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BULLYING PSICOPEDAGOGA ELIANA SOARES
BULLYING: é preciso levar a sério ao primeiro sinal
Esse tipo de violência tem sido cada vez mais noticiado e precisa de educadores atentos para evitarem consequências desastrosas.
Entre os tantos desafios já existentes na rotina escolar, está posto mais um. O bullying escolar - termo sem tradução exata para o português – tem sido cada vez mais reportado. É um tipo de agressão que pode ser física ou psicológica, ocorre repetidamente e intencionalmente e ridiculariza, humilha e intimida suas vítimas.
As escolas geralmente se omitem. Os pais não sabem lidar corretamente. As vítimas e as testemunhas se calam. O grande desafio é convocar todos para trabalhar no incentivo a uma cultura de paz e respeito às diferenças individuais. A partir dos casos graves, o assunto começou a ganhar espaço em estudos desenvolvidos por pedagogos e psicólogos que lidam com Educação.
Para Lélio Braga Calhau, promotor de Justiça de Minas Gerais, a imprensa também ajudou a dar visibilidade à importância de se combater o bullying e, por consequência, a criminalidade. "Não se tratam aqui de pequenas brincadeiras próprias da infância, mas de casos de violência, em muitos casos de forma velada.
Essas agressões morais ou até físicas podem causar danos psicológicos para a criança e o adolescente facilitando posteriormente a entrada dos mesmos no mundo do crime”, avalia o especialista no assunto. Ele concorda que o bullying estimula a delinquência e induz a outras formas de violência explícita.
O QUE É BULLYING ?
Bullying é uma situação que se caracteriza por atos agressivos verbais ou físicos de maneira repetitiva por parte de um ou mais alunos contra um ou mais colegas. O termo inglês refere-se ao verbo"ameaçar, intimidar". Atos agressivos físicos ou verbais só são evitados com a união de diretores, professores, funcionários, alunos e famílias.
Estão inclusos no bullying os apelidos pejorativos criados para humilhar os colegas. E, não adianta, todo ambiente escolar pode ter esse problema. "A escola que afirma não ter bullying ou não sabe o que é ou está negando sua existência", diz o médico pediatra Lauro Monteiro Filho, fundador da Associação Brasileira Multiprofissional de
Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia), que estuda o problema há nove anos. Segundo o médico, o papel da escola começa em admitir que é um local passível de bullying, informar professores e alunos sobre o que é e deixar claro que o estabelecimento não admitirá a prática - prevenir é o melhor remédio. O papel dos professores também é fundamental.
"Há uma série de atividades que podem ser feitas em sala de aula para falar desse problema com os alunos. Pode ser tema de redação, de pesquisa, teatro etc. É só usar a criatividade para tratar do assunto", diz. " O papel do professor também passa por identificar os atores do bullying - agressores e vítimas.” O agressor não é assim apenas na escola.
Normalmente ele tem uma relação familiar onde tudo se resolve pela violência verbal ou física e ele reproduz o que vê no ambiente escolar", lembra que só a escola não consegue resolver o problema. "A tendência é que ele seja assim por toda a vida a menos que seja tratado", explica o especialista.
Já a vítima costuma ser uma criança com baixa auto-estima e retraída tanto na escola quanto no lar. "Por essas características, é difícil esse jovem conseguir reagir", afirma Lauro. Aí é que entra a questão da repetição no bullying, pois se o aluno reage, a tendência é que a provocação cesse. Claro que não se pode banir as brincadeiras entre colegas no ambiente escolar.
O que a escola precisa é distinguir o limiar entre uma piada aceitável e uma agressão. Ao perceber o bullying, o professor deve corrigir o aluno. E em casos de violência física, a escola deve tomar as medidas devidas, sempre envolvendo os pais. Uma das peças fundamentais é que este jovem tenha exemplos a seguir de pessoas que
não resolvam as situações com violência - e quem melhor que o professor para isso? No entanto, o mestre não pode tomar toda a responsabilidade para si. "Bullying só se resolve com o envolvimento de toda a escola : direção, docentes, funcionários, alunos e a família", afirma o pediatra.
POR QUE UM NOME EM INGLÊS ?
O termo bullying tem origem na palavra inglesa bully, que significa valentão, brigão. Como verbo, significa ameaçar, amedrontar, tiranizar, oprimir, intimidar, maltratar. O primeiro a relacionar a palavra ao fenômeno foi Dan Olweus, professor da Universidade da Noruega. Ao pesquisar as tendências suicidas entre adolescentes, Olweus descobriu que a maioria desses jovens tinha sofrido algum tipo de ameaça e que, portanto, bullying era um mal a combater.
Ainda não existe termo equivalente em português, mas alguns psicólogos estudiosos do assunto o denominam "violência moral", "vitimização" ou "maltrato entre pares", uma vez que se trata de um fenômeno de grupo em que a agressão acontece entre iguais — no caso, estudantes. Como é um assunto estudado há pouco tempo (as primeiras pesquisas são da década de 1990), cada país ainda tem de encontrar uma palavra, em sua própria língua, que tenha esse significado tão amplo.
BULLYING vai muito além da brincadeira sem graça
“É uma das formas de violência que mais cresce no mundo”, afirma Cléo Fante, pedagoga pioneira no estudo do tema no país e autora de Bullying Escolar (Artmed). Segundo ela, o bullying pode acontecer em qualquer contexto social, como escolas, universidades, famílias, entre vizinhos e em locais de trabalho. “Identificamos casos de bullying em escolas das redes pública e privada, rurais e urbanas e até mesmo com
crianças de 3 e 4 anos, ainda no Ensino Infantil”, comenta. Para o presidente do Centro Multidisciplinar de Estudos e Orientação sobre o Buylling Escolar, José Augusto Pedra, o fenômeno é uma epidemia psico-social e pode ter consequências graves. O que, à primeira vista, pode parecer um simples apelido inofensivo pode afetar emocional e fisicamente o alvo da ofensa.
Crianças e adolescentes que sofrem humilhações racistas, difamatórias ou separatistas podem ter queda do rendimento escolar, somatizar o sofrimento em doenças psicossomáticas e sofrer de algum tipo de trauma que influencie traços da personalidade. “Se observa também uma mudança de comportamento. As vítimas ficam isoladas, se tornam agressivas e reclamam de alguma dor física justamente na hora de ir para escola”, detalha José Pedra.
Depressão, baixo auto-estima, ansiedade, abandono dos estudos – essas são algumas das características mais usuais das vítimas. De certa forma, o bullying é uma prática de exclusão social cujos principais alvos costumam ser pessoas mais retraídas, inseguras. Essas características acabam fazendo com que elas não peçam ajuda e, em geral, elas se sentem desamparadas e encontram dificuldades de aceitação.
“São presas fáceis, submissas e vulneráveis aos valentões da escola”, explica Cleo Fante, especialista no assunto. Além dos traços psicológicos, as vítimas desse tipo de agressão apresentam particularidades, como problemas com obesidade, estatura, deficiência física. As agressões podem ainda abordar aspectos culturais, étnicos e religiosos. “Também pode acontecer com um novato ou com uma menina bonita,
que acaba sendo perseguida pelas colegas”, exemplifica Guilherme Schelb.Os agressores são geralmente os líderes da turma, os mais populares – aqueles que gostam de colocar apelidos nos mais frágeis. Assim como a vítima, ele também precisa de ajuda psicológica. "No futuro, este adulto pode ter um comportamento de assediador moral no trabalho e, pior,utilizar da violência e adotar atitudes delinqüentes ou criminosas", detalha Lélio Calhau.
Como prevenir o problema na escola
Esclarecer o que é bullying; • Avisar que a prática não é tolerada; • Observe com atenção o comportamento dos alunos, dentro e fora de sala • de aula, e perceba se há quedas • bruscas individuais no rendimento escolar; • Incentive a solidariedade, • a generosidade e o respeito às diferenças através de conversas, trabalhos • didáticos e até de campanhas de • incentivo à paz e à tolerância;
Desenvolva, desde já, dentro de sala de aula um ambiente favorável à comunicação entre alunos; • Quando um estudante reclamar ou denunciar o bullying, procure • imediatamente a direção da escola; • Muitas vezes, a instituição trata de forma inadequada os casos relatados. A responsabilidade é, sim, da escola, mas a solução deve ser em conjunto com os pais dos alunos envolvidos; • Estimular os estudantes a informar os casos.
Reconhecer e valorizar as atitudes da garotada no combate ao problema; • Identificar possíveis agressores e vítimas; • Criar com os estudantes regras de disciplina para a classe em coerência com o regimento escolar; • Estimular lideranças positivas entre os alunos, prevenindo futuros casos; • Prestar atenção nos mais tímidos e calados. Geralmente as vítimas se retraem. • Fonte: Abrapia
Como a família pode ajudar
Os pais devem estar alertas para o problema – seja o filho vítima agressor pois ambos precisam de ajuda e apoio psicológico. Veja as dicas dos especialistas Cléo Fante e José Augusto Pedra, autores do livro Bullying Escolar (Artmed): • Mostre-se sempre aberto a ouvir e a conversar com seus filhos; • Fique atento às bruscas mudanças de comportamento;
É importante que as crianças e os jovens se sintam confiantes e seguros de que podem trazer esse tipo de denúncia para o ambiente doméstico e que não serão pressionados, julgados ou criticados; • Comente o que é o bullying e os oriente que esse tipo de situação não é normal. Ensine-os como identificar os casos e que devem procurar sua ajuda e dos professores; • Se precisar de ajuda, entre imediatamente em contato com a direção da escola e procure profissionais ou instituições especializadas.
Como lidar com brincadeiras que machucam a alma
Sabe aqueles apelidos e comentários maldosos que circulam entre os alunos? Consideradas "coisas de estudante", essas maneiras de ridicularizar os colegas podem deixar marcas dolorosas e por vezes trágicas. Veja como acabar com o problema na sua escola e, assim, tirar um peso das costas da garotada.
A criançada entra na sala eufórica. Você se acomoda na mesa enquanto espera que os alunos se sentem, retirem o material da mochila e se acalmem para a aula começar. Nesse meio tempo, um deles grita bem alto: "Ô, cabeção, passa o livro!" O outro responde: "Peraí, espinha". Em outro canto da sala, um garoto dá um tapinha, "de leve", na nuca do colega.
A menina toda produzida logo pela manhã ouve o cumprimento: "Fala, metida!“ Ao lado dela, bem quietinha, outra garota escuta lá do fundo da sala: "Abre a boca, zumbi!" E a classe cai na risada. O ambiente parece normal para você? Então leia esta reportagem com atenção. O nome dado a essas brincadeiras de mau gosto, disfarçadas por um duvidoso senso de humor, é bullying.
O termo ainda não tem uma denominação em português, mas é usado quando crianças e adolescentes recebem apelidos que os ridicularizam e sofrem humilhações, ameaças, intimidação, roubo e agressão moral e física por parte dos colegas. Entre as conseqüências estão o isolamento e a queda do rendimento escolar. Em alguns casos extremos, o bullying pode afetar o estado emocional do jovem de tal maneira que ele opte por soluções trágicas,como o suicídio.
Pesquisa realizada em 11 escolas cariocas pela Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (Abrapia), no Rio de Janeiro, revelou que 60,2% dos casos acontecem em sala de aula. Daí a importância da sua intervenção. Mudar a cultura perversa da humilhação e da perseguição na escola está ao seu alcance. Para isso, é preciso identificar o bullying e saber como evitá-lo.
Um perigo para a escola
Em janeiro do ano passado, Edmar Aparecido Freitas, de 18 anos, entrou no colégio onde tinha estudado, em Taiúva (SP), e feriu oito pessoas com disparos de um revólver calibre 38. Em seguida, se matou. Obeso, ele havia passado a vida escolar sendo vítima de apelidos humilhantes e alvo de gargalhadas e sussurros pelos corredores.
Atitude semelhante tiveram dois adolescentes norte-americanos na escola de Ensino Médio Columbine, no Colorado (EUA), em abril de 1999. Após matar 13 pessoas e deixar dezenas de feridos, eles também cometeram suicídio quando se viram cercados pela polícia. Assim como o garoto brasileiro, os jovens americanos eram ridicularizados pelos colegas.
Os exemplos de Edmar e dos garotos de Columbine, que tiveram reações extremadas, são um alerta para os educadores. "Os meninos não quiseram atingir esse ou aquele estudante. "Os meninos não quiseram atingir esse ou aquele estudante.
O objetivo deles era matar a escola em que viveram momentos de profunda infelicidade e onde todos foram omissos ao seu sofrimento", analisa o pediatra Aramis Lopes Neto, coordenador do Programa de Redução do Comportamento Agressivo entre Estudantes, desenvolvido pela Abrapia.
Ações da turma melhoram o ambiente
Como o bullying ainda é tratado como um fenômeno natural, pouquíssimas escolas conhecem e combatem o problema. Hugo Vinícius de Souza Lins está na 5ª série. Ele entrou na Thomas Mann este ano e conta que na escola onde estudava antes nunca tinha ouvido falar no assunto.
"Lá me davam apelidos e, apesar de não gostar, fazia a mesma coisa. Aqui parei com isso, porque acho errado incomodar quem não merece.” Os alunos são orientados a ser receptivos e a integrar quem acaba de chegar explicando que ali não se tolera o bullying. Isso evita o isolamento e o pré-julgamento do novato, que aprende a procurar ajuda.
As turmas já estão até organizando uma peça de teatro sobre o tema, que será apresentada para os pais e a comunidade. Os professores sugerem dinâmicas entre os adolescentes, estimulando o bom relacionamento, além de aplicar atividades que envolvam a questão. "Lendo as redações que eles produzem, consigo identificar o que sentem e se passam por algum problema", diz a professora de Língua Portuguesa Maria Pamphiro Veloso.
Cada professor busca em sua disciplina um gancho para trabalhar o tema. Assim, a professora de Artes monta os cartazes da campanha contra o bullying, que são dispostos nas paredes da escola. Em História, é trabalhada a questão do negro e do racismo no Brasil, que também é um dos motivos do fenômeno.