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Em Carne e Bronze. parte l Perfilam-se homens na orla em tensa espera. Testas vincadas. Pequenos leques de rugas, em torno de olhos que espreitam, abrem igarapés na pele trigueira .
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parte lPerfilam-se homens na orlaem tensa espera.Testas vincadas.Pequenos leques de rugas,em torno de olhos que espreitam,abrem igarapés na pele trigueira. Os dorsos nus, salpicados de suor,temperam-se na água de rios e mares.No peito, o pulsar da vidaem carne e bronze.Ao calafrio das águas,brilham simultâneos olhos morenos.
O boto aponta o céu- E a comunhão se dá:arredondadas redes sobem ao ar,em sincronia de corpo de baile,ensaiado de sol a sol.Encrespam-se as águas. Redes estremecem, prenhes de sustento.Risadas ecoam no clarão da tarde.No cesto, o peixe.No riso, o canto.No olhar do pescador, o brilho de inconsciente gratidãoe reverência.
Parte II Na outra margem,chapéus de palha coroam cabeças de irmãos de luta pelo pão do dia. Na pele, o mesmo bronze pulsante, cheirando a maresiaAos pés, cestos, inúteis,desde o amanhecer.
Ouve-se, então, um convite estranho e solitário “-Boto, boto, boto,Vem comer farinha seca, boto!”Os sulcos nas águas mudam de direçãoe o bailado recomeça do outro lado...Outra vez o canto. De novo, o riso. Cestos estremecem, plenos,prenunciando mesa farta.De um lado e outro, olhares agradecidos miram a velha barbatana dobrada, entre outras que a seguem,cortando a prata do rio,em linha reta, rumo ao mar.
Cestos estremecem, plenos,prenunciando mesa farta.De um lado e outro, olhares agradecidos miram a velha barbatana dobrada, entre outras que a seguem,cortando a prata do rio,em linha reta, rumo ao mar. Mãos bronzeadas guardam para amanhão boleio das tarrafas. O dia fecha as cortinas... Rosane Freitas