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Projecto de Tese 1ª aula. Questões de Partida... L M Castro. O propósito do ‘projecto’.
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Projecto de Tese 1ª aula Questões de Partida... L M Castro
O propósito do ‘projecto’ • Proporcionar ao estudante uma oportunidade para aplicar, num contexto empírico, os conceitos e as técnicas que tenha adquirido durante a parte escolar do curso (as competências que tiver desenvolvido) de forma a completar a sua experiência de aprendizagem e ainda ser útil à entidade ‘dona’ do problema (Jankowicz, 1991:7) • São pressupostos subjacentes que(op. cit.) : • Se aprende mais fazendo (e reflectindo e reportando acerca do que se faz), do que simplesmente assistindo a aulas ou lendo textos; • Sendo a gestão em parte uma arte, há aspectos contextuais de natureza tácita nos ambientes institucionais que são difíceis de reproduzir adequadamente (ou substituir) em sala. • O conteúdo e o contexto podem ser tão frutuosos para os estudantes maturos, em termos de aprendizagem, como as técnicas, os modelos e as teorias da gestão.
O propósito e objectivos de elaboração de uma proposta de “Projecto de Tese” • A elaboração da proposta obriga a explicitar e clarificar o propósito, os objectivos e o método. Pressupõe-se que, quanto mais claros forem o propósito e os objectivos, melhor será o projecto. Isto pode não ser sempre assim e os resultados por vezes dependem de factores específicos, pontuais e mesmo inesperados, mas parece, em geral, ser um bom ponto de partida… • É conveniente rever o porquê, as razões para fazer o projecto e ainda analisar como é que a audiência do projecto e as suas expectativas diferirão em função do conhecimento que o estudante conseguir evidenciar e mobilizar na proposta (e que for depois evidenciado no decurso do próprio projecto).
O propósito do projecto • Contribuição para o conhecimento? • No caso do mestrado de Markerting de um ano da FEP, ao contrário dos programas de mestrado com ênfase na pesquisa académica e dos programas de doutoramento, não haverá necessidade de contribuição para o conhecimento – claro que, se o projecto tiver mérito, dele resultará aumento de conhecimento para alguém (nomeadamente a organização ‘cliente´, o orientador, o próprio estudante). Porém não haverá necessariamente de uma contribuição para o conhecimento académico partilhado. • O propósito, ou factor de motivação, ou “motor”, do projecto será o problema ou a situação a investigar e compreender (ou descrever com algum grau de generalidade), e/ou ‘resolver, e não a teoria ou os conceitos. • As técnicas e dos métodos serão usados mais em função da sua operacionalidade para a obtenção de resultados do que da sua relevância académica mas, mesmo assim, deverão ser usados com rigor.
Os objectivos finais do Projecto • Os objectivos a atingir com a conclusão e a defesa da tese podem variar de projecto para projecto mas, geralmente, andam em torno dos seguintes – que deverão evidenciar-se na tese: • Evidenciação das competências (maestria) adquiridas no curso em termos de conceitos e técnicas e do seu manuseio, e de capacidade para, por iniciativa própria ou sugestão do orientador, completar e complementar essas competências com outras que se mostrem necessárias durante o projecto, através de pesquisa e estudo adicional, dentro de limites razoáveis; • Aplicação em contexto organizacional • Aprendizagem pessoal com o próprio projecto • Contribuição para a organização ‘dona’ do problema (e não tanto para o ‘conhecimento’ (académico).
Objectivos genéricos 1/2 • Conceitos e técnicas: • Uma oportunidade e um campo para testar conceitos apresentados no curso • Servir de base para desenvolver conceitos operativos não estudados na literatura • Proporcionar uma introdução às fontes de dados e técnicas típicos das organizações e dos seus mercados, e confrontar o estudante com a natural inadequação e insuficiência desses dados
Objectivos genéricos 2/2 • Oportunidade para uma experiência de aprendizagem pessoal: • Pôr em prática (testar) aptidões pessoais num contexto organizacional • Confrontar conflitos de interesses e de grupo, lidar com eles e reflectir explicitamente sobre a experiência assim obtida • Criar oportunidades para confrontar as ideias dos executivos da organização alvo com as do estudante, de forma a que ambas as partes aprendam • Criar sentido de responsabilidade, pois a análise e as propostas terão que ser apresentados e negociados com a organização “alvo” de estudo • Proporcionar experiência no esforço colectivo e nos processos de debate pelos quais as propostas são desenvolvidas a aceites • Proporcionar prática de escrita de relatórios relevantes para a gestão e, ao mesmo tempo, consistentes e sustentáveis numa perspectiva académica; • Identificar e explicitar questões e problemas que, no contexto organizacional, são tipicamente apresentados de forma não estruturada • Confrontado com informação insuficiente, ambígua e inadequada, conseguir “fazer sentido” com ela e apresentar propostas relevantes • A partir do encontro informal com executivos, formar uma apreciação ‘objectiva’ dos valores e atitudes das pessoas relevantes para o projecto
Relevância para os estudantes que já têm experiência ‘de empresa’ • Estes estudantes por experiência, sabem bastante do contexto organizacional. Por isso, principalmente se o projecto decorrer na organização em que trabalham, ele pode-lhes surgir como apenas mais uma tarefa numa vida muito ocupada com múltiplas responsabilidades do dia a dia; • Contudo, o projecto conducente à elaboração de uma tese difere das suas outras tarefas correntes porque tem que satisfazer critérios académicos de conteúdo e rigor, uma oportunidade para tratar de um assunto que normalmente não estaria na sua descrição de funções, exigindo um distanciamento na observação e análise que não é típico das tarefas correntes • O facto de o projecto ter que merecer o acordo, tanto das pessoas interessadas na empresa, como do orientador académico, é uma forma subtil de legitimar esse trabalho e que não ocorre na tarefas correntes • Por tudo isso merecerá a pena não tratar o projecto como apenas mais uma das suas tarefas de gestão corrente.
Algum do conteúdo específico da aprendizagem pessoal • Aptidões técnicas: • Técnicas de gestão do tempo • Redigir cartas a pedir apoio • Redigir notas e relatórios parciais • Identificar e usar bibliotecas, centros de documentação, bases de dados, etc. • Conseguir acesso a “respondentes” • Entrevistar “respondentes” • Apresentar perante uma audiência
Algum do conteúdo específico da aprendizagem pessoal • Aptidões Sociais e interpessoais: • Sentir-se à vontade e lidar com gestores e executivos de topo • Persuadir pessoas a colaborar • Fornecer garantias e evidência de confidencialidade • Trabalhar com equipa(s) geralmente de “igual para igual”
Algum do conteúdo específico da aprendizagem pessoal • Tensões pessoais na superar: • Incerteza acerca da aproximação que está a adoptar • Dúvidas acerca da credibilidade de alguns conceitos e propósitos de natureza académica no contexto organizacional • Penosidade de longos períodos de trabalho ‘solitário’ • Tensão resultante da necessidade de renegociar prazos • Incerteza acerca dos dados e da sua adequação à argumentação • Potenciação das incertezas acerca da dificuldade e capacidade para completação do projecto
Algumas contribuições esperadas para a organização “alvo” • O projecto não deve ser um exercício meramente académico - deve tratar um assunto relevante para a organização • Representa uma oportunidade para examinar uma questão importante para a empresa, ou para as suas politicas ou estratégias, que de outra forma continuaria ignorada face ás pressões do imediato • Beneficia do conhecimento académico e pode revelar-se uma forma não dispendiosa de consultoria • Se bem escolhido, o tópico pode ser imediatamente útil para o interlocutor imediato do estudante na empresa • Dependendo dos componentes não académicos que o projecto envolva, ele pode permitir apoiar (e liberar algum do tempo de) um elemento da empresa
Os seus objectivos • É certamente importante que o projecto seja relevante para a empresa e satisfaça os requisitos da academia, mas o estudante tem, acima de tudo que ter presente a peça fundamental que se espera dele: • Um relatório do projecto (a dissertação / tese) que aplique conceitos e técnicas relativos ao curso num ambiente ‘prático’, de modo que complete a sua experiência de aprendizagem e também seja útil para a organização alvo ou de acolhimento • Tanto quanto trabalhar para satisfazer as solicitações do orientador e da organização “patrocinadora”, de um modo relevante no contexto do mestrado de Marketing, é importante que o estudante também prossiga os seus próprios interesses e objectivos. Portanto é legitima e desejável uma leitura personalizada dos factores referidos anteriormente – em função da sua experiência anterior, dos temas que mais lhe interessam no contexto do Marketing, dos seus objectivos de carreira futura.
Rever as “exigências” tendo em conta os objectivos pessoais • Quais os são os conceitos e técnicas, do âmbito do mestrado e afins, em que eu devo / posso / quero demonstrar competência • Devo / posso / quero integrar material trans-disciplinar? Ou prefiro centrar-me no contexto de uma disciplina ou matéria mais específica? • Que aptidões posso ter que (ou me interessa) demonstrar ter? Quais quero/preciso de adquirir? • Que contribuição será viável eu fazer para a organização “alvo”? Que contribuição gostaria eu de fazer? A que nível da organização tenho posso conseguir acesso? Através de quem?
A escolha do tópico • Dúvidas iniciais: • Algumas hipóteses de tópico contempladas são vagas, outras relativamente precisas • Aquelas em que se sente mais à vontade podem não ser aquelas que mais lhe interessam • As que lhe interessam parecem, a si ou ao professor, como demasiado ambiciosas • Gostaria de ligar ideias de disciplinas diferentes mas não é certo que o professor concorde • Tem simpatia por um outro tópico mas sente dificuldade em expô-lo por escrito • Etc. • Entretanto o tempo passa… mas tem que fazer a disciplina de “Projecto de Tese”…
Os seus interesses • A tese é um projecto exigente e relativamente duradouro. Mudanças de tema acontecem mas representam alguma perda de tempo e alguma desilusão pessoal. • Em principio, não deve escolher um tema só por obrigação, ou porque o orientador o referiu como importante, ou porque está ‘na moda’. Isso pode resultar em que, passado um tempo, o aluno esteja “enfadado” com ele e o complete pelos mínimos. O ideal será que o estudante sinta que gosta do tema, que é capaz de interessar outros nele e... está disposto a trabalhar esforçadamente nele. • O que já sabe dele? Em que disciplinas tirou melhores notas? Ou de que matérias gosta mais? • Qual o grau de dificuldade, acesso a apoios e conhecimentos? • Qual o grau de complexidade a aceitar? Qual a dificuldade das técnicas a usar? Quem anda a estudá-las? Estão na ‘fronteira’? Constam da literatura? Usam terminologia, notação que não foi usada nas disciplinas? São referidas nos livros de texto usados? • Que acesso tem a ‘expertise’: docentes, biblioteca, bases de dados, acesso na ‘indústria’? • Acesso a dados? • Tempo necessário vs disponível?
Os seus interesses • Em suma, deve considerar: • Os seus próprios interesses • Os conhecimentos e competências que já detém • O grau de dificuldade ‘objectivo’ e ‘subjectivo’ • O nível e exigência do grau a obter (ver teses anteriores) • A complexidade intrínseca do material a manusear • As fontes de ‘conhecimento’ a que pode aceder • A facilidade de recolha de dados e o acesso às fontes • Horizonte de tempo vs disponibilidade pessoal • Alargar o tema vs estreitar (não partir de um tema muito vasto ou genérico para depois o estreitar ou concretizar) – é melhor fazer o contrário • Em caso de emergência… (ter um ‘fall back’ - “projecto” ou “saída” de emergência)
Padrões de Avaliação • Originalidade? • Generalidade? • Pragmatismo (viabilidade prática) • Expectativas quanto aos resultados (equilíbrio – o que já se sabe vs o que se espera) • Critérios de avaliação: • Delimitação da área de estudo • Fontes e métodos de recolha de informação / dados • Métodos de análise • Validade das conclusões e recomendações • Qualidade da apresentação (escrita e oral) • Extensão • Estrutura • Sustentação teórica • Relevância empírica
A escolha do Orientador • O que compete ao orientador? • Guiar e aconselhar o estudante no projecto de pesquisa, incluindo quanto às fontes de literatura, à especificação do projecto, às metodologias, à recolha de informação, etc. • Fazer parte do júri, sendo a sua opinião, em geral, determinante para a formação do júri e para a classificação final • O que será um “bom” orientador, do ponto de vista do aluno? • Um docente de acesso relativamente fácil, com disponibilidade, nem perfeccionista nem “principiante” preocupado com a própria carreira, nem sovina nas notas nem “superficial”, não necessariamente alguém que o estudante percebe como “amigo”… Nestas circunstâncias é geralmente melhor não misturar relações pessoais com “profissionais” e a cordialidade mútua pode ser melhor do que a “amizade”. • Mesmo assim, o estudante deverá ter em conta não só os conhecimentos e aptidões académicos do potencial orientador como também a sua personalidade e valores traduzidos nos seus comportamentos anteriores e, mesmo, a experiência de colegas que tenham sido orientados por essa pessoa.
A escolha do tópico • Um critério principal será a existência e o acesso pesquisas anteriores de qualidade, a partir das quais se possa obter material para estudo e reflexão. • O segundo critério principal será a relevância para a gestão (prática); • O terceiro será a disponibilidade de / o acesso a dados ou informação empírica; • Finalmente o quarto critério principal são os recursos: TEMPO, as aptidões e competências necessárias para as tarefas a levar a cabo, e (também) dinheiro, pois é frequente o estudante ter que incorrer despesas. • Em geral o seu orientador não faz muita questão quanto ao tópico, fará mais quanto ao seu desempenho…
Bibliografia Jancowicz, A. D. (1991), Business Research Projects for Students, London : Chapman & Hall (ISBN 0-412-36820-X) Roesch, Sylvia M.A. (1999), Projetos de Estágio e de Pesquisa em Administração (2ª ed.), S. Paulo : Editora Atlas (ISBN 85-224-2338-5)