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“A PROBLEMÁTICA DA ÁGUA NA ATUALIDADE”: Os sentidos e significados da produção de um discurso!. CARTA ESCRITA NO ANO 2070.
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“A PROBLEMÁTICA DA ÁGUA NA ATUALIDADE”: Os sentidos e significados da produção de um discurso!
CARTA ESCRITA NO ANO 2070 Texto publicado na revista "Crónicas de los Tiempos“, de Abril de 2002.
Antes, meu pai lavava o carro com a água que saía de uma mangueira. Hoje os meninos não acreditam que utilizávamos a água dessa forma Os assaltos por um bujão de água são comuns nas ruas desertas.
A aparência da população é horrorosa: corpos desfalecidos, enrugados pela desidratação, cheios de chagas na pele pelos raios ultravioletas que já não têm a capa de ozônio que os filtrava na atmosfera.
O governo até nos cobra pelo ar que respiramos: 137 m3 por dia por habitante adulto. Quem não pode pagar é retirado das "zonas ventiladas", que estão dotadas de gigantescos pulmões mecânicos que funcionam com energia solar. Não são de boa qualidade, mas se pode respirar. A idade média é de 35 anos.
Em alguns países restam manchas de vegetação com o seu respectivo rio que é fortemente vigiado pelo exército. A água tornou-se um tesouro muito cobiçado, mais do que o ouro ou os diamantes.
Quando a minha filha me pede que lhe fale de quando era jovem, descrevo o quão bonito eram os bosques. Lhe falo da chuva e das flores, do agradável que era tomar banho e poder pescar nos rios e barragens, beber toda a água que quisesse. O quanto nós éramos saudáveis! Ela pergunta-me: - Papai! Por que a água acabou? Então, sinto um nó na garganta! Não posso deixar de me sentir culpado porque pertenço à geração que acabou de destruir o meio ambiente, sem prestar atenção a tantos avisos.
Como gostaria de voltar atrás e fazer com que toda a humanidade compreenda isto... ...enquanto ainda é possívelfazer algo para salvar o nosso planeta Terra!
Destaques da Carta de 2070 Um tom apocalíptico na abordagem sobre a escassez hídrica e a degradação ecológica Envelhecimento precoce, muitas doenças com desfiguração das pessoas e diminuição da expectativa de vida. Aumento da criminalidade na disputa pela água. Mutações genéticas devido á degradação ecológica e escassez hídrica. Controle e cobrança sobre o ar a ser respirado (Produção do terrorismo ambiental). A água como nova raridade. Uma responsabilização do Indivíduo pelos problemas da escassez hídrica.
Abordagens predominantes da EA sobre a água A responsabilização do individuo pelos problemas de degradação da água e pela definição de soluções, além de prescrições para o uso doméstico.
O que se elimina da discussão! A grande disponibilidade de água doce que circula e está disponível para o consumo: cerca de 505.000 km3. Dos 119.000 km3 de chuvas que caem sobre os continentes, 72.000 Km3 se evaporam dos lagos, das lagoas, dos rios, dos solos e das plantas (evapotranspiração). A água disponível para a vida é, pelo menos, desde o recuo da última glaciação entre 12 e 18 mil anos atrás, a mesma desde então até os nossos dias, com pequenas variações. OU SEJA: A Água é um dos recursos menos finitos no mundo. (...) Há limites locais ou regionais e problemas com qualidade e disponibilidade relativa, mas não há evidências da falta d’água global, como o discurso predominante veicula, inclusive nos projetos de EA.
O que se elimina da discussão! A dificuldade de acesso a água pela população de baixa renda e algumas consequências: 18% da população mundial não tem acesso a água potável, e milhares de crianças morrem na AL e África por ingerirem água contaminada. No mundo 3 bilhões de pessoas vivem sem saneamento básico. A distribuição desigual do uso da água e os desperdícios: 70% da água consumida é usada na agricultura, sendo que 60% desta água se perde na irrigação. São gastos 22% na indústria, e até 2025 a indústria irá requerer 24% de todo o consumo de água. Para produzir um quilo de trigo são gastos 900 litros de água. Para produzir um automóvel são gastos 400.000 litros de água.
O que se elimina da discussão! Forte intervenção dos organismos multilaterais para pautar como a problemática da água deve ser tratada no mundo. Introdução de mecanismos de associação entre liberação de empréstimos e exploração de aquíferos nos países subdesenvolvidos. Predominância das leis de mercado para gerir os fornecimentos de água e privatização. Introdução de sistema pré-pago como é feito na telefonia celular.
O que se elimina da discussão! Retirada de torneiras públicas de determinadas áreas, onde a população não pode pagar. Proliferação de doenças pelo uso de água imprópria, pois não se pode pagar pela água privatizada. Aumento das tarifas e não atendimento adequado resultando em movimentos de resistência em alguns lugares: “AS GUERRAS DA ÁGUA”.
Apresentando o sistema pré-pago: Lucros Pré-assegurados para as operadoras
No lugar do hidrômetro instala-se um aparelho acoplado a uma central eletrônica que gerencia o consumo. O gerenciador, via telefone, fica ligado a central da companhia e a água é liberada através da senha que se tem acesso na compra do cartão de água. Quando acabam os créditos de água, o gerenciador deve ser recarregado. Caso o consumidor não tenha como comprar um cartão, imediatamente lhe é dado um crédito extra que vai ser descontado quando ele comprar o cartão. Quando esse crédito acaba, se não houver a compra do cartão, a água é cortada definitivamente. Países que já utilizam: África do Sul, Brasil, Estados Unidos, Curaçao, Nigéria, Tanzânia, Suazilândia, Sudão, Malawi, Reino Unido (até 1998) e Namíbia.
CONSTITUIÇÃO DE UM MERCADO DA ÁGUA: Um mercado que gira em torno de 800 bilhões de dólares por ano, segundo o Banco Mundial. A Suez é a maior empresa atuando em 130 países, atendendo mais de 125 milhões de pessoas em serviços de água e 70 milhões em serviços de esgoto. Suez e Veolia (antiga Vivendi) detêm 70% do mercado mundial de água. Em terceiro lugar está a inglesa RWE-Thames Water cuja receita é de 59,9 bilhões de dólares, sendo 6% do mercado de água. Atende 50 países e aproximadamente 70 milhões de pessoas. Nestlé, Coca-Cola, Danone e Pepsi têm seus lucros elevados atuando nesse mercado explorando fontes hidrominerais para desmineralização parcial das águas e aromatizando águas.
Possíveis consequências do percurso apresentado acima 1 – A “demonização” do uso doméstico da água, que é considerado o causador de todos os problemas sobre a escassez hídrica. 2 – O encobrimento de que existe água doce disponível em larga escala. O problema está na diminuição da potabilidade da água e na falta de políticas para atender a demanda da população. 3 – A produção de um discurso de Escassez Absoluta. A escassez hídrica é relativa. 4 – A naturalização da “mercantilização” da água como solução para os problemas de acesso ao recurso hídrico, com a constituição de um lucrativo mercado de água. 5 – O encobrimento de práticas que eliminam pessoas do acesso a água e como conseqüência a proliferação de doenças. 6 – A desconsideração da existência de lutas sociais pelo acesso público a água de qualidade em diversas partes do mundo. 7 – O encobrimento do real: o grande desperdício da água está na agricultura e na industria.
QUESTÕES PARA REFLEXÃO O que é eliminado da discussão na temática que meu grupo está propondo? Quais as possíveis conseqüências de uma abordagem unilateral, como ocorre em diversos projetos de Educação Ambiental?
BIBLIOGRAFIA UTILIZADA • BARLOW, Maude & CLARKE, Tony. O ouro Azul - como as grandes corporações estão se apoderando da água doce do nosso planeta. São Paulo. M. Books do Brasil editora. 2003. 331 p. • CEMIG. A Água nossa de cada dia. (cartilha produzida e distribuída às escolas de educação básica do estado de Minas Gerais). s.d. 30p. • COMIG. Águas minerais, qualidade que derrama elogios. In: COMIG: A mineração do século XXI. (revista da companhia mineradora de Minas Gerais) s. d. p. 14 • FASE. Água: um direito ameaçado. In: www.fase.org.br/acervo_fase. 09 páginas. Acessado em 22/09/2005. • GONÇALVES, Carlos Walter Porto. O desafio ambiental. Rio de Janeiro. Editora Record. 2004. 177 p. • RIO, Gisela Aquino Pires do & SALES, Alba Valeria de Souza. Os serviços de água e esgoto no estado do Rio de Janeiro: regulação e privatização. In: Geographia. Ano VI. Número 12. Rio de Janeiro. 2004. p. 67-86. • SILVA, Ana Cristina Mota. A produção do espaço urbano como negócio: Fortaleza da segunda metade do século XIX. In: CARLOS, Ana Fani Alessandri & LEMOS, Amália Inês Geraiges. Dilemas Urbanos: Novas abordagens sobre a cidade. São Paulo. Editora Contexto. 2001. p. 370-377. • SWYNGEDOUW, Erik. Privatizando o H2O – transformando águas locais em dinheiro global. In: Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais. Volume 6. número 1. Rio de Janeiro. Maio de 2004. p. 33-53