E N D
1. Três concepções de linguagem Travaglia,2001
1. expressão do pensamento
2. instrumento de comunicação
3. processo de interação
2. L = Expressão de pensamento As pessoas não se expressam bem porque não pensam. A expressão se constrói no interior da mente, sendo sua exteriorização apenas uma tradução. A enunciação é um ato monológico individual, que não é afetado pelo outro, nem pelas circunstâncias que constituem a situação social em que a enunciação acontece. ... Presume-se que há regras a serem seguidas para a organização lógica do pensamento, e consequentemente, da linguagem. São elas que se constituem nas normas gramaticais do falar e escrever “bem”...
3. L = instrumento de comunicação Conjunto de signos que se combinam segundos regras, e que é capaz de transmitir uma mensagem, informações de um emissor a um receptor. Isto fez com que a Lingüística não considerasse os interlocutores e a situação de uso como determinantes das unidades e regras que constituem a língua, isto é, afastou o indivíduo falante do processo de produção, do que é social e histórico na língua. Essa é uma visão monológica e imanente da língua, que a estuda segundo uma perspectiva formalista – que limita esse estudo ao funcionamento interno da língua ...
4. L = processo de interação O indivíduo ao usar a língua não traduz e/ou exterioriza simplesmente seu pensamento, ou transmite informações, mas sim realiza ações, age, atua sobre o interlocutor. A linguagem é pois um lugar de interação humana, de interação comunicativa pela produção de efeitos de sentido entre interlocutores em uma dada situação de comunicação e em um contexto sócio-histórico e ideológico ...
5. Concepções de gramática Travaglia, 2001:
Normativa: bem falar e escrever
Descritiva: funcionamento da língua
Internalizada: competência do usuário (virtual)
6. Tipos de gramática 1. normativa
2. descritiva
3. internalizada (objeto da descritiva)
4. implícita: atividades metalingüísticas
5. explícita ou teórica: atividades lingüísticas
6. reflexiva: atividades epilingüísticas
7. contrastiva ou transferencial
8. geral
9. universal
10.histórica
11. comparada
7. História da gramática (Félix, 2004) A disciplina gramatical é uma criação helenística que estabelece um novo ideal de cultura, opondo-se ao mundo bárbaro. "O que o espírito helênico criou é agora zelosamente cultivado: pesquisa-se e ensina-se" (NEVES, 1987, p.103).
O termo grammatikós é reservado naquela época ao que faz a revisão crítica dos textos e a compreensão da obra literária. Essa é também sua atividade de pesquisa, à qual se alia a docência, "pois o gramático é o mestre-escola que sucede ao gramatista (grammatistés, instrutor primário) ao qual sucede o retor (rhétor)[". (MARROU apud NEVES, 1987, p.2).
8. Os latinos Os latinos praticamente herdaram a tradição gramatical da Grécia, adaptando sua língua às regras formuladas pelos gregos. Esta prática começa com Varrão, Marcus Terentius Varro (116-27 a.C.), estabelecendo a diferença entre flexão e derivação. Os gramáticos latinos mais influentes nos séculos posteriores foram Quintiliano, Marcus Fabius Quintilianus (ca. 30-96 d.C.), Donato no século IV d.C. e Prisciano no século VI d.C.
9. Gregos e Latinos Em geral, as gramáticas do período latino absorveram a teoria dos gregos. Herdaram, ainda, as controvérsias e as discussões sobre casos e categorias. "O que, porém, mais se conhece da erudição lingüística romana é a formalização descritiva da gramática latina" (ROBINS, 1979, p.42) que sustentou a educação dos fins da Antigüidade e se tornou modelo para os gramáticos da Idade Média.
10. Idade Média Na Idade Média, continuam prevalecendo as concepções lingüísticas da Antigüidade. Há contribuição dos gramáticos árabes, cujas reflexões influenciaram os gramáticos europeus, como por exemplo os trabalhos de Raymond Lulle (1235-1309). As traduções da Bíblia, como por exemplo a de Ulfilas (311-383) para o gótico, não despertaram reflexões acerca da língua, servindo apenas como instrumento de evangelização. Segundo Joan Corominas (apud MARTINS, 1989, p.174), Ramón Vidal de Besalú (1160-1230?) escreveu a mais antiga gramática conservada de uma língua românica moderna. O tratado de Besalú é uma gramática em prosa e tem como título Regles ou Razos de trobar. Sua finalidade é ensinar corretamente a língua dos trovadores (BESALÚ, 2003).
11. Ainda a Idade Média As teorias lingüísticas do final da Idade Média orientam-se também pelas discussões entre "realistas" e "nominalistas". No plano das palavras, os realistas defendiam que o conceito existe a partir do momento em que existe a palavra. Já os nominalistas colocavam em dúvida esta equivalência entre palavra e idéia. Os realistas elaboram um mundo de realidade que corresponde exatamente aos atributos do mundo do pensamento. Os nominalistas, ao contrário, modelam o conceito sobre o objeto externo que é individual e particular.
12. Idade Moderna No final do século XV e durante o século XVI, surgem traduções da Bíblia para as línguas modernas. Também as grandes descobertas despertaram interesse pelo contato entre diferentes civilizações. Viajantes, comerciantes e diplomatas trocavam experiências até então desconhecidas. A partir de então, surgem gramáticas inspiradas no modelo greco-latino. Estas gramáticas marcam o final da Idade Média e valorizam as assim chamadas "línguas nacionais".
Na Renascença, os estudos sobre as línguas são feitos com maior consistência e seriedade. Detém-se um melhor conhecimento do grego e com os estudos do hebraico, língua de estrutura distinta das européias, intensificam-se as comparações lingüísticas, sempre visando a tradução da Bíblia. Neste período surge a primeira gramática do alemão, Teutsche Grammatica, de Valentin Ickelsamer (1500-1537), publicada em Augsburg em 1534.
13. Fernão de Oliveira Em Portugal surgem a Gramática da linguagem portuguesa de Fernão de Oliveira (1536) e a Gramática da língua portuguesa de João de Barros (1540). Semelhança com o latim, normatização da ortografia, estudos do léxico são as características principais desta época. A obra de Fernão de Oliveira pretende distanciar-se dos latinos, demonstrando maior dedicação à fonética e à ortografia. Inspira-se na Gramática espanhola de Nebrija (1492), mas recorre a Varrão, Cícero, Quintiliano e outros clássicos. Concebe a língua como fenômeno espiritual, porém "biologicamente condicionado pelas 'leis do corpo'" (FÁVERO, 1996, p.30), o que justifica sua maior dedicação aos sons e à fala. Se "os homens fazem a língua e não a língua aos homens" (FERNÃO apud FÁVERO, 1996, p.31), então a arte da gramática "é resguardo e anotação deste costume e uso, tomada depois que os homens souberam falar, e não lei posta que os tire da boa liberdade [...]" (Ibid., p.31)
14. João de Barros A obra de João de Barros caracteriza-se como pedagógica em oposição às gramáticas especulativas, exclusivamente aplicadas ao latim e longe de se tornarem gramáticas universais. João de Barros preocupa-se em codificar um uso e reivindica uma abordagem artística dos fatos da língua. A obra segue a divisão latina: ortografia, prosódia, etimologia e sintaxe, apresentando nove classes de palavras. Acentua as diferenças entre o português e o latim ignorando os casos e demonstrando a redução das conjugações.
15. França e Alemanha Na França, em 1550, publica-se a primeira gramática do francês de Louis Meigret (1510-1560) Le tretté de la grammere françoeze (Paris).
Na Alemanha, aparecem outras gramáticas pioneiras a partir da segunda metade do século XVI: Laurentius Albertus, Teutsch Grammatick oder Sprachkunst, Augsburg (1573); Albertus Oelinger, Underricht der Hoch Teutschen Spraach: Grammatica, Straßburg (1574); Johannes Clajus, Grammatica germanicae linguae ex optimis quibusque autoribus collecta, Leipzig (1578); e Stephan Ritter, Grammatica germanica nova, Marburg, (1616).
O objetivo destas gramáticas era a normatização e padronização da língua, uma das principais bases de unificação dos povos alemães (DOLESCHAL, 2003).
16. Port Royal Em 1660, Antoine Arnauld e Claude Lancelot, jansenistas ligados àquela abadia, publicaram a Grammaire génerale et raisonnée. De inspiração cartesiana, esta obra visa descobrir as regras de funcionamento da língua. Aceita como axioma a relação língua-pensamento e desenvolve 3 operações: "conceber", "julgar" e "raciocinar". Divide-se em duas partes: a primeira, "onde se fala das letras e dos caracteres da escrita"; a segunda, "onde se fala dos princípios e dos motivos sobre os quais se baseiam as diversas formas da significação das palavras". Na prática, estas divisões eqüivalem à "parte material" e "parte espiritual" das palavras.
17. Bases da lingüística como ciência moderna Segundo Faraco (2004, p.29, 30 e 31)
“A lingüística se constituiu como ciência no sentido que a modernidade deu ao termo, a partir dos últimos anos do século XVIII, quando William Jones [1746-1794], o juiz inglês..., entrou em contacto com o sânscrito. Impressionado com as semelhanças entre essa língua, o grego e o latim, levantou a hipótese de que semelhanças de tal magnitude não poderiam ser atribuídas ao acaso; era forço reconhecer que essas três línguas tinham uma origem comum.”
“toma-se como primeira data referencial deste período o ano de 1786. em que William Jones apresentou sua comunicação à Sociedade Asiática de Bengala. Nela, Jones destacava as inúmeras semelhanças (em tal grau que, segundo ele, não poderiam ser atribuídas ao acaso) entre o sânscrito, o latim e o grego ...”
“Há, na seqüência, uma verdadeira febre de estudos sânscritos: ... Fundou-se em Paris, em 1795, a Escola de Estudos Orientais ... Onde estudaram os intelectuais alemães – Friedrich Schlegel (1772-1829) e, em particular, Fraz Bopp (1791-1867 – que desenvolveram, em seguida, a chamada gramática comparativa.”
18. Enciclopedistas Os enciclopedistas (Denis Diderot (1713-1784) e Jean Le Rond d'Alembert (1717-1783) reúnem todo o conhecimento da época. As principais idéias dos enciclopedistas giravam em torno da educação, uma força que transformaria o mundo, garantindo os direitos humanos: naturais, úteis e que conduzem à felicidade. Segundo Fávero (1996, p.134), os verbetes "lingüísticos" foram revistos e reunidos por Beauzée na Encyclopédie méthodique: grammaire et littérature, publicada em três volumes entre 1765 e 1780. O termo "gramática" é definido como "c'est la science de la parole écrite ou parlée". (Ibid., p.136) e divide-a em "ortografia" (lexicografia e logografia) e "ortologia" (lexicologia e sintaxe).Os enciclopedistas viam uma seqüência ideal para a gramática: sintaxe, morfologia e fonética. Se, por um lado, a Encyclopédie é limitada por ser composta de verbetes, por outro, sua contribuição está no fato de apresentar uma nova teoria da gramática: as discussões deslocam-se do logicismo ao semantismo e retornam às categorias aristotélicas.
19. Gramáticos alemães Johann Gottfried Herder (1744-1803) em seu trabalho Abhandlung über den Ursprung der Sprache (Berlim, 1772) vincula linguagem ao pensamento
Johann Christoph Gottsched (1700-1766), Grundlegung einer deutschen Sprachkunst, Leipzig (1749) recoloca a questão da normatização da língua padrão alemã escrita
Johann Christoph Adelung (1732-1806), Umständliches Lehrgebäude der Deutschen Sprache, zur Erlernung der Deutschen Sprachlehre für Schulen, Leipzig (1782)
Johann Werner Meiner (1723-1789), Versuch einer an der menschlichen Sprache abgebildeten Vernunftlehre oder Philosophische und allgemeine Sprachlehre
Franz Bopp (1791-1867) consolidou o parentesco das línguas européias com o sânscrito com sua obra Über das Conjugationssystem der Sanskritsprache in Vergleichung mit jenem der griechischen, lateinischen, persischen, und germanischen Sprache.
20. Whitney e Humboldt William D. Whitney (1827-1894)
“Whitney fez seus estudos universitários em Yale (EUA), tendo frequentado, em seguida, no início da década de 1850, cursos na Universidade de Berlim, onde foi aluno de Franz Bopp. Em retorno aos EUA, tornou-se professor de sânscrito em Yale; escreveu uma gramática dessa língua ... Foi dos primeiros lingüísticas a se interessar pelo estudo das línguas indígenas da América do Norte ... Seu livro The life and growth of language, publicado em 1875, foi traduzido, no mesmo ano, para o francês ... e para o alemão ... Foi, assim obra de grande circulação entre os lingüístas do fim do século XIX. Atraiu especialmente a atenção de Saussure...” (FARACO, 2004, p.40)
Wilhelm von Humboldt (1767-1835) apontou o princípio gerador da linguagem e se tornou o fundador da Lingüística Geral (GIPPER, apud FÉLIX 2004).
21. Gramáticos brasileiros Segundo Morais (1986), no século XIX, "o Brasil produziu mais gramáticas que Portugal [...]" (p.37). De fato, há registros de diversas gramáticas e dicionários brasileiros na primeira metade do século XIX: Gramática do Coruja (1835) de Antonio Álvaro Pereira Coruja; Compêndio de Grammatica portuguesa da Primeira Idade (1855) de Cyrilo Dilermando da Silveira; Epítome da Gramática Portuguesa (1860) de Abílio César Borges (Barão de Macaúbas); Novo Methodo de Grammatica Portugueza (1862) de Joaquim Frederico Kiappe da Costa Rubim; Grammatica Analytica da Lingua Portugueza (1865) de Charles Adrien Olivier Grivet (1816-?); Gramática Portuguesa (1865) de Francisco Sotero dos Reis; Diccionário Grammatical Portuguez (1865) de J.A. Passos; Primeiras Noções de Gramática Portuguesa (1877) de Meneses Vieira; e Gramática Portugueza (187?) de Manoel Olympio Rodrigues da Costa. (Literatura Infantil, 2003).
22. Ainda os portugueses Na segunda metade do século XIX publicam-se outras gramáticas em Portugal: Nova Grammatica Portugueza (1862), de Bento José de Oliveira; Grammatica practica da lingua portugueza para uso dos alumnos do primeiro anno do curso dos lyceus (1870), de Augusto Epifânio da Silva Dias (1841-1916); Compêndio de Grammatica Portugueza (1871), de Vergueiro e Pertence; Noções Elementares de Gramática Portuguesa, de Francisco Adolfo Coelho (1847-1919) e Gramática Portuguesa, de Antônio Garcia Ribeiro de Vasconcelos (1860-1941).
23. Ainda os alemães Friedrich Diez (1794-1876) publicou de 1836 a 1844 sua Grammatik der romanischen Sprachen, entrando para a história como o fundador da lingüística românica.
A. Schleicher (1821-1868) sintetizou o conhecimento da época com sua obra Compendium der Vergleichenden Grammatik der indogermanischen Sprachen, de 1861. Este estudioso de formação naturalista e com forte influência de Darwin é o responsável por imprimir aos estudos lingüísticos da época uma orientação biologicista: a língua é vista como um organismo vivo, com existência própria fora de seus falantes.
Neste mesmo período foi publicado a Grammatik der portugiesischen Sprache (Strassburg, 1878) de Carl von Reinhardstoettner (1847-1909), importante obra realizada com base na comparação do latim com as línguas românicas. Tanto a obra quando seu autor que também se ocupou da tradução de Camões foram conhecidos pelos gramáticos brasileiros, exercendo considerável influência sobre os estudos lingüísticos da época.
24. Neogramáticos No final do século XIX, a questão da mudança consonantal de que trata a Lei de Grimm foi retomada pelos neogramáticos (Junggrammatiker), demarcando a passagem do historicismo para o positivismo. Estes pesquisadores, ligados à Universidade de Leipzig, orientavam-se por um rigor metodológico e defendiam que as leis fonéticas, responsáveis por mutações fônicas como processos mecânicos, não admitiam exceções (Ausnahmslosigkeit der Lautgesetze).
Os princípios desta escola foram publicados por H. Osthoff (1847-1907) e K. Brugmann (1849-1919). Mas foi Karl Verner (1846-1896) que viu regularidade nas exceções da Lei de Grimm, demonstrando, em 1875, que depois de sílabas fracas aquele grupo de consoantes [ /p/, /t/, /k/] mudava para /b/, /d/, /g/. Esta regra ficou conhecida como Lei de Verner e reforçou a confiança dos lingüistas no princípio da regularidade da mudança. A obra de Hermann Paul (1846-1921), Prinzipien der Sprachgeschichte, publicada pela primeira vez em 1880, reuniu o pensamento neogramático e tornou-se referência para a formação dos diacronistas da época (FARACO, 1998, p.92). Outro exemplo da produção lingüística dos neogramáticos é a publicação da obra de Wilhelm Meyer-Lübke (1861-1936), Grammatik der romanischen Sprachen, a partir de 1890.
Além destes, consideram-se neogramáticos H. Delbrück, E. Sievers, A. Leskien. Outros cientistas tiveram formação neogramática como o inglês J. Wright, os franceses A. Meillet e F. Saussure, e os norte-americanos F. Boas, E. Sapir e L. Bloomfield, entre outros.
25. Saussure: divisor de águas Assim, o século XIX termina sob forte influência dos neogramáticos e de seus contestadores. O saber lingüístico atinge seu maior amadurecimento em meio a atitudes predominantemente comparativistas, evolucionistas e positivistas. Constata-se pelo menos duas tendências: a lingüística histórica e a lingüística descritiva. Ferdinand de Saussure (1857-1913) ilustra este momento de ruptura. Destaca-se inicialmente pelos estudos comparativos. Mais tarde, suas idéias compiladas no Cours de Linguistique Générale (1916), tornam-se a base da lingüística moderna.
Conceitos inovadores: língua/fala, diacronia/sincronia/ linearidade, arbitrariedade, noção de pertinência, significante e significado (ILARI, 2004)
26. ??NA PONTA DA LÍNGUA?? A Lingüística começa a se constituir como ciência quando:
1. se estuda o grego em comparação com o latim;
2. se estuda o parentesco do sânscrito com outras línguas
3. se analisa as línguas neolatinas