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PARTEIRAS RIBEIRINHAS Maria das Graças Silva Nascimento Silva. Parteira
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PARTEIRAS RIBEIRINHAS Maria das Graças Silva Nascimento Silva
Parteira Terapeutas tradicionais, que podem ser genericamente chamada de parteiras empíricas, geralmente adultas e pertencentes a comunidades onde trabalham, e que o grupo social reconhece como dotadas de conhecimentos habilidades ou faculdades para curar (....) (Zola,1986).
Grupos de Parteiras Ribeirinhas • A Respeito da origem do seu Carisma ou Dom: “ Foi Deus que meu deu. Nem saber ler eu sei, nem fazer a letra do meu nome eu não sei, desde novinha eu venho trabalhando, nunca recebi dinheiro para fazer parto...” (Parteira da comunidade de Terra Caída) “ Ninguém me ensinou, eu tive um sonho pegando uma criança da minha tia, essa tia já tinha até morrido. Eu nem era casada eu era solteirinha... Nunca nem sabia como era o negócio, eu pegava a criança, cortava o umbigo, fazia tudo e quando a criança chorou eu me espantei...” (Parteira da comunidade Prosperidade,)
Parteira Carismática ou de Dom “O trabalho foi uma coisa assim que nem pressenti, como eu fui ser parteira, porque eu era nova ainda, e deu uma dor numa mulher e o marido dela veio me chamar, eu não sabia o que era, quando eu cheguei lá eu disse ô maninha eu num sei, nunca vi uma mulher ter filho, aí foi assim como um dom que Deus deu, assisti com a mulher, cortei o umbigo, ajeitei tudinho... Ela me deu essa oportunidade de seguir essa carreira.” (Parteira ribeirinha, distrito de São Carlos )
Para as Mulheres Ribeirinhas a Parteira Carismática ou de Dom é: “É aquela que recebe o dom de Deus”. • (Mulher ribeirinha, 22 anos, 2 filhos com parteira) “É aquela que tem o prazer de cuidar das pessoas”. • (Mulher ribeirinha, 30 anos, 2 filhos com parteira) “É aquela que nunca fez curso e sabe fazer parto”. • (Mulher ribeirinha, 45 anos, 12 filhos com parteira) “Deus deu o dom”. (Mulher ribeirinha, 26 anos, 1 filho nascido com parteira) “As parteiras de dom agem com sabedoria e paciência”. • (Mulher ribeirinha, 48 anos, 7 filhos com parteira)
Parteiras Tradicionais. “Aprendi com mãe... O primeiro que nasceu nas minhas mãos era para ter sido com a minha mãe, mas ela tinha saído, era noite e tinha chegado a hora de minha irmã, aí eu fiz o parto, foi tranqüilo e normal. Desde esse dia eu fiquei assistindo com as mulheres, elas foram sabendo e vinham aqui comigo, eu gosto de fazer parto, tenho prazer em trabalhar...” (Parteira do Distrito de Calama). • “Aprendi por curiosidade, vendo minha avó fazer parto, e fui aprendendo..” • (Parteira ribeirinha, distrito de São Carlos)
RITUAIS DE PARTOS • As Parteiras de Carismáticas ou de Dom, além das ervas, massagens e conversas, se apegam aos Santos Protetores das Parteiras: Santa Margarida , São Raimundo e Nossa Senhora do Bom Parto. “ Vamos supor, eu rezo, aí se eu me atrapalhar naquela oração, aí eu sei que vai dar rolo, aí se eu rezo ela todinha sem parar, mesmo sendo avechada, aí eu sei que a mulher tem rápido, rápido...” (Parteira da Comunidade de Terra Caída). • “Meus santos protetores, São Raimundo e Nossa Senhora do Bom Parto, toda vez que vou fazer um parto eu rezo pro dois, diz que é tudo protetor das mulheres, e a gente reza, eu pelo menos rezo eu sou católica”. • (Parteira ribeirinha, distrito de São Carlos)
Rituais de Parto “A gente não tem muitos recursos aqui, somente as mãos e o poder de Deus” • (Parteira ribeirinha, distrito de Calama) “Eu ajeito os meus filhos no meu ventre, ajeito os dos outros, pode tá do jeito que tiver, já ajeitei criança que tava de pezinho pra lá e vira pra cima, normal, você acredita nisso? Só minhas mãozinhas e um óleo que eu passo para equilibrar... (Parteira ribeirinha, distrito de Nazaré)
Rituais de Parto As ParteirasRacionais (dos Serviços de Saúde), se utilizam tantos dos rituais de parto das parteiras carismáticas e tradicionais, como dos instrumentos da medicina moderna disponíveis no Centro de Saúde. “ Bem eu pego minhas luvas, tudo eu tenho, pego minha tesoura, pego meu avental, aí vou ajeitando devagarinho até a criança nascer...”. (Parteira do Distrito de São Carlos).
Rituais de Parto segundo as mulheres ribeirinhas “Ajeita o bebê para nascer, faz uma oração e a gente repete”. (Mulher ribeirinha, 31 anos) “Fazem orações, pedem para relaxar bem e esperam a hora certa”. (Mulher ribeirinha, 34 anos) “Massagens e conversas para acalmar”. (Mulher ribeirinha, 20 anos) “Massagens e rezas e caldo da caridade”. (Mulher ribeirinha, 75 anos) “Esteriliza as ferramentas antes do parto”. (Mulher ribeirinha, 22 anos) “Massagens, chás e rezas”. (Mulher ribeirinha, 31 anos)
Gratificação e Pagamento “O meu trabalho não é pago, ele é gratificado. As pessoas me dão mercadoria, quando alguém pode me dá dinheiro, quando não, me dão 2 quilos de feijão, 1 saco de açúcar, 2 latas de óleo, pacote de café”. (Parteira ribeirinha, distrito de Calama) “Quando eu faço parto, as pessoas me dão assim, 2 quilos de açúcar, 1 lata de óleo, um pedacinho de sabão, me dão de bom gosto, só que eu não cobro, graças a Deus. Pra dizer que não cobrei, eu fiz um parto e cobrei porque eu queria fazer uma viagem até Humaitá para me aposentar, eu cobrei só valor da passagem, mas não deu certo minha aposentadoria. Aí eu me arrependi de ter cobrado. Eu fiz uma jura de nunca mais eu fazer isso, daqui em diante se alguém precisar de mim eu vou de bom gosto ajudar aquela pessoa e vou vencer, embora eu não me aposente...” (Parteira ribeirinha, distrito de Nazaré)
Relações de Parentesco “A partir do momento que eu corto umbigo ele é meu filho, ele me chama de mãe velha.” (Parteira ribeirinha, distrito de São Carlos) “Eles são meus filhos de umbigo, me chamam de avó ou de mãe velha”. (Parteira ribeirinha, distrito de Calama) “Os laços de amizade se fortalecem e a criança deve chamá-la de madrinha”. (Mulher ribeirinha, 19 anos) “Passa a fazer parte da família”. (Mulher ribeirinha, 24 anos) “Fortalece a relação de amizade e respeito”. (Mulher ribeirinha, 23 anos) “Chamam de mãe velha ou avó, há um respeito muito grande”. (Mulher ribeirinha, 47 anos)
Características da Medicina Popular • São constituídas de “dons”, de “segredos” e de “santos remédios”. • É um saber não sistematizado. • O modo de transmissão é essencialmente oral e gestual, • (por ouvir falar e fazer). • Sua história se liga à história do sagrado,(devoção aos Sts. Padroeiros) • A base de suas receitas são essencialmente, vegetal, animal e mineral. • Os serviços ou os cuidados prestados por quem recebe o “dom” devem ser gratuitos. • A medicina popular atua no espaço livre deixado pela ciência médica.
