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Morfologia Interpretação. Prof. Édson Carlos. Leia o poema de Fernando Pessoa e faça a interpretação morfológica. Autopsicografia O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente.
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MorfologiaInterpretação Prof. Édson Carlos
Leia o poema de Fernando Pessoa e faça a interpretação morfológica.
Autopsicografia O poeta é um fingidor.Finge tão completamenteQue chega a fingir que é dorA dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve,Na dor lida sentem bem,Não as duas que ele teve,Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de rodaGira a entreter a razão,Esse comboio de cordaQue se chama coração. Fernando Pessoa, Cancioneiro
Faça um comentário global do texto, considerando sua contextualização na obra. Aponte nos níveis fônico, morfossintático, semântico e estilístico, os seguintes aspectos: • divisão do poema em partes e assunto de cada parte; • sentido do fingimento; • imagens tripartidas (tipos de dor; explicação do título); • simbologia do número três; • recursos estético-estilísticos; • o conceito de poema para Fernando Pessoa.
Divisão do poema em duas partes: • estrofes 1 e 2 – caracterização do poeta como fingidor, que codifica o poema, enquanto o receptor o descodifica à sua maneira; • estrofe 3 – explicitação da subordinação do sentimento à razão, através de imagens.
Sentido do fingimento • o ato poético apenas pode comunicar uma dor fingida, pois a dor real (sentida) continua no sujeito, que, por palavras e imagens, tenta uma representação; • fingir é inventar, elaborar mentalmente conceitos que exprimem as emoções ou o que quer comunicar.
Imagens tripartidas • três tipos de dor: a real ("que deveras sente"), a fingida e a "dor lida": • construção do título: auto/psico/grafia: autorretrato, da mente ou da alma ("psique"), através da expressão gráfica do poema; • dialética das três estrofes: na 1.a, a produção poética; na 2. a, a recepção; na 3. a, a reconstrução pela conciliação da oposição razão/sentimento; • razão – coração – elaboração estética; • o real – o mentalizado – a arte.
Simbologia do número 3: • o 3 é o número da criação: 3 estrofes; 3 tipos de dor; título com 3 conceitos – auto + psico + grafia; 3 termos do fingimento: "fingidor", "finge", "fingir"; 3 componentes da criação – razão, sentimento, fingimento (que permite a elaboração estética ao exprimir intelectualmente as emoções);
Simbologia do número 3 • 3 é o símbolo da síntese espiritual, que soluciona o conflito gerado pelo dualismo do mundo da razão e do mundo do sentimento. Cada uma das 3 estrofes possui quatro versos; o 4 é o símbolo da condição humana com os seus limites naturais; mas o 4 é controlado ao encerrar-se nas 3 estrofes. Note-se que na última estrofe há certa angústia, com o coração "a entreter a razão" num movimento circular nas "calhas da roda";
Simbologia do número 3: • 3 traduz a ideia da progressão cíclica que surge, evolui e se fecha. É símbolo da circularidade, presente também na imagem da roda (verso 9, múltiplo de 3) que procura disciplinar o coração ("comboio de corda") para que a obra de arte se construa. Como o próprio Pessoa afirma, em Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literária, "a arte é o resultado da colaboração entre o sentir e o pensar".
Recursos estético-estilísticos • metáforas (vv. 1, 3); • imagem (na combinação das metáforas da última quadra); • perífrase (1.° verso da segunda estrofe); • hipérbato (na inversão sintática na última quadra).
O conceito de poema para Fernando Pessoa • Para Fernando Pessoa: o poema surge como um ato de fingimento, de pura elaboração estética. A criação artística implica a concepção de novas relações significativas, graças à distanciação do real, o que pode ser entendido como ato de fingimento ou de mentira.