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Parnasianismo X Simbolismo. Por Veridiana Brustolin Corrêa. PARNASIANISMO: a valorização da forma.
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Parnasianismo X Simbolismo Por VeridianaBrustolin Corrêa
PARNASIANISMO: a valorização da forma
Enquanto a prosa realista representou uma reação contra a literatura sentimental dos românticos, a poesia pregou a rejeição do “excesso de lágrimas” e da linguagem coloquial e declamatória do Romantismo. Valorizando o cuidado formal e a expressão mais contida dos sentimentos, teve origem no Brasil, no final do século XIX, o PARNASIANISMO.
Profissão de fé Invejo o ourives quando escrevo: Imito o amor Com que ele, em ouro, o alto-relevo Faz de uma flor. Torce, aprimora, alteia, lima A frase; e, enfim, No verso de ouro engasta a rima, Como um rubim. Quero que a estrofe cristalina, Dobrada ao jeito Do ourives, saia da oficina Sem um defeito.
Vaso chinês Estranho mimo, aquele vaso! Vi-o Casualmente, uma vez, de um perfumado Contador sobre o mármor luzidio, Entre um leque e o começo de um bordado. Fino artista chinês, enamorado, Nele pusera o coração doentio Em rubras flores de um sutil lavrado, Na tinta ardente, de um calor sombrio. Mas, talvez por contraste à desventura – Quem a sabe? – de um velho mandarim Também lá estava a singular figura: Que arte, em pintá-la! A gente acaso vendo-a Sentia um não-sei-quê com aquele chim De olhos cortados à feição de amêndoa. Alberto de Oliveira
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS • Preocupação formal que se revela na busca da palavra exata, caindo muitas vezes no preciosismo; o parnasiano procura descrever objetivamente a realidade. • Comparação da poesia com as artes plásticas, sobretudo com a escultura. • Frequentes alusões a elementos da mitologia grega e latina. • Preferência por temas descritivos – cenas históricas, paisagens, objetos, estátuas etc. • Enfoque sensual da mulher, com ênfase na descrição de suas características físicas.
A inspiração inicial do Parnasianismo veio da França, de uma antologia poética intitulada O Parnaso contemporâneo, publicada em 1966. Parnaso era o nome de um monte, na Grécia, consagrado a Apolo (deus da luz e das artes) e às musas (entidades mitológicas ligadas às artes). Considera-se como marco inicial do Parnasianismo no Brasil o livro de poesias Fanfarras, de Teófilo Dias, publicado em 1882, apesar de ter ocorrido, em 1878, em jornais cariocas, um ataque à poesia do Romantismo, gerando uma polêmica em versos que ficou conhecida como a Batalha do Parnaso.
Os principais poetas do Parnasianismo foram: • Alberto de Oliveira (1857-1937) – autor de Canções românticas, Meridionais, Sonetos e poemas, Versos e rimas. • Raimundo Correia (1860-1911) – autor de • Primeiros sonhos, Sinfonias, Versos e versões, • Aleluias, Poesias. • Olavo Bilac (1865-1918) – autor de Via Láctea, • Sarças de fogo, Alma inquieta, O Caçador de • esmeraldas, Tarde. • Vicente de Carvalho (1866-1924) • – autor de Ardentias, Relicário, Rosa, • rosa de amor, Poemas e Canções.
SIMBOLISMO: a valorização da musicalidade
No último decênio do século XIX, ocorreu uma reação contra o materialismo e o positivismo que empolgaram a geração realista, fazendo surgir um movimento de revalorização da vida espiritual do ser humano. A literatura enfatiza novamente o subjetivismo e a introspecção, voltando a interessar-se pela dimensão psicológica e transcendental do homem. Para isso, despreza a palavra exata, a descrição objetiva e explora o poder de sugestão da linguagem, dando origem a um movimento poético conhecido por SIMBOLISMO.
Busca palavras límpidas e castas, novas e raras, de clarões ruidosos, dentre as ondas mais pródigas, mais vastas dos sentimentos mais maravilhosos. Enche de estranhas vibrações sonoras a tua Estrofe, majestosamente... Põe nela todo o incêndio das auroras para torná-la emocional e ardente. Derrama luz e cânticos e poemas no verso, e torna-o musical e doce, como se o coração nessas supremas Estrofes, puro e diluído fosse. Cruz e Sousa
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS • Preocupação formal que se revela na busca de palavras de grande valor conotativo e ricas em sugestões sensoriais; a realidade não é descrita, mas sugerida. • Comparação da poesia com a música. • A poesia é encarada como forma de evocação de sentimentos e emoções. • Frequentes alusões a elementos evocadores de rituais religiosos (incenso, altares, cânticos, arcanjos, salmos, etc.), impregnando a poesia de misticismo e espiritualidade. • Preferência por temas subjetivos, que tratem da Morte, do Destino, de Deus etc.
Enfoque espiritualista da mulher, envolvendo-a num clima de sonho onde predomina o vago, o impreciso e o etéreo. • Principais Autores: • Cruz e Sousa • Alphonsus de Guimaraens • Pedro Kilkerry • Dario Veloso • Emiliano Perneta
Cruz e Sousa: o poeta das cores, dos sons, das dores João da Cruz e Sousa nasceu em 1861, em Santa Catarina, e morreu em 1898, em Minas Gerais. Filho de ex-escravos, teve uma vida de padecimentos, além de sofrer o preconceito racial. É considerado o melhor poeta do Simbolismo e um dos mais destacados de toda a nossa literatura. Seus livros “Missal” (poemas em prosa) e “Broquéis” (poesias), de 1893, únicos publicados em vida, tornaram-se o marco inicial do Simbolismo brasileiro. Herdou do Parnasianismo o cuidado com a linguagem, mas destacou-se pela exploração criativa dos aspectos sonoros das palavras, obtendo efeitos que transmitem grande musicalidade a seus versos.
Velho vento vagabundo! No teu rosnar sonolento Leva ao longe este lamento, Além do escárnio do mundo. A vida sofrida, a doença da esposa, a angústia de ser negro no Brasil escravocrata fizeram com que se voltasse muitas vezes para os marginalizados e os humilhados: Os miseráveis, os rotos São as flores dos esgotos. São espectros implacáveis Os rotos, os miseráveis.
Daí a angústia existencial que percorre sua obra, em poemas que ficaram famosos: Quando será que toda a vasta Esfera, Toda esta constelada e azul Quimera, Todo este firmamento estranho e mudo, Tudo que nos abraça e nos esmaga, Quando será que uma resposta vaga, Mas tremenda, hão de dar de tudo, tudo?!
Alphonsus de Guimaraens: o poeta melancólico Seu nome verdadeiro é Afonso Henrique da Costa Guimarães, nascido em 1870, em Minas Gerais, e aí falecido em 1921. Levou uma vida solitária e sua poesia é marcadamente espiritualista, carregada pela atmosfera de rituais religiosos, sonhos e melancolia. Com uma linguagem simples, soube extrair grande efeito musical das formas poemáticas que utilizou, dando à sua poesia certos acentos medievalistas.
Quando chegaste, os violoncelos Que andam no ar cantaram hinos. Estrelaram-se todos os castelos, E até nas nuvens repicaram sinos. Foram-se as brancas horas sem rumo Tanto sonhadas! Ainda, ainda Hoje os meus pobres versos perfumo Com os beijos santos da tua vinda. Quando te foste, estalaram cordas Nos violoncelos e nas harpas... E anjos disseram: - Não mais acordas, Lírio nascido nas escarpas! Sinos dobraram no céu e escuta Dobre Eternos na minha ermida. E os pobres versos ainda hoje enluto Com os beijos santos da despedida. (Alphonsus de Guimaraens)