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JUDAS. Desde o dia em que Jesus foi declarado transgressor da Lei e inspirado por Satan, Judas começou, espiritualmente, a afastar-se d’Ele.
E N D
Desde o dia em que Jesus foi declarado transgressor da Lei e inspirado por Satan, Judas começou, espiritualmente, a afastar-se d’Ele. Possuidor de maior cultura que os demais discípulos e dotado de imaginação fértil, porém doentia, meditava profundamente sobre tudo o quanto via e ouvia, tanto no circulo dos próprios discípulos, como no meio do povo e, por fim, já não mais sabia se Jesus era ou não o Messias esperado. Penetrou no terreno tormentoso da dúvida, aprofundando-se dia por dia até que, com a entrada auspiciosa de Jesus em Jerusalém, naquela Páscoa, vendo o povo confraternizar com os discípulos no caminho de Betania, cantando hosanas, encheu-se novamente de esperanças.
Foi um dos que mais depressa estendeu sua capa no chão para que o Messias passasse; um dos que; na sua enorme alegria, mais dançou à frente do cortejo; um dos que mais alto gritou: “Hosanas ao Filho de David! Glória ao nosso Rei-Messias”. Quando viu que Jesus, ao chegar ao Templo, nada fez para assumir o poder que o povo estava pedido, descendo silenciosamente e desaparecendo no meio da multidão que enchia o Templo, sua decepção foi profunda e todos os seus sonhos de ambição e glória desmoronaram.
Tinha errado mais uma vez, Jesus de Nazareth não podia ser o salvador de Israel, o rei nacional, sendo simplesmente um profeta do povo humilde. Assim sendo, pensava ele, não tinha sido ludibriado nas suas esperanças, seus esforços, sua dedicação de vários anos? Não perdera todo o seu tempo, fazendo-se discípulo daquele rabi?
VIGIAI E ORAI
Penetrando no campo da invigilância, nesse momento as forças do Mal, das quais já se vinha tornando um alvo vulnerável, se apoderaram dele; ficou hirto e frio, um suor viscoso caía-lhe da testa sobre o rosto enquanto espuma amarelada como fel começou a escorrer pelo cantos dos lábios brancos e cerrados.
A BUSCA DO IMEDIATISMO X A FÉ QUE SABE ESPERAR
Naquela época a Judéia estava sob o jugo romano, e por isso a pena de morte só podia ser aplicada por uma autoridade romana. Então levaram Jesus a Pilatos, para obterem a condenação dele. Judas ficou desesperado porque jamais tinha pensado que seu gesto pudesse causar a morte do Mestre. Ele conhecia a inocência de Jesus e a pureza de sua vida. Desse momento em diante é que Judas começou a compreender o caráter essencialmente espiritual da missão de Jesus. E sinceramente arrependido, confessa publicamente o seu crime. Mas era tarde. O Mestre já estava nas mãos de seus algozes, os quais eram inflexíveis.
O suicídio de Judas lhe custou séculos de sofrimentos nas zonas inferiores do mundo espiritual, porque tentou corrigir um erro com outro erro. Todavia, ajudado espiritualmente por Jesus e seus companheiros de apostolado, depois de inúmeras reencarnações na terra, dedicadas ao trabalho de fazer triunfar o Evangelho, Judas conseguiu reabilitar-se; e hoje está irmanado com Jesus em sua esfera esplendorosa.
Antes, porém, de executar seus planos tenebrosos, junto à figueira sinistra, ouvia a voz amargurada do seu tremendo remorso. Relâmpagos terríveis rasgavam o firmamento; trovões violentos pareciam lançar sobre a terra criminosa a maldição do céu, mas sobre todas as vozes confusas da Natureza, o discípulo infeliz escutava a voz do Mestre, consoladora e inesquecível, penetrando no mais intimo de sua alma:
“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir ao Pai, senão por mim”
Ainda com relação à última ceia gostaríamos de sanar nossas dúvidas quanto ao fato daquela acusação de Jesus insinuando ser Judas o discípulo que deveria traí-lo? Ramatís: Ente os diversos acontecimentos narrados pelos evangelistas e sumariamente modificados posteriormente pelos exegetas católicos, a cena da acusação indireta de Jesus contra Judas, se fosse verdadeira, seria um dos mais graves e censuráveis desmentidos aos seus profundos sentimentos de amor, ternura e perdão tão sublimes, que, nos extremos de sua agonia, no ato de sua crucificação, quanto aos seus algozes, o fez dirigir ao Pai aquela rogativa de misericórdia infinita: “Pai! Perdoai-lhes porque eles não sabem o que fazem”.
É quase inacreditável que, depois de se configurar o Amado Mestre como a maior expressão de amor e de renuncia na Terra, o reduzam ao caráter de um homem comum ressentido e intrigante, pecando pelo julgamento antecipado da “possível” traição de um discípulo. Conforme narra o evangelista João, primeiramente Jesus exclama: “Em verdade, em verdade vos digo que um de vós me há de entregar”. Após os apóstolos recuperarem-se da angústia daquela acusação velada e, em seguida às indagações aflitivas de Pedro e João, eis que o Mestre, num gesto de delator vingativo responde: “É aquele (o traidor) a quem eu der o pão molhado. E tendo molhado o pão, deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes”. E a narrativa de João acrescenta: “E atrás do bocado de pão entrou em Judas o Satanás”.
Em tal acontecimento tão comprometedor, faltaria ao Mestre, sempre gentil e benevolente, até o resquício da piedade comum nas criaturas de relativa formação moral, pois ele teria acusado o seu discípulo em público, por um ato abjeto de que apenas tinha pressentimento. Mateus não descreve a cena do pão molhado entregue a Judas como o libelo acusador, mas ainda é mais chocante contra a linhagem Angélica do Mestre, pondo-lhe nos lábios as seguintes palavras acusatórias e da maldição:”O Filho do homem vai, certamente, como está escrito dele; mas aí daquele homem por cuja intervenção há de ser entregue o Filho do homem; melhor fora a tal homem não haver nascido!”
E respondendo Judas, o que o traía, disse: “Sou eu, porventura, Mestre?” Disse-lhe Jesus: “Tu o disseste”. Ora, no caso, Jesus não só desejaria a Judas um fim trágico e abominável, como ainda o acusaria brutalmente diante dos demais discípulos e companheiros, confirmando que era ele o traidor! E, se “atrás” do bocado de pão molhado entrou Satanás em Judas, conforme narra João, então é óbvio que, até aquele momento, Judas ainda não havia deliberado trair o seu Mestre, e que isso só lhe ocorreu depois que Satanás o tomou no ato da ingestão do bocado de pão molhado e abençoado ali, na mesa santa.
É admissível que todas essas ocorrências, desmentindo a contextura espiritual de Jesus e que fazem parte dos evangelhos canônicos, sejam apenas figuras simbólicas ou alegorias, propondo-nos lições de alcance espiritual? Ramatís: Jamais essa foi a verdade, pois a vida de Jesus foi clara, sem sofismas ou hesitações e não à maneira do homem, que se salienta sobre a massa humana, mas sofre as comprometedoras alternativas de hoje obrar como um santo e amanha atuar como um demônio! Espírito da hierarquia de Jesus não possui duas facetas, não se turba nem se nivela ao conteúdo efervescente das paixões humanas, nem é vitima do descontrole das emoções indisciplinadas. Não se confunda a energia, a hombridade, a justiça, a estabilidade emotiva e a franqueza honesta de um anjo, atuando na carne, com as contradições que são fruto da personalidade humana. Jesus não desejava nada do mundo e jamais temeu a morte.
Em conseqüência, não agia nem atuava no mundo material preocupado com respeito à sua pessoa. Pouco lhe importava que Judas ou qualquer outro discípulo o traísse ou o levasse a qualquer espécie de morte. A sua linhagem espiritual tornava-o sempre acima das atitudes humanas a seu favor ou em seu desfavor, quer se tratasse de seus parentes, amigos, adeptos ou desconhecidos. Se existem homens inferiores ao Mestre Amado, que não se tornam melhores com o “elogio”, nem ficam piores com a “censura”, o que não seria Jesus, diante da fraqueza de um discípulo que já vivia perturbado pelas suas próprias emoções descontroladas e pelos ciúmes infundados?
Quanto aos homens que adjudicaram a si o direito exclusivo e a responsabilidade tremenda de divulgar a vida e a obra de Jesus de Nazaré, já é tempo de virem corajosamente a público, extirpar os evangelhos dos equívocos, extremismos, absurdos, melodramas, interpolações e imitações que comprometem, desfiguram e lançam a desconfiança sobre o Mestre Jesus – o Mentor Espiritual da Terra. Mesmo porque é fácil o encontrarmos definindo através de suas próprias palavras de sentido biográfico, quando falou assim:
“Vinde a mim, todos vós que estais aflitos e sobrecarregados que eu voa aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei comigo que sou brando e humilde de coração e achareis repouso para vossas almas, pois suave é o meu jugo e leve o meu fardo” Mateus, 11:28-30
“É chegada a hora em que se cumprira a profecia da Escritura, Humilhado e ferido, terei de ensinar em Jerusalém a necessidade do sacrifício próprio, para que não triunfe apenas uma espécie de vitória, tão passageira quanto as edificações do egoísmo ou do orgulho humano, eu vim de meu Pai para ensinar como triunfam os que tombam no mundo, cumprindo um sagrado dever de amor, como mensageiro de um mundo melhor, onde reinam o bem e a verdade. Minha vitória é a dos que sabem ser derrotados entre os homens, para triunfarem com Deus, na divina construção de suas obras”.
Uma das maiores virtudes do discípulo do Evangelho é estar sempre pronto ao Chamado da Providencia Divina. Não importa onde e como seja o testemunho de nossa fé. O essencial é revelarmos a nossa união com Deus, em todas as circunstancias. É indispensável não esquecer a nossa condição de servos de Deus, para bem lhe atendermos ao chamado, nas horas de tranqüilidade ou de sofrimento.
Os desígnios de Deus, se são insondáveis, também são invariavelmente justos e sábios. O escândalo desabrochara em nosso próprio circulo bem-amado, mas servira de lição a todos aqueles que vierem depois de nossos passos, no divino serviço do Evangelho. Eles compreenderão que para atingirem a porta estreita da renuncia hão de encontrar, muitas vezes, o abandono, a ingratidão e o desentendimento dos seres mais queridos. Isso revelara a necessidade de cada qual firmar-se no seu caminho para Deus, por mais espinhoso e sombrio que ele seja.
Este pão significa o do banquete do Evangelho; este vinho e o sinal do espírito Renovador dos meus ensinamentos. Constituirão o símbolo de nossa comunhão perene, no sagrado idealismo de amor, com que operaremos no mundo até o ultimo dia. Todos que partilharem conosco, através do tempo, desse pão eterno e desse vinho sagrado da alma, terão o espírito fecundado pela luz gloriosa do Reino de Deus, que representa o objetivo santo dos nossos destinos.
Vos me chamais Mestre e Senhor e dizeis bem, porque eu o sou. Se eu, Senhor e Mestre, vos lavo os pés, deveis igualmente lavar os pés uns dos outros no caminho da vida, porque no Reino do Bem e da Verdade o maior será sempre aquele que se faz sinceramente o menor de todos
Aproxima-se a hora do meu derradeiro testemunho! Sei, por antecipação que todos vos estareis dispersados nesse instante supremo. É natural, porquanto ainda não estais preparados senão para aprender. Antes, porem, que eu parta quero deixar-vos um novo mandamento, o de amar-vos uns aos outros como eu vos tenho amado; que sejais conhecidos como meus discípulos, não pela superioridade do mundo, pela demonstração de poderes espirituais, ou pelas vestes que envergueis na vida, mas pela revelação do amor com que vos amo, pela humildade que deveraornar as vossas almas, pela boa disposição no sacrifício próprio.
Afinal, Senhor, para onde ides? • Ainda não te encontras preparado para seguir-me. O testemunho é de sacrifício e de extrema abnegação e somente mais tarde entraras na posse da fortaleza indispensável. • Não posso seguir-vos? Acaso, Mestre, podereis duvidar de minha coragem? Então, não sou um homem? Por vós darei a minha própria vida. • Pedro, a tua inquietação se faz credora de novos ensinamentos. A experiência te ensinara melhores conclusões, porque, em verdade, te afirmo que esta noite o galo não cantara sem que me tenhas negado por três vezes. • Julgais-me, então, um espírito mau e endurecido a esse ponto? • Não, Pedro, não te suponho ingrato ou indiferente aos meus ensinos. Mas vais aprender, ainda hoje, que o homem do mundo é mais frágil do que perverso.
Aquele momento não era o momento de testemunho de Pedro, era o momento de testemunho de Jesus. De nada valeria a Pedro morrer com Jesus, pois sua missão seria posterior.
CADA UM DE NÓS TERÁ A SUA OPORTUNIDADE, O IMPORTANTE É SABER AGUARDAR NOSSO MOMENTO E NÃO PERDER A CHANCE QUANDO ELA SURGIR
Esta e a minha derradeira hora convosco! Orai e vigiai comigo, para que eu tenha a glorificação de Deus no supremo testemunho! • Oremos e vigiemos, de acordo com a recomendação do Mestre, pois, se ele aqui nos trouxe, apenas nós três, em sua companhia, isso deve significar para o nosso espírito a grandeza da sua confiança em nosso auxilio.
Puseram-se a meditar silenciosamente. Entretanto, sem que lograssem explicar o motivo, adormeceram no decurso da oração. • Despertai! Não vos recomendei que vigiásseis? Não podereis velar comigo, um minuto? João e os companheiros esfregaram os olhos, reconhecendo a própria falta. Então, Jesus lhes contou que fora visitado por um anjo de Deus, que o confortara para o martírio supremo. Mais uma vez lhes pediu que orassem com o coração e novamente se afastou. Contudo, os discípulos,, insensivelmente, cedendo aos imperativos do corpo e olvidando as necessidades do espírito, de novo adormeceram em meio da meditação. Despertaram com o Mestre a lhes repetir: • Não conseguistes, então, orar comigo?
- João, a minha solidão no horto é também um ensinamento do Evangelho e uma exemplificação! Ela significara, para quantos vierem em nossos passos, que cada espírito na Terra tem de ascender sozinho ao calvário de sua redenção, muitas vezes com a despreocupação dos entes mais amados do mundo. Em face dessa lição, o discípulo do futuro compreendera que a sua marcha tem que ser solitária, uma vez que seus familiares e companheiros de confiança se entregam ao sono da indiferença!
Bibliografia: O Redentor - Cap. 39 - Edgard Armond - Ed. Aliança Barrabás - José Herculano Pires - Edicel Judas Iscariodes e sua Reencarnação como Joana D´Arc - José Fuzeira - Ed. Alvorada O Evangelho dos Humildes - Cap. 27 - Eliseu Rigonatti - Ed. Pensamento Boa Nova - Cap. 24 - Humberto de Campos / Chico Xavier - FEB O Sublime Peregrino - Cap. 28 - Ramatis / Hercílio Maes - Ed. Freitas Bastos Crônicas de Além Túmulo - Humberto de Campos / Chico Xavier Coração e Vida - Maria Dolores / Chico Xavier