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1.1 .4.2 Organização do texto Precisa-se de um texto, organizado estrategicamente de dada forma, em decorrência das escolhas feitas pelo produtor entre as diversas possibilidades de formulação que a língua lhe oferece, de tal sorte que ele estabelece limites quanto às leituras possíveis.
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1.1 .4.2 Organização do texto Precisa-se de um texto, organizado estrategicamente de dada forma, em decorrência das escolhas feitas pelo produtor entre as diversas possibilidades de formulação que a língua lhe oferece, de tal sorte que ele estabelece limites quanto às leituras possíveis. Atentemos para o seguinte par de frases: Alguns de nós faremos a limpeza da sala. Alguns de nós farão a limpeza da sala. Qualquer um dos enunciados anteriores está correto quanto à norma culta, mas a escolha de um ou de outro dará pistas ao leitor quanto à participação ou não do autor da frase na "limpeza da sala”.
1.1.4.3 leitor/ouvinte Precisa-se de um leitor/ouvinte que, a partir do modo como o texto se encontra lingüisticamente construído, das sinalizações que lhe oferece, bem como pela mobilização do contexto relevante à interpretação, vai proceder à construção dos sentidos. Exemplo: Às vésperas do Dia das Mães, a professora dá como tarefa de casa o tema de redação: "Mãe só tem uma”. Na data marcada para a entrega dos textos, alguns alunos fazem a leitura de suas redações e entre eles está o Juquinha, que produziu o seguinte texto:
"Domingo foi visita lá em casa e minha mãe pediu para eu pegar Coca-Cola na cozinha. Quando eu abri a geladeira, gritei: - Mãe, só tem uma." Observe que o uso da vírgula alterou o sentido do texto.
1.1.5 O que é texto? O texto é um "evento comunicativo no qual convergem ações lingüísticas, cognitivas e sociais." (Beaugrande - 1997:10). Trata-se de um evento dialógico de interação entre sujeitos sociais - contemporâneos ou não, co-presentes ou não, do mesmo grupo social ou não, mas em diálogo constante. Se observarmos os exemplos citados até agora, perceberemos que, em qualquer texto, o significado das frases (ou dos desenhos e gravuras) não é autônomo. Não se pode isolar frase alguma do texto (ou parte de um desenho) e tentar conferir-lhe o significado que se deseja, pois uma mesma frase pode ter significados distintos dependendo do contexto dentro do qual está inserido.
Guernica, de Picasso, é uma denúncia contra as mortes que estavam destruindo a Espanha na terrível Guerra Civil Espanhola (1936-1939), e contra a perpétua desumanidade do homem. A motivação imediata do quadro foi a destruição de Guernica, capital da região basca, no dia da feira da cidade, 26 de abril de 1937. Em plena luz do dia, os avies nazistas, sob as ordens do general Franco, atacaram a cidade indefesa. De seus 7000 habitantes, 1654 foram mortos e 889 feridos. Através das setas explicativas inseridas no texto, podemos ver que cada parte deste quadro tem uma explicação e uma interpretação, mas o completo entendimento de cada uma delas só é possível se levarmos em conta o quadro como um todo, ou seja, cada parte só tem sentido no todo e o todo só tem sentido com a soma das partes.
Observemos a significação de cada parte em relação ao todo: 1) Ausência de cores A pintura severa, monocromática, é adequada ao tema. Até hoje o assunto desse mural provoca polêmica na Espanha. Essa enorme tela está exposta numa sala própria no Museu Rainha Sofia, protegida por um imenso vidro à prova de balas. 2) Mãe e filho Uma criança morta pende dos braços da mãe. Entre as complexas imagens cubistas de Guernica, esta pode ser interpretada de imediato. O grito da mãe está representado pela sua língua, que sugere um punhal ou um caco de vidro. Outros cacos semelhantes aparecem por todo o quadro.
3) O touro Picasso sempre foi fascinado pelas touradas, velho esporte Espanhol, brutal e espetacular, e as imagens da arena de touros aparecem com freqüência em seu trabalho. Embora Picasso afirmasse que o touro em Guernicarepresenta a brutalidade, trata-se de uma imagem ambígua. Parado e abanando a cauda, o touro não parece selvagem. Talvez Picasso tivesse em mente o momento de tourada em que, após um ataque bem-sucedido, o touro recua para ver o que fez e prepara seu próximo movimento.
4) A cabeça cortada No primeiro plano, há uma figura fragmentada, com a cabeça decepada à esquerda e, ao centro, um braço cortado segurando uma espada quebrada. É possível que Picasso estivesse se referindo à Batalha de San Romano, de Uccello. Este quadro, que interpreta a guerra como um torneio cerimonial, contrasta com a poderosa imagem de Picasso, de assassinato em massa. 5) Cavalo em agonia Picasso, que raramente dava interpretações de seu trabalho, disse que o cavalo representava o povo. Tal como a mãe à esquerda, a agonia é sugerida pela língua pontiaguda como um punhal. Acima da cabeça do cavalo, há uma lâmpada elétrica que sugere o olho de Deus, que tudo vê. Até mesmo a luz parece gritar de horror.
6) Flor simbólica Há pouco simbolismo explícito no quadro; aqui Picasso não seguiu nenhuma linguagem simbólica bem definida. Como em boa parte da arte moderna, o simbolismo é particular e pessoal, e só pode ser decifrado nesta base. Contudo, é difícil não interpretar a única flor no centro do quadro como um símbolo de esperança, afirmando que uma nova vida continuará a crescer apesar das tentativas do homem de destruí-Ia. A pungente delicadeza da flor intensifica o horror generalizado dessa cena caótica. 7) Uma crucifixão moderna Duas mulheres olham o cavalo ferido com terror e piedade, sugerindo certas semelhanças, em conceito e emoção, com as imagens de Cristo sofrendo na cruz e a presença das três Marias nessa cena. Talvez Picasso estivesse procurando uma imagem moderna, secular, para expressar o sofrimento da humanidade, mas uma imagem que não tivesse um simbolismo cristão explícito.
8) Referência a Goya A figura da direita ergue os braços como se quisesse deter as bombas que caem do céu. Mas é também a pose da figura central de Os fuzilamentos de 3 de maio de 1808, de Goya. Há uma semelhança entre os fatos que motivaram os dois quadros - ambos foram atos de brutalidade selvagem contra pessoas inocentes. Picasso decerto tinha consciência de estar seguindo de perto as pegadas de Goya.
1 .2 Contexto As definições de contexto variam não só no tempo, como de um autor para outro, mas podemos concordar com alguns autores que afirmam que "a noção de contexto encerra uma justaposição fundamental de duas entidades: um evento focal e um campo de ação dentro do qual o evento se encontra inserido." Assim sendo, entende-se por contexto uma unidade lingüística maior onde se encaixa uma unidade lingüística menor. A palavra encaixa-se na oração, que se encaixa no período, que se encaixa no parágrafo, que se encaixa no capítulo, que se encaixa na obra toda, que...
Esse detalhe de anúncio do Jornal da Tarde pode levar o leitor a entender "bode" como se tratando do animal. No entanto, quando contextualizado (veja o texto à direita), entendemos que "bode", aqui, significa chateação, aborrecimento. Além dessa noção de contexto, podemos concordar com o lingüista Hymes, que propõe os seguintes pontos para caracterizar o contexto: · situação: cenário, lugar; · participantes: falante/ autor, ouvinte/ leitor; · finalidade: propósito, resultados; · seqüência de atos: forma de mensagem/ forma de conteúdo; · código: Língua Portuguesa, gravura; · instrumentos: canal/ formas de fala; · normas: de interação/ interpretação; · gênero: texto publicitário.
Observemos novamente o texto do bode. Situação: uma casa num domingo qualquer. Participantes: uma pessoa qualquer (provavelmente um homem). Finalidade: ler o jornal que está sendo lançado. Seqüência de atos: atividades corriqueiras e aborrecidas do domingo. Código: Língua Portuguesa escrita e desenho. Instrumento: revista IstoÉ. Normas: conhecimento do leitor sobre o que seja um bode (animal) e associação do animal às atividades aborrecidas do domingo. Gênero: texto publicitário. A propaganda tenta persuadir o leitor a ler o jornal para acabar com o dia ruim. O contexto, portanto, tem estreita relação entre linguagem, cultura, organização social, bem como o estudo de como a linguagem é estruturada.
1.2.1 A contextualização na fala e na escrita O sentido de um texto não depende da estrutura textual em si mesma, pois essa estrutura, como um iceberg, apresenta apenas uma "pontà' do seu conteúdo, permanecendo muita coisa implícita. O produror do texto pressupõe da parte do leitor/ ouvinte conhecimentos textuais, situacionais e enciclopédicos e, por isso, omite informações consideradas redundantes. A isso damos o nome de Princípio da Economia. Observe a frase a seguir: "Roberto Jefferson foi cassado por causa do mensalão" .
Na atual conjuntura política, o autor dessa frase, ao emiti-Ia, supõe que seu interlocutor saiba quem é Roberto Jefferson, o que significa a palavra "cassado", por que isso ocorreu e o que é mensalão. O leitor/ouvinte procura sentido no texto lido ou ouvido a partir das informações dadas, construindo uma representação coerente, ativando seu conhecimento de mundo, suas deduções (Princípio da continuidade de sentido). Põe em funcionamento todos os componentes e estratégias cognitivas que possui. Logo, há total interação entre produtor -leitor/ouvinte.
No momento.. da interação, o escritor! falante verbaliza somente o que for necessário à compreensão e que não pode ser deduzido pelo leitor/ouvinte (Princípio da seletividade). Os interactantes desenvolvem estratégias (dão pistas) para o processamento eficaz do texto. Por exemplo, numa conversa, levamos em conta as entonações de voz, as pausas, a escolha do registro e do léxico, os gestos, as expressões fisionômicas, as ênfases, etc. As pistas de contextualização na escrita podem ser: os sinais de pontuação de um modo geral (aspas, pontos), os recursos gráficos, como tamanho e tipo de letra, a diagramação, os destaques (itálicos, negritos), etc. Por exemplo, nas HQ, o leitor deve conhecer os recursos gráficos dos desenhos para entender coisas como:
1.3 Hipertexto Segundo a maioria dos autores, o hipertexto é uma escritura não-seqüencial e não-linear, que se ramifica e permite ao leitor virtual acessar um número ilimitado de outros textos. O hipertexto faz do leitor um co-autor do texto na medida em que oferece várias possibilidades, caminhos diversificados, permitindo diferentes níveis de desenvolvimento e aprofundamento de um tema. o hipertexto tem sido apontado como algo radicalmente inovador, mas a novidade propriamente dita está na tecnologia que permite subverter movimentos e redefinir funções. Na verdade, o hipertexto já está presente em textos acadêmicos, por exemplo, povoados de referências, citações, notas de rodapé ou de final de capítulo.
As chamadas para esses itens correspondem aos links. O leitor poderá, por exemplo, ler o texto de maneira contínua e só consultar as notas após essa leitura; consultar apenas as que mais lhe interessarem ou mesmo não ler nenhuma. Poderá, também, interromper sua leitura a cada chamada e integrar o conteúdo da nota à leitura que está fazendo. Ao encontrar uma referência, quer no texto, quer em nota, poderá inclusive suspender a leitura para consultar a obra ali referendada. Nesta nova obra, por sua vez, poderá encontrar outras referências, que o levem a outros textos, e assim por diante. A diferença com relação ao hipertexto eletrônico está apenas no suporte e na forma e rapidez do acessamento.