1 / 22

Entre o fetichismo e a sobrevivência

Entre o fetichismo e a sobrevivência. O artigo científico é uma mercadoria acadêmica?.

zandra
Download Presentation

Entre o fetichismo e a sobrevivência

An Image/Link below is provided (as is) to download presentation Download Policy: Content on the Website is provided to you AS IS for your information and personal use and may not be sold / licensed / shared on other websites without getting consent from its author. Content is provided to you AS IS for your information and personal use only. Download presentation by click this link. While downloading, if for some reason you are not able to download a presentation, the publisher may have deleted the file from their server. During download, if you can't get a presentation, the file might be deleted by the publisher.

E N D

Presentation Transcript


  1. Entre o fetichismo e a sobrevivência O artigo científico é uma mercadoria acadêmica?

  2. Um fetiche (do francêsfétiche, que por sua vez vem do portuguêsfeitiço e, este, do latimfacticius "artificial, fictício“; no cartesianismo: aquilo que é feito pela imaginação, produzido pela mente a partir de uma idéia. • Um objeto material ao qual se atribuem poderes mágicos ou sobrenaturais, positivos ou negativos; sortilégios, amuletos. • Inicialmente este conceito foi usado pelos portugueses como ‘feitiço’ para referir-se aos objetos empregados – ‘amuletos’ nos cultos religiosos dos negros da África ocidental. • Amuleto - objeto, fórmula escrita ou figura (medalha, figa etc.) que alguém guarda consigo e a que se atribuem virtudes sobrenaturais de defesa contra desgraças, doenças, feitiços, malefícios etc.

  3. Sobrevivência – o lema ‘publicar ou perecer’.

  4. Contexto de ampliação na pesquisa científica (internet, recursos informáticos, programas dirigidos à pesquisa, disponibilização de recursos para a pesquisa). • Aumento na disputa por financiamentos para a pesquisa. • Requisito para acesso aos financiamentos - demonstração da produtividade dos grupos de pesquisa, sobretudo em termos de publicação nos veículos acadêmicos de melhor reputação nos respectivos campos.

  5. Proliferação de artigos (publicados e a publicar) em revistas científicas indexadas. • Competição se estende à luta entre artigos que buscam a ocupação de espaços editoriais. • ‘publicacionismo’, ‘produtivite’ • ‘ciência-salame’: uma pesquisa é fatiada em unidades menores publicáveis para se tornarem vários artigos distribuídos em diferentes revistas. • ‘escambo autoral’ (meu nome no meu artigo, teu nome no meu artigo etc). • ‘micro-plágios’. • ‘citacionismo’.

  6. Digressão: a atualidade de Borges diante dos efeitos psico-socio-ecológicos do ‘enlouquecimento global’.

  7. A biblioteca de Babel.

  8. A utopia do homem que está cansado.

  9. Uma das atividades dos investigadores é gerar interesse em relação a seu objeto de estudo em diferentes níveis do processo de produção científica • O pesquisador necessita também administrar sua carreira profissional e seus vínculos e papéis no interior de equipes de investigação. • Ou seja, existem outras dimensões que afetam a trabalho científico envolvendo relações de influência e jogos de poder entre instâncias e grupos de pesquisa.

  10. Há várias atividades do pesquisador para além dos requisitos de objetividade e da manutenção do rigor científico na atividade científica • Tais como: • estratégias de busca de financiamento, • gestão das relações entre grupos acadêmicos, • comunicação entre pares (por isso, a suprema importância da padronização e da normalização nas práticas científicas), • formas de produzir e ter sucesso em publicar um número importante de artigos em revistas conceituadas no respectivo campo, • ensejando, para o êxito se fazer completo, uma boa quantidade de citações.

  11. Hackett estudou questões ligadas a ambivalência, tensões e paradoxos em laboratórios de biologia molecular. • Aspectos como: • 1) o estabelecimento e manutenção de identidade do grupo e de cada pesquisador no interior do grupo; • 2) a obtenção e sustentação de poder e controle nas relações entre pesquisadores diante do conjunto de tecnologias e práticas de pesquisa; • 3) a escolha de riscos que pesquisadores estão dispostos a assumir em sua atividade em relação às possibilidades de resultados satisfatórios para a continuidade de suas linhas de investigação

  12. Um pesquisador optou por uma linha de pesquisa com teores mais altos de risco na obtenção de resultados diante de seus investimentos • um sistema para estudar eventos recombinantes em células humanas. • Houve problemas de confounding devido a artefatos metodológicos pelo uso da reação em cadeia da polimerase que pode provocar recombinação per se. • O pesquisador abandonou esta linha e adotou outro rumo com outro conjunto de tecnologias de pesquisa centrada em ratos transgênicos combinando biologia molecular, genética tradicional e manipulação de óvulos de ratas pseudo-grávidas. • Este tampouco se mostrou recompensador.

  13. Tais eventos mal sucedidos interromperam suas fontes de financiamento e lhe obrigaram a mudar para outra universidade, onde começou outra linha de pesquisa mais próxima da medicina que da biologia básica. • Os dados do Science Citation Index evidenciam a versão bibliométrica desta história: • Fase 1 (biologia básica - até 10 anos depois da publicação): 7 artigos que receberam 37 citações; • Fase 2 (pesquisas biológicas de orientação biomédica – 4 anos depois do início das investigações ): 5 artigos que receberam 211 citações.

  14. No campo da saúde pública, dimensões pertencentes à ‘big science’ parecem não se comportar da mesma forma. • Aparentemente, não há tantas pressões no sentido de novas descobertas ou da criação de produtos e tecnologias. • As tensões assumem outros aspectos – por exemplo, premências instrumentais das questões de saúde pública e suas defasagens em termos de produzir estudos que permitam o conhecimento satisfatório das diversas formas de tendências de morbidade, mortalidade e estados de risco • E as correspondentes possibilidades de inserção destes conhecimentos em termos de práticas que conduzam a resultados efetivos de mudança na situação de saúde.

  15. É cabível encarar um artigo científico sob a ótica sociológica da dinâmica das comunidades científicas – como resultado de uma linha de investigação que ao lado de sua produção científica também gera capitais simbólicos. • Levando este argumento adiante, um artigo pode assumir determinados traços como se fossem mercadorias que estarão disponibilizados em revistas científicas.

  16. Artigo como mercadoria - valor de uso perceptível – relativo à utilidade específica deste ‘artigo’ para seus consumidores/leitores em relação à capacidade de contribuir para o que se supõe ser o avanço do conhecimento dentro do respectivo campo disciplinar. • Valor de troca imperceptível, como fetiche no caso das trocas simbólicas - no sentido de ser um elemento capaz de ter agregadas certas ‘quantidades’ de prestígio ou reconhecimento para seus autores. • Estes componentes são essenciais para mantê-lo ativo e influente e ao grupo ao qual pertence no território de interações cooperativas e competitivas da comunidade científica onde atua.

  17. Lema ‘publicar ou perecer’ implica algo parecido com as lutas territoriais para a seleção dos mais aptos entre artigos que lutam entre si. • Primeiramente, para despertar o interesse e a atenção dos editores como sendo tema relevante e importante. • E, depois, de serem devidamente analisados, para obedecer às demandas dos revisores. • Este é um prêmio depois da ultrapassagem por estes controles, pois isto significaria a possibilidade de habitar nichos mais valorizados deste mercado, • Algo que poderia ser chamado de ‘darwinismo bibliográfico’.

  18. Há instâncias especializadas em produzir rankings bibliométricos que são administrados pela Thompson Corporation • em cujos sites pode se ter acesso a classificações de desempenho acadêmico em termos quantitativos correspondentes a nomes, revistas, instituições e países por campo disciplinar – por tratar de pesquisa básica, infelizmente nem saúde pública, nem epidemiologia aparecem. • Em todos há classificações de variados tópicos, formatos e categorias, inclusive os ‘trabalhos mais citados’ chamados ‘artigos mais quentes’ (hottest papers) da temporada

  19. os objetivos explícitos destes rankings: • “analisar o desempenho de empresas, instituições e revistas; classificar países, revistas, cientistas, instituições e empresas por campo de pesquisa; identificar tendências significativas nas ciências e ciências sociais; avaliar potenciais empregados, colaboradores, pareceristas (reviewers) e colegas (peers); determinar produtos (outputs) de pesquisa e impacto em campos específicos de pesquisa” (http://in-cites.com). • Trata-se de um instrumento de análise econométrica para orientar e otimizar análises de custo-efetividade em investimentos em pesquisa de várias ordens e tipos sob o ponto de vista de seu retorno econômico.

  20. Isto fica claro na discriminação dos potenciais usuários destas informações: policymakers do governo, administradores de pesquisa de universidades ou de empresas; analistas pesquisadores ou especialistas em informação no governo, academia, indústria, setor de publicações, serviços financeiros e fundações de pesquisa. • Pelo visto, tais instâncias exercem suas atividades e impelem seus padrões e difundem a presente ideologia bibliométrica aparentemente sem maiores resistências, alimentando a cornucópia de produção científica. • Os cientistas, disseram Latour e Woolgar há quase 3 décadas atrás, são como corporações e seus currículossão como um relatório de balanço empresarial.

  21. A produção científica não tem somente o objetivo de gerar uma estratégia eficaz do que é possível ser feito. • Mas, também, consiste em uma vigorosa produção simbólica de caráter ideológico que não cessa de legitimar-se e motivar ações neste sentido. • Vigorosa porque parece pairar acima das ideologias. Sua indiscutível eficácia instrumental pode mascarar o funcionamento ideológico da ciência que é também uma atividade situada socialmente. • Desta forma, não se pode negligenciar a necessidade de dimensionar e compreender a participação da perspectiva globalizante da cultura científica no interior das propostas prevalentes na economia atual.

More Related