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Katemari Rosa Departamento de Fisica UFCG

Aprendendo com a experiência estratégias para promover o sucesso de mulheres negras na física. Katemari Rosa Departamento de Fisica UFCG. Aprendendo com a experiência. Introdução Perfil das cientistas Temas emergentes Recomendações práticas Q&A. Introdução.

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Presentation Transcript


  1. Aprendendo com a experiênciaestratégiasparapromover o sucesso de mulheresnegrasnafísica Katemari Rosa Departamento de Fisica UFCG

  2. Aprendendo com a experiência • Introdução • Perfil das cientistas • Temas emergentes • Recomendações práticas • Q&A

  3. Introdução • Origens e motivação da pesquisa • A pesquisadora • Sub-representatividade das mulheres negras nas carreiras científicas • Carência de estudos que analisam a participação de mulheres e minorias étnicas na ciência (Ong, 2005)

  4. Contexto da pesquisa • Pesquisa qualitativa realizada nos Estados Unidos com seis mulheres, negras, doutoras em física ou áreas afins, e que trabalham como físicas – construção de identidade científica • Coleta de dados e análise: • Entrevistas gravadas em áudio: 2-3 horas (Obbo, 1997; Seidman, 1991; Weiss, 1995) e codificação in vivo, com Atlas.ti • Referencial teórico com bases em teorias feministas, de identidade e teoria critica da raça.

  5. Ouvindo histórias • Existe um valor intrínseco em utilizar as histórias das experiências de vida de pessoas negras - Teoria Crítica da Raça (Delgado, 1989). • Solorzano & Yosso (2002) definem contra-contação de história (counter-storytelling) como “um método de contar as histórias daquelas pessoas cujas experiências não são normalmente contadas”, incluindo pessoas de cor, mulheres, homossexuais e pobres (p. 26).

  6. Perfil das cientistas

  7. Perfil das cientistas

  8. Allyson Allyson é bacharel em física e doutora em engenharia e ciência dos materiais. Ela é de uma família classe média do sudeste dos EUA e a primeira na família a ter um doutorado. Seus pais criaram as duas filhas para desenvolver fortes habilidades em matemática e ciências. O pai de Allyson é engenheiro elétrico. • Vida no subúrbio, minoria em aulas avançadas • Coroinha na igreja batista, escoteira, verões científicos • HBCU, graduação  PWI, doutorado

  9. Betty Betty tem bacharelado em engenharia elétrica, mestrado e doutorado em física. Ela cresceu num ambiente que era mais espiritual do que religioso. Nenhuma das pessoas em sua família era das ciências. O que levou Betty para as ciências foi realmente seu amor pela matemática. • Vida em grande cidade, pais ativistas políticos • Fraca conexão com a igreja, espiritual mas não religiosa • Escola pública e muitas atividades extra-curriculares em ciências e matemática

  10. Christa Christa tem bacharelado e doutorado em física. Ela era filha de um motorista de longas distâncias que estava longe de casa na maior parte da sua infância. Christa tinha dois irmãos e foi criada, em maior parte, pela mãe. Primeira da família a ir para a faculdade. • Cresceu em cidade planejada (similar subúrbio) • Criação religiosa, participação ativa na igreja • Primeira estudante negra no Instituto • Saída e reingresso na academia

  11. Esther Esther é a filha mais nova de cinco, esposa, mãe de quatro crianças e avó de seis crianças. Esther estudou em escola segregada e participou da integração racial nas escolas nos Estados Unidos. Ela queria ser professora de ensino fundamental. • Vida na área rural, criação pelos avós. • Cresceu dentro da igreja • Um professor disse que ela deveria estudar física • Saída da academia para a indústria, reingresso

  12. Jane Jane é bacharel em física e doutora em física aplicada. Ela era a única filha e tinha cinco irmãos, numa família da primeira geração de imigrantes do Caribe, onde seus pais eram professores. Eles queriam que ela fosse médica. Jane não queria fazer doutorado em física. • Família rígida, pai pastor • Saída e retorno à academia, oito anos de doutorado • Incompreensão da família • Única mulher negra na física

  13. Shanna Shanna possui bacharelado, mestrado e doutorado em física. Ela é a única filha de uma mãe solteira. Ela morava numa grande metrópole do nordeste dos Estados Unidos, onde morou em projetos habitacionais durante toda sua vida, até sua saída para a faculdade. Ela queria ser diferente de todo mundo. • Vida em área urbana, criada pela mãe, vó e tia • Família não-religiosa • Clube de ciências na escola e programas de verão em engenharia

  14. Experiências • Vida escolar, particularmente em ciências • Ciências em outros espaços • Escolhas acadêmicas e profissionais • Obstáculos na academia e fora dela • Bolsas e outros auxílios financeiros • Relações familiares • Casamento e maternidade • Reconhecimento profissional • Desenvolvimento da identidade científica

  15. Temas Emergentes

  16. Temas emergentes • O corpo • Grupos de estudo • A Iniciação Científica • A política do doutorado

  17. O corpo • As cientistas falaram sobre como elas se viam enquanto mulheres e também sobre como as outras pessoas percebiam suas performatividades de gênero. • Para mulheres num campo predominantemente masculino, não apenas nas ciências, não é incomum de se ter o comportamento sexualizado. • Metade das informantes nesta pesquisa sentiu que suas roupas e formas de se vestir eram percebidas como provocativas ou 'muito bem vestida'. Este tipo de comentário vinha tanto de homens quanto de mulheres.

  18. O corpo “É interessante porque, ultimamente, eles dizem que eu uso minhas artimanhas femininas para conseguir as coisas do meu jeito, e uma coisa que eu percebo com caras é o ego deles. Eles são tão frágeis, né? Então, agora voltando para os técnicos, eu percebo que se você é legal com as pessoas, elas serão legais com você. Então eu simplesmente vou ser bacana, sabe, apenas agradável, como eu vou tratar - porque eu acho que às vezes alguns cientistas tem isso, qual é a palavra? Um certo esnobismo. Tipo, “tenho um doutorado. e você é apenas um bacharel, então você está abaixo de mim", esse tipo de coisa. E então, às vezes, eu não faço isso, dessa forma, apesar de tudo." Jane

  19. O corpo • Elas foram solicitadas a se vestir de forma “menos feminina” a fim de se encaixar no grupo, ou foram aconselhadas a não usar maquiagem. • Esses comentários aconteceram num tempo especifico, durante os anos de graduação, precisamente quando elas estavam sendo iniciadas na comunidade da física. • Parte do processo de identificar-se com o grupo no qual elas estavam entrando envolveu uma negociação entre um silencioso código de vestimenta e de tipo físico que parecia ser necessário para ser da física.

  20. “E, de novo, todos esses homens, velhos, brancos... e lá estava eu, sabe, eles parecem desleixados, largados. Eu peguei o meu – eu estava vestindo um terno Lily Anne, e eu peguei da minha cunhada porque eu disse que eu ia apresentar, eu queria estar bonita, sabe? E eu não tinha muitas roupas profissionais naquela época (…) eu vesti esse terno preto e prendi meu cabelo para trás. Eu queria parecer com uma mulher, sabe? E eu me lembro de me sentir tão esquisita, sabe? Eu simplesmente não senti que eu me encaixava ali, de jeito nenhum, e essa foi uma daquelas vezes em que eu, sabe, eu acho que entre – aqueles eram os primeiros anos quando eu estava pensando que talvez esta não fosse uma área para uma mulher porque eu não me lembro de ver outra mulher, eu realmente não me lembro. Então, talvez eu até tivesse visto, mas eu simplesmente não conseguia me lembrar disso, sabe.” Ester

  21. O corpo – mulheres na física • Reconhecer que as nossas estudantes podem enfrentar situações como essa pode nos ajudar a estar preparadas para fornecer suporte para essas alunas e incentivá-las a usar a sua feminilidade em qualquer maneira que elas queiram. O que você acha que pode fazer?

  22. Grupos de estudo Grupos de estudo como espaço de exclusão • Enquanto algumas áreas dependem fortemente de leitura e escrita, a física requer que estudantes trabalhem em resolução de problemas. • Em grupos de estudos, as pessoas podem compartilhar não apenas a resposta final de problemas, e ver se estão no caminho certo, como podem compartilhar como os problemas foram resolvidos. • Enquanto em outras áreas do conhecimento o compartilhamentos de respostas e processos pode ser visto como cola, na física isso é parte do processo de aprendizagem

  23. Grupos de estudo • Além disso, existe uma tradição entre estudantes de se compartilhar material com estudantes de outros semestres; existe uma rede social de resolução de problemas. • Não é difícil imaginar o quão importante pode ser para uma estudante ou um estudante entrar nesta rede. • As físicas na minha pesquisa falaram sobre isso como uma das estratégias que elas tiveram que desenvolver ao longo da formação.

  24. Grupos de estudo “E assim, foi difícil para eu entrar em um grupo de estudo, porque – e você tinha que ter grupos de estudo em pós-graduação em física, porque eu não ia ficar com os russos, eu não ia ficar com os meninos chineses e, basicamente, tudo o que eu tinha eram os americanos e os americanos ainda estavam tentando descobrir o que aconteceu. Tipo, nos éramos muito inteligente em nossas respectivas universidades e agora estávamos tirando C's porque tem todos esses estudantes internacionais que estudaram muito mais, sabe? Os requisitos são diferentes. Se você é – você tem que ser tipo um top estudante russo pra vir de lá até a América e entrar em uma escola de topo, por isso foi difícil para mim entrar em grupos de estudo. “

  25. Grupos de estudo “Mas quando eu comecei em outra universidade, eu já sabia. Tudo bem, eu tenho que entrar nesses grupos de estudo, eu tenho que fazer amigos, eu tenho que ir para os Happy Hours. Eu tenho que ir para - eu tenho que fazer essas atividades sociais porque isso constrói esses laços. Então, eu virei uma borboleta social quando eu estava na universidade. Eu era representante do departamento, eu estava em muitos clubes e organizações e todas essas coisas. E isso me ajudou a ser mais incluída”. Shanna

  26. Socializando mulheres na física • Uma das participantes da pesquisa disse que não foi convidada a participar dos grupos de estudo, mas ela tinha aprendido, a duras penas, que ela tinha que entrar nesses grupos; então ela descobria quando e onde os outros alunos estavam se encontrando, aparecia com biscoitos, e se juntava a eles. De que maneira você acha que pode apoiar os grupos de estudo?

  27. Iniciação Científica • Uma coisa que as físicas neste estudo tinham em comum era que todas elas tiveram experiência de iniciação científica durante a graduação. • Além do conteúdo que se é aprendido nessas experiências de pesquisa, há o aprendizado das normas sociais no laboratório, e as normas sociais na academia como um todo. Através dessas práticas, estudantes desenvolvem um sentimento de pertença, e têm a oportunidade de interagir em diferentes instituições, com pessoas diferentes, e até mesmo diferentes domínios da física.

  28. Iniciação Científica “Então eu fiz a REU na Universidade de Algures com o Dr. Williams, e Williams era um dos vários grupos fazendo esse tipo de pesquisa na Universidade. E eles tinham reuniões (...) com o meu orientador da tese (...). E mesmo que eu não estivesse em seu grupo e eu não trabalhasse com ele, eu jurei que, se eu fosse para a pós-graduação – o que eu não sabia naquele momento, e se eu fosse para a Universidade de Algures, que eu nunca iria trabalhar para aquele homem. Ele era mau. Ele não era uma pessoa agradável, de jeito nenhum.” Christa

  29. Iniciação Científica “Quando eu estava fazendo o meu trabalho de graduação, eu estagiei na NASA .... Então eu tive posições de estágio lá, e o propósito, é claro, de fazer isso era que eles iriam me oferecer um emprego na minha conclusão, então é claro, eu tinha ido lá várias vezes para fazer posições de co-op, mas eu pude ver desde a primeira vez que eu mudei, que eu não queria voltar para aquele mesmo lugar. Assim, ao longo do tempo que eu fui, eu acho que eu fui três vezes, dois verões e um semestre. Eu simplesmente não gostava do ambiente. E assim, da faculdade, do meu curso de graduação, fui direto para a indústria e eu trabalhei por um tempo. ” Ester

  30. A política do doutorado • Pós-graduação é tanto sobre o desenvolvimento de uma pesquisa, como é sobre o entendimento das relações interpessoais nos departamentos, e sua política. • Existe uma imagem equivocada da ciência como uma disciplina objetiva, onde tudo que importa é o seu desempenho, e que as relações pessoais ou habilidades não são importantes.

  31. A política do doutorado • Minhas entrevistadas falaram sobre encontrarem-se no meio de disputas entre docentes que estavam tentando ser chefe de departamento, por exemplo, ou convidar docente para ser membro de banca que teve problemas pessoais com o orientador da tese – sem que elas soubessem.

  32. A política do doutorado “E depois, eu descobri que a razão pela qual ela estava pirando e me bicando, na verdade não tinha nada a ver comigo. Meu orientador e ela tinham, na verdade, concorrido a chefe de departamento, então havia política acontecendo no fundo, porque ela queria ser a chefe e meu orientador também.” Allyson

  33. Algumasrecomendaçõespráticas Estratégias para promover o sucesso de mulheresnegrasnafísica

  34. Corpo • Trazer o assunto, explicitamente, em aulas de orientação e outros eventos para estudantes recém ingressas • Levantar a questão em reuniões de colegiados e departamentos • Estar ciente de que as mulheres negras na física enfrentam constantemente essas microagressões dirigidas a seus corpos “Então, sabe, me senti estranha sendo a única, e eu costumava tentar me esconder até que uma amiga-- alguém me disse há alguns anos atrás," Jane, você não pode se esconder. Você é uma mulher negra, alta e grande. Você não pode, você não pode se esconder. Não há nenhuma maneira que você possa se esconder. "(...) então levou um longo tempo para eu me acostumar a, a gostar de ser visível, assim.” Jane Às vezes, até mesmo uma pequena conversa pode ajudar

  35. Grupos de estudo • Organizar formalmente espaços de grupos de estudo para estudantes proporcionando espaço físico para os encontros • Se estudantes que estão em minoria nos departamentos de física podem barganhar mesmo que seja com espaço físico (e café, biscoitos...), os outros alunos são mais propensos a abrir a "rede de listas de problema". É, como diria Derrick Bell, uma questão de convergência de interesses “Eu vou entrar, eu vou aparecer, eu tenho as minhas coisas e, sabe, nós vamos dar um jeito nisso, porque todo mundo, sabe, tipo, os meninos chineses têm soluções para o livro escrito em chinês. Então, você tem que, tipo, descobrir quem tem o quê, descobrir o que vai funcionar para você, esse tipo de coisa, e socializar fora de sua zona de conforto. ” Shanna Às vezes, você tem que se adaptar para sobreviver

  36. IniciaçãoCientífica • Incentivar estudantes a se inscrever nos programas • Fornecer informações para estudantes sobre as bolsas • Auxiliar estudantes com a papelada para a inscrição • Organizar oficinas para falar sobre a importância da iniciação científica e trazer ex-participantes de IC para ‘perguntas e respostas’ com estudantes Não subestime o poder de encorajar uma estudante, especialmente se você for uma mulher “E ela também me incentivou a fazer outras atividades de verão, então eu passei um verão na Universidade de (...) fazendo pesquisa em ensino de física como uma estudante de IC e esse foi o verão depois do meu segundo ano de faculdade.” Christa

  37. A política do doutorado • organização de workshops para falar sobre a vida acadêmica e realizar um painel com estudantes negras que estão atualmente na pós-graduação em áreas de STEM • As chances são de que suas alunas serão as únicas estudantes negras no departamento de física. Portanto, ter a oportunidade de interagir com outras pessoas que já estão passando por esse processo pode ajudar estudantes a não ser surpreendidas quando se depararem com obstáculos na pós. “O que eu sempre digo às pessoas é que fazer o doutorado é uma das coisas mais políticas que você tem que fazer. Você tem que ter cuidado com quem você escolhe para estar em sua banca. Você tem que desenvolver aliados.” Betty Porque a ciência é feita por pessoas!

  38. Valorizando a experiência Essas recomendações são baseadas em reflexões acerca de histórias reais, histórias de vida, experiências de pessoas que são, historicamente, excluídas das ciências, mas que contrariaram as expectativas e obtiveram sucesso numa carreira em física. Podemos aprender com as experiências de outras mulheres, e as nossas histórias devem ser ouvidas, a nossa experiência pode ajudar outras que virão depois de nós.

  39. Katemari Rosa • katemari@gmail.com • LinkedIn, Twitter Você já contou a sua história?

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