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MMetafísica e mitologia 1. A metafísica e a consciência “ ontó noma” ( ≠ autó noma; do grego: to on : “ o Ser ” ) 2 . O fracasso da autonomia perante o dado absoluto 3 3. Orfeu, a consciência de si e o pecado original.
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MMetafísica e mitologia 1. A metafísica e a consciência “ontónoma” (≠ autónoma; do grego: to on: “o Ser”) 2 . O fracasso da autonomia perante o dado absoluto 3 3. Orfeu, a consciência de si e o pecado original
Metafísica: O projecto do pensar o mundo como mundo. 1. Parménides: to eon 2. Heraclito: logos 3. Platão: anhypotheton = henologia (do grego: to hen = o uno)
Consciência ontónoma: “A mesma coisa é pensar e é por isso que há pensamento. Pois sem o Ser, em que o pensar está expresso, não encontrarás o pensar.” (Parménides, fr. 8, 34-36)
A consciência de si própria: • Platão: “ciência da ciência” (epistêmê epistêmês) (Charmides) • Aristóteles: “pensamento do pensamento” (noêseôs noêsis) (Metafísica) • Neoplatonismo: “auto-consciência como consciência ontónoma”(ousiôdês noêsis)
Consciência autónoma: • Epistemologia como prima philosophia (Descartes) • Filosofia da subjectividade → idealismo absoluto: “A substância (o Ser) como sujeito” (Hegel, Prefácio à Fenomenologia do espírito) • A subjectividade absoluta: “Círculo de círculos” (Hegel, Ciência da lógica)
“Não é o ofício de poeta narrar o que aconteceu; é, sim, o de representar o que poderia acontecer [hoia an genoito], quer dizer: o que é possível segundo a verosimilhança e a necessidade. [...] Por isso a poesia é algo de mais filosófico e mais sério do que a história.” (Aristóteles, Poética, 1451a36ff.)
Hans Blumenberg (1920-1996): 1. "Wirklichkeitsbegriff und Wirkungspotential des Mythos" ("Conceito da realidade e eficácia do mito", 1971) 2. "Arbeit am Mythos" ("Trabalho no mito", 1979) →Mitologia: eterno retorno do mesmo como estrutura do culto. A consciência de si é um círculo mitológico. Nunca houve a passagem do mito ao logos. A metafísica ainda trabalha no mito.
Xenófanes de Colofone (Séc VI a.C.) • Crítica da mitologia: • “Homero e Hesíodo atribuíram aos deuses tudo quanto entre os homens é vergonhoso e censurável, roubos, adultérios e mentiras recíprocas.” (fr. 11) • “Mas os mortais imaginam que os deuses foram gerados e que têm vestuário, fala e corpos iguais aos seus.” (fr. 14)
“Mas se os bois e os cavalos ou os leões tivessem mãos ou fossem capazes de, com elas, desenhar e produzir obras, como os homens, os cavalos desenhariam as formas dos deuses semelhantes à dos cavalos, e os bois à dos bois, e fariam os seus corpos tal como cada um deles o tem.” (fr. 15)
22. A invenção do deus filosófico: -“Um só deus [heis theos], o maior entre os deuses e os homens, em nada semelhante aos mortais, quer no corpo quer no pensamento [noêma].” (fr. 23) -“Todo ele vê, todo ele pensa [noei] e todo ele ouve.” (fr. 24) “Permanece sempre no mesmo lugar, sem se mover; nem é próprio dele ir a diferentes lugares em diferentes ocasiões, mas antes, sem esforço, tudo abala com o pensamento do seu espírito[noou phreni].” (fr. 25f.)
→ modelo “alegórico” (no sentido literal: “dizer [agoreuô] outra coisa [allo]”).
-Kurt Hübner: “Die Wahrheit des Mythos” (“A verdade do mito”, 1985) - “A filosofia grega recebeu as suas questões fundamentais da herança mítica. O Logos não surgiu do nada, mas foi-se formando ao ocupar-se com o mito. Deste modo, transformou o mito, mas não o eliminou radicalmente. Sem tomarmos em consideração as suas raízes míticas não conseguimos compreendê-la.” (p.150)
Wolfram Hogrebe (1940*) • 1. “Orphische Bezüge” (“Referências órficas”, 1997) • 2.“Metaphysik und Mantik. Die Deutungsnatur des Menschen (Système orphique de Iéna)” (“Metafísica e mântica. A natureza interpretativa do homem (sistema órfico de Iena)”, 1992) • → Def. “referência órfica”: auto-referência da consciência a uma actividade consciente, cujo funcionamento pressupõe que a consciência não se refere às suas próprias actividades.
Iintentio recta ≠ intentio obliqua. -Se a consciência de si própria é intencional, i.e., se tem a estrutura de sujeito-objecto, conduzir-nos-á a uma referência órfica. Ccuidado: publicidade ! → A mesma ideia subjaz à teoria da auto-consciência da chamada “escola de Heidelberg” (Dieter Henrich, Ernst Tugendhat, Manfred Frank e outros). A intimidade da consciência de si própria não pode ser reflexiva.
Dieter Henrich: “Fichtes ursprüngliche Einsicht” (“A intuição original de Fichte”, 1967) • Cf. recentemente: • Gunnar Hindrichs: “Negatives Selbstbewußtsein”(“Autoconsciência negativa“, 2002). • Manfred Frank: “Selbstgefühl. Eine historisch-systematische Erkundung” (“Sentimento de si. Uma pesquisa histórico-sistemática”, 2002).
Heidegger da última fase: “Beiträge zur Philosophie (Vom Ereignis)” (“Contribuições para a filosofia (Do evento)”, publicado: 1989): • O pensamento metafísico como auto-explicação do Ser. • A palavra alemã “Er-Eignis” tem dois sentidos (só em Heidegger!): • Evento, acontecimento • A-propriação (“Selbstwerdung”).
Entrevista na revista “Der Spiegel” (23.9.1966; publicado 1976): Apenas um Deus nos conseguirá salvar. (Heidegger) (Nur noch ein Gott kann uns retten)
Conclusão (contra o ponto de partida transcendental da escola de Heidelberg, mas com Schelling e Hogrebe): A consciência de si própria não pode fornecer o fundamento da filosofia. Ao invés, a consciência de si própria deve ser entendida como auto-explicação da mitologia sob pena de aceitarmos uma interpretação alegórica da mitologia.