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CASOS CLÍNICOS DE FREUD “CASO DORA” CEPS PROF. Sérgio Costa. SEXUALIDADE E SUAS TRANSFORMAÇÕES. A PERDA DA INOCÊNCIA IMPOSTA PELO CORPO É SUFICIENTEMENTE CHOCANTE PARA PATROCINAR SUA VIOLENTA RECUSA INCONSCIENTE. POR EXEMPLO : O CASO DORA (FREUD-1905)
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CASOS CLÍNICOS DE FREUD “CASO DORA” CEPS PROF. Sérgio Costa
SEXUALIDADE E SUAS TRANSFORMAÇÕES A PERDA DA INOCÊNCIA IMPOSTA PELO CORPO É SUFICIENTEMENTE CHOCANTE PARA PATROCINAR SUA VIOLENTA RECUSA INCONSCIENTE. POR EXEMPLO : O CASO DORA (FREUD-1905) ANGUSTIADA PELOS AVANÇOS SEXUAIS DE HERR K, UM AMIGO DE MEIA-IDADE DA FAMÍLIA, ELA CONTA AO PAI QUE A ENCAMINHA PARA FREUD.
CONSIDERAÇÕES DE FREUD : • SR. K E A TENTATIVA DE BEIJO EM DORA , REPUGNANTE. • ELA TROUXE À TONA UMA AFEIÇÃO INFANTIL POR SEU PAI. • AFEIÇÃO E REPULSA PELO SR. K. • EFEITO TRAUMÁTICO DE SUA CONSCIÊNCIA DA SEXUALIDADE PATERNA. • A FUGA DE SEU PAI SEXUAL. • O ESFORÇO DE REAFIRMAR UM SELF DESSEXUALIZADO. • O FATO DO PAI DE DORA TER CONTRAÍDO SÍFILIS NA JUVENTUDE INFECTANDO ESPOSA E FILHA. • A SEXUALIDADE DELE POLUI A INOCÊNCIA PRÉ-SEXUAL DA CRIANÇA E DA MÃE. • A VIDA ONÍRICA DE DORA REFLETE ESTE TRAUMA CENTRAL.
PRIMEIRO SONHO (1905) UMA CASA PEGANDO FOGO. MEU PAI ESTAVA DE PÉ JUNTO À MINHA CAMA E ME ACORDOU. EU ME VESTI RAPIDAMENTE. MAMÃE QUERIA PARAR E SALVAR SEU PORTA-JÓIAS; MAS PAPAI DISSE: "RECUSO-ME A DEIXAR QUE EU E MEUS DOIS FILHOS SEJAMOS QUEIMADOS POR CAUSA DE SEU PORTA-JÓIAS". CORREMOS ESCADA ABAIXO E, ASSIM QUE ESTAVA LÁ FORA, ACORDEI.
FREUD VÊ ESTE SONHO COMO UMA EXPRESSÃO DISFARÇADA DA CULPA DE DORA POR SUAS MASTURBAÇÕES QUE A EXCITAVAM DE NOITE A PONTO DE MOLHAR A CAMA. PORTA-JÓIAS, SCHMUCKKÃSTCHEN, É UM "TERMO COMUMENTE USADO PARA DESCREVER OS GENITAIS FEMININOS IMACULADOS E INTACTOS“. O PORTA-JÓIAS, DE ACORDO COM FREUD, SIGNIFICA AS TENTAÇÕES SEXUAIS, JÁ QUE HERR K., AO LHE DAR ESTE PRESENTE, TAMBÉM OFERECIA A REPRESENTAÇÃO DE UM OBJETO MASTURBATÓRIO. PARA FREUD, O COMENTÁRIO DO PAI DISFARÇA SUA CENSURA EM RELAÇÃO À FILHA QUE SE MASTURBA, FILHA QUE IRÁ CONSUMIR A CASA COM SUA PAIXÃO.
TUDO ISTO ME PARECE, NO MÍNIMO, SOMENTE METADE DA HISTÓRIA, JÁ QUE MARGINALIZA O CHOQUE DE DORA EM RELAÇÃO À SEXUALIDADE E SEU ESFORÇO EM REAFIRMAR A VIRGINDADE DA MÃE. O DESEJO DA MÃE DE QUERER SALVAR SEU PORTA-JÓIAS - NA CENA DA PAIXÃO SEXUAL - PODE SER UMA PROJEÇÃO DO DESEJO DA CRIANÇA DE QUE A MÃE PRESERVE SUA VIRGINDADE DIANTE DOS EFEITOS DE CONTAMINAÇÃO DA SEXUALIDADE, SEXUALIDADE QUE TRAZ ENFERMIDADE E LOUCURA À SEGURANÇA DO LAR.
O CONFLITO DE DORA SE TOMA AINDA MAIS CLARO NO SEGUNDO SONHO. VAGANDO POR ESTRANHAS RUAS, ELA ENCONTRA SUA CASA; ELA ENTRA E ENCONTRA UM BILHETE DE SUA MÃE DECLARANDO QUE, COMO DORA HAVIA IDO EMBORA SEM O CONHECIMENTO DOS PAIS, A MÃE NÃO HAVIA LHE ENVIADO UM BILHETE INFORMANDO SOBRE A MORTE DO PAI. AGORA QUE ELE ESTAVA MORTO, ELA PODIA RETORNAR.
DORA VAI, ENTÃO, A UMA ESTAÇÃO DE TREM, VÊ-SE EM UMA DENSA MATA, ENCONTRA UM HOMEM QUE SE OFERECE PARA ACOMPANHÁ-LA, RECUSA SUA SUGESTÃO, ENCONTRA A ESTAÇÃO, CHEGA EM CASA E UM EMPREGADO LHE DIZ QUE SUA MÃE ESTÁ NO CEMITÉRIO. FREUD A PRESSIONA PARA QUE SE RECORDE POR ONDE ESTEVE PERAMBULANDO NO SONHO, E ELA SE LEMBRA DE TER RECUSADO A COMPANHIA DE UM PRIMO PARA UMA VISITA A UMA GALERIA DE ARTE EM DRESDEN, POIS PREFERIA IR SOZINHA.
ELA PERMANECEU DUAS HORAS EM FRENTE À MADONA SISTINA, EXTASIADA EM ADMIRAÇÃO SILENCIOSA. QUANDO PERGUNTEI-LHE O QUE A DEIXAVA TÃO SATISFEITA NO QUADRO, ELA NÃO PÔDE ENCONTRAR UMA RESPOSTA CLARA. POR FIM, ELA DISSE: “A MADONA”. FREUD VÊ A ASSOCIAÇÃO FEITA COMO UMA IDENTIFICAÇÃO COM UM HOMEM JOVEM PERAMBULANDO E, MAIS TARDE, ACRESCENTA QUE O SONHO CONTÉM UMA FANTASIA DE DEFLORAÇÃO QUE CAUSA UMA ANGÚSTIA TRATADA PELA EVOCAÇÃO DA IMAGEM DA MADONA SISTINA.
FREUD CHEGA, DE FATO, MUITO PRÓXIMO DA COMPREENSÃO DA FUNÇÃO DA VIRGEM IMACULADA, MAS, SUBITAMENTE, DEIXA DE SUGERIR QUE O APARECIMENTO DA SEXUALIDADE PODERIA EVOCAR, EM PRIMEIRO LUGAR (O PRIMO QUE QUER ACOMPANHÁ-LA; O HOMEM QUE SE OFERECE PARA IR COM ELA ATÉ A ESTAÇÃO), O DESEJO DE RETORNAR À MÃE MADONA. COM A MORTE DO PAI, A MÃE PERMITE QUE A FILHA RETORNE PARA CASA. ESTE PAI - QUE INCORPORA A SEXUALIDADE - DEVE SER MORTO SE A CRIANÇA DEVE RETORNAR AO CUIDADO MATERNO IMACULADO.
FREUD ENFATIZA, COM RAZÃO, O CIÚME SEXUAL DE DORA PELA MÃE, AINDA QUE SEU DESAPONTAMENTO COM O PAI, POR ESTE PREFERIR OUTRAS MULHERES, TAMBÉM TESTEMUNHE SUA PARTICIPAÇÃO APAIXONADA NA VIDA FAMILIAR. O CONFLITO DELA REFLETE O RETORNO DA CRIANÇA À VIDA FAMILIAR APÓS A PREMÊNCIA DE BUSCAR REFÚGIO NA MÃE MADONA. FREUD ENXERGOU SOMENTE A RECUSA DOS DESEJOS DELA, E NÃO A RAZÃO DE UMA RECUSA PRIMORDIAL DA PRÓPRIA SEXUALIDADE.
A ESTE RESPEITO, FREUD TAMBÉM FRACASSOU POR NÃO PERCEBER QUE AO ABORDAR OS DESEJOS DE UMA JOVEM DE 18 ANOS DE IDADE SEM COMPREENDER COMO ELA HAVIA PRIMEIRAMENTE EXPERIMENTADO A SEXUALIDADE (INCLUINDO A DISCUSSÃO PROSAICA DE FREUD SOBRE O ASSUNTO), IGNORAVA A CRIANÇA QUE INSISTIA EM PERMANECER EXTASIADA DIANTE DA MADONA. ELA AFUNDOU NO SILÊNCIO QUANDO ELE PERGUNTOU SOBRE A MADONA, AFIRMANDO, ASSIM, O AMOR QUE ELA SENTIA PELA MÃE PRÉ-VERBAL. COMO QUE PARA SANTIFICAR ESTE RETORNO, ELA CONCEDERIA A FREUD SOMENTE MAIS DUAS HORAS DE SUA PRESENÇA ANTES DE ABANDONAR A ANÁLISE, ALGO QUE NÃO LHE ESCAPOU À ATENÇÃO.
OLHANDO PARA A MADONA, DORA ESTAVA DIRIGINDO SUA CONTEMPLAÇÃO À FACE DA MÃE. NA TEOLOGIA CRISTÃ, ESPECIALMENTE NAS COSMOLOGIAS MEDIEVAIS, A PARTE SUPERIOR DO CORPO SUGERE TRANSCENDÊNCIA, JÁ QUE LEVANTAM OS OLHOS PARA A DIVINDADE. ESTE É O ALIMENTO DO AMOR CRISTÃO, E ESTÁ BASEADO NA MORADIA DO BEBÊ NOS OLHOS DA MÃE, QUE PROVÊ SEU LEITE E AMOR.
TERÁ DE SE ESPERAR UM TEMPO AINDA PARA QUE ALGO DE BAIXO VENHA A OCORRER A FIM DE SE CRIAR UMA NOVA ORDEM DE COISAS, ROMPENDO A CONTEMPLAÇÃO PARADISÍACA. O MUNDO CRISTÃO REMETE ESTA RUPTURA AO DEMÔNIO, QUE INCORPORA TUDO, O QUE PERTURBA A ORDEM SAGRADA. TAL COMO DORA MOSTROU, E QUE FREUD FRACASSOU EM VER - TÃO ABSORTO ESTAVA EM ADVOGAR PELA UNIVERSALIDADE DA SEXUALIDADE HUMANA -, AS PREMÊNCIAS SEXUAIS PARECEM DESTRUIR A RELAÇÃO DO SELF COM O OBJETO PRIMÁRIO SAGRADO, A MENOS QUE ELAS POSSAM SER LEVADAS DA CAR-NALIDADE À ESPIRITUALIDADE, SENDO A ALMA UM SUBSTITUTO DO GENITAL.
MAIS TARDE, FREUD IRIA SE CONCENTRAR EM MAIS UMA OBSERVAÇÃO. ELE VIU NA RECUSA DA DIFERENÇA SEXUAL DA CRIANCINHA A BASE DA PSICOSE, INDICANDO UMA NEGAÇÃO DA REALIDADE QUE TERIA REPERCUSSÕES POSTERIORES. HOJE EM DIA, OS ANALISTAS IRIAM ARGUMENTAR QUE ESTA RECUSA É A FORMAÇÃO DA PSICOSE HISTÉRICA, TAL COMO OCORRE, POR EXEMPLO, NAS ESQUIZOFRENIAS QUE ENVOLVEM UM ACHATAMENTO DO APARATO MENTAL QUE TERIA CONDIÇÕES DE PERCEBER UMA REALIDADE INDESEJADA DESDE O MAIS TENRO ESTÁGIO DA VIDA.
DE FATO, GRANDE PARTE DA OBRA DE BION, POR EXEMPLO, PREOCUPA-SE COM OS ATAQUES AOS VÍNCULOS INDUZIDOS PELA PARTE PSICÓTICA DA RECUSA DA PERSONALIDADE DE PERMITIR QUE SEJAM FEITAS CONEXÕES DE PENSAMENTOS INDESEJADOS. NO HISTÉRICO, HÁ UMA FORMA EQUIVALENTE DE ATAQUE AOS VÍNCULOS, SÓ QUE, NESTE CASO, O ROMPIMENTO DE UM VÍNCULO ESTÁ LIGADO AOS CONTEÚDOS MENTAIS SEXUAIS EVOCADOS NO SELF OU PROPOSTOS PELO OUTRO. UMA FORMA VIOLENTA DE INOCÊNCIA É INSTITUÍDA A FIM DE ALUCINAR NEGATIVAMENTE AS REPRESENTAÇÕES SEXUAIS NO MUNDO E RECALCÁ-LAS QUANDO EMERGEM DOS INSTINTOS.
DADA A COMPLEXIDADE DO DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO HUMANO, NÃO É DE SE SURPREENDER QUE FREUD TENHA ALERTADO SEUS LEITORES PARA O FATO DE QUE TODAS AS PESSOAS ATRAVESSAM UM ESTÁGIO HISTÉRICO E QUE A ASSIM CHAMADA PESSOA "NORMAL" E APENAS MAIS NORMAL - MAIS NORMAL EM GRAUS DO QUE EM QUALIDADE. E ÚTIL, CONTUDO, HAVER UM CONCEITO DE CRIANÇA NORMAL.