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LEITURAS OBRIGATÓRIAS. UFRGS - 2012. LEITURAS OBRIGATÓRIAS PARA A PROVA DE LITERATURA DE LÍNGUA PORTUGUESA UFRGS Para o Concurso Vestibular de 2012, ser á exigida a leitura pr é via e completa das seguintes obras:. FELIZ ANO NOVO (1975) RUBEM FONSECA. RIO DE JANEIRO. FELIZ ANO NOVO (CONTOS).
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LEITURAS OBRIGATÓRIAS UFRGS - 2012
LEITURAS OBRIGATÓRIAS PARA A PROVA DE LITERATURA DE LÍNGUA PORTUGUESA UFRGSPara o Concurso Vestibular de 2012, será exigida a leitura prévia e completa das seguintes obras:
FELIZ ANO NOVO (CONTOS) • Considerado um dos principais livros de Rubem Fonseca, Feliz Ano Novo, lançado em 1975, teve sua publicação e circulação proibidas em todo o território nacional um ano mais tarde, sendo recolhido pelo Departamento de Polícia Federal, sob a alegação de conter "matéria contrária à moral e aos bons costumes". Fazia uma espécie de apologia da violência.
FELIZ ANO NOVO (CONTOS) • O regime autoritário (a Ditadura Militar), que tentava à força encobrir os problemas que compunham a face obscura do país, não suportou a linguagem precisa e contundente dessa coleção de contos que traduzem ficcionalmente a verdadeira fratura exposta do corpo social.
Proibição x Sucesso • O sucesso rápido de Feliz ano novo ocorreu por conta de seu conteúdo subversivo, pelo registro da moderna vida urbana dos anos 70, no que que ela tinha de pungente e assustadora. Muitos leitores daqueles anos de opressão buscavam uma literatura desafiadora em que estivessem elementos como o erotismo, obscenidades, expressões cotidianas e de baixo calão. Ao ser proibida, a obra já havia vendido mais de trinta mil exemplares.
O contexto histórico&social dos anos 70 • O Brasil estrutura-se, definitivamente, como uma nação industrial, capitalista e moderna. • Época marcada por graves desigualdades sociais. • Espetacular crescimento econômico (cerca de 10% ao ano) = “milagre econômico” = que acabou jogando o país num imenso e trágico endividamento externo.
O contexto histórico e social dos anos 70 • Milhões de trabalhadores rurais rumam para as cidades = uns se integraram satisfatoriamente à vida urbana; outros forma sobreviver nas favelas, que se multiplicaram assustadoramente. Hoje, elas circundam as metrópoles do país e, não raro, as pequenas e médias cidades.
O contexto histórico e social dos anos 70 • Mudança de valores = derrocada final dos códigos de existência da sociedade patriarcal/agrária. • Emerge a nova sociedade urbano-industrial = individualismo + liberalismo sexual + culto ao dinheiro + consumismo, etc. • Cresce a onda de violência que passa a dominar a periferia das cidades.
A CRÍTICA • “Feliz Ano Novo é, do ponto de vista temático, uma coletânea de faits divers da vida diária: mesquinhas ocorrências, histórias sem glória e sem heroísmo que nos jornais ganhariam um canto de páginas policiais, (...) O que inquieta no livro é que esse mundo marginal distante se vai aos poucos revelando como nosso próprio mundo, onde os desvios são cada vez mais a norma”.(Zuenir Ventura. Visão, s/d)
A CRÍTICA • “Poucos são capazes como ele de descrever a vida nas grandes cidades como uma verdadeira selva trágica, em que o cotidiano aparece como um conjunto de ciladas fatais e irreversíveis.”(Fábio Lucas)
RUBEM FONSECA • A visão de mundo do autor: • Experiência como inspetor de polícia. • Aguda capacidade de observação. • Possui como matéria-prima os dois extremos da nação: os que vivem à margem e os que constituem o núcleo privilegiado do sistema.
Características gerais dos contos • Um dos temas dominantes de seus textos é a violência que impera nas ruas do país, em uma espécie de guerra civil não declarada. • Violência que brota das circunstâncias sociais ou das pulsões subterrâneas dos indivíduos que experimentam o fascínio do mal, independentemente da classe a que pertençam.
Agilidade narrativa: preferindo a intensidade dos enredos, os contos de Rubem Fonseca não se perdem em detalhes, em incursões psicológicas desnecessárias ou descrições. As narrativas são cruas, brutas e diretas.
Humor negro:o humor de Rubem Fonseca choca. Não cabem nos contos senão o riso amarelo, porque os narradores (em geral em primeira pessoa) exploram o patético (o trágico, o sinistro) que se escancara na realidade brasileira. Nesse caso, um universo contrário à qualquer idealização é retrato com a marca da desfaçatez (falta de vergonha, descaramento).
Violência: palavra que advém do verbo violar(-se), a violência como tema atinge em contos como Feliz ano novo e 74 degraus, patamares poucas vezes vistos em termos de literatura brasileira. E o grande segredo é contrapor cenas grotescas, como os atropelamentos de Passeio noturno I e II, a uma atmosfera de normalidade e cinismo.
Marginalidade:o tema dos desvios de conduta servem para questionar a normalidade da vida brasileira. Por isso, prostitutas, pivetes, bandidos, embora não alçados à condição heroica, recebem foco. O choque advém, nesse caso, do sistema de vida, do modo de raciocinar dessas camadas brasileiras pertencentes à realidade e tão pouco exploradas artisticamente.
Abismo social brasileiro:contrapondo, como no caso do conto de abertura, a ótica “marginal” ao universo da elite, Rubem Fonseca ilustra o grande e repetitivo problema brasileiro, apontado desde Euclides da Cunha – os brasis que não se encontram. Nessa medida, uma espécie de guerra civil se conflagra do encontro das várias facetas sociais de um mesmo país.
A pornografia: outro tema bastante explicado no conto Intestino grosso, a depravação sexual nada mais seria que o retrato de um imaginário oprimido – o da sexualidade – pelos tabus da moral. No caso do autor, mais pornográficas seriam as cenas de amor idealizado e puro das telenovelas, nas quais uma realidade falsa e tacanha nos é apresentada. Pornografia maior seria, portanto, esconder a natureza humana ou a realidade de um país fragmentado.
O non-sense (sem sentido) da vida urbana: retratando não só o mundo marginal, alguns contos de Feliz Ano Novo são eficazes em mostrar o absurdo da vida urbana de elite, desde aqueles anos de chumbo até a atualidade. A falta de sentido para as situações mais prosaicas da vida escapam à hipocrisia, e personagens buscam modos de viver absurdos, situações anormais do ponto de vista da ética social e da moral.
A linguagem: a linguagem de Rubem Fonseca é crua, bruta, agressiva. O uso dos palavrões, de ironias ácidas, do deboche, acentuam o caráter de enfrentamento da realidade e contribuem para a verosssimilhança dos diálogos. Nesse sentido, também merece destaque o uso de inúmeras variedades de linguagem – convivem no mesmo espaço o palavrão do marginal, o clichê do policial, a doçura de alguma mocinha ingênua e o jargão do jornalista.
A solidão da modernidade: muitos personagens vivem oprimidos, no cotidiano solitário das grandes metrópoles, pela sensação de isolamento e vácuo na alma. Ainda que a cidade possa lhes oferecer amplas possibilidades eróticas, os afetos mais intensos e as relações mais duradouras estão ausentes.
Todas as paixões e todos os vínculos são efêmeros, e a obsessão desses personagens é o exercício do sexo, como se ele fosse a única alternativa ao vazio da existência e como se na satisfação física do desejo residisse a última prova de que ainda estão vivos.
CONTOS • Feliz ano novo • Corações solitários • Abril, no Rio, em 1970 • Botando pra quebrar • Passeio noturno (Parte I) • Passeio noturno (Parte II) • Dia dos namorados • O outro
9. Agruras de um jovem escritor 10. O pedido 11. O campeonato 12. Nau Catrineta 13. Entrevista 14. 74 Degraus 15. Intestino grosso
Feliz Ano Novo • Narrativa em primeira pessoa. • Visão parcial da realidade = registra os fatos e faz falsas racionalizações sobre o motivo de tantos gestos brutais. • Uso contínuo de gírias = ex. = “transar”. • O narrador-personagem é um bandido que fez o ginásio, portanto tem formação escolar superior a de seus companheiros.
O narrador, em sua fala, revela um tom de ressentimento social. • Predomínio de uma objetividade gélida, com quase nenhuma investigação da interioridade dos personagens, na narração e nos diálogos do conto.
Aspecto chocante = o amoralismo dos bandidos = em nenhum momento eles são atormentados por qualquer remorso ou culpa de suas atrocidades. • O ódio aos ricos é pretexto para o mais completo desprezo pela vida alheia.
Um face perversa = a revelação da falta de escrúpulos morais e a urgência de prazeres imediatos, que se originavam do declínio de uma sociedade patriarcal e católica, comandada por valores rígidos, e o consequente triunfo de uma sociedade voltada para as satisfações dos apetites individuais (sexo, dinheiro, sucesso).
Passeio noturno (Partes I e II) • As duas partes são narradas em primeira pessoa. • O narrador-personagem pertence às classes mais abastadas do país. • Apesar de sua riqueza, ele só se tranquiliza quando assassina alguma pessoa inocente (normalmente mulheres) com seu automóvel.
Passeio noturno (Partes I e II) • Depois de eliminar friamente suas vítimas, o narrador pensa apenas nos problemas de sua empresa. • A indiferença da esposa e dos filhos e o tédio em que todos parecem viver sublinham a alienação de um universo burguês sem perspectivas.
Passeio noturno (Partes I e II) • A exemplo do que ocorre no conto Nau Catrineta, a brutalidade criminosa pode ser entendida como uma metáfora da opressão das classes superiores sobre as subalternas.
Dia dos namorados • Novidade técnica = o conto é narrado, simultaneamente, em primeira e terceira pessoa. • Em primeira pessoa = Mandrake = que parece ser um detetive cínico e durão = contratado para deter um processo de chantagem. • Em terceira pessoa = acompanhamos o processo de aproximação e de envolvimento entre um banqueiro e um travesti e a consequente extorsão feita por este em relação aquele.
O conto possui uma estrutura de narrativa policial = há uma chantagem em curso e cabe ao detetive particular resolver a questão. • Mandrake – que aparecerá em outras narrativas do autor como advogado criminalista – é o típico anti-herói da nova ficção contemporânea. Segue a tradição (da ficção norte-americana contemporânea) dos detetives de Dashiel Hammet e Raymond Chandler, que abandonam as deduções de sofisticada racionalidade
– típicas de Sherlock Holmes - , substituindo-as por ações violentas e frequentes transgressões da ordem jurídica. • Registre-se, contudo, que mais do que deslindar o ato criminoso, interessa registrar o cotidiano terrível das grandes cidades e, simultaneamente, desnudar os dramas humanos desencadeados pelas ações que rompem a lei e a ordem.
Esses personagens, apesar do cinismo e de serem movidos fundamentalmente por dinheiro e sexo, acabam impondo (por linhas tortas) algum princípio de justiça num mundo em que a moral e a ética se dissolvem e o bem e o mal se confundem.No caso de Mandrake ao mesmo tempo que a chantagem lhe repugna, ele não sente culpa em ficar com o dinheiro e com a Mercedes do banqueiro.
Abril, no Rio, em 1970 • Narrado em primeira pessoa por um jovem órfão, contínuo, que sonha com a fama e o triunfo pessoal na esfera do futebol. • Trata-se, talvez, do texto mais delicado do livro = num mundo regido pela busca da glória e da ascensão social a qualquer preço, o protagonista naufraga e se refugia em sua interioridade.
O jovem, que aspira ao sucesso por meio do futebol, acaba por demonstrar incapacidade de adaptação aos novos tempos e experimenta o fracasso. • Conto que apresenta o tema da solidão dos indivíduos nas grandes metrópoles, onde vivem oprimidos pela sensação de isolamento e vácuo na alma.
Temática do futebol = dialética entre o sonho de triunfo financeiro e popularidade que ele possibilita aos jovens de baixa extração social e a decepção que normalmente resulta do colapso dessas expectativas.
Corações Solitários • Narrado em primeira pessoa por um jornalista que trabalhava como repórter de polícia, mas após ser demitido vai trabalhar num jornal voltado, aparentemente, para o público feminino. • O relato delimita um permanente jogo de máscaras = aparência e realidade se misturam continuamente, numa sucessão de ficções e enganos.
Na redação do jornal Mulher, os homens adotam pseudônimos femininos. • O narrador assume nome de escritores consagrados. • As cartas do correio sentimental são inventadas. • O jornal, feito para mulheres da classe C, provavelmente é mais lido por homens da classe B.
Em síntese = nada é o que aparenta ser. • Neste “palácio de ilusões”, o narrador acaba desvendando a verdadeira identidade sexual do editor chefe. • A mudança da relação pessoal entre o editor, Peçanha, e o narrador, por conta da descoberta da identidade do leitor homossexual.
Ao descobrir que o leitor homossexual que lhe escrevia (Pedro Redgrave) era na verdade o próprio editor, o tolerante conselheiro (Nathanael Lessa = o narrador) se vê levado, no final do conto, a um constrangido sentimento de cumplicidade com seu chefe.
A revelação do homossexualismo enrustido do editor, só manifesto nas cartas sob pseudônimo, traduz a dificuldade ainda existente, na década de 1970, de um indivíduo assumir sua sexualidade independentemente dos padrões convencionais de comportamento. Isso é reforçado pelo doloroso suspiro de Peçanha no final do relato.
Corações Solitários • As pretensões culturais do narrador: sonhava em ser escritor = seu pseudônimo Nathanael West é uma homenagem a dois autores importantes = Nathanael West, autor de Miss Corações Solitários (romance sobre um jornalista que também é responsável pela edição do correio sentimental e enfrenta dificuldades com o cínico e brutal editor que comanda a publicação), e
e Ivan Lessa, cronista do Pasquim, famoso por sua veia satírica. • O narrador também faz uma série de referências literárias que de nada servem naquele jornal popularesco. • Quando se vê obrigado a escrever as fotonovelas, adota o pseudônimo de Clarice Simone (homenagem a Clarice Lispector e a Simone de Beauvoir, escritora feminista francesa, companheira de J. P. Sartre).
Também recorre a plágios de peças de dramaturgos clássicos que conhece, de Sófocles a Tchekhov. • O conto é marcado por um mergulho no cotidiano das classes baixas da grande cidade, representado tanto pelo uso do imaginário e da cultura kitsch (cultura de massas) quanto pelo registro do ambiente degradado do jornal.
Botando pra quebrar • Narrado em primeira pessoa, o conto é praticamente um monólogo de um sujeito encurralado pelas agruras da vida e pela falta de oportunidades devido a sua condição de ex-presidiário. • A resposta às injustiças do mundo por meio da violência irracional é típica de protagonistas de muitos contos de Rubem Fonseca.
Como acentuou o crítico Alfredo Bosi, há nestas histórias “uma impossibilidade de encontro, de diálogo,(...) e uma declaração explicíta de apelo à violência como única forma de resolução de conflitos.(...) Trata-se de um universo que encerra a desesperada alienação do homem urbano.”