210 likes | 348 Views
LITURGIA E RELIGIÃO DO POVO. O que você entende por Liturgia?. O que você entende por Religiosidade?. O que você entende por povo?. O que você entende por religião do povo?.
E N D
LITURGIA E RELIGIÃO DO POVO O que você entende por Liturgia? O que você entende por Religiosidade? O que você entende por povo? O que você entende por religião do povo?
O termo já possui em si um significado diferenciador – “popular” refere-se àquelas pessoas pertencentes as camadas mais pobres, com menos instrução e poder de decisão. Demonstra preconceito, pois nunca se fala em “religiosidade das elites”. O que sugere que alguns têm religião e outros têm religiosidade. Religião Popular Religiosidade Comporta aquela atitude fundamental que procura relacionar-se com o divino. Liturgia Corresponde a povo em ação Religião do Povo ou religião popular Entende-se como aquele catolicismo vivido e praticado pelas classes populares, ou seja, pelo conjunto das classes pobres e oprimida. Povo Compreende-se como o conjunto das Classes oprimidas. Opõe-se a grupos dominantes
Então, “Religiosidade Popular” seria a atitude que origina formas de culturas popular, dos pobres e simples, que procuram relacionar-se com o divino de forma mais simples, mais diretas e mais rentáveis. Mais simples – na tentativa de superar o intelectualismo e a abstração dando lugar ao sentimento e a imaginação. Mais diretas – como forma de rejeição de mediações clericais que seriam sentidas mais como obstáculo do que como mediação. A expressão mais rentáveis dirige-se a satisfação de desejos utilitários (magia, superstição), que podem adulterar a religiosidade popular. Religiosidade Popular
Catolicismo Tradicional Chega com os colonizadores. • Desde o séc. XVI até o séc. XIX o papado estabeleceu com as monarquias de Portugal e Espanha o “Padroado”. A evangelização foi reforçada por este particular regime de colaboração entre Estado e Igreja. Junto com o catecismo oficial, chegou o catolicismo popular com o colono pobre sendo depois assimilado pelos escravos, mestiços e índios civilizados. Com a Proclamação da República (1889) tal instituição foi extinta; nesse período, a grande maioria da população era católica. No início da República, o catolicismo brasileiro estava marcado por uma polarização, desenvolvendo-se sob dois enfoques: um de caráter clerical, doutrinal e outro de caráter popular, devocional. • Sem o apoio doutrinal, o culto dos santos passou a ocupar a primazia na vida religiosa do povo. O grande veículo de transmissão deste catolicismo foi a família. O centro era a devoção aos santos. Os próprios devotos organizavam suas práticas religiosas. Nas casas havia oratórios domésticos. Nas vilas e povoados, havia capelas, pessoas que lideravam as orações. A missa e os sacramentos eram uma complementação e não o núcleo desse catolicismo.
Catolicismo RomanizadoSegunda metade do séc. XIX. . • Inicia-se uma mudança liderada por bispos reformadores, padres e Irmãs vindos da Europa. O centro do catolicismo brasileiro desloca-se dos santos para os sacramentos e de um catolicismo leigo para um catolicismo clerical. • Caracterizou-se também pela substituição das antigas devoções por novas trazidas pelas congregações masculinas e femininas – Sagrado Coração de Jesus, Nossa Sra. do Perpétuo Socorro..., ligadas à práticas dos sacramentos. As Irmandades foram substituídas pelas Pias-Uniões, Apostolado da Oração... onde os leigos estão subordinados ao clero. Os centros de Romarias são confiados aos padres (Redentoristas). Nas capelas os fiéis só podem rezar com licença do padre. A guarda das imagens passa para as paróquias saindo das mãos dos leigos. Toda a espiritualidade converge para os sacramentos. • É um catolicismo dirigido para o leigo mas não tem a expressão própria das classes populares. Como reação à romanização o povo reelabora suas expressões religiosas e surge a forma privatizada do catolicismo.
Catolicismo Privatizado • Esta forma do catolicismo é uma reação à romanização, onde antes as devoções tinham caráter comunitário, agora passam a ter um caráter privado. O centro ainda são os santos, mas com uma prática suplementar de alguns sacramentos como batismo, casamento, funerais e algumas festas de santo, romaria e participação na Semana Santa. • Os santos cultuados podem ser inclusive santos não canonizados; ou são individualizados (almas). É sempre uma relação pessoal e individual, transitória ou permanente; promessas, novenas e invocações; o fiel estabelece uma aliança que não deve ser rompida.. • A partir dos anos 60 inicia-se no Brasil uma nova prática pastoral denominada Pastoral Popular e dela surgiu novas formas de catolicismo superando o catolicismo privatizado; surgem as CEB’s.
Catolicismo das Comunidades Eclesiais de Base • Tal catolicismo caracteriza-se por seu aspecto comunitário e sua preocupação com a libertação integral da pessoa. Trata-se de um catolicismo praticado pelo povo e elaborado por este. Há uma superação do clericalismo da Romanização sem que se perca a unidade e o respeito para com o padre e o bispo. Surgem novos ministérios complementando os ministérios ordenados. Uma superação do catolicismo privatizado, pois se recupera o aspecto comunitário. Os sacramentos têm lugar importante como também a Palavra de Deus que é lida e meditada em pequenos grupos, com a intenção de ligar fé e vida. A grande preocupação é a libertação integral da pessoa. Essa posição foi assumida em Medellín e Puebla e é hoje uma opção do Episcopado Latino Americano. Porém, temos hoje ainda a sobrevivência tradicional, ao lado do romanizado, do privatizado e das CEB’s
A PASTORAL POPULAR DIANTE DO CATOLICISMO DO POVO Basicamente há três formas de relacionamento: 1) O Catolicismo do povo é visto como superstição, magia, ignorância e alienação – a intenção é substituí-lo pelo das CEB’s, o único autêntico. Para os agentes de pastoral que têm esta visão, o único, autêntico e libertador catolicismo é o das CEB’s. Esses agentes percebem os limites e falhas da catolicismo do povo, e que é preciso passar para um catolicismo mais comprometido com a comunidade. Porém, há o risco de repetir aquilo que fizeram os agentes romanizadores, pois não percebem o que há de positivo no catolicismo popular.
Posturas • 2) Vê como bom tudo o que vem do povo. É uma maneira ingênua de perceber o catolicismo do povo, pois acham que a passagem do Tradicional, Romanizado ou Privatizado ao catolicismo das CEB’s se faça de maneira espontânea. O valor desta posição é o de perceber o catolicismo do povo como parte essencial da cultura popular e de denunciar atitudes que em nome da liberdade são dominadoras. Seu limite é o de achar que a cultura popular sozinha caminha para a libertação, sem perceber que nem todas as práticas do catolicismo popular são igualmente cristãs. • 3) Percebe no catolicismo do povo valores e problemas – então a pastoral deve ajudar a desenvolver o que for valor e superar os problemas. É uma visão de respeito mas não ingênua. Esta atitude encontra-se fundamentada na Evangelli Nuntiandi 48 e em Puebla n 444 a 469 e 910 914.
A fé do povo pobre • Sempre existiu uma grande diferença entre a fé oficial da Igreja, expressa em seus dogmas, credos e liturgia, e a fé do povo simples e pobre, que se manifesta através de suas festas e devoções da religiosidade popular. • O povo pobre não tem acesso fácil aos colégios católicos particulares; • A formação catequética é deficiente; • Ainda existe maior presença dos religiosos(as) nos bairros centrais da cidade; • São ainda poucos os pobres que começam a ter acesso a Bíblia e participar ativamente da liturgia da Igreja; 6. Observa-se uma distância entre a fé e a moral oficiais e a do cidadão comum 7. Ainda entre o povo pobre e simples é grande o número dos analfabetos. Os que sabem ler não dispõe de meios econômicos para comprar livros, não tem tempo para ler nem , no caso de fazê-lo, possuem uma base teológica suficiente para entender os documentos eclesiais ou teológicos. Quem do Setor popular conseguiu ler e compreender os principais documentos do Vaticanos II? Quem leu o texto completo de Medellín, Puebla e Santo Domingo? Ou ainda, quem conhece a Teologia de Jon Sobrino, Leonardo Boff, Vitor Codina e outros?...
8. Enquanto os ricos entram no campo da técnica e da informática, alguns pobres não tem lápis, caderno ou ficam sem escola. A medicina moderna goza dos últimos avanços da ciência, nos setores pobres morre-se de diarréia e de cólera e não há água potável, esgoto, nem eletricidade; 9. Enquanto na Europa e América do Norte a Teologia acadêmica produz constantes progressos exegéticos e hermenêuticos... O povo pobre continua totalmente distante das novas correntes teológicas, das novas interpretações bíblicas: o povo segue batizando seus filhos, enterrando seus mortos, colocando velas diante dos seus santos e peregrinando nos santuários marianos, como tem feito há séculos.
Onde fica a Igreja dos pobres? • Esta situação de pobreza não somente econômica, mas também eclesial, teológica e pastoral, contrastam com o Evangelho de Jesus e com as afirmações oficiais da Igreja. • Jesus veio sobretudo e prioritariamente para evangelizar os pobres (Lc 4, 18; 7,22) • Também a Igreja, desde João XIII, proclamou que quer ser de todos, porém deseja ser especialmente a Igreja dos pobres.
Evangelli Nuntiandi Reflete uma sede de Deus que somente os pobres e os simples podem conhecer. Torna capaz de generosidade e sacrifício até o heroísmo, quando se trata de manifestar a fé. Comparta um profundo sentido dos insondáveis atributos de Deus: a paternidade, a providência e a presença amorosa e constante. Engendra atitudes interiores que raramente podem ser observados no mesmo grau em quem não possui esta religiosidade: paciência, sentido da cruz na vida cotidiana, desapego, aceitação dos outros e devoção (EN 48).
Igreja Latino Americana A proximidade da Igreja da América Latina do povo fez com que os documentos refletissem uma preocupação por esse tema. • Puebla 444-469 • Medellín 6, 2-4 • Santo Domingo 36-39
Fides Rudim A doutrina pontifícia está de acordo com a mais genuína Tradição Patristica, que falava da fé do povo simples fides rudim e considerava os pobres seus grandes mestres, e com a tradição evangélica: Jesus não despreza a fé do povo simples, abençoa as crianças e se deixa tocar pela hemorroíssa e pela mulher pecadora. (Ver LG 12)
Como se traduzem na prática estas belas declarações de princípios? Alguns desafios • Evangelizar os pobres não consiste simplesmente em ensinar-lhes o catecismo e sim “fazer o que fez Jesus”, oferecer sinais concretos de libertação da sua pobreza e, neste sentido, “a passagem de condições de vida menos humanas para condições de vida mais humanas” é evangelização e boa notícia do Reino. (SD 178, 180, 296, 302). Onde existe defesa da vida, ali começa a existir Evangelho e presença do Reino. A Igreja, ao defender a vida do povo, evangeliza os pobres. • Se a maioria dos membros da Igreja são pobres e, certamente, entre eles, as mulheres são as mais numerosas e as mais pobres, de que serve fazer teologia e pastoral para maiorias brancas, ricas e seculares do primeiro mundo ou escrever documentos somente para clérigos e leigos especialistas? • A opção pelos pobres leva a uma presença solidária juntos aos pobres em suas lutas pela vida, pela justiça e por uma evangelização libertadora. Isso supõe uma pastoral renovada que tenha em conta a localização das paróquias e das comunidades religiosas e uma revisão da metodologia pastoral, de seu enfoque e de suas prioridades.
4. Devolver a Bíblia ao povo, para formar catequistas, preparar para os sacramentos e dar à vida cristã uma orientação evangélica libertadora; 5. Ajudar a criar uma Igreja onde os pobres sejam sujeito e centro da comunidade, sem considerar os pobres que crêem como membros de segunda categoria eclesial. 6. Acreditar na CEBs como células eclesiais básicas e núcleos de evangelização, inculturação e transformação da realidade; 7. Partir da própria pobreza e dos meios pobres do povo, para edificar uma Igreja que seja realmente dos pobres, popular e libertadora, sem populismos nem manipulações, com discernimento e em comunhão com as demais igrejas e com a grande Igreja católica e seus pastores, seguindo, porém, um caminho próprio, alternativo e profético, que certamente pode trazer muito proveito para as demais Igrejas.
Mistério e Bem-aventurança “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do seu agrado” (Lc 10, 21).