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Monitorização da Avifauna da Linha Alqueva-Brovales, a 400 kV

Sinalizados de 5 em 5 metros. Sinalizados de 3 em 3 metros. Monitorização da Avifauna da Linha Alqueva-Brovales, a 400 kV Ricardo Silva 1 ; Susana Reis 1 ; Carlos Pacheco 1 ; Marta Cruz 2 ; Iván Prego Alonso 3 ; Rui Rufino 1 ; Catarina Azinheira 3

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Monitorização da Avifauna da Linha Alqueva-Brovales, a 400 kV

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  1. Sinalizados de 5 em 5 metros Sinalizados de 3 em 3 metros Monitorização da Avifauna da Linha Alqueva-Brovales, a 400 kV Ricardo Silva1; Susana Reis1; Carlos Pacheco1; Marta Cruz2; Iván Prego Alonso3; Rui Rufino1; Catarina Azinheira3 1 Mãe d’Água/geral@maedagua.pt, ricardo.silva@maedagua.pt ; 2 Eco For All / martarscruz@gmail.com ; 3 PROCESL/ ialonso@procesl.pt, cazinheira@procesl.pt • Introdução • A Linha Alqueva-Brovales, a 400 kV, explorada pela Rede Eléctrica Nacional (REN), localiza-se na margem esquerda do rio Guadiana, abrangendo os concelhos de Vidigueira, Moura e Mourão e atravessando a ZPE de Mourão/Moura/Barrancos numa extensão de cerca de 14 km. • O Programa de Monitorização da linha Alqueva-Brovales teve início em Janeiro de 2005 e conclusão em Julho de 2010, inclui a concretização de um programa de acções através do qual se pretende aferir a magnitude e significado biológico dos impactes produzidos na avifauna e a eficácia das diversas medidas de minimização de impactes negativos preconizadas no Estudo de Impacte Ambiental (EIA) e na Declaração de Impacte Ambiental (DIA). • Pretende-se determinar a mortalidade da avifauna causada pela linha e sua variação anual com base em prospecções regulares para detecção de cadáveres e mediante a determinação de factores de correcção, nomeadamente taxas de remoção de cadáveres e de detectabilidade, que permitem corrigir as taxas de mortalidade efectivamente observadas; • As medidas implementadas para a minimização dos impactes na avifauna, foram as seguintes: • A sinalização da linha em toda a extensão de atravessamento da ZPE de Moura/Mourão/Barrancos, com espirais “salva-pássaros” (BFD), com 30 cm de diâmetro e espaçadas de 3 em 3 m em cada cabo de guarda, dispostos de forma alternada; • A sinalização da linha entre os apoios 53 e 70 com os mesmos BFD, mas espaçados de 5 em 5 m e dispostos de forma alternada; • A utilização de cabos de guarda com o maior diâmetro possível de modo a aumentar a visibilidade da linha; • Sinalização com BFD entre os apoios 10 e 23, espaçados de 5 em 5 m (aplicada no decorrer da monitorização). • Metodologia • Efectuou-se uma prospecção regular de uma faixa de solo de cerca de 18 m de largura por baixo da linha (abrangendo a área de projecção dos cabos de guarda, dos cabos em tensão e uma faixa para o exterior destes de 5 m para cada lado). A prospecção consistiu na busca de cadáveres para obter a Taxa de Mortalidade Observada (TMO). A determinação da taxa de mortalidade estimada (TME) resultou da aplicação de factores de correcção, designadamente a taxa de remoção de cadáveres por necrófagos, calculada para cada época do ano, e a taxa de detectabilidade de cadáveres, calculada para cada grau de cobertura do solo e para cada prospector. • A área de prospecção dividiu-se em três secções contíguas: Zona 1, fora da ZPE, Zona 2, que inclui uma secção fora da ZPE e outra dentro da ZPE mas de menor sensibilidade e Zona 3, de maior sensibilidade, dentro da ZPE. • A estimativa da taxa de mortalidade real (TME), expressa em número de cadáveres por mês e por km, é obtida pela seguinte expressão matemática (adaptado de Bevanger (1995)): • TME = TMO x 1/(1-CR) x 1/(1-CNE) • TMO = Taxa de Mortalidade Observada, representa o número médio de cadáveres encontrados por mês, por km, para o período estudado; • CR = a proporção de Cadáveres Removidos; • CNE = a proporção de Cadáveres Não Encontrados pelo observador. • Nos 67 meses de trabalho, foram realizadas 119 visitas à linha, 67 das quais mensais, à totalidade da extensão prospectável da linha e 52 intercalares (quinzenais) na zona 3. • Para evitar duplicações em prospecções posteriores, os cadáveres foram sempre removidos nas visitas mensais, mas deixaram-se no local nas visitas intercalares, tendo sido devidamente sinalizados de forma a permitir o seu reconhecimento e evitar serem novamente contabilizados. Impacte sobre espécies com estatuto de conservação desfavorável em Portugal. Das 77 espécies observadas, 17 (22%), correspondendo a um total de 63 indivíduos, apresentam estatuto de conservação desfavorável em Portugal (Cabral et al. 2005), incluindo as classificações “em perigo” (EN), “vulnerável” (VU), e “quase ameaçado” (NT). Para as espécies com estatuto desfavorável em Portugal, foram detectados 5 cadáveres de 3 espécies “Em Perigo”, 26 cadáveres de 7 espécies “Vulneráveis” e 32 cadáveres de 7 espécies “Quase Ameaçadas”. Para as espécies mais sensíveis (EN, VU) os valores absolutos de mortalidade não foram muito elevados (Tabela 1). Eficácia da utilização de BFD nos cabos de guarda Nos 16 vãos estudados, que correspondem àqueles onde foi introduzida sinalização já na fase de monitorização, a taxa de mortalidade observada diminuiu na generalidade (TMO de 1,02 para 0,69 Aves/km/mês o que corresponde a 32,3%). Esta variação não foi significativa, considerando um grau de confiança de 95%, tanto na zona 1 (Mann-Whitney U=384,5, P>0.05), como na zona 2 (Mann-Whitney U=220,5, P>0.05), como ainda para o conjunto das duas zonas (Mann-Whitney, U=86, P=0,118). A TMO foi mais elevada nos vãos com BFD com espaçamento de 5 em 5 metros do que nos vãos com espaçamento de 3 em 3 metros (0,81 e 0,51 aves/km/mês, respectivamente). As diferenças entre as duas zonas mostraram-se estatisticamente significativas para um grau de confiança de 95 % utilizando o teste t-student (t=4,843, P=0.0001). Taxa de mortalidade estimada Utilizando os dados das taxas de mortalidade observada (TMO) de todos os períodos do ano, ao longo da monitorização e considerando os factores de correcção obtidos em cada período do ano, obteve-se a Taxa de Mortalidade Estimada (TME) anual. O valor obtido para 2010 engloba apenas os primeiros 7 meses do ano, que não incluem os meses de maior mortalidade, pelo que o valor apresentado não deverá ser considerado representativo desse ano (figura 5). A partir de 991 cadáveres encontrados durante os 67 meses em visitas mensais estima-se que possam ter colidido com a linha cerca de 965 aves em cada quilómetro ao longo deste período. Considerando que a média de quilómetros prospectados ao longo destes anos foi de 22,850 km, estima-se a mortalidade de 22 165 aves no total da extensão prospectada da linha, durante a totalidade do período de monitorização, ou cerca de 3 969 aves por ano. Figura 1 – Estatuto fenológico Figura 2 – Variação sazonal Resultados Análises dos tamanhos e espécies detectadas Foram correctamente identificados 978 dos 1107 cadáveres encontrados, o que representa 82,3% do total, pertencentes a pelo menos 77 espécies de aves. Apesar da diversidade encontrada, o impacte desta linha foi mais significativo num conjunto de espécies em particular. Mais de metade (54%) dos cadáveres identificados e 48% do total de cadáveres detectados, correspondem a 4 espécies (trigueirão Miliaria calandra, estorninho-preto Sturnus unicolor, toutinegra-de-barrete Sylvia atricapilla e pombo-torcaz Columba palumbus). No conjunto das aves identificadas, 649 (69%) pertenciam a 42 espécies residentes na região, 210 (22%) a 11 espécies invernantes, 48 (5%) a 11 espécies estivais e 41 (4%) a 13 espécies migradoras de passagem (Figura 1). Os picos de mortalidade observados em Setembro e Outubro (maior período de migração), e Julho e Agosto (migração precoce) e em Março e Abril (migração primaveril), poderão ser explicados por uma relação directa da intensidade de atravessamentos com a mortalidade (Alerstam 1990, Matos 1997). Para todos os grupos fenológicos, com excepção dos migradores estivais, ocorrem maiores valores de mortalidade no período de Outono, destacando-se os meses de Setembro e Novembro, sendo este o período no ano mais crítico para a globalidade das espécies (Figura 2). A zona 2 foi a que apresentou maior número de colisões com a linha. Contudo, a zona 1 é a que regista maiores TMO (aves/km) ao longo de toda a monitorização, seguindo-se a zona 2 e por fim a zona 3 (Figura 3). As variações na taxa de mortalidade em diferentes zonas (Figura 4), podem estar relacionadas com a existência de corredores preferenciais de passagem ou com zonas de aproveitamento dos recursos de determinado habitat, para as diferentes espécies. Podem também estar relacionadas com a facilidade de encontrar cadáveres no solo, influenciada pela densidade de vegetação. Ao aplicar o factor de correcção da detectabilidade, os valores da taxa de mortalidade tornam-se equilibrados entre classes de uso do solo. Face a estes resultados, o uso do solo não parece ser um factor determinante na mortalidade da generalidade das aves, embora, possa ser pontualmente importante para determinadas espécies (p. ex. trigueirão). Para outras, como aves migradoras, se o atravessamento da linha tiver lugar de noite num movimento sem paragens, o uso do solo não deverá influenciar significativamente a mortalidade. O grau de cobertura do solo influencia de forma significativa a detecção e esta por sua vez tem uma enorme influência nos resultados finais da estimativa de mortalidade em linhas eléctricas. Figura 4 – Distribuição espacial Tabela 1 – Mortalidade e Impacte Figura 3 – Mortalidade por zonas da linha Figura 5 – Mortalidade estimada Conclusões A linha Alqueva-Brovales é uma das mais impactantes relativamente à mortalidade de aves por colisão no nosso País. Em pouco mais de 5 anos e meio de monitorização foram encontrados 1107 cadáveres de aves pertencentes a pelo menos 77 espécies. Fazendo a correcção dos valores de mortalidade observada aplicando os factores descritos, estima-se a mortalidade de cerca de 22 165 aves no total da extensão prospectada da linha, durante o período dos 5 anos e meio. Verificou-se a influência de vários factores sobre a mortalidade, entre eles, os fenómenos de distracção associada ao voo muito rápido ou em bando, a impossibilidade de observação dos cabos durante os voos nocturnos, a intensidade de atravessamentos da linha e a idade dos indivíduos. A “associação em bando” parece ser relevante para grande parte das espécies observadas, nomeadamente do trigueirão, do estorninho-preto, do pombo-torcaz (3 das espécies mais afectadas), mas também nos abibes, tarambolas, lavercas e petinhas-dos-prados. O “voo nocturno” parece ser responsável pela morte das espécies migradoras tal como os rouxinóis, felosas, toutinegras, papa-moscas e tordos. Em muitas das espécies é a conjugação de dois ou mais factores que aumenta a probabilidade de colisão. Identificaram-se padrões de mortalidade ao longo do ano, apesar de ter havido uma grande variação entre anos, podendo constatar-se um aumento da mortalidade durante o Outono e uma diminuição da mortalidade durante a Primavera. As populações de alcaravão, cegonha-preta e águia-calçada são as que obtiveram-se valores de mortalidade anual estimada superiores a 1% para as respectivas populações locais, mas não para as populações nacionais. Para a águia-caçadeira as estimativas da população local indicam que o impacte poderá ou não ser significativo, variando a afectação entre 0,7% e 1,4% da população reprodutora da ZPE. Para o picanço-barreteiro e a toutinegra-real, poderá haver uma afectação de mais de 1% da população conhecida a nível nacional e, por consequência, também local. Estes impactes deverão, no entanto, ser vistos com alguma cautela/reserva, uma vez que decorrem de um número muito reduzido de detecções de cadáveres das espécies em causa. Apesar de não ser inteiramente eficaz, a colocação de BFD nos vãos que não tinham qualquer tipo de sinalização fez diminuir a mortalidade na sua generalidade, embora esta evolução não seja estatisticamente significativa. A análise do espaçamento entre BFD sugere que os espaçamentos menores provocam menor mortalidade do que os espaçamentos maiores. Referências bibliográficas Alerstam, T. (1990). Bird Migration. Cambridge University Press. United Kingdom. Cabral, M. J., Almeida, J., Catry, P., Encarnação, V., Franco, C., Granadeiro, J.P., Lopes, R., Moreira, F., Oliveira, P., Onofre, N., Pacheco, C., Pinto, M., Pitta, M.J., Ramos, J. & L. Silva (2005). Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (eds.). Instituto da Conservação da Natureza, Lisboa. Bevanger, K. (1995). Estimates and population consequences of tetraonid mortality caused by collisions with high tension power lines in Norway. Journal of Applied Ecology, 32, 745-753. Elias, G. L., Reino, L. M., Silva, T., Tomé, R. & P. Geraldes (Coords.). Atlas das Aves Invernantes do Baixo Alentejo. Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, Lisboa. Matos N. F. (1997). Impactes na avifauna de estruturas lineares de transporte e distribuição de energia. Mestrado em Gestão de Recursos Naturais. Instituto Superior de Agronomia, Universidade Técnica de Lisboa. Snow D. W. & C. M. Perrins (1998). The Birds of the Western Palearctic-Concise Edition (Vol 1). Oxford University Press.

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