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TEMA DE REDAÇÃO . Pensar ou agir de modo distinto do da maioria das pessoas pode ser visto como algo simplesmente diferente , ou como inadequação, ou até mesmo loucura.
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TEMA DE REDAÇÃO Pensar ou agir de modo distinto do da maioria das pessoas pode ser visto como algo simplesmente diferente , ou como inadequação, ou até mesmo loucura. Considerando a afirmativa acima e os trechos abaixo, elabore um texto dissertativo-argumentativo em que você apresente suas reflexões a respeito do olhar sobre a normalidade/anormalidade. Dizem que sou louco Por pensar assim Se eu sou muito louco Por eu ser feliz Mais louco é quem me diz Que não é feliz, não é feliz Rita Lee Loucura A loucura é diagnosticada pelos sãos, que não se submetem a diagnósticos. há um limite em que a razão deixa de ser razão, e a loucura ainda é razoável. Somos lúcidos na medida em que perdemos a riqueza de imaginação. (ANDRADE, Carlos Drummond de.) ‘Normalidade é a habilidade para se adaptar ao mundo exterior com satisfação e para dominar a tarefa de culturação.’ MENINGER, K. Diagnóstico psiquiátrico
Todos os gestos da incredulidade Eu não compro Baton, não votaria no Obama, não gosto de futebol, e acredito que o uso da 3ª pessoa na dissertação é só mais uma marca do racionalismo excessivo e da impassibilidade das relações interpessoais atuais. Seria loucura escrever diferente do recomendado, do previsível, do normal. Seria acusado, mas não seria covarde. De fato, o melhor a fazer é tentar entender por que muitos não o fariam, por que a criatividade e a imaginação entraram em falência e levaram junto um pouco da natureza humana.
Questão primordial é entender que, na contemporaneidade, esse comodismo, que sempre existiu, agravou-se devido a certa falência de utopias e ideologias do último século. Nem as ideias de Marx, ou a tentativa de Lênin trouxeram a igualdade, a ONU não atendeu o desejo de nenhuma Miss, o ‘American wayoflife’ trouxe também a aspirina e o prozac. Essa conjuntura cria um certo pessimismo e corrobora para dificultar o vislumbramento de mudanças na sociedade, tornando o indivíduo acomodado e passivo. É mais fácil manter-se incluído na normalidade, sem questionar ‘o sistema’, a ser taxado de ‘louco’ e decepcionar-se ao tentar.
Espantoso é perceber que essa taxação, e o receio dela, já existiu como regra anteriormente. Quando Darwin propôs a evolução, ou Freud, a interpretação dos sonhos, ambos receberam o mesmo título: loucos. Sem dúvida, quando a sociedade se depara com conjecturas e posturas que põem em xeque seus modos de agir e de pensar é compreensível que ocorra certo medo e aversão. O equívoco dessa postura está, no entanto, em se ignorar que a inventividade e a crítica estão na base da evolução das sociedades, só a imaginação permite a criação e a inovação.
Por outro lado, o problema maior não é as novidades se tornarem rarefeitas, e sim que ao fazer isto, abdicar do poder de enlouquecer-se contra a cosmovisão vigente, o indivíduo abdica de sua própria racionalidade. O homem é um ser social que transforma a natureza com seu trabalho (mental e braçal), o que exige inferência, senso crítico. Para isso, é necessário que se tente enxergar fatos por outras perspectivas, que exista inferência e crítica ao que apenas os olhos veem. Sempre foram poucos os que conseguiram fazer isso, Rousseau, Kant, Nietsche, mas foram os desvarios deles que influenciaram diretamente a formação da sociedade ocidental atual.
Torna-se evidente, portanto, que o medo da quebra da anormalidade pode até ser normal naqueles que estão tão afogados em suas culturas que se alienaram em realidades que desejam ser imutáveis. Contudo, é dever dos ‘loucos’ os salvarem, emergindo de novo com sua condição humana, sua capacidade de colocar o mundo a sua volta em crise, insatisfazer-se. A realidade contemporânea, entretanto, conta com problemas que tornam essa ferida mais difícil de cicatrizar, como o individualismo. O irônico é ver aqueles que defendem essa ação coletiva para o retorno da criatividade escreverem na 1ª pessoa do singular: são as contradições de uma sociedade que mantém seu lado humano vendado e só enxerga quando quer. Parafraseando Machado de Assis: ‘ Abane a cabeça, leitor”.