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PESCA EM ÁGUAS PROFUNDAS XXXVI TEMPO PASCAL. A ATRAÇÃO DE DEUS.
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PESCA EM ÁGUAS PROFUNDAS XXXVITEMPO PASCAL A ATRAÇÃO DE DEUS
Faz um certo tempo que aconteceu este fato. Você até já deve ter tomado conhecimento dele num dos emails que lhe enviei. Mas o Iracerdo pediu-me que o contasse novamente pois não se lembra de ter recebido. Pois bem, é o que estou fazendo, contando de novo, claro, com algumas alterações, tirei umas coisas e botei outras. Aconteceu assim. Eu estava na Praça dos Pescadores olhando o sol se por escorado numa pilha de caixas de madeira carregadas de bacuri. Minha esposa e filhas estavam às proximidades em alguma banca tomando tacacá.
O céu estava limpo, quase sem nuvens, e muitas embarcações, grandes e pequenas, inclusive canoas, trafegavam na baía de Guajará. Sim, estou falando de Belém, capital do Pará, na Amazônia do Brasil. O alvoroço dos feirantes ajeitando seus produtos para a labuta do dia seguinte era impressionante - paneiros de verduras, caixotes de tomates e pimentões, monturos de castanha, melancia, jurumum, uxi, laranja, ingá, batata doce, mandioca, lotes de galinha, tatu, cotia, etc, espalhados pelo chão da praça - contrastava com a harmonia celeste... Quando lá chegamos do comércio, meu relógio marcava 18 horas em ponto e as sirenes do jornal O Liberal zuniam no ar, mas ainda deviam faltar uns quinze minutos para o sol esconder-se.
À pouca distância, à minha direita, um casal de namorados também apreciava o quadro natural mutante no horizonte. - O sol está quase terminando seu trabalho aqui deste lado da terra, disse a moça com um saquinho de pupunha na mão. - É verdade, confirmou o parceiro, mais um pouco e ele estará nascendo no outro lado iluminando o caminho dos nossos irmãos que vivem lá!... - Não, obrigado, respondeu um senhor de cabelos grisalhos a um garoto que vendia polpa de cupuaçu, à minha esquerda.
Os astrônomos afirmam que no inverno o sol fica mais próximo de nós e que é o maior corpo celeste do nosso sistema solar, sendo 109 vezes maior que a terra, da qual está distante aproximadamente 150 milhões de quilômetros. Os antigos pensavam que era ele que girava em torno da terra e que seu diâmetro tinha apenas 60 centímetros! Mas, agora, já se sabe que mede 1.592.000 quilômetros e que a temperatura interna de sua região mais central é de aproximadamente 14 milhões de graus. Sem dúvida, é muita energia perdida no espaço e também muita precisão científica. É o homem cada vez mais desenvolvendo sua inteligência, ampliando seu conhecimento e assenhoreando-se do Universo...
Também, segundo ainda os astrônomos, este astro é apenas uma estrela no meio de centenas de milhões de outras, que compõem nossa galáxia que, por sua vez, está entre milhares de outras galáxias, que estão na parte visível do Universo. E o que será tem na parte invisível?... Só Deus sabe. Só vamos realmente saber o que tem no invisível quando o Plano do Criador realizar-se totalmente ou O encontrarmos em nossa caminhada terrena. Enquanto isto não acontecer Ele continuará pacientemente atraindo para junto de si a criatura que criou à sua imagem e semelhança e que ama como filho!... E o sol continuava descendo lentamente, sem pressa, mas decidido, como faz desde que foi criado, que me dava a impressão de ser um enorme buraco no céu por onde o Criador manda claridade para iluminar suas criaturas na terra...
- Hoje, esta praça não passa de um feirão imundo e fedorento, falou uma das três mulheres que tinham acabado de chegar e ficaram, à minha frente, apoiadas no corrimão da praça na beira da baía. - É porque o Ver-o-Peso é uma atração turística, mamãe, disse a mais jovem. - Isto não justifica, minha filha, isto é desmazelo administrativo mesmo, afinal esta era uma das raras janelas de Belém abertas para a baía de Guajará, agora não passa de um monte de taperebás, abacaxis, açaís, bacabas, tucumãs, plantas ornamentais, barraquinhas que vendem desde cheiro para defumação, óleos de andiroba e copaíba, até vagina seca de boto, tornou a falar a primeira mulher. - Além disso, mana, é uma praça perigosa, pois está atopetada de malandros, viciados, ratos, urubus, falou finalmente a terceira mulher, segurando umas sacolas cheias de compras e que parecia ser a mais velha.
Enquanto isso, também assemelhando-se a uma bola de luz solta no espaço naquele restrito pedaço de céu rasteiro de Belém, o sol refletia-se na baía como um enorme rastro colorido, como se alguém tivesse derramado tinta amarelo-ensangüentado de inúmeras tonalidades. - Mariazinha, olha só o sol como está, alguém exclamou atrás de mim. Atraído pela voz, naturalmente virei-me e vi um feirante segurando as mãos de uma garotinha preta, que devia ser sua parente, pois lhe era parecida.
Quase todas as pessoas na praça olhavam na direção do poente e, também, refletiam em seus semblantes aquela mutação de luzes e cores, quem sabe, a esperança pelo amanhã. Quando retornei o olhar para o sol, não mais o vi, ele tinha se posto. Vi somente um clarão, como se uma bomba de luz tivesse explodido no confim. Naquele ponto, a baía parecia estar pegando fogo. Senti uma vontade imensa de rezar o Pai nosso e fiquei balbuciando-o enquanto olhava o espetáculo celestial: Pai nosso, que estás no céu, santificado seja o teu nome, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu... Eliezer de Oliveira Martins Obs: O autor é diácono da Arquidiocese de Santa Maria de Belém do Grão Pará, Amazônia do Brasil. Esses fatos são uma adaptação dos narrados em www.eliezer.ninhodanatureza.nom.br; link FONTE DE VIDA, Em Águas Profundas. As fotos são apenas ilustrações, não foram tiradas da Praça do Pescador. Musical: Only A Memory, Yanni