550 likes | 655 Views
Memória e Oralidade Narrar, transmitir, preservar: sobre a construção social de memórias e da história no mundo contemporâneo. Profa . Janice Gonçalves (Departamento de História – UDESC) 11 de maio de 2011 14º. Encontro Regional do PROLER (Blumenau, 9 a 12 de maio de 2011):
E N D
Memória e OralidadeNarrar, transmitir, preservar: sobre a construção social de memórias e da história no mundo contemporâneo Profa. Janice Gonçalves (Departamento de História – UDESC) 11 de maio de 2011 14º. Encontro Regional do PROLER (Blumenau, 9 a 12 de maio de 2011): Literatura: dos fios da memória às tessituras imaginárias
O olho e o ouvido Leitura e escrita (ver). Oralidade, fala (ouvir). Como relacionar a escrita e a escuta?
O olho e o ouvido: convergências e diálogos Narrativas: formas de ficcionalizaçãodo (nosso) mundo/de (outros) mundos. Ficção – palavra derivada do verbo latim fingo(cujo particípio passado é fictus), que originalmente significava modelar e que passou também a significar imaginar, criar, representar.
O olho e o ouvido: convergências e diálogos Muitas narrativas nascem orais e posteriormente ganham a forma escrita.
O olho e o ouvido: convergências e diálogos Passagem do oral para o escrito: introdução, na dimensão oral, de mudanças que são próprias do código da escrita.
O olho e o ouvido: convergências e diálogos • “Pordenone: Zanussi (REX)”. Portelli (2010, p.70): [...] é pouco provável que, na ausência de recursos rítmico-menmônicos (como o canto, a rima ou os que eram utilizados para declamar a escalação dos times de futebol), uma lista desse tipo seja enunciada sem preposições ou predicados”.
O olho e o ouvido: convergências e diálogos Algumas das marcas da oralidade: a repetição, a hesitação, as pausas, as frases não terminadas.
O olho e o ouvido: convergências e diálogos Transcrição: procurar equilibrar fidedignidade, inteligibilidade, dimensão ética.
O olho e o ouvido: convergências e diálogos Para quem narramos, e por quê?
O olho e o ouvido: convergências e diálogos História oral: diálogo entre quem pergunta e quem responde, no qual cada um dos lados possui sua própria “agenda” ou pauta.
O olho e o ouvido: convergências e diálogos O oral e o escrito também se encontram na fundamental função de transmissão cultural.
O olho e o ouvido: convergências e diálogos Nas sociedades ditas simples os legados são fundamentalmente os ensinamentos contidos em narrativas míticas. Tais narrativas são, geralmente, insistentemente lembradas ao coletivo por uma espécie de “portador de memória”.
O olho e o ouvido: convergências e diálogos Nas sociedades ditas complexas, mais fortemente marcadas pela mudança, as narrativas multiplicam-se, conforme digam respeito à trajetória dos indivíduos ou às dos grupos aos quais esses indivíduos pertençam, ou com os quais se identifiquem.
Oralidade, memória e história Relações entre a história (como campo disciplinar) e a oralidade começaram muito próximas(na Antiguidade clássica), se distanciaram(sobretudo no século XIX, com a profissionalização do campo historiográfico) e depois voltaram a se aproximar(em especial na segunda metade do século XX).
Oralidade, memória e história Os acontecimentos traumáticos do século XX e o interesse pela vida e pelo ponto de vista das pessoas comuns, para a história, fizeram com que proliferassem, nas últimas décadas, projetos de História Oral, amplificados pela expansão de mecanismos de registro e disseminação de depoimentos.
Experiências: História oral e escola “Trabalhos como esse provocam os estudantes a refletir sobre o fato de fazerem parte da história de sua família, da escola e da comunidade em que vivem e, aos poucos, perceber sua inserção no país e no mundo. ” Artigo publicado em 2003 na revista Nova Escola (e disponível no sítio eletrônico da revista: < http://revistaescola.abril.com.br/historia/fundamentos/passado-nao-esta-livros-historia-423062.shtml>
Experiências: História oral e escola “Ao considerar como principal fonte de pesquisa as pessoas, verifica-se que a transmissão da história se dá na comunicação entre o entrevistado e a turma. Portanto, é possível aprimorar em classe o diálogo, a disposição de ouvir, a linguagem não-verbal de gestos e posturas e a elaboração de perguntas conforme o universo do entrevistado e o objetivo do trabalho. [grifos meus] ” Artigo publicado em 2003 na revista Nova Escola (e disponível no sítio eletrônico da revista: < http://revistaescola.abril.com.br/historia/fundamentos/passado-nao-esta-livros-historia-423062.shtml>
Experiências: História oral e escola “[...] os alunos podem perceber que a História não é uma narrativa fria acerca de algumas pessoas importantes e fatos políticos e econômicos, mas um conjunto de narrativas articuladas e que podem ser compreendidas a partir de sua riqueza e de sua diversidade. Isto possibilita que criem vínculos com as pessoas e com as histórias narradas e ainda se sintam parte da comunidade cujas histórias são acolhidas pela escola, valorizadas e preservadas.” [grifos meus] Zilda Kessel (coordenadora dos projetos educativos do Museu da Pessoa).
Young PeopleandtheSecond World War Project, no Reino Unido:http://www.spartacus.schoolnet.co.uk/2WWproject.htm
Experiências: História oral e escola Young PeopleandtheSecond World War ProjectOs temas sugeridos para abordagem na entrevista indicam questões de abordagem delicada, envolvendo situações de violência, medo e privação: a “experiência de ser bombardeado” ou a situação de evacuação de uma determinada área; o “relacionamento com grupos armados e movimentos de resistência”; o “racionamento de comida”; o “impacto da guerra na família”.
Experiências: História oral e escola Young PeopleandtheSecond World War Project
Experiências: História oral e escola Young PeopleandtheSecond World War Project Percebe-se a ênfase maior na entrevista como mecanismo de obtenção de informações e registros relativos à Segunda Guerra Mundial.
Experiências: História oral e escola Young PeopleandtheSecond World War Project Não explicita nenhuma preocupaçãoem problematizar as relações passado-presente implicadas nos depoimentos concedidos.
VoicesfromPast, nos EUA:<http://oldsegundo.com/webquests/voices_from_past/student-intro.htm>
Experiências: História oral e escola VoicesfromPast, nos EUA “Através do processo de entrevistas, a história é registrada a partir da experiência em primeira mão das pessoas que a viveram. [...] Naturalmente, facetas da história são continuamente iluminadas pela luz dos mínimos detalhes na vida de uma pessoa. A história oral é uma importante chave ou ferramenta nesse processo de iluminação.” [grifos meus]
Experiências: História oral e escola VoicesfromPast, nos EUA • Indica-se que a História Oral é aí utilizada com a intenção de superar a percepção de uma História “descarnada”, distante das pessoas comuns. • Destaca-se que a História Oral permite tomar contato com parte da multiplicidade de percepções e experiências coletivas e individuais dos processos históricos. • Tende-se a sugerir que os depoimentos coletados são “a” História (e não uma perspectiva acerca dela).
Experiências: História oral e escola VoicesfromPast, nos EUA • As entrevistas são compreendidas como mecanismos para “documentar as experiências que as pessoas tiveram durante a guerra”. • Não se aborda a questão da distância a ser considerada entre a experiência vivida e a narrativa da experiência – o testemunho como sua necessária reelaboração.
From Memory, Nova Zelândia<http://www.nzhistory.net.nz/hands/from-memory/from-memory>>
Experiências: História oral e escola From Memory, Nova Zelândia Trecho da entrevista de Haddon Donald: <http://www.nzhistory.net.nz/meda/sound/donald-haddon-interview>. Trecho da entrevista de Big Flint sobre sua captura na Grécia: <http://www.nzhistory.net.nz/media/sound/pow-capture-bill-flint>
Experiências: História oral e escola From Memory, Nova Zelândia “[...] registra as vozes dos neozelandeses que serviram ao seu país no tempo da guerra: soldados, marinheiros, pilotos de avião, enfermeiras e milhares de outras pessoas em seus lares e através dos mares. Esses neozelandeses comuns têm estórias extraordinárias para contar – estórias humanas e pessoais da guerra. [grifos meus]”
Experiências: História oral e escola From Memory, Nova Zelândia As recomendações do guia incluem cuidados éticos gerais, escorados no Código de Ética da Associação Nacional de História Oral da Nova Zelândia. Referem-se também, de forma especial, às circunstâncias de um projeto de história oral com veteranos de guerra já idosos.
Experiências: História oral e escola From Memory, Nova Zelândia A alusão aos cuidados quanto às intensas emoções suscitadas pelas lembranças de guerra permitem refletir igualmente acerca do conteúdo dos silêncios, dos não-ditos, das interdições que necessariamente marcam o trabalho de memória dos sobreviventes de uma guerra.
Em resumo! • As narrativas orais, tanto quanto as escritas, são exercícios de ficção, que moldam vivências e perspectivas acerca do que nos cerca, do que vivemos e do que poderemos viver.
Em resumo! • Também de forma similar às narrativas escritas, as narrativas orais podem ser de vários gêneros, dependendo do narrador, do que narra e das circunstâncias em que narra (sendo importante ficar atento a isso).
Em resumo! • Diferentemente da narrativa escrita, a narrativa oral nascida de uma situação de entrevista é dialógica, e não podemos esquecer que quem pergunta ajuda a moldar a narrativa.
Em resumo! • Conforme o lugar social ocupado pelo indivíduo entrevistado, sua narrativa pode reforçar uma dada memória, contestá-la, negá-la ou deturpá-la. • Para que tenhamos clareza disso, é fundamental, do ponto de vista do conhecimento histórico, articular os depoimentos a outras fontes.
Em resumo! • Projetos de história oral no espaço escolar não envolvem apenas aspectos cognitivos: podem contribuir para reforçar a auto-estima, sensibilizar para o respeito à diversidade e para o exercício do diálogo.
Em resumo! • Projetos de história oral no espaço escolar podem também contribuir para chamar a atenção para a complexidade dos processos históricos e desenvolver o espírito investigativo.
Em resumo! • As narrativas orais acerca de algo vivido não são meramente informações brutas acerca “do que aconteceu”, mas reelaborações, no presente, acerca dessas vivências, e que podem até entrar em disputa com outras memórias consolidadas. • É importante estimular reflexões acerca desse processo de reelaboração, não reduzindo as entrevistas apenas à “coleta de dados”.
Em resumo! • O entrevistado é “dono” de seu depoimento: ele deve autorizar o que será tornado público ou não, e esse aspecto ético é incontornável.
Em resumo! • A possibilidade de dar forma escrita ao oral, através da transcrição, necessariamente introduzirá mudanças na narrativa (mudanças que não são nem boas nem más em si mesmas). • Para encontrar um bom equilíbrio nessas mudanças operadas pela transcrição, cabe buscar garantir, tanto quanto possível, ao texto da transcrição, fidedignidade, inteligibilidade e respeito ao depoente (no que se refere à ética).
Em resumo! • Respeitar o direito do depoente de dar a forma final do depoimento (ou autorizá-la) não significa ficar impedido de discordar dele e de apontar incongruências em sua narrativa. ***
Historiadores e documentos TUCÍDIDES:(aproximadamente 455-404 a.C.)História da Guerra do Peloponeso (I, XXII) • "I. Tucídides de Atenas escreveu a guerra dos peloponésios e atenienses, como a fizeram uns contra os outros. Começou a narraçãologo a partir da eclosão da guerra, tendo prognosticado que ela haveria de ganhar grandes proporções e que seria mais digna de menção do que as já travadas, porque verificava que, ao entrar em luta, uns e outros estavam no auge de todos os seus recursos e porque via o restante do povo helênico enfileirando-se de um e de outro lado, uns imediatamente, outros pelo menos em projeto. • 2. Esta comoção foi a maior para os helenos e para uma parcela dos povos bárbaros e, pode-se mesmo dizer, atingiu a maior parte da humanidade. De fato, os acontecimentos anteriores e os mais antigos ainda, dado o recuo do tempo, era-me impossível estabelecê-los com clareza, mas, pelos indícios, a partir dos quais, num exame de longo alcance, cheguei a uma convicção, julgo que não foram importantes, nem quanto às guerras nem quanto ao mais. [...]
Historiadores e documentos • XXII. 2. E, quanto às ações que foram praticadas na guerra, decidi registrar não as que conhecia por uma informação casual, nem segundo conjectura minha, mas somente aquelas que eu próprio presenciara e depois de ter pesquisado a fundo sobre cada uma junto de outros, com a maior exatidão possível. • 3. Muito penoso era o trabalho de pesquisa, porque as testemunhas de cada uma dessas ações não diziam o mesmo sobre os mesmos fatos, mas falavam sobre a simpatia por uma ou por outra parte ou segundo as lembranças que guardavam. • 4. E para o auditório o caráter não fabuloso dos fatos narrados parecerá talvez menos atraente; mas se todos quantos querem examinar o que há de claro nos acontecimentos passados e nos que um dia, dado o seu caráter humano, virão a ser semelhantes ou análogos, virem sua utilidade, será o bastante. Constituem mais uma aquisição para sempre que uma peça para um auditório do momento." Fonte: TUCÍDIDES, História da Guerra do Peloponeso. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p.3 e p.31.