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O ESTUDANTE E A LEITURA

O ESTUDANTE E A LEITURA. “Chega mais perto e contempla as palavras, cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível que lhe deres: trouxeste a chave?” Carlos Drummond de Andrade.

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O ESTUDANTE E A LEITURA

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  1. OESTUDANTE E A LEITURA

  2. “Chega mais perto e contempla as palavras, cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível que lhe deres: trouxeste a chave?” Carlos Drummond de Andrade

  3. A leitura é um processo complexo e abrangente de decodificação de signos e de compreensão e intelecção do mundo que faz rigorosas exigências ao cérebro, à memória e à emoção. Lida com a capacidade simbólica e com a habilidade de interação mediada pela palavra. É um trabalho que envolve signos, frases, sentenças, argumentos, provas formais e informais, objetivos, intenções, ações e motivações. Envolve especificamente elementos da linguagem mas também os da experiência de vida dos indivíduos.

  4. IMPORTÂNCIA DA LEITURA A leitura constitui-se em um dos fatores decisivos do estudo e é imprescindível em qualquer tipo de investigação científica. Favorece a obtenção de informações já existentes, propiciando, assim, a ampliação de conhecimentos, a formulação de novas ideias e o enriquecimento do vocabulário. Ela é a chave para a construção de todos os aprendizados.

  5. ESTRATÉGIASegundo o dicionário de Antônio Houaiss:Arte de aplicar com eficácia os recursos que se dispõe ou de explorar as condições favoráveis de que porventura se desfrute, visando ao alcance de determinados objetivos.

  6. Procedimentos Estratégicos de Leitura * Estabelecer objetivo claro.* Identificar e sublinhar com lápis as palavras-chave.* Tomar notas.* Estudar o vocabulário.

  7. * Destacar divisões no texto para agrupá-las posteriormente. * Simplificação.* Identificação da coerência textual.* Percepção da intertextualidade.* Monitoramento e concentração.

  8. Mais uma vez os adversários pinçam, maliciosamente, uma frase do presidente para criticar. No caso, a sua observação de que é chato ser rico. Pois eu entendi a intenção do presidente. Ele estava falando para pobres e preocupado em prepará-los para o fato de que não vão ficar menos pobres e podem até ficar mais, no seu governo, e que isso não é tão ruim assim. E eu concordo com o presidente. Ser pobre é muito mais divertido do que ser rico. O PRESIDENTE TEM RAZÃO Luís Fernando Veríssimo

  9. Pobre vive amontoado em favelas, quase em estado natural, numa alegre promiscuidade que rico só pode invejar. Muitas vezes o pobre constrói sua própria casa, com papelão e caixotes. Quando é que um rico terá a mesma oportunidade de mexer assim com o barro da vida, exercer sua criatividade e morar num lugar que pode chamar de realmente seu, da sua autoria, pelo menos até ser despejado? Que filho de rico verá um dia sua casa ser arrasada por um trator? Um maravilhoso trator de verdade, não de brinquedo, ali, no seu quintal!

  10. Todas as emoções que um filho de rico só tem em videogame o filho de pobre tem ao vivo, olhando pela janela, só precisando cuidar para não levar bala. Mais de um rico obrigado a esperar dez minutos para ser atendido por um especialista, aqui ou no exterior, folheando uma National Geographic de 1950, deve ter suspirado e pensado que se fosse pobre aquilo n ão estaria acontecendo com ele. Ele estaria numa fila de hospital público desde madrugada, conversando animadamente com todos à sua volta, lutando para manter

  11. seu lugar, xingando o funcionário que vem avisar que as senhas acabaram e que é preciso voltar amanhã, e ainda podendo assistir a uma visita teatral do Serra ao hospital, o que é sempre divertido, em vez de se chateando daquela maneira. E pior. Com toda as suas privações, rico ainda sabe que vai viver muito mais do que pobre, ainda mais neste modelo, e que seu tédio não terá fim. ÉfeAgá tem razão, é um inferno. Correio Braziliense. Brasília, 2 dez. 1998.

  12. Para compreender adequadamente este texto, levamos em consideração, além de outros, os seguintes conhecimentos prévios: quem é Veríssimo (um escritor de humor, cronista crítico que se opõe ao governo em questão); como são, em geral, os outros textos de Luís Fernando Veríssimo (sempre de humor e ironia);

  13. qual é a sua posição no jornalismo de sua época(é um dos mais conceituados e respeitados cronistas de costumes e de política; seus textos são publicados em espaços nobres dos principais jornais e revistas brasileiros); quem é o presidente a que ele se refere (o presidente da República no ano da publicação, 1998);

  14. a que fala do presidente ele se refere (a comparação que estabeleceu entre a vida do pobre e do rico); qual a situação social do Brasil em nossa época e como é realmente a vida da nas classes menos favorecidas.

  15. Nos dois parágrafos seguintes, vamos identificar as palavras-chave: Nenhuma criança trabalha porque quer. Mas porque é obrigada. Prova disso é que só as pobres entram precocemente no mercado de trabalho. No Brasil, três milhões de menores entre 10 e 14 anos saem de casa todos os dias para garantir o próprio sustento e, muitas vezes, o da família. Algumas nunca entraram numa escola.

  16. Outras tiveram que abandonar os livros antes do tempo. Jogados nas ruas ou em atividades insalubres, a maioria tem o destino traçado. De uma ou outra forma, está condenada. Não terá direito ao futuro. Entre a multidão de trabalhadores mirins, encontram-se cerca de cinquenta mil em situação desumana e degradante. São os catadores de lixo. Eles disputam com cães, porcos, ratos e urubus o que os outros jogam fora.

  17. A partir dos três ou quatro anos, os menores acompanham os pais aos aterros sanitários para catar a sobrevivência. O resultado de um dia de labor sob sol ou chuva é parco. Rende de um a seis reais. Correio Braziliense. Brasília, 19 jun. 1999. Editorial

  18. Nenhuma criança trabalha porque quer. Mas porque é obrigada. Prova disso é que só as pobres entram precocemente no mercado de trabalho. No Brasil, três milhões de menores entre 10 e 14 anos saem de casa todos os dias para garantir o próprio sustento e, muitas vezes, o da família. Algumas nunca entraram numa escola.

  19. Outras tiveram que abandonar os livros antes do tempo. Jogados nas ruas ou em atividades insalubres, a maioria tem o destino traçado. De uma ou outra forma, está condenada. Não terá direito ao futuro. Entre a multidão de trabalhadores mirins, encontram-se cerca de cinquenta mil em situação desumana e degradante. São os catadores de lixo. Eles disputam com cães, porcos, ratos e urubus o que os outros jogam fora.

  20. A partir dos três ou quatro anos, os menores acompanham os pais aos aterros sanitários para catar a sobrevivência. O resultado de um dia de labor sob sol ou chuva é parco. Rende de um a seis reais. Correio Braziliense. Brasília, 19 jun. 1999. Editorial

  21. ESTRATÉGIAS DE LEITURA O ato de ler ativa uma série de ações na mente do leitor, por meio das quais ele extrai informações. Essas ações são denominadas estratégias de leitura e, na sua maioria, passam despercebidas pela consciência. Elas ocorrem simultaneamente, podendo ser mantidas, modificadas ou desenvolvidas durante a apropriação do conteúdo. Ao ler um texto qualquer, a mente da pessoa seleciona o que lhe interessa: nem tudo o que está escrito é igualmente útil. Escolhem-se alguns aspectos, chamados relevantes, ignoram-se outros, irrelevantes ou desinteressantes, e faz-se uma seleção.

  22. Hipóteses são levantadas pelo leitor, antecipando informações com base nas pistas que vai percebendo durante a leitura. Essa estratégia ocorre, por exemplo, quando no início da leitura de um conto de fadas espera-se que apareçam personagens e lugares característicos desse tipo de texto: madrasta ruim, princesas e príncipes lindos e bons, fadas, bruxas, castelos, reinos, florestas encantadas, etc.

  23. Além disso, o leitor espera encontrar palavras ou expressões iniciais e finais que marcam o conto de fadas:“era uma vez uma bruxa malvada”, etc. durante a leitura, comprovando as antecipações, se estavam corretasou não. Se aparecerem termos, palavras ou personagens com características muito diferentes dessas, ocorre um estranhamento do leitor que precisará voltar e analisar o que foi lido.

  24. ▪ Inferênciassão os complementos que o leitor fornece ao texto a partir de seus conhecimentosprévios. É tão frequente o uso dessa estratégia que é comum o leitor não lembrar se determinadoaspecto estava implícito ou explícito no texto. ▪ Auto-regulaçãoé a ponte que o leitor faz entre o que supõe (seleção, antecipação, inferência) e as respostas que vai obtendo através do texto. Trata-se de avaliar as antecipações e as inferências, confirmando-as ou refutando-as, com a finalidade de garantir a compreensão.

  25. Há uma relação recíproca entre usar estratégia de leitura e interpretar o texto. Emprega-se uma estratégia porque se está entendendo o texto; entende-se o texto porque se está aplicando a estratégia. ▪Auto-correçãoacontece quando as expectativas levantadas pelas estratégias de antecipação não são confirmadas, havendo um momento de dúvida. O leitor, então, repensa a hipótese anteriormente levantada, constrói outras e retoma as partes anteriores do texto para fazer as devidas correções. É o caso do leitor, por exemplo, que volta para corrigir a palavra que leu erradamente.

  26. LEITURA PROVEITOSA Para que a leitura tenha um resultado satisfatório, algumas considerações devem ser feitas: ▪ Atenção – aplicação cuidadosa da mente ou espírito em determinado objetivo, para haver entendimento, assimilação e apreensão dos conteúdos básicos encontrados no texto. ▪ Reflexão – consideração e ponderação sobre o que se lê, observando todos os ângulos, tentando descobrir novos pontos de vista, novas perspectivas e relações. Favorece a assimilação de ideias alheias, o esclarecimento e o aperfeiçoamento das próprias, além de ajudar a aprofundar conhecimentos.

  27. ▪ formula perguntas enquanto lê e se mantém atento; ▪ seleciona índices relevantes para a compreensão; ▪ supre os elementos ausentes, complementando informações; ▪ antecipa fatos; ▪ critica o conteúdo; ▪ reformula hipóteses; ▪ estabelece relações com outros aspectos do conhecimento; ▪ transforma ou reconstrói o texto lido; ▪ atribui intenções ao escritor. Pode-se dizer que leitor eficiente é aquele que:

  28. ▪ Espírito Crítico –implica julgamento, comparação, aprovação ou não, aceitação ou refutamento das colocações e pontos de vista. Permite perceber onde está o bom ou o verdadeiro, o fraco, o medíocre ou o falso. Ler com espírito crítico significa ler com reflexão, não admitindo ideias sem analisar, ponderar; nem proposições sem discutir; nem raciocínio sem examinar. É emitir juízo de valor. ▪ Análise –divisão do tema no maior número de partes possível, determinação das relações entre elas e entender sua organização. ▪ Síntese – reconstituição das partes decompostas pela análise e resumo dos aspectos essenciais, deixando de lado o secundário e o acessório, mas dentro de uma sequência lógica de pensamento.

  29. ALGUMAS REGRAS BÁSICAS PARA A LEITURA: ▪ Jamais realizar uma leitura de estudo sem um propósito definido. ▪ Reconhecer sempre que cada assunto, cada gênero literário requer uma velocidade própria de leitura. ▪ Entender o que se lê. ▪ Avaliar o que se lê. ▪ Discutir o que se lê. ▪ Aplicar o que se lê.

  30. DEFEITOS A SEREM EVITADOS Além de se observarem os requisitos necessários para que a leitura se torne proveitosa, deve-se também procurar evitar algumas atitudes que só prejudicam o bom aproveitamento. Entre elas estão: ▪ Dispersão do espírito – falta de concentração, deixando a imaginação divagar de um lado para outro. A formação intelectual consiste, em grande parte, na disciplina da mente. ▪Inconstância – o trabalho intelectual, sem uma devida perseverança, não atinge o objetivo, não chega a nada concreto.

  31. ▪ Passividade – a leitura passiva, sem trabalho da mente, sem raciocínio, reflexão, discussão, impede o verdadeiro progresso intelectual. ▪ Excessivo espírito crítico – preocupação exagerada em censurar, criticar, refutar ou contradizer prejudica o raciocínio lógico. ▪ Preguiça – em procurar esclarecimentos de coisas desconhecidas contidas no texto. Sem a compreensão da terminologia específica, nem sempre se pode entender o texto. ▪ Deslealdade – distorção do pensamento do autor. Quando há má fé ou se falsificam as ideias contidas no texto, compromete-se o caráter científico de qualquer obra.

  32. TIPOS DE LEITURA Apresentamos, a seguir, cinco tipos de leitura: ▪SCANNING– procura de um certo tópico da obra, utilizando o índice ou a leitura de algumas linhas ou parágrafos, visando encontrar frases ou palavras-chave. ▪ SKIMMING – captação da tendência geral, sem entrar em minúcias, valendo-se dos títulos, subtítulos, ilustrações (se houver). Leitura dos parágrafos, tentando encontrar a metodologia e a essência do trabalho.

  33. ▪ DO SIGNIFICADO – visão ampla do conteúdo, principalmente do que interessa, deixando de lado aspectos secundários, lendo tudo de uma vez, sem voltar atrás. ▪ DE ESTUDO – absorção mais completa do conteúdo e de todos os significados, devendo ler, reler, utilizar o dicionário quando necessário e fazer resumos. ▪CRÍTICA – estudo e formação de ponto de vista sobre o texto, comparando as declarações do autor com conhecimentos anteriores. Avaliação dos dados quanto à solidez da argumentação, a fidedignidade e atualização. Se são corretos e amplos.

  34. CONCLUSÃO É preciso entender que ler não é um ato mecânico de decodificação; é muito mais que isso. É o estabelecimento de relações dentro de contextos, de vivências de mundo; não são frases ou palavras soltas, lidas proficientemente, que nos levam a entender que isso seja o ato de ler. Ler é um ato complexo que exige sacrifício, é ir e voltar pelo texto. Ler é descobrir e descobrir-se; não é simplesmente passar os olhos por cima das palavras. É também criar mecanismos para que a palavra tenha vida, significado, emoção e prazer.

  35. Enfim, ler é bom desde que se leve em conta o contexto de uma escola e de uma sociedade comprometida com a leitura, com a formação de leitores para toda a vida e não somente leitores escolares, leitores de momento, leitores da moda. Deve haver empenho de todos, incluindo jovens, adultos e crianças, para que se criem bons programasde leitura em que sejam discutidos e refletidos o papel da leitura, o que dela se poderia aproveitar – numbom sentido – e o que ela poderá ajudar, transformar e mudar.

  36. Para que isso aconteça, serão necessáriascondições de trabalho para a formação de leitores como, por exemplo, que as escolas disponham de boasbibliotecas com o acervo atualizado de livros, jornais, revistas, de um bom computador ligado à internetpara a descoberta da palavra do mundo virtual etc. Além disso, devem-se criar, nas salas de aula, o hábitoe o gosto pela leitura, através de leituras individuais e coletivas, e a leitura em voz alta para que se descubraque a palavra tem melodia, encanto, vida e emoção. Palavra esta que mostra seus segredos de contarhistória a quem sabe contar, que estimula e leva à reflexão e ao prazer.

  37. “Se descrever o mundo tal como é”, dizia Tolstói, “não haverá em tuas palavras senão muitasmentiras e nenhuma verdade”. As palavras nos dizem que estamos destinados a voar, a saltar abismos,a visitar mundos inexistentes: “pontes de arco-íris que ligam coisas eternamente separadas”.

  38. “Pelo poder da palavra ela pode agora navegar nas nuvens, visitaras estrelas, entrar, no corpo de animais, fluir com a seiva das plantas, investigar a imaginação da matéria, mergulhar no fundo de rios e de mares, andar por mundos que há muito deixaram de existir, assentar-se dentro de pirâmides e de catedrais góticas, ouvir corais gregorianos, ver os homens trabalhando e amando, ler as canções que escreveram, aprender das loucuras do poder,passear pelos espaços de literatura, da arte, da filosofia, dos números, lugares onde seu corpo nunca poderia ir sozinho... Corpo espelho do universo! Tudo cabe dentro dele!”Rubem Alves

  39. MATERIAL ORGANIZADO E ADAPTADO: PROFESSORA CLITIEN ALICE MEIRA RIOS REFERÊNCIAS: GARCEZ, Lucília Helena do Carmo. Técnica de Redação: o que é preciso saber para bem escrever. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004. KOCH, Ingedore Villaça, ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2006. MARTINS, Maria Helena. O que é leitura? 7.ed. São Paulo: Brasiliense, 1982. MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento. São Paulo: Hucitec, 1993. RIBEIRO, Gilvan P. Boletim Pedagógico de Língua Portuguesa. Juiz de Fora: Caed, 2002.

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