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“Ajude-me a suportar o que não posso compreender. Ajude-me a mudar o que não posso suportar.”. São Francisco de Assis. “O princípio ético supremo é a reverência pela vida.”. Rubem Alves.
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“Ajude-me a suportar o que não posso compreender. Ajude-me a mudar o que não posso suportar.” São Francisco de Assis
“O princípio ético supremo é a reverência pela vida.” Rubem Alves
“Quem disser que a natureza é indiferente às dores e preocupações dos homens, não sabe de homens nem de natureza.” José Saramago
A selva é claustrofóbica e abafada. Os raios de sol mal conseguem romper a copa das árvores.
A luminosidade chega preguiçosa ao solo, e o ar úmido traz um cheiro forte de decomposição.
Permanecer encarcerado num ambiente tão inóspito esmaga as resistências do corpo e quebranta as forças da alma.
Quão desumana a humanidade tem se tornado, a ponto de infligir tal pena a uma vida.
Ingrid Betancourt sobrevive há seis anos numa prisão na selva, como refém das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, FARC.
Seis longos anos, uma vida interrompida...
Ingrid Betancourt Pulecio nasceu em Bogotá, Colômbia, em 1961, filha de Gabriel Betancourt, ex-Senador e ex-Embaixador colombiano, e de Yolanda Pulecio, ex-Miss Colômbia. Passou parte de sua juventude em Paris, pois o pai era embaixador na UNESCO.
Com uma infância e uma juventude especialmente agraciadas cultural e existencialmente, a bela Ingrid habituou-se a conviver com pessoas como o poeta Pablo Neruda, o pintor Fernando Botero e o escritor Gabriel García Márquez, amigos da família. Fez seus estudos no Instituto de Estudos Políticos de Paris, onde se licenciou em Ciências Políticas.
Foi em Paris também que conheceu Fabrice Delloye, com quem se casou em 1981. Dessa união nasceram seus dois filhos, Mélanie e Lorenzo, que vivem atualmente na França.
Em 1990, divorcia-se de Fabrice e o destino a faz regressar à Colômbia para empreender uma carreira política baseada na luta contra a máquina de corrupção movida pelo dinheiro do narcotráfico.
As longas conversas que mantém com seu pai, nas quais por vezes discorrem sobre a situação confortável da família na Europa e o sofrimento por que passa grande parte da população de sua terra natal, certamente contribuem na sua decisão de regressar à Colômbia.
Ingrid resolve seguir o chamado do seu coração, ciente de todos os riscos e desafios que tal decisão acarreta.
Em 1994 é eleita Deputada, com a maior votação registrada no país. Nesse mesmo ano, casa-se com o publicitário Juan Carlos Lecompte.
Paladina da cruzada anti-corrupção, abraça também a causa ambiental, criando, em 1998, o ‘Oxigênio’, um pequeno partido ecologista. Logo em seguida, consegue eleger-se Senadora, outra vez com a maior votação já registrada para o cargo no país.
Em 23 de Fevereiro de 2002, em período de plena campanha presidencial, é seqüestrada por guerrilheiros das FARC, Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.
À dor de ver sonhos e projetos políticos e humanitários interrompidos, sobrepõe-se o sofrimento ocasionado pela separação abrupta das pessoas que mais ama...
Por seis anos, impedida de abraçá-los.
Seis longos anos de separação forçada, tempo suficiente para transformar crianças em adolescentes, e adolescente em jovens adultos.
Por seis anos impedida de acompanhar a vida dos filhos, de quem a apartaram ainda pequenos...
Mélanie, que na época do seqüestro de sua mãe tinha 16 anos, está agora com 22. Lorenzo, que contava com 13, completou recentemente 19 anos.
Deixando de lado muitos dos afazeres dos jovens da sua idade, empenham-se por mobilizar a opinião pública e os governantes em busca de uma saída, uma solução.
Por seis longos anos, Mélanie e Lorenzo percorrem universidades, escolas, ruas e praças, concedem entrevistas, reúnem-se com autoridades e artistas, participam de eventos, manifestações e passeatas, de modo a não permitir que a situação de sua mãe, e de tantos outros reféns, caia no esquecimento.
Não se faz necessário falar o mesmo idioma que eles para entender o que procuram dizer ao mundo.
Basta conhecer a linguagem do olhar, - reparar nos seus olhos todo o peso de uma dor que desde cedo tiveram que aprender a carregar nos seus peitos.
A sua cruzada não visa apenas ao resgate da sua amada mãe, é, antes, a nossa cruzada em busca do resgate da nossa humanidade perdida na selva do esquecimento...
Orações, esperanças, vigílias, sonhos...
Orações, esperanças, vigílias, sonhos...
Somando-se à dolorosa espera dos filhos está a da Sra. Yolanda Pulecio, mãe de Ingrid.
Era o ano de 1961 quando ela soube que estava grávida. “Ainda a barriga não cresceu e já os filhos brilham nos olhos das mães”, escreveu certa vez o poeta.
Em 25 de dezembro de 1961 a vida lhe presenteou com o nascimento de Ingrid, um presente de Natal que lhe alegrou o coração, uma inestimável jóia em sua vida.
Um laço profundo de amor e admiração liga Ingrid a seus pais, tornando a separação ainda mais dolorosa.
Haverá dor maior do que aquela sentida por uma mãe apartada de seu filho? Ainda maior é esta dor, se a separação se deve à desumanidade, à injustiça humana...
“Deus não pode estar em todos os lugares e por isso fez as mães.” Ditado judaico
“Os filhos são para as mães as âncoras da sua vida.” Sófocles pensador grego
“Acho que não existe uma situação mais triste e mais dura para uma mãe do que essa. Eu sofro muito, desde que abro meus olhos estou sofrendo, a cada manhã.” Yolanda Pulecio
Possivelmente, jamais conseguiremos alcançar as profundidades da dor que a mãe e os filhos de Ingrid carregam no coração. Porém, para sondar, mesmo que superficialmente, o seu pesar, devemos regressar um pouco no tempo...
No início dos anos 90, uma mulher resolve deixar para trás o conforto mundano, e partir da capital francesa rumo à Colômbia. Num mundo onde a fria omissão e a apiedosa indiferença se fizeram regra, uma mulher ousa sonhar, e parte na sua jornada pessoal em busca de um mundo melhor. À sua frente tem riscos e desafios. Na sua bagagem leva Coragem e Esperança.
Lança-se na arena política, munida de compaixão, - virtude que há muito se desvaneceu da esfera política, não somente colombiana, mas mundial.
Faz do combate à corrupção a sua bandeira. Torna-se uma árdua promotora da justiça social, da promoção da educação, da valorização da vida em geral.
Por abordar anseios tão caros à alma humana, e por defendê-los com tal vivacidade e convicção, não tarda em conquistar muitos corações.
Primeiramente, elege-se Deputada, logo em seguida, Senadora, e em 2001, candidata-se à Presidência.