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AULA 03 HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA I. ANAXÍMENES DE MILETO. Também em Mileto floresceu Anaxímenes, discípulo de Anaximandro, no século VI a.C., de cujo escrito Sobre a Natureza , chegaram-nos três fragmentos, além de testemunhos indiretos.
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AULA 03 HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA I
ANAXÍMENES DE MILETO Também em Mileto floresceu Anaxímenes, discípulo de Anaximandro, no século VI a.C., de cujo escrito Sobre a Natureza, chegaram-nos três fragmentos, além de testemunhos indiretos.
Anaxímenes pensa que o “princípio” deve ser infinito, sim, mas que deve ser pensado como ar infinito, substância aérea ilimitada.
Escreve ele: “Exatamente como a nossa alma (seja, o princípio que dá a vida), que é ar, se sustenta e se governa, assim também o sopro e o ar, abarcam o cosmos inteiro”
Com base no que já dissemos sobre os dois filósofos anteriores de Mileto, está claro por que motivo o ar é concebido por Anaxímenes como “o divino”.
Fica por esclarecer, no entanto a razão pela qual Anaxímenes escolheu o ar como “princípio”. É evidente que ele sentia a necessidade de introduzir uma physis que permitisse,
de modo mais lógico e mais racional do que fizera Anaximandro, dela deduzir todas as coisas. Com efeito, por sua natureza de grande mobilidade, o ar se presta muito bem para ser concebido como estando
em perene movimento (bem mais do que o infinito de Anaximandro). Ademais, o ar se presta melhor do que qualquer outro elemento às variações e transformações necessárias para fazer nascer as diversas coisas.
HERÁCLITO DE ÉFESO Heráclito de Éfeso viveu entre os séculos VI e V a.C. Não quis participar de modo algum da vida pública, como registra uma fonte antiga.
Os filósofos de Mileto haviam notado o dinamismo universal das coisas, que nascem, crescem e perecem, bem como do mundo - aliás, dos mundos -, submetido ao mesmo processo.
Além disso, haviam pensado o dinamismo como característica essencial do próprio “princípio” que gera, sustenta e reabsorve todas as coisas.
Entretanto não haviam levado adequadamente tal aspecto da realidade ao nível temático. E é precisamente isso que faz Heráclito.
“Tudo de move”, “tudo escorre” (panta rhei), nada permanece imóvel e fixo, tudo muda e se transmuta, sem exceção. Em dois de seus mais famosos fragmentos podemos ler:
“Não se pode descer duas vezes o mesmo rio e não se pode tocar duas vezes uma substância mortal no mesmo estado, pois, por causa da impetuosidade e da velocidade da mudança, ela se dispersa e se reune, vem e vai (...)
É claro o sentido desses fragmentos: o rio é “aparentemente” sempre o mesmo, mas “na realidade” é constituído por águas sempre novas e diferentes, que sobrevêm e se dispersam.
Por isso, não se pode descer duas vezes a mesma água do rio, precisamente porque ao descer pela segunda vez já se trata de outra água que sobreveio.
E também porque, nós próprios mudamos: no momento em que completamos uma imersão no rio, já nos tornamos diferentes de como éramos quando nos movemos para nele imergir.
Dessa forma, Heráclito pode muito bem dizer que nós entramos e não entramos no mesmo rio. E pode dizer também que nós somos e não somos, porque,
para ser aquilo que somos em um determinado momento, devemos não-ser-mais aquilo que éramos no momento anterior, do mesmo modo que, para continuarmos a ser, devemos continuamente não-ser-mais aquilo que somos em cada momento.
PARMÊNIDES DE ELÉIA Parmênides nasceu em Eléia na segunda metade do século VI. a.C e morreu em meados do século V a.C.
Foi ele o fundador da escola eleática, destinada a ter uma grande influência sobre o pensamento grego. Foi iniciado em filosofia pelo pitagórico Amínias.
Informa-se que foi um ativo político, dotando a cidade de boas leis. Do seu poema Sobre a Natureza sobreviveram até nossos dias o prólogo inteiro, quase que toda a primeira parte e fragmentos da segunda.
No âmbito da filosofia da physis, Parmênides se apresenta como um inovador radical e, em certo sentido, como um pensador revolucionário. Efetivamente, com ele, a cosmologia
recebe como que um profundo e benéfico abalo do ponto de vista conceitual, transformando-se, pelo menos em parte, em uma ontologia (teoria do ser).
O grande princípio de Parmênides, que é o próprio princípio da verdade, é este: o ser é e não pode não ser; o não ser não é e não pode ser de modo algum.
No contexto do discurso de Parmênides, “ser” e “não ser” são tomados em seu significado integral e unívoco: o ser é o positivo puro e o não ser é o negativo puro, um é o absoluto contraditório do outro.
Mas como Parmênides justifica esse seu grande princípio? A argumentação é muito simples: tudo aquilo que alguém pensa e diz, é. Não se pode pensar (e, portanto, dizer) senão pensando (e, portanto, dizendo) aquilo que é.
Pensar o nada significa não pensar em absoluto e dizer o nada significa não dizer nada. Por isso, o nada é impensável e indizível. Assim pensar e ser coincidem.
Há muito que os intérpretes apontaram nesse princípio de Parmênides a primeira grande formulação do princípio da não-contradição, isto é, daquele princípio que afirma a impossibilidade
de que os contraditórios existam ao mesmo tempo. E os dois contraditórios supremos são precisamente o “ser” e o “não ser”: havendo o ser, é necessário que não haja o não ser.
Parmênides descobriu esse princípio sobretudo em sua valência ontológica; posteriormente, ele seria estudado também em suas valências lógicas, gnosiológicas e lingüísticas, constituindo o pilar de toda lógica do ocidente.
Considerando esse significado integral e unívoco com o qual Parmênides entende o ser e o não ser e, portanto, o princípio da não-contradição, pode-se compreender muito bem os “sinais” ou as “conotações” essenciais, ou seja,
os atributos estruturais do ser que, no poema, são pouco a pouco deduzidos com uma lógica férrea e com uma lucidez absolutamente surpreendente, a ponto de Platão ainda sentir o seu fascínio, chegando a denominar o nosso filósofo de “venerando e terrível”.
O ser é “incriado” e “incorruptível”. É incriado visto que, se fosse gerado, deveria ter derivado de um não-ser, o que seria absurdo, dado que o não-ser não é, ou então deveria ter derivado do ser, o que é igualmente absurdo, porque então ele já seria.