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ARCADISMO EM PORTUGAL POESIA DE BOCAGE. Profª Neusa. POESIA ERÓTICO-SATÍRICA Lá, quando em mim perder a humanidade Mais um daqueles que não fazem falta, Verbi-gratia o teólogo, o peralta, Algum duque, ou marquês, ou conde, ou frade;
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ARCADISMO EM PORTUGAL POESIA DE BOCAGE Profª Neusa
POESIA ERÓTICO-SATÍRICA Lá, quando em mim perder a humanidadeMais um daqueles que não fazem falta,Verbi-gratia o teólogo, o peralta,Algum duque, ou marquês, ou conde, ou frade; Não quer funeral comunidade,Que engrole sub-venites em voz alta;Pingados gatarrões, gente de malta,Eu também vos dispenso a caridade; Mas quando ferrugenta enxada idosaSepulcro me cavar em ermo outeiro,Lavre-me este epitáfio mão piedosa: “Aqui dorme Bocage, o putanheiro;Passou vida folgada e milagrosa;Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro”.
Não lamentes, oh Nise, o teu estado; Puta tem sido muita gente boa; Putíssimas fidalgas tem Lisboa, Milhões de vezes putas têm reinado: Dido foi puta, e puta dum soldado; Cleópatra por puta alcança a c’roa; Tu, Lucrecia, com toda a tua proa, O teu cono não passa por honrado: Essa da Rússia imperatriz famosa, Que ainda há pouco morreu (diz a Gazeta) Entre mil porras expirou vaidosa: Todas no mundo dão a sua greta: Não fiqueis pois, oh Nise, duvidosa Que isto de virgo é honra é tudo peta.
Cagando estava a dama mais formosa, E nunca se viu cu de tanta alvura; Mas ver cagar, contudo, a formosura, Mete nojo à vontade mais gulosa! Eis a massa expulsou fedentinosa Com algum custo, porque estava dura: Um carta d’amor de alimpadura Serviu àquela parte mal cheirosa: Ora mandem à moça mais bonita Um escrito d’amor que lisonjeiro Afetos move, corações incita; Para o ir ver servir de reposteiro À porta, onde o fedor e a trampa habita, Do sombrio palácio do alcatreiro!
POESIA LÍRICA Ó tranças, de que Amor prisão me tece,Ó mãos de neve, que regeis meu fado!Ó tesouro! ó mistério! ó par sagrado,Onde o menino alígero adormece. Ó ledos olhos, cuja luz pareceTênue raio de sol! Ó gesto amado,De rosas e açucenas semeadoPor quem morrera esta alma, se pudesse! Ó lábios, cujo riso a paz me tira,E por cujos dulcíssimos favoresTalvez o próprio Júpiter suspira! Ó perfeições! Ó dons encantadores!De quem sois?... Sois de Vênus? - É mentira;Sois de Marília, sois de meus amores ARCADISMO
Insônia Ó retrato da morte, ó noite amiga Por cuja escuridão suspiro há tanto! Calada testemunha de meu pranto, De meus desgostos secretária antiga! Pois manda, Amor, que a ti somente os diga, Dá-lhes pio agasalho no teu manto; Ouve-os, como costumas, ouve, enquanto Dorme a cruel, que a delirar me obriga: E vós, ó cortesãos da escuridade, Fantasmas vagos, mochos piadores, Inimigos, como eu, da claridade! Em bando acudi aos meus clamores; Quero a vossa medonha sociedade, Quero fartar meu coração de horrores. PRÉ-ROMANTISMO
ARCADISMO NO BRASIL POESIA DE TOMÁS A. GONZAGA Profª Neusa
POESIA LÍRICA Marília de Dirceu 1ª parte Lira I Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, Que viva de guardar alheio gado, De tosco trato, de expressões grosseiro, Dos frios gelos e dos sóis queimado. Tenho próprio casal e nele assisto; Dá-me vinho, legume, fruta, azeite; Das brancas ovelhinhas tiro o leite, E mais as finas lãs, de que me visto. Graças, Marília bela, Graças à minha Estrela! ARCADISMO
Lira VIII Marília, de que te queixas? De que te roubou Dirceu O sincero coração? Não te deu também o seu? E tu, Marília, primeiro Não lhe lançaste o grilhão? Todos amam: só Marília Desta Lei da Natureza Queria ter isenção? Em torno das castas pombas, Não rulam ternos pombinhos? E rulam, Marília, em vão? Não se afagam c’os biquinhos? E a prova de mais ternura Não os arrasta a paixão? Todos amam: só Marília Desta Lei da Natureza Queria ter isenção?
2ª parte Lira XIX Nesta triste masmorra, De um semivivo corpo sepultura, Inda, Marília, adoro A tua formosura. Amor na minha idéia te retrata; Busca, extremoso, que eu assim resista À dor imensa, que me cerca e mata (...) Conheço a ilusão minha; A violência da mágoa não suporto; Foge-me a vista e caio, Não sei se vivo ou morto. Enternece-se Amor de estrago tanto; Reclina-me no peito, e com mão terna Me limpa os olhos do salgado pranto.
Lira XX Se mi visses com teus olhos Nesta masmorra metido, De mil idéias funestas E cuidados combatido, Qual seria, ó minha bela Qual seria o teu pesar? (...) Chegam as horas, Marília, Em que o sol já tem posto; Vem-me à memória que nelas Via à janela o teu rosto: Reclino na mão a face E entro de novo a chorar. PRÉ-ROMANTISMO
Lira XXII Por morto, Marília, Aqui me reputo: Mil vezes escuto O som do arrastado, E duro grilhão. Mas, ah! que não reme, Não treme de susto O meu coração. A chave lá soa No porta segura; Abre-se a escura, Infame masmorra Da minha prisão. Mas, ah! que não treme, Não treme de susto O meu coração.