros, bem como a Terra com as plantas, os animais e os homens, existem porque Deus assim o quis. • O Homem é a coroação de toda a obra criadora de Deus e aquele a quem o mesmo Deus confiou a missão de dominar sobre todos os seres e sobre todas as forças da natureza para prover às suas necessidades e ao desenvolvimento do seu progresso. • A origem e o alastramento do pecado, assim como as promessas de salvação (cf. 3, 15 e 12, 3) vêm desde o início da Humanidade. • Deus escolhe livremente aqueles através dos quais as promessas se hão-de ir realizando (cf. 25-36). • As promessas de salvação realizaram-se em forma de Alianças entre Deus e os homens (cf. 3, 15 e 17). 1. UMA INTRODUÇÃO AO GÉNESIS
1 • QUAIS AS TRADIÇÕES PRESENTES EM GN 1-11? Estão presentes apenas as tradições Javista e Sacerdotal, como segue: 2. OS ONZE PRIMEIROS CAPÍTULOS DO GÉNESIS
2 • QUAL O SIGNIFICADO DA «HISTÓRIA» DE GN 1-11? Nenhum autor sustentaria hoje que Génesis constitui uma história no sentido moderno da palavra. Os hagiógrafos apenas se interessavam pelos «factos» da história somente na medida em que ilustravam o plano divino. Eles desejam mostrar o plano divino revelado progressivamente nos acontecimentos da história e, em consequência, sublinham em tudo a iniciativa divina. 2. OS ONZE PRIMEIROS CAPÍTULOS DO GÉNESIS Em Gn 1-11 os «factos» fundamentais são acontecimentos de ordem cósmica que afectam o homem em geral, «acontecimentos típicos». A criação, a queda do homem, etc., são exemplos.
2. OS ONZE PRIMEIROS CAPÍTULOS DO GÉNESIS 3 • COMO EXPLICAR AS CONTRADIÇÕES DO GÉNESIS (E DA BÍBLIA EM GERAL) COM A CIÊNCIA E COM A HISTÓRIA? Como conciliar os seus ensinamentos com a ciência: Adão e Eva face à teoria da Evolução e face ao poligenismo; a Criação em seis dias face ao Big-bang, etc? Não há contradições, pois entre ciência e Bíblia, entre ciência e história, não é necessário escolher, pois movem-se em campos diferentes! À Bíblia interessa apresentar um ensinamento religioso que determina as relações entre o Homem e o Criador, as verdades de fé em ordem à salvação do Homem. • A Bíblia não é um livro de ciência, nem um manual de história natural, não lhe interessa saber o «como» das coisas, compreender as origens do universo, estudar o movimento dos planetas, etc., mas sim o «porquê» e o «para quê» das coisas. «A intenção do Espírito Santo é ensinar-nos como devemos ir para o céu, e não como vai o céu»: afinal, Galileu tinha razão. • A Bíblia não é um livro de história, mas um livro de fé. A ela não lhe interessa os factos em si mesmo, mas em que medida os acontecimentos servem para ensinar e explicar o Plano Divino. Por isso, as personagens, a sua idade, datas, os números… são simbólicos e escondem por detrás uma verdade revelada por Deus, que só descobriremos pela fé.
2. OS ONZE PRIMEIROS CAPÍTULOS DO GÉNESIS 3 • COMO EXPLICAR AS CONTRADIÇÕES DO GÉNESIS (E DA BÍBLIA) COM A CIÊNCIA E COM A HISTÓRIA? (cont) Daqui derivam duas consequências importantes: • O descabimento de certas perguntas. Por exemplo: então Adão e Eva existiram? Onde se localizou o Jardin do Éden? O Dilúvio aconteceu mesmo? É verdade que Matusalém viveu 969 anos?, etc., etc. São questões que não se podem colocar ao Génesis, pois não pretende transmitir-nos dados científicos, históricos ou jornalísticos; mas sim uma mensagem religiosa, iluminada pelo Espírito Santo, sob essas narrações. Estas perguntas surgem da seguinte linha de pensamento: achar que o autor nos quer transmitir algo sobre o andamento concreto das coisas no início da história da humanidade, numa perspectiva histórico-informativa. Este esquema mental, com o qual lemos as narrativas dos onze primeiros capítulos do Génesis, não corresponde à intenção do autor que escreveu aquelas linhas. • Ler a Bíblia como se fosse uma narrativa científica, leva-nos a uma leitura fundamentalista da Bíblia. É o caso de cristãos fundamentalistas, influentes sobretudo nos E.U.A. Esta forma de ler a Bíblia é um perigo, tendo sido condenada pela maior parte dos cristãos, inclusive pela Igreja Católica. Por exemplo: a Bíblia diz que a «lebre é um ruminante»? Então, ela é que está certa, e quem diz, como a zoologia que é um roedor, cai numa heresia!
4 • QUAL O CONTEÚDO DE GN 1-11? 1ª PARTE DO GÉNESIS: A História das origens (Gn 1,1-11,32): • Primeiro Relato da Criação: criação do mundo e do homem (Gn 1,1-2,4a) (P) • Segundo Relato da Criação: criação do homem e da mulher (Gn 2,4b-25) (J) • A queda do Homem e a origem domal (Gn 3,1-24) (J) • Caim e Abel (Gn 4,1-16) (J) • Genealogia de Caim (Gn 4,17-26) (J) • Genealogia de Adão até Noé (Gn 5,1-32) (P) • Prólogo ao dilúvio (Gn 6,1-22) (J e P) • O dilúvio (Gn 7,1-8,22) (J e P) • Aliança com Noé (Gn 9,1-17) (P) • Os filhos de Noé (Gn9,18-27) (J) • Os povos da terra (Gn 10,1-32) (P e J) • A Torre de Babel (Gn 11,1-9) (J) • Genealogias conclusivas: ascendência de Abraão (Gn 11,10-32) (P e J) 2. OS ONZE PRIMEIROS CAPÍTULOS DO GÉNESIS
2. OS ONZE PRIMEIROS CAPÍTULOS DO GÉNESIS 5 • QUAL É A IMPORTÂNCIA DE GN 1-11 PARA A HISTÓRIA DA SALVAÇÃO? A sua importância funda-se em acontecimentos culminantes que marcaram os começos da História de Israel como povo escolhido. O Deus de Israel foi considerado, à luz desses acontecimentos, como o Deus de toda a natureza e de toda a história. Israel, como único povo monoteísta da antiguidade, concluiu, a partir da recordação das acções salvadoras de Deus na história em favor do Seu povo, que esse mesmo Deus só podia ter sido o Criador do céu e da terra. DO DEUS LIBERTADOR… …AO DEUS CRIADOR.
2. OS ONZE PRIMEIROS CAPÍTULOS DO GÉNESIS 5 • QUAL É A IMPORTÂNCIA DE GN 1-11 PARA A HISTÓRIA DA SALVAÇÃO? (cont.) Em consequência, esta história primitiva é a interpretação teológica dos acontecimentos importantes para o desenvolvimento posterior da própria história de Israel. Assim, não é, nem pretende ser, uma relação completa de tudo o que aconteceu desde o princípio do mundo, mas é selectiva ao máximo. A criação e a queda são os factos determinantes para a gradual aversão a Deus por parte dos homens, a qual levará a uma intervenção definitiva de Deus numa nova criação: a do Seu povo. • O autor pretende responder, de alguma forma, às grandes questões da humanidade: Quem criou tudo? Quem criou o Homem como ser mais perfeito da Criação? Por que é que há a atracção entre homem e mulher? De onde vem o mal? Por que é que o trabalho é duro? Qual o sentido do sofrimento e da morte? Para onde vamos? Etc, etc.
Quantos RELATOS DA CRIAÇÃO podemos encontrar no Génesis? 1 • O Génesis contem duas narrações (ou Relatos da criação): o Primeiro Relato da Criação e o Segundo Relato da Criação. 2 3. A CRIAÇÃO Porquê duas narrativas da Criação? • São dois modos diferentes de nos contar a Criação, de estilos e tradições diferentes; por detrás de toda a «roupagem literária» e de até de algumas contradições, ambas pretendem transmitir verdades de fé importantes sobre Deus e a Criação; os textos foram fundidos (no séc. IV a.C.), porque ambas as narrações foram consideradas inspiradas por Deus.
3 Quais as DIFERENÇAS fundamentais principais que se podem encontrar entre os dois relatos? 3. A CRIAÇÃO
O PRIMEIRO RELATO DA CRIAÇÃO(Gn 1, 1-2,4). 4 Quais as FINALIDADES deste hino da criação? • Narrar os gestos grandiosos do Criador. Trata-se de um HINO ou POEMA DA CRIAÇÃO, poema litúrgico que foi elaborado para ser declamado e cantado nas sinagogas. 3. A CRIAÇÃO • Sublinhar a importância da observância do Sábado, pois esquematiza a obra criadora numa semana. O Sábado era o dia semanal de culto no Antigo Testamento. Para os cristãos é o Domingo, dia da Ressurreição.
Sentido antimitológico: contra os deuses dos povos vizinhos, que começavam a seduzir os israelitas, especialmente a zoolatria egípcia e a astrologia babilónica. Trata-se de um esclarecimento e reforço das verdades religiosas de Israel. 3. A CRIAÇÃO PARA QUÊ? PORQUÊ? COMO? QUANDO? ONDE?
5 Quais as PARTES em que se divide este Relato? CRIAÇÃO… …DO MUNDO …DO HOMEM 3. A CRIAÇÃO (Gn 1, 26-2, 4a) (Gn 1, 1-25) 6 Qual é a ESTRUTURA desse Relato? Foi orientada pela estrutura da semana: para realçar o Sábado; e criar um sistema mnemónico, para melhor recordar as verdades religiosas (poema cadenciado, repetitivo, com estribilhos: «Deus disse…» e «Deus viu que era bom»; paralelismos entre os dias: 1º/4º; 2º/5º; 3º/6º).
3. A CRIAÇÃO Não se deve buscar (como muitos fizeram até aqui) nesta classificação qualquer indício de ordem cronológica: o concordismo entre Gn 1 e as investigações da cosmologia e paleontologia é um contra-senso absoluto.
7 Qual a concepção COSMOLÓGICA que está subjacente ao Primeiro Relato da Criação? A concepção cosmológica (o modo de ver o mundo) é a mesma em toda a Bíblia: é a concepção geocêntrica. • A Terra é concebida no centro do Universo, como um grande disco plano, assente em colunas. 3. A CRIAÇÃO • É vista como uma grande casa, uma «Casa Cósmica»: na cave, ou seja, em baixo, estão os infernos (sheol), o reino dos mortos e as «águas inferiores»; no rés-do-chão está o Homem; depois, o firmamento, como um pavilhão sólido (firmus), e em cima as «águas superiores»; por vezes, abrem-se janelas, e cai chuva; no firmamento estão pendurados, como candeeiros, os astros; em cima de todo temos o palácio de Deus.
8 Qual a diferença fundamental da criação do mundo no Primeiro Relato da Criação com outras civilizações vizinhas? Os poemas pagãos descrevem a criação como o resultado da luta entre os deuses e as forças do caos; ou como um parto resultante de união sexual dos deuses. O relato bíblico sublinha a tranquila actividade do Deus único. Deus criou pela palavra: «Deus disse… e assim aconteceu»; Deus cria as oito principais obras da criação, pronunciando «Dez palavras» para criar e organizar o mundo. 3. A CRIAÇÃO
9 Que pretende transmitir a expressão: «No princípio, Deus criou os céus e a terra» (Gn 1, 1)? «No princípio»: não se trata de cronologia, do primeiríssimo instante. O «princípio», no sentido ontológico, do ser, sendo que tudo remonta a Deus, que é a raiz de tudo. Esse «princípio» é quando Deus decide criar. 3. A CRIAÇÃO «Deus criou os céus e a terra»: Há um só Deus e esse Deus criou tudo o que existe, pelo que os astros, os animais não devem ser adorados, pois são criaturas de Deus.
10 «Assim surgiu a tarde, em seguida, a manhã…» (Gn 1, 5)?Não tinha mais lógica primeiro surgir a manhã e depois a tarde? Esta expressão surge várias vezes ao longo do texto. O que acontece é que os hebreus contavam os dias do pôr-do-sol ao pôr-do-sol do dia seguinte (e não da meia-noite à meia-noite). Por isso, aparece em primeiro lugar a tarde. 3. A CRIAÇÃO Que significa a expressão: «Façamos o homem à nossa imagem, à nossa semelhança…» (Gn 1, 26)? 11 Três pontos a reter sobre esta expressão:
O homem aparece como a cúpula da criação. Até aqui, o discurso aparece no singular; a partir daqui, aparece no plural; até aqui, Deus ordena: «Deus disse…e assim foi»; agora, Deus anuncia um propósito; isto tem como objectivo chamar a atenção para a importância deste texto. 2. «Façamos»: este plural parece indicar uma deliberação de Deus com a sua corte (os anjos). Ou então, é um plural majestático, que exprime a riqueza interior de Deus. Os Padres da Igreja viram aqui uma insinuação da Trindade. 3. A CRIAÇÃO 3. «Imagem e semelhança»: Ser «imagem e semelhança» de Deus é o fundamento da dignidade do Homem. Semelhança parece atenuar o sentido de imagem, excluindo a paridade. A Bíblia emprega a palavra «imagem» a propósito dos reis que fazem erigir uma estátua em sua honra: Deus agiu como esses reis, mas para Se representar escolheu o ser humano, não uma estátua sem alma. Assim, no profundo do homem, há algo de divino. Mas para os autores da Bíblia, o homem não é Deus! Mas naquilo que o homem tem de melhor, podemos encontrar a melhor imagem de Deus. A «semelhança» com Deus está na vocação de dominar e transformar este mundo.
12 «Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a…» (Gn 1, 28). O «submetei-a» não é a autorização para matar e explorar, como alguns acreditaram. É uma responsabilidade confiada a todos os homens, um serviço. O homem deve cuidar da Criação e viver em harmonia com a terra, as plantas, os animais. 3. A CRIAÇÃO «Deus abençoou o sétimo dia e santificou-o…» (Gn 2, 3). 13 Depois de ter criado o mundo em seis dias, Deus repousou um dia inteiro. Primeiro a civilização judaica, depois a cristã retomaram esta frase da Bíblia para organizar a sua própria vida e ritmar o tempo. Os judeus param de trabalhar ao sábado, dia do sabbat, enquanto que os cristãos escolheram o domingo para celebrar Deus, em memória da ressurreição de Cristo.
O SEGUNDO RELATO DA CRIAÇÃO(Gn 2,4b-25). Esta segunda narrativa da Criação, elaborada nos tempos do rei Salomão (século X a.C.) é tradicionalmente atribuída à tradição javista. Contudo, recentemente, alguns estudiosos colocaram em causa esta origem: de facto os profetas anteriores ao Cativeiro da Babilónia não falarem num Jardim do Éden (como Isaías, Jeremias, Amós, etc.); já Ezequiel (profeta do Cativeiro da Babilónia) fala num Jardim do Éden; este «silêncio dos profetas» leva a situar a sua redacção do tempo do cativeiro da Babilónia ou até posterior. 3. A CRIAÇÃO «Quando o Senhor Deus fez a Terra e os céus…» (Gn 2, 4b). 14 Só Deus é Criador e Senhor de todas as coisas. A ideia é repetida ao longo do texto, com a constante repetição de «Senhor Deus». «Terra e os céus»: significa tudo o que existe.
«…ainda não tinha feito chover sobre a terra (Gn 2, 5). 15 No anterior relato predominava a água, mas neste há falta dela. Tem por base a experiência do oásis na vastidão do deserto. A terra seca é ausência de vida. 3. A CRIAÇÃO «…então o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e insuflou-lhe pelas narinas o sopro da vida…» (Gn 2, 7). 16 Devem-se ressaltar três aspectos essenciais deste trecho bíblico…
A água, a chuva é a grande bênção inicial, que permite ao Criador modelar o homem. Modelar é próprio do oleiro que se reconhece na sua obra: um «Deus-oleiro». É o primeiro momento da criação do Homem… 2. O segundo momento da criação do Homem é o soprar com o Seu sopro de vida, tornando-se o Homem um «ser vivo». No primeiro momento, o Homem participa da condição terrena; no segundo momento, ganha a inteligência e a liberdade. 3. A CRIAÇÃO 3. Em hebraico, «Homem» é Adam ( = «terreno»), que não é propriamente «homem», mas sim a humanidade (homem e mulher) e tem a ver com «húmus». Liga-se com Adamah, que significa «terra» ou «barro». Adão não é um nome próprio, mas é um nome comum: das 560 vezes que aparece na Bíblia, só 5 vezes é usado como nome próprio.
UM PARÊNTESIS: ENTÃO, O HOMEM FOI CRIADO OU EVOLUIU? 17 Que Deus tenha criado directamente o primeiro homem a partir de uma matéria preexistente como o «pó da terra» ou que Se tenha servido de um animal que, durante milhões de anos, foi evoluindo para uma constituição cada vez mais aperfeiçoadas, em nada afecta o poder criador do mesmo Deus e a Sua intervenção pessoal na criação da alma, que fez dessa animal aperfeiçoado um verdadeiro «Homem», dotado de corpo material e alma espiritual que o torna inteligente e livre, responsável pelos seus actos, e capaz de se relacionar pessoalmente com o mesmo Deus. 3. A CRIAÇÃO
«Depois, o Senhor Deus plantou um jardim no Éden, ao oriente, e nele colocou o homem que tinha formado» (Gn 2, 8). 18 Até ao vers. 17 narra-se a história do Éden, um paraíso na terra. Deus deseja que o Homem seja feliz e que viva em amizade com Ele; para isso, cria-lhe as condições: como um «Deus jardineiro», coloca-o num estado de felicidade, num «jardim», o Éden. «Éden» deriva do sumério Edin e significa «terreno fértil». 3. A CRIAÇÃO É um lugar simbólico, que não pode ser localizado geograficamente, mas está a «oriente», que é de onde vem o Sol, como fonte de vida e daí vem a felicidade. Dele deriva um rio que se divide em quatro: dois são o Tigre e o Eufrates, isto para dar algum «realismo» à narração. Quatro é o número cósmico, a totalidade da terra; o rio dá fertilidade e riqueza ao jardim.
«O Senhor Deus fez brotar da terra toda a espécie de árvores agradáveis à vista e de saborosos frutos para comer, a árvore da Vida estava no meio do jardim, assim como a árvore do conhecimento do bem e do mal» (Gn 2, 9). 19 No Éden, as árvores e os frutos eram abundantes… 3. A CRIAÇÃO A «árvore da vida» e do «conhecimento do bem e do mal» não vêm em nenhum catálogo florestal. Trata-se de símbolos tirados das lendas da época, em particular da Babilónia. Representam a livre escolha: ressaltam a livre decisão do homem nos confrontos com Deus. Estamos perante uma linguagem mítica e poética.
«O Senhor Deus levou o homem e colocou-o no jardim do Éden, para o cultivar e também, para o guardar» (Gn 2, 15). 20 Deus criou a Terra para que o homem a cultive e guarde e usufrua dela e possua a vida plena (a árvore da vida), imortalidade. 21 «E o Senhor Deus deu esta ordem ao homem: podes comer do fruto de todas as árvores do jardim, mas não comas o da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque, no dia que o comeres, certamente morrerás» (Gn 2, 16-17). 3. A CRIAÇÃO A condição única para viver em felicidade e alcançar a imortalidade, é obedecer a Deus e reconhecer a dependência d’Ele. Deus proíbe comer os frutos da árvore do conhecimento não porque este conhecimento seja mau, mas o problema é o bom ou o mau uso que o Homem fará desse conhecimento.
Quanto à questão das árvores do «conhecimento do bem e do mal» e da «vida», há a justaposição de duas tradições diferentes. Por exemplo, em Gn 2, 9 há de facto «no meio do jardim» a árvore da vida e em Gn 3,3, há a árvore do conhecimento. Em Gn 2, 16 e ss fala-se da proibição de comer da árvore do conhecimento, mas em Gn 3, 22, a proibição é aplicada também à árvore da vida. 3. A CRIAÇÃO «Vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele (…) O homem designou com nomes todos os animais…» (Gn 2, 18-20) 22 O Homem «ao dar nome aos animais» colabora e participa no poder criativo de Deus. Dar nome, entre os hebreus, significa «ter poder sobre», pois Deus quis que o Homem tivesse a propriedade e domínio sobre todos os animais (como se diz em Gn 1,26s). Esta superioridade é também apanágio da mulher, visto ser uma companheira adequada ao homem.
23 • «…enquanto ele dormia, tirou-lhe uma das suas costelas (…) da costela (…) o Senhor Deus fez a mulher» (Gn 2, 21-22). • «Chamar-se-á mulher, visto ter sido tirada do homem!» (Gn 2, 23). • «Por esse motivo, o homem deixará o pai e a mãe, para se unir à sua mulher, e os dois serão uma só carne» (Gn 2, 24). 3. A CRIAÇÃO Deus, que fora descrito como um oleiro e como um jardineiro, aparece agora como um «Deus-cirurgião». Não se pode tomar sito à letra. Mas qual o sentido da mesma?
Foi Deus que instituiu a diversidade de sexos: CONTRA O DESPREZO DO CORPO E DO SEXO… A sexualidade foi querida por Deus CONTRA A IDOLATRIA DO CORPO E DO SEXO… Praticada pelos cultos dos povos vizinhos 3. A CRIAÇÃO Adão dorme profundamente, pelo que não participa da feitura da mulher. O sono é espaço da revelação. O primeiro homem não foi espectador da acção criadora de Deus. A origem da primeira mulher, mesmo depois de Adão lá estar, permanece um mistério impenetrável.
A mulher sai duma costela do homem, isto é, da zona do coração do homem. É igual a ele, tem uma missão de amor no seio da humanidade. Homem e mulher são corpo um do outro. São o complemento um do outro. Por isso, o matrimónio é bom, contra certas teorias que apareceram ao longo da História. Por exigência da criação, a família é monogâmica. 3. A CRIAÇÃO «Chamar-se-á mulher» porque em hebraico o homem é ish (masculino) e a mulher ishah (feminino): a raiz da palavra é a mesma, a natureza de ambos é a mesma. O adam (humanidade) passa agora a homem e mulher. Mais tarde, designa-se a mulher por «Eva» = mãe de todos os viventes.
«Há aqui um grande significado teológico: como Eva sai do peito aberto de Adão adormecido, assim a Igreja – esposa de Cristo – sai do Seu coração aberto na cruz (Jo 19, 34). 24 • «Estavam ambos nus, tanto o homem como a mulher, mas não sentiam vergonha» (Gn 2, 25). 3. A CRIAÇÃO • É um versículo de transição para o capítulo seguinte. É símbolo do estado da feliz inocência do primeiro casal humano, querido por Deus, não no sentido da ausência de desordem sexual, mas no sentido de uma mútua confiança e estima.
25 Em resumo, qual a MENSAGEM DE FÉ que se pode retirar dos textos da Criação? Que existe um único Deus criador, eterno, omnipotente, bom e Senhor de tudo. 2. Que tudo o que foi criado é bom, porque saiu das mãos de Deus, que é bom. 3. A CRIAÇÃO 3. Que foi por vontade de Deus, expresso na Sua Palavra, que existem o Céu e a Terra, bem como tudo o que eles contêm; e que a Natureza não é divina, nem está povoada por divindades. 4. Que Deus pôs um cuidado especial na criação do Homem, ponto mais alto da Criação, foi criado à imagem e semelhança de Deus, criado livre e responsável, e destinado a viver em comunhão com Ele nesta e na outra vida.
5. Que foi para este Homem – rei e centro do universo - que Deus criou tudo o resto, pois Deus quer que ele viva feliz. 6. Que Deus está na origem dos dois sexos; que o homem e a mulher são iguais em dignidade, são complementares um ao outro; que o homem e a mulher viviam num estado de inocência, livres da revolta dos instintos; que o matrimónio e a família foram instituídos por Deus. 3. A CRIAÇÃO 7. Que o homem foi criado por Deus para viver em justiça e santidade, em harmonia consigo, com os outros, com a natureza e com Deus, e cheio dos Seus dons. 8. Que os homens devem manifestar a Deus a sua gratidão, reservando um dia por semana para O glorificar e descansar.
Quais as partes em que se pode dividir a narração da queda do Homem (Gn 3, 1-24)? 1 Na narração da queda do Homem (Gn 3, 1-24), ou da origem do mal, podem distinguir-se as partes seguintes: • O paraíso, lugar da decisão. • O diálogo entre Eva e a serpente. • O fruto proibido. • O interrogatório e a sentença. • A expulsão do paraíso. 4. A ORIGEM DO MAL Em que consiste a primeira parte: o paraíso, lugar de decisão? 2 Foi sendo contada até aqui, com a proibição de comer da árvore do conhecimento do bem e do mal e a posição do Homem face à mesma proibição.
«1 A serpente era o mais astuto de todos os animais selvagens que o SENHOR Deus fizera; e disse à mulher: «É verdade ter-vos Deus proibido comer o fruto de alguma árvore do jardim?». 2 A mulher respondeu-lhe: «Podemos comer o fruto das árvores do jardim; 3 mas, quanto ao fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse: ‘Nunca o deveis comer, nem sequer tocar nele, pois, se o fizerdes, morrereis.‘ 4 A serpente retorquiu à mulher: ‘Não, não morrereis; 5 porque Deus sabe que, no dia em que o comerdes, abrir-se-ão os vossos olhos e sereis como Deus, ficareis a conhecer o bem e o mal‘.» (Gn 3, 1-5). 3 4. A ORIGEM DO MAL
Este texto trata-se do diálogo entre Eva e a serpente (Gn 3, 1-5). A origem do mal do mundo é um dos problemas mais sérios que o homem se coloca a si mesmo. O autor sagrado conclui, por inspiração divina, que o autor do mal não pode ser Deus (como pensavam os Persas e outros). A causa dele deve procurar-se nas criaturas e no mau uso das faculdades com que Deus lhes dotou. Mas Deus não podia ter criado o homem com tanta inclinação para o mal; só uma misteriosa «força do mal» pode ter levado o Homem a desobedecer às determinações que Ele lhes deu. 4. A ORIGEM DO MAL
DEMÓNIO ou SATANÁS = SERPENTE Mas porquê uma serpente? Causa instintivamente repulsa e horror... 2. Para condenar os cultos dos cananeus em honra das serpentes: era considerada como símbolo da fertilidade e prestavam-lhe culto, com ritos sexuais e prostituição sagrada. Além disso, para advertir os israelitas desses perigos, que desviavam a muitos das duras exigências da Lei para um culto fácil. 4. A ORIGEM DO MAL 3. Para dizer que a serpente não era um deus, mas uma criatura, que até ridicularizavam, pois «rastejava e comia pó»; era o «símbolo» do causador dos males da humanidade: se não andassem atrás da serpente, o mundo poderia ser diferente!