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História dos Portugueses no Mundo (2012/2013) Aulas n. o 17 Os Portugueses na Índia I Goa. Goa Cidade e território da costa ocidental da Índia que, a partir de 1510 , foi a capital do «Estado» Português da Índia.
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História dos Portugueses no Mundo • (2012/2013) • Aulas n. o 17 • Os Portugueses na Índia I • Goa
Goa Cidade e território da costa ocidental da Índia que, a partir de 1510, foi a capital do «Estado» Português da Índia. O território de Goa é constituído por uma ilha central, umas ilhotas vizinhas, e uma parte marginal de terra firme, repartidas em quatro regiões distintas: Ilhas, Bardez e Salsete – as chamadas «Velhas Conquistas», e a região das Novas Conquistas. Mapa retirado da obra: Maria de Jesus dos Mártires Lopes, Goa Setecentista. Tradição e Modernidade, Lisboa, Universidade Católica Portuguesa, 1996.
Goa à Chegada dos Portugueses Em 1370, os muçulmanos vindos do norte do Decão, sob o comando do grão-vizir (primeiro-ministro)MahmudGavan, expulsaram o rei hindu de Goa e aí edificaram uma nova cidade na margem do rio Mandovy, dotando-se com belos edifícios, uma mesquita majestosa, um estaleiro, etc. O grão-vizir entregou o governo de Goa, integrado na província de Bijapur, ao seu general favorito, Yussuf Adil Khan, que os portugueses vieram a designar como idalcão. Mapa retirado da obra de André Teixeira, Fortalezas. Estado Português da Índia. Arquitectura Militar na Construção do Império de D. Manuel I, Tribuna da História, 2008.
Em 1489, Bijapur tornou-se um sultanato independente do sultanato de Bahmani. O sultão Yussuf, inteligente e culto, destinou a cidade de Goa para seu porto de mar e estância de recreio e para importação de cavalos. Quando, em 1498, os portugueses chegaram à Índia, souberam por um judeu converso aprisionado nas águas de Angediva, que foi dada a notícia de que nos estaleiros de Goa se projectava a construção de uma frota para resistir às armadas portuguesas que dominavam o Índico. Em Fevereiro de 1510, informado e auxiliado por um chefe hindu de nome Timoja, Afonso de Albuquerque tomou a cidade, que se entregou sem combate por o sultão se achar em guerra no Decão.
Quando o sultão voltou com uma força de 40 mil homens de guerra, Afonso de Albuquerque foi forçado a retirar-se da cidade, esperando melhores condições militares para voltar a dominá-la. • A 25 de Novembro, com novos reforços, Afonso de Albuquerque atacou a cidade, que, após sangrento combate, foi retomada definitivamente, causando grande mortandade entre os muçulmanos, mas poupando-se a vida dos hindus. • A Importância de Goa: • A cidade estava numa ilha, estrategicamente situada no centro da costa ocidental indiana, entre os sultanatos muçulmanos do Decão e o reino hindu de Vijayanahar; • Tinha um bom porto, muito frequentado por mercadores de várias origens, destacando-se o lucrativo comércio dos cavalos; • A ilha era muito fértil, facilitando o abastecimento de um futura sede da presença portuguesa na região.
No governo de Nuno da Cunha (1529-1538), Goa foi reconhecida oficialmente como capital do «Estado» da Índia. Deste modo, o governador procedeu à conquista definitiva das chamadas Terra Firmes – Bardez e Salsete = «Velhas Conquistas». Só no século XVIII, e após várias campanhas militares contra os maratas foram conquistadas as províncias de Perném, Bicholim, Pondá, Satary, Quepém, Sanguém e Canaconá, que constituíram as denominadas «Novas Conquistas».
Em 1516, foi concedido a Goa o título de «cidade real».Todos os seus habitantes independentemente da sua religião – ficaram isentos do pagamento quer de impostos sobre alimentos importados, quer de taxas portuárias. • Os portugueses casados com mulheres locais obtiveram os seguintes privilégios: • - prisão domiciliária a aguardar sentença em processos civis; • isenção relativamente à perda do direito a propriedades ou bens, com a excepção de casos de traição e outros casos específicos; • liberdade de comerciar qualquer mercadoria com qualquer porto, à excepção dos que se encontrasse em mãos hostis; • isenção relativamente a ordens governamentais para realização de serviços públicos, excepto se este fosse para a manutenção da cidade; • elegibilidade para qualquer cargo público. • Em suma, os habitantes de Goa, desde 1516, gozavam de muitos dos privilégios dos cidadãos de Lisboa, do Porto e de Évora.
Um alvará de 15 de Março de 1518 , ordenou a divisão das terras aráveis em três partes: dois terços seriam concedidos aos que já estivessem casados ou que viessem a casar antes do final de 1519 e o outro terço seria mantido como reserva para os que se cassassem e se estabelecessem em Goa depois de 1519. Estas medidas tornam evidente a política de incentivo de rei D. Manuel I para que os portugueses se estabelecessem na Índia, que aí casassem, procriassem e se dedicassem ao comércio e ou à agricultura. Encontro de um nobre com duas mulheres; uma europeia e outra hindu. Código Casanatense do século XVI (Biblioteca Casanatense, Roma).
Casal indo-português à noite in Jan Huygen van Linschoten, ItinerariumoftSchipvaertnaerOostoftePortugaelsIndien, Amesterdão, 1614 (BN)
A Cidade de Velha Goa «Velha Goa» foi como ficou conhecida a cidade que os portugueses tomaram como principal centro do «Estado» da Índia, desde o início do século XVI até ao finais do século XVIII, momento em que os portugueses transferiram a sede de governo para «Nova Goa», a actual Pangim. Em Velha Goa chegaram a habitar duas mil pessoas. Sobre esta escreveu-se: “Quem viu Goa, escusa de ver Lisboa”. Foi também cognominada a “Roma do Oriente”. Esta última expressão remete para o facto de Goa ter-se tornado não só um importante polo cristão no Oriente, como também um centro irradiador da acção missionária católica. Goa era a sede do Padroado Português do Oriente, ou seja, era responsável pela evangelização desde a costa oriental da África até ao Extremo Oriente. Em Velha Goa construiu-se aquela que, até é hoje é, a maior igreja católica da Ásia.
Em Velha Goa vieram fixar-se várias ordens religiosas como franciscanos, agostinhos, teatinose dominicanos, que construíram igrejas e conventos. Igreja de São Francisco, Velha Goa
Convento e Igreja de Nossa Senhora da Graça, ordem dos agostinhos Igreja da Divina Providência (São Caetano), ordem dos teatinos.
Os jesuítas em Goa, como noutras partes do Império português, tiveram um papel determinante, não só na evangelização como também na educação. O colégio de São Paulo ou São Roque foi a primeira Universidade (ao estilo ocidental) na Ásia e acolheu estudantes tanto deste continente, como do continente africano. O colégio contava com uma enorme biblioteca e tipografia, mas este complexo foi destruído em 1830. Contudo, o mais célebre edifício construído pelos jesuítas em Goa é a Basílica do Bom Jesus, onde se encontra depositado o corpo do “apóstolo do Oriente” – São Francisco Xavier.
Os jesuítas também geriam o Hospital Geral, que foi descrito por François Pyrard de Laval, um viajante francês, que visitou Goa em 1608, como tendo uma aparência exterior palaciana, no interior com uma magnífica escadaria, belas camas e duas capelas luxuosas. Laval considerou o Hospital de Goa como o melhor do mundo. Apesar de Velha Goa ter aproveitado algumas das estruturas arquitectónicas deixadas pelos muçulmanos, também é verdade que, embora nunca deixando se ser uma cidade asiática, tornou-se a primeira naquela região a adquirir um aspecto e edifícios tipicamente europeus. A autosuficiênciade Goa explica, em parte, a frase atrás citada: “Quem viu Goa, escusa de ver Lisboa”.
Goa era uma cidade extremamente cosmopolita, um grande centro comercial que atraia mercadores de vários pontos da Índia e do Índico. Na rua Direita, a principal e mais longa rua da cidade, era possível encontrar indivíduos de várias etnias, usando trajes muito diversificados, alguns europeus, outros asiáticos, alguns muito ricos, outros muito pobres. Os mais abastados não dispensavam o sombreiro que os protegia do sol forte Goa.
Os nobres portugueses faziam-se transportar em palanquis transportados pelos seus escravos, alguns dos quais ricamente vestidos. Um escravo em Goa não era necessariamente africano, podia ser de origem asiática, comprado nos muitos negócios que os portugueses tinham no Índico. Por vezes, os indivíduos também caíam na escravatura quando não tinham como pagar as suas dívidas.
«Gente honrada portuguesa na Índia, Código Casanatense do século XVI (Biblioteca Casanatense, Roma). Apesar do clima tropical a «gente honrada portuguesa da Índia» insistia em manter os seus trajes europeus. Eram sobretudo conhecidos pelos seus chapéus pretos, por andarem sempre armados e por usarem uns gibões (capas) pesadas e quentes. Apesar do esforço que os portugueses fizeram para converter ao Cristianismo e aos hábitos europeus a população de Goa, cedo compreenderam que tinham de usar certa dose de tolerância e liberdade religiosa.
“Esta imagem ilustra bem a hostilidade dos climas com que os portugueses se viam confrontados na Ásia e as curiosas soluções a que recorriam para superar essa situação. Por esta pintura verifica-se que devido ao calor que se fazia sentir em Ormuz comiam dentro de piscinas, de forma a conseguirem algum refresco.” 9. «Portugueses em Ormuz», Códice Casanatense, séc. XVI
Como mostram as imagens os artesões e os agricultores eram geralmente de origem local e hindus. O facto de desempenhara as tarefas produtivas na sociedade goesa permitiu-lhes alguma liberdade, que se foi tornando cada vez mais estreita à medida que o «Estado» português em Goa se tornou mais forte. Com a introdução do Tribunal do Santo Ofício em Goa, em 1560, os convertidos aos Cristianismo passaram a ser mais atentamente vigiados, para as autoridades religiosas portugueses terem certeza que as conversões eram verdadeiras.
Note-se que, na segunda imagem, do viajante holandês Linschoten, a nudez da mulher hindu é uma invenção do autor. As mulheres hindus, à semelhança das europeias, tinham certo pudor em mostrar certas partes do corpo. Trata-se de uma visão idealizada do homem europeu da mulher indiana, que a imaginava exótica e sensual.